Sebenta - Comércio Internacional PDF

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This document is a study guide, or notes, on international trade, contextualized within economics. It discusses topics such as international finance, trade, and globalization, including trade blocs and the evolution of the global economy. It covers topics such as foreign direct investment, trade liberalization, and the role of the World Trade Organization (WTO).

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Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Sebenta – Comércio Internacional O comércio internacional no contexto da Ciência Económica...

Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Sebenta – Comércio Internacional O comércio internacional no contexto da Ciência Económica A Economia Internacional Finanças Internacionais Centra-se nos aspetos monetários das relações (análise mais macro) económicas internacionais. Comércio Internacional Analisa as trocas de bens e serviços entre residentes de (análise mais micro) diferentes países. Ramo que vamos estudar A existência de diferenças entre os vários países/Estados coloca questões particulares ao estado da Economia Internacional: Existência de fronteiras geográficas e políticas coloca restrições à livre circulação de mercadorias. Existência de diferentes moedas e sistemas monetários. Menor grau de mobilidade do fator trabalho entre países em comparação com a mobilidade existente no interior de um país. Existência de diferenças entre países a nível cultural, político, institucional, etc. Os 3 grandes blocos comerciais: EUA China União Europeia A evolução da economia mundial nos últimos 60 anos Elevado crescimento económico. Crescimento muito maior do comércio mundial: Grande da produção destina-se aos mercados externos -> Indicador da Globalização Expansão da industrialização a novas áreas: Novos países industrializados, especialmente na Ásia. Re-emergência de países com grandes tradições industriais na América Latina e no leste europeu Crescimento do Investimento Direto Estrangeiro. 1 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Investimento Direto Estrangeiro -> Fluxo de capital entre duas economias com fins produtivos e/ou comerciais. É um investimento de natureza transfronteiriça com o qual uma empresa sediada num país passa a ter o controlo sobre uma empresa que se localiza e desenvolve a sua atividade noutro país. Por esta via, a empresa investidora passa a ser identificada como empresa multinacional. Desde meados dos anos 90 que o crescimento do IDE tem sido exponencial, mas com quebras acentuadas tanto no início do milénio como em 2008-2009, associadas às crises financeiras e recessão económica. A maior fatia de IDE destina-se às economias desenvolvidas, contudo os países em desenvolvimento têm vindo gradualmente a captar parcelas crescentes dos fluxos de investimento, e em 2014 pela primeira vez captaram mais de 50% do IDE realizado nesse ano. O que contribuiu para o crescimento dos fluxos comerciais: As progressivas liberalizações do comércio mundial. A globalização da produção. Globalização -> Fenómeno de interligação e de intensificação das atividades económicas a uma escala global, através de movimentos de mercadorias, capital e pessoas. Dimensões da Globalização: Dimensão económica -> Dimensão que vamos abordar. Dimensão ambiental Dimensão cultural Dimensão política Porque é que o processo de globalização ocorreu? Liberalização do comércio mundial: Acordos multilaterais de comércio (GATT, hoje parte da OMC) Integração regional (EU, NAFTA, Mercosul, ASEAN, FTAA) Redução dos custos de transporte: Contentorização Transportes aéreos Redução dos custos de comunicação e coordenação: Novas tecnologias de informação Maturidade das tecnologias mais antigas Os processos passados de globalização assentaram sempre na liberalização comercial. Atualmente, a par da globalização dos mercados, assistimos à globalização da produção: Expansão da industrialização a novas áreas: Extremo Oriente, Europa de Leste, América Latina. Papel do IDE, que se acentuou a partir dos anos 80 e especialmente na segunda metade de 90. 2 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Aprofundamento dos processos de integração económica (EU, NAFTA). Houve um aumento da relevância do comércio intra-industrial. Enorme crescimento do comércio de serviços (em 2019, a proporção do comércio em serviços relativamente à totalidade do comércio internacional correspondia a 24%) Comércio intra-industrial -> Consiste em exportar e importar o mesmo produto. Fatores que alteraram a estrutura dos bens transacionados internacionalmente Transição de bens agrícolas para bens industriais A industrialização foi um elemento central no crescimento de vários países/regiões ao longo do século XX. As políticas de liberalização adotadas após a Segunda Guerra Mundial estiveram essencialmente focadas nos bens industriais. Fatores explicativos da maior transação de serviços internacionalmente Terciarização das economias mais desenvolvidas. Progresso tecnológico e a inovação nas áreas das TIC levaram ao aumento do número de serviços que podem ser transacionados a longas distâncias. Algumas considerações sobre a evolução da economia mundial e o mundo económico atual: De 1950 a 2014, a variação percentual do PIB mundial foi sistematicamente positiva, excetuando o período da crise financeira de 2008/2009. As exportações acompanham a tendência do PIB, apresentando variações mais voláteis. Principais exportadores de mercadorias mundiais por ordem decrescente (2018): China, EUA, Alemanha e Japão, representando aproximadamente um terço das exportações mundiais. Enquanto bloco, a UE figura no 2º lugar, atrás da China e à frente dos EUA. Quanto aos principais importadores de mercadorias, são as mesmas economias que figuram no topo do “ranking”, sendo que os EUA neste caso figuram no 1º lugar, e a UE, enquanto bloco, figura no 2º lugar. Nos últimos anos, o comércio internacional nos países em desenvolvimento tem-se intensificado, acompanhando a tendência da economia mundial como um todo. Os EUA são os maiores importadores e exportadores de serviços. Embora os países desenvolvidos continuem a liderar, a sua posição alterou-se substancialmente. Peso das grandes empresas multinacionais (2011): 9,3% dos ativos detidos no estrangeiro por multinacionais. 21% das vendas de subsidiárias no estrangeiro. 14,4% do emprego em subsidiárias estrangeiras. Representam 10% do PIB mundial e 1/3 das exportações mundiais. Empregam cerca de 75 milhões de pessoas. 3 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Organização Mundial do Comércio A OMC e a liberalização do Comércio Internacional GATT (General Agreement on Tariffs and Trade) -> Acordo provisório constituído em 1 de Janeiro de 1948 com o intuito da redução das tarifas. Deveria ter dado origem à OMC, sendo que esta apenas surgiu em 1995. O GATT era um acordo/tratado intergovernamental, não uma organização internacional, logo: Nunca dispôs de uma estrutura organizativa formal. Tinha de ser renegociado periodicamente (com recurso às rondas negociais – rounds) Geriu o comércio internacional de mercadorias durante quase 50 anos. Principal objetivo do GATT -> Promoção de um sistema de trocas livres à escala mundial, através de: Redução geral e progressiva dos direitos aduaneiros. Eliminação das restrições quantitativas. Regulação do dumping e dos subsídios às exportações. Dumping -> Venda de bens ou serviços a preços abaixo dos de mercado ou abaixo dos valores dos custos de produção, especialmente por vendedores externos, com a finalidade de eliminar concorrentes e ganhar maiores fatias do mercado, algo que destrói a concorrência internacional. Uruguay Round do GATT (1986-94) -> Foi nesta ronda negocial onde houve a primeira discussão acerca do comércio internacional de serviços, sendo que antes desta ronda, todos os instrumentos/temas regulados pelo GATT incidiam apenas sobre o comércio internacional de bens. Ao longo da vigência do GATT, é possível constatar que as tarifas médias no comércio internacional foram diminuindo gradualmente ao longo do tempo, devido à adoção de medidas que fomentavam o comércio internacional. No entanto, existiu um aumento de pressões protecionistas ao longo dos anos 80. Razões explicativas do aumento de pressões protecionistas nos anos 80: Sucesso económico do Japão (milagre Japonês, nos anos 90 eram a 2ª maior economia do mundo) Persistente défice comercial nos EUA (algo que afetou negativamente os setores mais expostos à concorrência internacional, que levou a um consequente aumento do desemprego nesses setores, como é o caso do setor automóvel) Muitos países encontraram formas de contornar os regulamentos do GATT (ex: acordos bilaterais feitos à margem do GATT -> São possíveis pois as violações ao GATT só são conhecidas caso uma das partes envolvidas apresente queixa ao GATT) OMC (Organização Mundial do Comércio) -> Entidade supranacional que regula o comércio internacional, tendo sido estabelecida a 1 de Janeiro de 1995 após as negociações do Uruguay Round. Possui 164 membros. 4 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Funções da OMC: Gerir os vários acordos internacionais, visando promover a liberalização das trocas. Acordos internacionais: GATT -> General Agreement on Tariffs and Trade -> Comércio de bens GATS -> General Agreement on Trade of Services -> Comércio de serviços TRIP’s -> Trade Related aspects of Intellectual Property rights -> Direitos de propriedade intelectual. TRIM’s -> Trade Related Investment Measures -> Investimento Direto Estrangeiro Arbitrar as disputas comerciais entre estados-membros. Constituir um fórum para negociações relacionados com o comércio internacional. Acompanhar as políticas comerciais nacionais (dos Estados membros), ou implementadas por blocos comerciais. Prestar apoio técnico e dar formação aos países menos desenvolvidos. Cooperar com outras organizações internacionais (FMI, Banco Mundial), visando conseguir uma maior coerência na elaboração das políticas económicas. Objetivos da OMC – A OMC procura que o comércio mundial seja: Mais livre Não discriminatório Previsível Mais competitivo Mais favorável aos países menos desenvolvidos Princípios da OMC/GATT Princípio da não discriminação: Cláusula da nação mais favorecida -> Os produtos com origem num estado signatário não podem ter tratamento menos favorável do que o atribuído aos produtos de qualquer outro parceiro comercial, seja ou não membro da OMC. Cláusula do tratamento nacional -> Uma vez desalfandegados, os produtos importados têm que receber tratamento idêntico aos produtos nacionais. Princípio da reciprocidade: Eliminar concorrência desleal: dumping e “free-riding” -> Cada participante deve oferecer concessões semelhantes às que recebe. Não vincula os países menos desenvolvidos. O princípio da reciprocidade protege o tecido produtivo dos países menos desenvolvidos. 5 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Exceções aos princípios da OMC Exceções gerais: Questões de segurança nacional. Proteção de tesouros nacionais. Questões de saúde pública. Exceções específicas: Derrogação da cláusula da nação mais favorecida às uniões aduaneiras e zonas de comércio livre. Tratamento especial/preferêncial dado aos países menos desenvolvidos: Sistema de Preferências Generalizadas (no âmbito da Tokyo Round, 1979): Acesso preferencial aos mercados dos países mais desenvolvidos. Isenção de várias das regras impostas pelos tratados, bem como alargamento de prazos. Ações anti-dumping -> Um país tem de provar que o dumping de um outro país o prejudica em específico: No entanto, um determinado país pode continuar, depois deste ser provado, com o dumping desde que pague tarifas compensatórias. Subsídios e ações de compensação de subsídios -> Regulação do uso de subsídios e de medidas para contrariar o efeito de subsídios às exportações ou à produção por outros países. Medidas de salvaguarda (em casos de emergência, onde se limitam temporariamente as importações): Podem ser requeridas à OMC em caso de aumento súbito de importações que causem perturbação social. São temporárias – não podem durar mais de 4 anos. Sistema de Resolução de Conflitos É considerado pela própria OMC como o seu principal pilar e a sua principal contribuição para a estabilidade da economia mundial. 4 princípios do sistema de resolução de conflitos: Justiça Rapidez Eficácia Aceitação mútua A grande diferença relativamente ao sistema existente no âmbito do GATT é a simplicidade e rapidez de processos. 6 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Resultados do GATT/OMC É possível considerar um razoável sucesso, pois: O número de países envolvidos, o número de áreas englobadas nos acordos de liberalização e a complexidade dos acordos foram aumentando ao longo dos anos. Tarifas médias sobre produtos industriais nos países desenvolvidos diminuíram de 40% para menos de 4% e foram eliminadas as restrições quantitativas. De acordo para liberalização do comércio de bens (GATT), passou-se a negociações mais globais, incluindo áreas como comércio de serviços, IDE, comércio e ambiente, direitos de propriedade intelectual. Agenda de Desenvolvimento de Doha Em 2001, as negociações para implementar uma agenda ambiciosa resultaram num impasse. Grandes divergências no que respeita ao comércio internacional de bens agrícolas e de serviços, entre outras áreas. Dificuldades de entendimento entre UE e EUA e clivagens entre países desenvolvidos e países em vias de desenvolvimento. Este programa abordou temas como: Comércio e ambiente Medidas anti-dumping e regras quanto a subsídios Investimento direto estrangeiro (IDE) Liberalização do comércio de produtos agrícolas Liberalização do comércio de serviços Transparência nas compras públicas e política de concorrência Direitos de propriedade intelectual Outros temas levantados sobretudo por países em vias de desenvolvimento dadas as suas dificuldades na implementação dos atuais acordos da OMC. OMC e os Países em Vias de Desenvolvimento: Mais de 75% dos membros da OMC são países em vias de desenvolvimento. Existência de um comité específico para Desenvolvimento e Comércio. Os acordos da OMC contêm provisões especiais para os países em vias de desenvolvimento: Períodos de derrogação/mais tempo para implementação de acordos. Medidas para salvaguardar os seus interesses comerciais. Apoio para a negociação (formação de técnicos). Apoio para a implementação de standards técnicos. Assistência técnica, existindo cerca de 100 missões anuais de cooperação. 7 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Conferência mais recente – Buenos Aires (2017): Decisões em temas como Pescas, e-commerce, TRIPS, programa sobre pequenas economias, entre outros. Comércio e Ambiente. Relançamento do debate sobre um quadro multilateral de facilitação de investimento (reconhecendo ligações entre o comércio, investimento e desenvolvimento) Durante este período, verificou-se uma existência de uma vaga mais protecionista por parte de várias das principais economias do mundo: Brexit, presidência de Donald Trump dos EUA e consequente guerra comercial com a China. Em suma, a OMC: Potenciou a cooperação económica a nível mundial. Introduziu uma maior solidez no sistema internacional de comércio e uma maior eficácia nas disposições que o disciplinam. Estabeleceu um quadro de relacionamento comercial entre as diferentes nações muito mais estável, seguro e previsível. Especialização e divisão internacional do trabalho A internacionalização das economias pode ser evidenciada ao nível das trocas internacionais (comércio externo) mas também ao nível da globalização via investimento direto no exterior (IDE). Padrões de especialização -> São determinados pela vantagem competitiva dos países na produção dos vários produtos. Importa ter presente que optar pela produção e exportação de um bem poderá implicar a renúncia à produção de outro ou outros bens e consequente importação dos mesmos; a especialização internacional exprime-se, nos saldos positivos ou negativos dos vários ramos de atividade em termos de comércio internacional. Os países devem produzir os bens em que têm vantagem competitiva em relação ao contexto internacional e renunciar a produção dos restantes (importando-os). Indicadores do comércio externo Grau de abertura Taxa de cobertura Coeficientes estruturais Índice VCR (ou quota de mercado normalizada) Coeficiente de Especialização de Balassa 8 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Grau de Abertura: 𝑿+𝑴 𝑬𝒙𝒑𝒐𝒓𝒕. +𝑰𝒎𝒑𝒐𝒓𝒕. 𝑮𝒂 = × 𝟏𝟎𝟎 = × 𝟏𝟎𝟎 𝑷𝑰𝑩 𝑷𝑰𝑩 Reflete o peso/importância que o comércio externo possui no PIB de um determinado país. 𝑋 + 𝑀 > 𝑃𝐼𝐵 => 𝐺𝑎 > 100% 𝐺𝐴 ≥ 0 O grau de abertura depende de: Dimensão do país -> Países mais pequenos tendem a ter graus de abertura maiores e vice- versa. Localização geográfica -> Países mais isolados têm custos de transporte associados maiores, algo que afeta negativamente quer exportações quer importações. Estrutura económica do país. Presença de multinacionais -> Intensificação das trocas comerciais fruto da existência de filiais. 𝑋+𝑀 𝑿 𝑴 𝐺𝑎 = × 100 = × 𝟏𝟎𝟎 + × 𝟏𝟎𝟎 𝑃𝐼𝐵 𝑷𝑰𝑩 𝑷𝑰𝑩 Intensidade Penetração das Exportadora Importações Países com o mesmo grau de abertura podem refletir realidades distintas – Exemplo: Produção Exportações Importações País A 2000 800 600 País B 2000 600 800 Neste caso concreto, ambos os países apresentam um grau de abertura correspondente a 70%. No entanto, o País A tem apresenta um Saldo da Balança Comercial positivo, correspondente a 200 unidades sendo que o País B tem um défice na sua Balança Comercial. Assim sendo, uma análise com recurso ao Grau de Abertura requer a utilização de outros indicadores de forma a serem retiradas conclusões mais pertinentes, como por exemplo o Peso do Saldo ou a Taxa de Cobertura. 𝑿−𝑴 𝑷𝒆𝒔𝒐 𝒅𝒐 𝑺𝒂𝒍𝒅𝒐: 𝒂 = × 𝟏𝟎𝟎 𝑷𝑰𝑩 9 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Taxa de cobertura: 𝑿 𝑬𝒙𝒑𝒐𝒓𝒕. 𝑻𝒂𝒙𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒐𝒃𝒆𝒓𝒕𝒖𝒓𝒂 𝒈𝒍𝒐𝒃𝒂𝒍: 𝒄 = = 𝑴 𝑰𝒎𝒑𝒐𝒓𝒕. Este indicador permite aferir a competitividade externa de um país. Quando: c > 1 -> O país tem uma posição comercial forte (X > M), ou seja, todas as importações são “cobertas” pelas exportações e ainda existe um excedente. c < 1 -> O país tem uma posição comercial fraca (X < M), possuindo uma dependência comercial face ao exterior. ci Novamente, o estudo da posição de dois países recorrendo unicamente à taxa de cobertura não permite uma análise rigorosa. No caso da taxa de cobertura, esta não tem em linha de conta o peso do comércio externo na economia nacional. Produção Exportações Importações País A 1000 20 10 País B 1000 400 200 Em ambos os casos, a taxa de cobertura é igual a 2, ou seja, as exportações correspondem ao dobro das importações. No entanto, esta taxa não assume significado relevante para o país A, no qual as trocas externas são muito reduzidas (o grau de abertura é apenas 3%), enquanto que ela traduz uma posição forte para o país B, uma economia bastante aberta ao exterior (grau de abertura de 60%). Para se obter uma visão mais abrangente e rigorosa, a análise deverá ser feita com recurso a vários indicadores. Xi 𝑻𝒂𝒙𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒐𝒃𝒆𝒓𝒕𝒖𝒓𝒂 𝒔𝒆𝒕𝒐𝒓𝒊𝒂𝒍: ci = Mi O indicador de taxa de cobertura pode ser desagregado a nível de produto/setor, sendo que o i representa um produto ou setor. 𝐗𝐢 𝐌 c 𝑻𝒂𝒙𝒂 𝒅𝒆 𝒄𝒐𝒃𝒆𝒓𝒕𝒖𝒓𝒂 𝒔𝒆𝒕𝒐𝒓𝒊𝒂𝒍 𝒏𝒐𝒓𝒎𝒂𝒍𝒊𝒛𝒂𝒅𝒂: 𝐜𝐢 = 𝐢 = i 𝑿 𝒄 𝑴 Este indicador compara a competitividade de um determinado setor em comparação com a taxa de cobertura global, sendo que, caso o indicador seja superior a 1, estamos perante um setor competitivo e vice-versa. 10 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Coeficientes estruturais: Composição do comércio -> Produtos/serviços com maior peso nas Coeficientes estruturais exportações e nas importações. Duração do comércio -> Países com maior peso nas exportações e nas importações. Composição do comércio externo (estrutura setorial): Peso das exportações do produto/setor i nas exportações totais de bens do país/economia j. 𝐗𝐢𝐣 × 𝟏𝟎𝟎 𝐗𝐣 Peso das importações do produto/setor i nas importações totais de bens do país/economia j. 𝐌𝐢𝐣 × 𝟏𝟎𝟎 𝐌𝐣 Direção do comércio externo (estrutura geográfica): Peso das exportações com destino ao país i nas exportações totais de bens do país/economia j. 𝐗𝐢𝐣 × 𝟏𝟎𝟎 𝐗𝐣 Peso das importações com destino ao país i nas importações totais de bens do país/economia j. 𝐌𝐢𝐣 × 𝟏𝟎𝟎 𝐌𝐣 Limitação destes indicadores: Tratam de forma independente as exportações e as importações. Índice VCR (Vantagens Comparativas Reveladas) (ou quota de mercado normalizada): 𝐗𝐢𝐣 Peso das exportações do setor i no total 𝐗 𝐬𝐱 = 𝐣𝐓 das exportações do país j. 𝐗𝐢𝐤 Peso das exportações do setor i no total 𝐗𝐓𝐤 das exportações da área de referência. 11 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Onde: i -> Setor de atividade j -> País em análise k -> Zona ou país de referência T -> Total do comércio em análise (bens ou serviços) Este indicador permite comparar a importância de um setor num país face à importância desse mesmo setor noutro país/zona de referência. Exemplo: Permite comparar Portugal com a União Europeia. Quando sx  1 -> Para o setor em questão, o país exporta mais (em %) em comparação com a área de referência. Existe maior especialização relativa no setor i por parte do país j do que por parte da área de referência -> O país j revela vantagens comparativas no setor i. Coeficiente de Especialização de Balassa: O coeficiente de especialização de Balassa relaciona o saldo da balança comercial do setor com o respetivo volume de trocas externas. Balança comercial setor i 𝐗𝐢 − 𝐌𝐢 𝐜𝐢 − 𝟏 𝐛𝐢 = = 𝐗𝐢 + 𝐌𝐢 𝐜𝐢 + 𝟏 Volume de trocas externas setor i Se Xi tende para 0 => ci tende para 0 => bi tende para -1 Se Mi tende para 0 => ci tende para  => bi tende para 1 bi  ]-1,1[ -1 -1/3 0 1/3 1 País exclusivamente Saldo comercial para o País exclusivamente importador setor i é nulo exportador Preponderância para trocas intra-ramo Preponderância para trocas inter-ramo Preponderância para trocas inter-ramo 12 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Se bi estiver próximo de -1 => Xi próximo de 0 e o setor i é predominantemente importador. Se bi estiver próximo de 1 => Mi próximo de 0 e o setor i é predominantemente exportador. Nestes 2 casos, existe uma especialização inter-ramo. Se o bi é próximo de 0 (ou seja, Xi  Mi), existe uma especialização intra-ramo, que é mais forte quanto maiores forem os volumes de Xi e de Mi. Se bi = 1/3 => ci = 2 => Xi é o dobro de Mi Nível idêntico de trocas intra-ramo e Se bi = -1/3 => ci = 1/2 => Mi é o dobro de Xi inter-ramo Teorias do Comércio Internacional A teoria do Comércio Internacional remonta às tentativas dos autores clássicos para desenvolver uma análise suscetível de generalização a qualquer país, surgindo da necessidade de explicação das trocas internacionais Destacam-se os contributos de Adam Smith, 1776, e David Ricardo, 1817, que contrapuseram as conceções protecionistas dos mercantilistas. Postura dominante no período anterior: o mercantilismo. Defendia uma política comercial fortemente protecionista -> Esta tinha como objetivo gerar uma balança comercial positiva que permitisse acumular metais preciosos, aumentando assim a riqueza nacional via exportações. CI visto como um jogo de soma nula -> O que um país ganha, o outro perde. Autores Clássicos: Adam Smith e David Ricardo Preocuparam-se com: A estrutura padrão do comércio. Os ganhos do comércio. Os termos de troca. Adam Smith -> Teoria das vantagens absolutas David Ricardo -> Teoria das vantagens comparativas É com o advento do liberalismo económico que se começa a autonomizar e desenvolver a teoria do comércio internacional. O liberalismo vai procurar, desde a sua origem, desenvolver uma teoria da especialização internacional, esforçando-se por evidenciar as vantagens que a mesma, associada a condições de livre comércio, pode assegurar aos países intervenientes. A análise da especialização é assim colocada no centro desta doutrina, tendo por missão resolver três problemas: 13 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva 1. A explicação das condições que determinam a especialização internacional. 2. A evidenciação as vantagens, retiradas por cada nação, de uma especialização ótima. 3. A definição das normas de uma política económica desejável (livre câmbio/livre troca). Pressupostos básicos dos modelos clássicos Existe um único fator de produção homogéneo: o trabalho. Considera-se o trabalho como o único fator de produção, sendo que, numa economia fechada, os bens trocam-se uns pelos outros atendendo às quantidades relativas de trabalho que incorporam. Esta teoria do valor trabalho é uma simplificação da realidade. A produtividade do trabalho (1/custo; ou custos unitários) nos vários países é diferente porque a tecnologia é diferente; A produtividade do trabalho nos vários países é diferente, contudo, a diferença tecnológica motivadora das diferenças internacionais de produtividade não é explicada pelos clássicos. Os custos de produção (ou a produtividade) são constantes. Não se altera com a quantidade produzida, nem com o tempo. O trabalho é perfeitamente móvel entre indústrias de um mesmo país mas imóvel entre países. Assim sendo, o preço do trabalho no interior de um mesmo país é o mesmo entre usos alternativos, mas pode diferir entre países antes do comércio. A dotação fatorial (número de trabalhadores) de cada país é fixa. Existe pleno emprego (não existe desemprego estrutural) Existem rendimentos constantes à escala. Uma variação de todos os fatores de produção numa determinada proporção leva a uma variação na mesma proporção da produção. Não há quaisquer impedimentos ao comércio (tarifas, quotas, custos transporte). Não existem barreiras à circulação internacional de produtos. Todos os mercados são de concorrência perfeita. Nenhum agente individual tem capacidade para influenciar o mercado. Teoria das Vantagens Absolutas Chaves da criação de riqueza: Divisão do trabalho Especialização Princípio da Teoria das Vantagens Absolutas Cada país deve especializar-se nos produtos que produz com custos absolutamente inferiores (ou produtividade absolutamente superior) 14 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva O livre comércio gera ganhos para todos os países intervenientes (e para a economia mundial): Os ganhos traduzem-se na poupança de horas de trabalho em cada país. Os ganhos podem medir-se em termos do aumento da produção. Adam Smith demonstra as vantagens da livre troca, ao observar que a abertura ao exterior conduz a um ganho importante para os dois parceiros da troca, embora podendo não ser equitativo, e também para a economia mundial, originando o aumento global da riqueza. Lógica do ganho mútuo, onde o comércio é mutuamente benéfico → Jogo de soma positiva, algo que é totalmente inverso à lógica mercantilista. Assim sendo, Adam Smith propõe que os países não produzam todos os bens que consomem: Devem importar os bens que são mais caros internamente que no estrangeiro. Os recursos libertados serão mais eficazmente utilizados na produção dos bens em que o país tem uma vantagem, e que podem ser exportados. → Os países devem produzir e exportar os produtos em que têm maior produtividade e eficiência e comprar aqueles em que os outros são melhores. Horas de trabalho necessárias para produzir 1 unidade do bem Produção por hora de trabalho Exemplo: Custo unitário Produtividade Bem X Bem Y Bem X Bem Y País A 1 2 1 1/2=0.5 País B 2 1 1/2=0.5 1 País A → Vantagem absoluta na produção de X País B → Vantagem absoluta na produção de Y Apesar de existirem custos de produção constantes para cada bem dentro de um país, os custos diferem nos dois países. A tecnologia é então o fator relevante na explicação das trocas. Constata- se que A é absolutamente mais eficiente a produzir X, enquanto B é absolutamente mais eficiente a produzir Y. Principal limitação da Teoria das vantagens absolutas: Um país menos eficiente na produção de todos os bens não poderia participar no comércio internacional, o mesmo se aplica a um país mais eficiente em todos os bens. 15 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Dito de outro modo, a especialização e a troca internacional só poderiam ocorrer se A fosse mais eficiente a produzir alguns bens e B a produzir outros. Esta limitação viria a ser discutida por David Ricardo, que propôs, para a ultrapassar, a teoria das vantagens comparativas, ou relativas. Teoria das Vantagens Comparativas ou Relativas – David Ricardo À semelhança do modelo de Adam Smith, baseia-se nas diferenças tecnológicas entre os países. Estas diferenças refletem-se em diferenças na produtividade do trabalho e, portanto, nos custos unitários. Os países devem-se especializar na produção de bens nos quais têm vantagens comparativas. Quando um país produz um produto a um custo oportunidade menor. Mesmo que um país seja absolutamente menos eficiente a produzir todos os bens, tem vantagens em participar no Comércio Internacional. Princípio base: Um país deverá produzir e exportar os bens que produzir de forma relativamente mais eficiente OU de forma relativamente mais barata. Um país absolutamente mais eficiente em todos os bens deve especializar-se naquele em que a sua maior eficiência é mais acentuada. Custo de oportunidade (de X) → Quantidade de um outro bem (Y) que tem de ser sacrificada de modo a libertar os recursos necessários para produzir uma unidade adicional do bem em questão (X). Exemplo ilustrativo: Horas de trabalho por unidade de bem Bem X Bem Y País A 1 3 País B 2 4 Produtividade Bem X Bem Y País A 1 0,(3) País B 0,5 0,25 Matriz de Custos de Oportunidade Bem X Bem Y País A 1/3 = 0,(3) 3/1 = 3 País B 2/4 = 0,5 4/2 = 2 A tem vantagem comparativa em X → Deve especializar-se neste bem Ambos saem a ganhar B tem vantagem comparativa em Y → Deve especializar-se neste bem 16 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva As vantagens comparativas são aferidas com recurso à matriz de custos de oportunidade, onde é possível verificar que que quantidades cada país sacrifica do outro bem de maneira a produzir 1 unidade do bem que está a ser analisado. Para cada bem analisado, o país que possuir o menor custo de oportunidade tem uma vantagem comparativa na produção desse bem relativamente ao outro país. Ao definir a vantagem comparativa em termos de custo de oportunidade torna-se irrelevante que os bens sejam produzidos só a partir do factor trabalho ou de uma qualquer combinação de factores de produção: a noção de custo de oportunidade liberta a teoria ricardiana da teoria do valor trabalho. Fronteira de Possibilidades de Produção (FPP) Consiste no conjunto de combinações eficientes de produção de dois bens por uma economia, dada a completa utilização dos seus recursos produtivos e a tecnologia mais eficiente disponível. No contexto dos modelos clássicos as FPP são lineares: traduzindo um custo de oportunidade constante. Exemplo ilustrativo: Tendo em conta os dados anteriores, e sabendo que as horas de trabalho são 9000 no país A e 16000 no país B. Produção Máxima Bem X Bem Y País A 9000/1 = 9000 9000/3 = 3000 País B 16000/2 = 8000 16000/4 = 4000 Custo de 𝜕𝑌 𝑌 oportunidade do ≈ 𝜕𝑋 𝑋 bem X 0,5 Declive FFPB > FFPA 17 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva A Fronteira de Possibilidades de Produção: Tem declive negativo (traduz o trade-off entre a produção de X e de Y e a ideia de escassez). O declive é dado pelo custo de oportunidade do bem X (das abcissas) É uma reta porque se considera que o custo de oportunidade é constante. Em autarcia, cada país só pode consumir o que produz → FPP = FP de Consumos (FPC) Com comércio, as possibilidades de consumo aumentam para ambos os países → FPC > FPP Razão de Troca Internacional (RTI) Determinado o padrão de especialização (A – X e B – Y), a troca apenas se concretizará se a RTI obedecer a determinados limites: A RTI deverá situar-se entre os valores das razões de troca em autarcia (RTAs) para que os dois países tenham interesse na troca. ProdAY 0.333 RTAAY/1X = = = 0.333 ProdAX 1 Do exemplo anterior: { ProdBY 0.25 RTABY/1X = = = 0.5 ProdBX 0.5 O país A só exporta X se receber mais de 0,33 unidades de Y por cada unidade de X exportada; O país B só importa X se pagar menos de 0,5 unidades de Y por cada unidade de X; 0,33 < RTIY/1X < 0,5 para que ambos os países ganhem com a troca! A análise dos custos de oportunidade de Y é totalmente simétrica: A ProdAX 1 RTAX/1Y = A = 0.333 = 3 ProdY ProdBX 0.5 RTABX/1Y = = =2 { ProdBY 0.25 O país A só importa Y se pagar menos de 3 unidades de X por cada unidade de Y; O país B só exporta Y se receber mais de 2 unidades de X por cada unidade de Y; 2 < RTIX/1Y < 3 para que ambos os países ganhem com a troca. 18 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Possibilidades de consumo após comércio, país Possibilidades de consumo após comércio, país A B RTIY/1X = 0,5 RTIX/1Y = 3 N → FPPA R → FPPB N’ → FPCA R’ → FPCB Então, no limite, o país A poderá exportar 9000 O país B consegue consumir mais X com comércio unidades de X em troca de 4500 de Y (=9000*0.5). do que sem comércio, considerando a RTI. Análise do fluxo de comércio internacional entre os dois países Assumir que: Consumo de X em A, antes e após comércio: 5000 unidades; Consumo de Y em B, antes e após comércio: 2500 unidades. Sem Comércio: Autarcia Autarcia Bem X Bem Y Produção Consumo Produção Consumo A 5000 5000 1333 1333 B 3000 3000 2500 2500 Total 8000 8000 3833 3833 País A: País B: ProdX = ConsX = 5000 ProdY = ConsY = 2500 LX = 5000/1 = 5000  LY = 9000 -5000 = 4000 LY = 2500/0.25=10000  LX=16000 -10000 = 6000 ProdY = ConsY = 4000*0.333 = 1333 ProdX = ConsX = 6000*0.5 = 3000 19 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Com Comércio: Situação com livre troca Bem X Bem Y Prod Cons Exp Imp Prod Cons Exp Imp A 9000 5000 4000 - - 1500 - 1500 B - 4000 - 4000 4000 2500 1500 - Total 9000 9000 4000 4000 4000 4000 1500 1500 Padrão de especialização: A - X; B - Y País A: País B: ProdX = 9000 ProdY = 4000 ConsX = 5000  ExpX = 9000 – 5000 = 4000 = ConsY = 2500  ExpY = 4000 – 2500 = 1500 = ConsX(B) ConsY(A) Ganho de 1000 no consumo do bem X → País B Ganho de 166,(6) no consumo do bem Y → País A Conclusão: Aumento da produção e consumo mundial dos 2 bens, logo ambos os países ganham com a troca. Em relação à repartição dos ganhos da troca: O país ganha mais quanto mais a RTI se afasta da sua RTA. Representação gráfica utilizando o exemplo anterior: RTAAY/1X RTABY/1X 0,(3) RT 0,5 A perde I B perde Maior poder Maior poder comercial de B comercial de A O país mais beneficiado é aquele para o qual a RTI mais se afasta da interna. Comércio externo como segundo-ótimo O princípio das vantagens comparativas conduz a um ótimo relativo, não a um ótimo absoluto: Se a produção fosse toda realizada no país A, o ganho seria maior (seria um ótimo absoluto à escala mundial). Tal exigiria circulação do fator trabalho (do país B para o A) Ricardo considera uma situação de imobilidade de fatores: a sua solução é ótima, mas apenas perante essa restrição. 20 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Teoria das vantagens comparativas: Casos particulares → País grande VS País pequeno Admita-se que o país A é de grande dimensão e o país B é de pequena dimensão, apresentando a seguinte matriz de custos: Horas de trabalho por unidade de bem Bem X Bem Y País A 2 4 País B 4 6 Custos relativos Bem X Bem Y País A 2/4 = 0,5 4/2 = 2 País B 4/6 = 0,(6) 4/2 = 1,5 O país B especializa-se completamente em Y, no qual tem uma vantagem comparativa. O país A especializa-se (mas não completamente, devido à sua dimensão) em X. Como os custos de B < Custos de A, o país B ganha, sendo que a RTI vai-se aproximar da RTAA RTI = RTAA e todos os ganhos reverterão para o país pequeno Muitas vezes pensa-se que um país grande, devido à sua dimensão e poder económico, pode obter todos os ganhos do comércio, estando em vantagem relativamente a uma nação de pequena dimensão e sem poder. No entanto, no quadro da teoria clássica este pensamento é incorreto. De facto, quando dois países de dimensão muito diferente trocam entre si, todos os ganhos podem reverter para a nação mais pequena, e o país grande não ganha nada. → Igual vantagem Caso ambos os países possuam custos relativos exatamente iguais para ambos os bens, nenhum país apresenta uma vantagem comparativa → Logo, não há bases para comércio mutuamente benéfico. O livre comércio é mutuamente benéfico se e só se existir vantagem comparativa. 21 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva O Modelo de Ricardo com moeda Reações ao modelo de Ricardo: Marxistas → Marx e outros autores marxistas deram origem à ideia da troca internacional de valores não equivalentes: a especialização não é vantajosa para todos porque existem situações de exploração. Neste quadro teórico sobressai a polémica em torno da "troca desigual", segundo a qual a existência de fatores de ordem extra-económica origina a troca de valores desiguais entre países, havendo nações que desse modo, se apropriam de excedentes criados noutras - ao contrário do que pensavam os clássicos, considera-se que o comércio internacional, em lugar de suscitar benefícios mútuos, tende a agravar as desigualdades entre os países. Efeitos a curto prazo VS Efeitos a longo prazo → Alguns autores colocam restrições à aplicação universal do princípio das vantagens comparadas, designadamente em países em situação pré-industrial. Denunciando os perigos da especialização agrícola, alguns autores (por exemplo List) defenderam medidas protecionistas e realçaram o possível conflito entre vantagem comparada de curto prazo e vantagem comparada de médio e longo prazo decorrentes do padrão de especialização prosseguido: as vantagens de curto prazo não coincidem com as de longo prazo. → Um país cuja especialização se foque essencialmente na agricultura terá dificuldades no seu crescimento/desenvolvimento, apesar de essa especialização no curto prazo lhe ser benéfica. Ausência da componente monetária → Houve tentativas de reformulação da análise ricardiana por parte dos Neoclássicos, bem como tentativas de adaptação do modelo de Ricardo a questões atuais, introduzindo, nomeadamente, os preços monetários na análise para além do trabalho incorporado nos bens - "modelo de Ricardo com moeda", que irá ser abordado. O Modelo de Ricardo com moeda: Resulta de tentativas de adaptar o modelo de Ricardo à realidade → São os preços monetários e não o trabalho incorporado que determinam o sentido do comércio internacional; Mesmo sem abandonar a teoria do valor trabalho, tal implica ter em conta: Os custos salariais em cada um dos países. A taxa de câmbio, como elemento que permite colocar diferentes preços numa moeda comum. W A. LA → P A Estes preços são comparáveis apenas depois de serem W B. LB → PB convertidos para a mesma moeda usando a taxa de câmbio (e) 22 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva A especialização deverá obedecer a: PXA < PXB → O país A especializa-se na produção de X. PYA > PYB → O país B especializa-se na produção de Y. São os preços monetários que determinam o sentido da especialização. Dependem de: Produtividade do trabalho Salários Taxa de câmbio → Permite expressar o valor dos bens em termos da moeda de um país. Exemplo: Custos unitários (horas de trabalho) = 1/Produtividade Bem X Bem Y País A 2 4 País B 3 5 Custo de País A: 2/4 = 0.5 de Y oportunidade País B: 3/5 = 0.6 de Y de X: Custo de País A: 4/2 = 2 de X oportunidade País B: 5/3 = 1.67 de X de Y: A tem vantagem comparativa em X e B em Y. Partindo do exemplo, irá ser demonstrado como é que o modelo ricardiano se pode tornar mais realista incorporando os salários e a taxa de câmbio. Vamos poder analisar o papel dos salários, produtividade e taxa de câmbio na influência do padrão de comércio. Das vantagens comparadas à competitividade-preço Os consumidores não comparam custos de oportunidade, mas sim preços. Assim sendo, a especialização só respeitará as vantagens relativas se: PXA < PXB → O país A especializa-se e exporta X. Condições de exportação PYA > PYB → O país B especializa-se e exporta Y. 23 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Os 2 países ganham com o comércio internacional se: As vantagens comparativas em termos de custos físicos de produção se converterem em vantagens absolutas em termos de preços monetários. A capacidade de exportar e a iniciativa de importar passam em grande medida pelas comparações dos níveis de preços. Compete à taxa de câmbio fazer a ligação entre dois espaços económicos nacionais, possibilitando a troca, sobretudo no quadro das economias contemporâneas. Considerando que: Cji: Número de unidades de trabalho necessárias para produzir uma unidade do bem j no país i. (Eficiência produtiva) Wi : Salários pagos no país i por cada unidade de trabalho; e - Taxa de câmbio → Número de unidades monetárias de B necessárias para adquirir uma unidade monetária de A. (e → Valorização da moeda A, desvalorização da moeda do país B) Podemos expressar os preços desta maneira: PXA = CXA * WA ; PXB = CXB * WB/e Tudo expresso em moeda de A PYA = CYA * WA; PYB = CYB * WB/e Neste caso, uma vez que sabemos a taxa de câmbio, WB/e exprimirá o valor dos salários de B em unidades monetárias de A, permitindo assim efetuar comparações. Retomando à condição de exportação: WB W A *e CXB CXA * WA < CXB* B < P A < PXB e ⇔ W CXA { XA ⇔ PY > PYB A A > CB * WB W A *e CYB C { Y * W Y > e { WB CYA A capacidade de exportação depende: Da produtividade relativa do fator trabalho. Dos salários relativos. Da taxa de câmbio. 24 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Sendo a produtividade o inverso dos custos unitários (em termos físicos), temos: W A *e ProdAX < WB ProdBX ProdAY W A *e ProdAX ⇔ < < W A *e ProdAY ProdBY WB ProdBX > { WB ProdBY Para ambos os países ganharem com a troca, esta relação dos salários (salário relativo) tem de estar entre as produtividades relativas. O país A irá exportar o bem em que tem uma vantagem relativa (X) apenas se os seus salários relativos não anularem as diferenças de produtividade. O mesmo raciocínio se poderá fazer para o país B relativamente ao bem Y. Retomemos o exemplo anterior, onde constatámos que o país A tem vantagem relativa em X e B em Y: Para que este sentido de especialização se concretize será necessário que: WB WB W A *e PXA < PXB CXA * W A < CXB * 2 * WA < 3 * < 1,5 { A ⇔ e e ⇔ WB B⇔ PY > PYB A A B W A WB W A *e { CY * W > CY * e {4 * W > 5 * e { W B > 1,25 O país A ganha com a troca se os seus salários forem entre 25% e 50% maiores do que os salários do país B. Se o salário do país A fosse superior ao do país B em mais do que 50% → Anulação da produtividade do país A, mesmo que no bem (X) em que é relativamente mais eficiente. Se o salário fosse superior ao do país B em menos do que 25% → Ambos os bens seriam mais baratos em A do que em B, impedindo o comércio internacional. Suponhamos que: a e b são, respetivamente, as moedas de A e de B; WA = 50ª ; e = 2,8 (b por cada a) Assim: WA *e 50 * 2,8 < 1,5 < 1,5 W B B WB > 93,3 ⇔{ W ⇔{ B WA *e 50 * 2,8 W < 112 > 1,25 > 1,25 { W B WB 25 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Devido à sua menor produtividade, os salários no país B teriam que ser inferiores aos do país A. Em moeda de A: 93,3 WB > 2,8 WB > 33,3 ⇔{ B 112 W < 40,0 WB < { 2,8 Alternativamente, se considerarmos os salários dados, a taxa de câmbio passa a ser a nossa variável de ajustamento: − WA = 50a; WB = 100b Assim: WA *e 50*e B < 1,5 < 1,5 W 100 e > 2,5 ⇔ { ⇔{ WA *e 50*e e 1,25 B > 1,25 100 { W Se e > 3 → A moeda do país A é muito cara → Os seus bens ficaram mais caros e não há exportação de nenhum deles pelo país A. Se e < 2,5 → A moeda do país A é muito barata → Os bens ficam mais baratos e não há exportação de nenhum deles pelo país A. Note-se que a taxa de câmbio utilizada no exemplo anterior caía neste intervalo; Vejamos a comparação de preços (expressos na moeda de A) se e = 2,8: PAX = 2 * 50 = 100 PAY = 4 * 50 = 200 { 100 { 100 PBX = 3 * = 107 PBY = 5 * = 179 2,8 2,8 PXA < PXB → A produz e exporta X. PYB < PYA → B produz e exporta Y. Vantagem absoluta de A em X e B em Y As vantagens comparativas em termos de custos unitários traduzem-se em vantagens absolutas em termos de preços. Taxa de câmbio, RTI e ganhos de troca Se for especificada a taxa de câmbio, e dado o sistema de preços nacionais, a RTI virá automaticamente determinada: PAX 100 RTIY/1X = = = 0.56 PBY 179 26 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva A RTI situa-se entre as RTA dos dois países: Sendo RTAAY/1X = 0.5 e RTABY/1X = 0.6, constata-se que ambos os países ganham com a troca. País A: Por cada unidade de X que exporta, obtém 0,56 unidades de Y (>0,5) País B: Por cada unidade de X que importa, cede 0,56 unidades de Y ( WB ProdBZ 28 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Se tivermos em conta n bens, podemos estabelecer uma cadeia de produtividades relativas: ProdA1 ProdA2 ProdAj ProdAn-1 ProdAn < <... < <... < < ProdB1 ProdB2 ProdBj ProdBn-1 ProdBn Esta cadeia mostra que: ➔ O país B tem uma vantagem preço mais forte no bem 1, seguido do bem 2, e assim sucessivamente. ➔ O país A tem uma vantagem preço mais forte no bem n, seguido do bem n-1, e assim sucessivamente. Os bens estão ordenados da menor para a maior produtividade do país A relativamente ao país B. O ponto exato em que se dividirão os 2 grupos de bens (exportados por A e exportados por B) depende dos níveis salariais e da taxa de câmbio. Conhecendo os salários nos dois países e a taxa de câmbio entre as duas moedas, podemos encontrar os bens em que cada país tem um preço mais baixo e que, por isso, irá exportar; Suponhamos que: ProdA1 ProdA2 ProdAn-2 WA *e ProdAn-1 ProdAn < <... < < < < ProdB1 ProdB2 ProdBn-2 WB ProdBn-1 ProdBn O país A exportará os bens à direita do rácio de salários (n-1 e n), pois o preço desses bens em A é inferior ao de B. O país B exportará os bens à esquerda do rácio de salários (1 a n-2), pois o preço desses bens em B é inferior ao de A. Variações cambiais conjugadas com variações salariais são suscetíveis de alterar o padrão de especialização dos países. Modelo de Ricardo com moeda e n bens: implicações de política Da perspetiva do país A Consequências da inflação: Os salários incluídos no modelo são salários nominais; Se o país registar inflação acima da dos seus parceiros comerciais, é provável que os salários nominais subam mais rápido que os dos seus parceiros: → ceteris paribus, o rácio de salários deslocar-se-ia para a direita, traduzindo perda de competitividade preço em alguns bens. → Esta perda de competitividade pode coexistir com uma diminuição dos salários reais no país A – isto se os salários nominais subirem mais do que os dos parceiros mas menos do que a inflação. 29 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Consequências da taxa de câmbio: Uma forma de compensar a evolução dos salários descrita anteriormente seria desvalorizando a moeda. A desvalorização da moeda significará que, medidos em moeda de A, os salários de B aumentam: D+ (WB/e); → Desta forma, ‘compensariam’ a maior subida nominal dos salários de A (D+ WA). Contudo, a desvalorização significa também que os produtos importados de B passam a ser mais caros: → Corresponde a uma perda de poder de compra internacional por parte do país A. Consequências de um aumento da produtividade: A forma mais sustentada de melhorar a competitividade do país A será aumentando a produtividade; tal corresponde, ceteris paribus, a deslocar o rácio de salários para a esquerda: traduzindo um aumento do número de produtos que o país A consegue produzir com um preço mais baixo que B. Contudo, aumentar a produtividade é uma tarefa complexa → Requer medidas com impacto que não é imediato, mas cujos custos económicos e políticos podem ser elevados, tornando-as pouco apelativas para políticos eleitos. Modelo de Ricardo com 2 bens e n países À semelhança do modelo com n bens, pode construir-se uma cadeia de vantagens comparadas: C1X C2X CiX Cn-1 X CnX < <... < <... < < C1Y C2Y CiY Cn-1 Y CnY Se o país i produzir X também os países à esquerda o produzirão; No máximo um país produz os dois bens. Muitos países e muitos bens: análise bastante mais complexa, mas o princípio mantém-se: cada país vai produzir alguns bens para os quais a RTI é superior à sua RTA. Os determinantes da vantagem comparativa As distintas condições da procura Abordagem Neoclássica As diferentes dotações fatoriais dos países 30 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Abordagem neoclássica: Surgiu como uma reação às ideias de David Ricardo Via da procura: Análise da Via da oferta: Análise da especialização ao nível dos especialização ao nível dos produtos (Stuart Mill, fatores (Heckscher, Ohlin, Marshall) Samuelson) Partilham um conjunto comum de pressupostos. Existência de um referencial teórico fundamental - a noção deequilíbrio económico geral. Pressupostos da análise neoclássica Quanto aos fatores: Escassez → Os fatores são limitados Homogeneidade → Dentro de cada fator produtivo Pleno-emprego → Desemprego involuntário é residual Móveis no interior do país, mas imóveis à escala internacional → Fatores produtivos não conseguem deslocar-se entre países Rendimentos marginais decrescentes → A produtividade marginal é decrescente, 𝛛Y mantendo tudo o resto constante: Pmg = 𝛛L Quanto aos mercados: Concorrência perfeita em todos os mercados Equilíbrio como regra: os vários mercados estão equilibrados Quanto ao espaço internacional: Não há obstáculos à livre circulação de bens à escala internacional. Quanto às condições de oferta: Cada bem é produzido sob rendimentos constantes à escala, ou seja, a função produção exibe rendimentos constantes à escala. Os custos de oportunidade são crescentes: Quanto mais produzirmos o bem X, mais unidades vamos ter de abdicar de Y para ter uma unidade adicional de X. 31 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Os custos de oportunidade são crescentes, pois os fatores, embora homogéneos, são utilizados em proporções diferentes pelas várias indústrias: Ao sacrificar a produção de um bem para produzir outro, a proporção de fatores libertados não é a mais ajustada → Aumentos da produção cada vez menores (fatores têm produtividades marginais decrescentes). Os fatores são produto específicos: alguns são mais ajustados à produção de certos bens em relação à produção de outros → Esta explicação viola os pressupostos neoclássicos (fatores homogéneos). Fronteira Possibilidades de Produção – Neoclássicos Custos de oportunidade crescentes → Fronteira de Possibilidades de Produção (UV) côncava O Custo de Oportunidade também é conhecido por Taxa Marginal de Transformação de Y por X, correspondendo ao rácio dos custos marginais: Cmg X Em qualquer ponto da Curva de Possibilidades de Produção: TMTY/X= Cmg Y PX Em situação de equilíbrio: TMTY/X= PY No modelo de Ricardo, como verificamos anteriormente, a FPP era uma reta decrescente, sendo que o custo de oportunidade é constante. A análise pela via da procura Utiliza como instrumentos principais alguns elementos microeconómicos fundamentais: Curvas de Indiferença (CI) Curvas de Possibilidades de Produção (CPP) 32 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Stuart Mill tentou solucionar uma lacuna na análise ricardiana: a não determinação exata da Razão de Troca Internacional (RTI) de equilíbrio. Curvas (sociais) de indiferença → Correspondem à agregação das preferências individuais, possuindo as mesmas propriedades das curvas de indiferença individuais: São negativamente inclinadas Nunca se intersetam Quanto mais longe da origem maior o nível de utilidade ou satisfação que traduzem São convexas relativamente à origem, ou seja, a taxa marginal de substituição de Y por X (TMTY/X) é decrescente. Exemplo de um mapa de indiferença social PX No ponto ótimo (de equilíbrio): TMTY/X= PY Utilidade marginal 𝛛Y Umg TMSY/X= 𝛛X = UmgX Y PX Declive da Restrição Orçamental: PY Equilíbrio em Economia Fechada Em autarcia, o país tem de produzir os bensque consome: Para cada bem a oferta interna iguala a procura interna A restrição da oferta (produção) do país é indicada pela curva de possibilidades de produção (CPP): Em autarcia só se consome o que se produz, ou seja, a CPP funciona como a "linha de orçamento" do consumidor individual: a CPP é também a curva de possibilidades de consumo (CPC) Cmg X Umg P = UmgX= PX CmgY Y Y PX FPP Em autarcia: TMTY/X = TMSY/X = →RTA →Maximização da utilidade PY Os termos de troca vão variar ao longo da curva de possibilidades de produção. 33 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Equilíbrio em Economia Aberta P P Supondo que, em autarcia: ( X )A < ( X )B PY PY P A → Incentivo em produzir e exportar X a um preço relativo superior a ( X )A , mas inferior PY P PX a ( X )B → ( ) PY PY B P B → Incentivo em produzir e exportar Y a um preço relativo superior a ( X )B , mas inferior PY P PX a ( X )A → ( ) PY PY A P P (PX)A < (PX)B Y Y A RTIY/X irá situar-se no intervalo ( ] PP )A, (PP )B[ X Y X Y Representação gráfica: País B μ1 μ0 Em economia aberta, reta menos inclinada, mudança da RT P0 P RTI = (PX )I → Bem X relativamente Y mais barato P0: Equilíbrio em economia fechada P1: Equilíbrio em economia aberta C1: Consumo em economia aberta 34 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva P (PX )I →  Exportações de Y pelo País A  Importações de X pelo País B Produção: XB; YB País B →Importa X; Exporta Y Y Consumo: XB; YB Economia atinge ponto de consume para lá da sua FPP → Ganhos de comércio Assim sendo, a economia não fica constrangida pela sua FPP. μ1 > μ0 → Ganhos de troca com comércio (passagem de P0 para C1) A consequência mais importante da livre troca é a separação entre as decisões de produção e de consumo (em ambos os países): P P Altera-se a razão de preços: ( X )B passa a ( X )I PY PY P Altera-se o equilíbrio na produção: Produtores movem-se para P1, onde TMTY/X = ( X )I PY Altera-se o equilíbrio no consumo: os consumidores movem-se de C0 para C1, onde P TMSY/X = ( X )I PY Os ganhos do Comércio Livre Correspondem ao alcançar de um nível desatisfação superior ao de autarcia - C1 está numa CI social mais elevada, ou seja, existe um bem-estar superior. Também resultam da maior eficiência produtiva(especialização) e correspondente expansão da FPC – linha ST O ganho total pode ser decomposto em: Ganho de consumo ou da troca internacional Ganho de produção ou da especialização Ganho total da troca para o país B (Exemplo anterior): 35 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva A procura como fundamento das trocas Os diferentes preços relativos em autarcia resultam, na análise neoclássica pela via da procura, das distintas condições da procura nos dois países: Pressupõe-se que os países tem diferentes preferências pelos bens Pressupõe-se, ainda, que as dotações fatoriais são idênticas nos dois países → Como a tecnologia também é idêntica, a CPP é idêntica para os dois países Pressuposto: Consumidores do país A preferem o bem Y, consumidores do país B preferem o bem X → Diferentes preços relativos em autarcia Consequências das diferentes preferências evidenciadas pelos países em comércio internacional: Os consumidores do país A observam que o bem Y é relativamente mais barato no país B → Logo, deslocarão a sua procura para este país Os consumidores do país B observam que o bem X é relativamente mais barato no país A → Logo, deslocarão a sua procura para este país. Resultado das deslocações na procura: Alteração do ponto de produção que se move ao longo da CPP Equilíbrio em Com.Int: As exportações de um país são as importações do outro: só por isso a RTI identificada é a razão de preços de equilíbrio Padrão de especialização: Quando o comércio é causado por diferentes preferências, ceteris paribus, o país vai especializar-se no bem pelo qual tem menor preferência 36 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Importará, por isso, o bem relativamente ao qual a procura é mais forte que no outro país → Em autarcia, tinha custos de oportunidade superiores para esse bem Com o comércio internacional, os países vêem as suas possibilidades de consumo expandidas: A nova fronteira de possibilidades de consumo é ainda comum aos dois países (pois a FPP também é comum e os preços são, agora, iguais). No entanto, como as preferências são diferentes, vão optar por consumir diferentes quantidades de cada um dos bens As diferentes dotações fatoriais dos países: introdução Eli Heckscher (1879-1952) e Bertil Ohlin (1899-1979) construíram uma explicação da troca internacional baseada nas premissas seguintes: A produção dos bens requer diferentes quantidades de cada um dos fatores, trabalho e capital (intensidade fatorial dos bens); → A maior parte dos serviços requerem mais trabalho do que capital, mas os bens industriais necessitam de mais bens de capital face ao trabalho. Os países caracterizam-se por diferentes dotações fatoriais (abundância fatorial dos países) → Os diferentes países podem ter dotações diferentes de capital e de trabalho, podemos ter um país que é mais intensivo em mão-de-obra (+ intensivo fator trabalho), podemos ter outro país com infraestruturas muito boas, sendo este mais intensivo no fator capital. IDEIA CENTRAL: Um país apresentará vantagens comparativas na produção dos bens que usam mais intensivamente o seu fator mais abundante. 𝐾 → Capital por unidade de trabalho 𝐿 𝐾 𝐾 ( ) 𝑚á𝑞  ( ) 𝑣𝑒𝑠𝑡 → “Máquinas” é (relativamente) intensivo em capital 𝐿 𝐿 𝐾 𝐾 ( 𝐿 ) 𝑣𝑒𝑠𝑡  ( 𝐿 ) 𝑚á𝑞 → “Vestuário” é (relativamente) intensivo em trabalho 37 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Abundância fatorial e classificação dos países Critério físico (lado da oferta): Determina a abundância fatorial na base das quantidades físicas de capital e trabalho existentes: 𝐾 𝐾 Se ( )A > ( )B: 𝐿 𝐿 O país A é relativamente abundante em K pois possui uma maior quantidade de capital por unidade de trabalho. → Se temos uma força de trabalho abundante, a força de trabalho disponível é elevada. O mesmo ocorre para o capital. Quando existe abundância de um fator, o seu preço tende a baixar. O país B é relativamente abundante em L 𝑟 𝑟 𝑤 𝑤 (𝑤)A < (𝑤)B  ( 𝑟 )A > ( 𝑟 )B País A (relativamente) abundante no fator capital País B (relativamente abundante no fator trabalho w -> preço fator trabalho r -> preço fator capital Critério económico (atende à oferta e à procura): Classifica os países com base na comparação de (w/r) em autarcia: 𝑤 𝑤 Se ( )A > ( )B: 𝑟 𝑟 - O país A é relativamente abundante em K porque este fator é relativamente mais barato do que no país B. - O país B é relativamente abundante em trabalho. Algumas relações fundamentais e sua explicação económica 𝑲 1. Relação entre a intensidade fatorial relativa ou proporções fatoriais, , e a remuneração 𝑳 𝒘 relativa dos fatores, : 𝒓 38 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Quando os preços relativos dos fatores variam, as indústrias vão usar relativamente mais o fator cujo preço relativo ficou mais baixo. 𝑤 𝐾  → 𝑟 𝐿 𝑤 𝐾  → 𝑟 𝐿 Relação entre w/r e quantidades produzidas em cada indústria (Qx e QY) Considere-se: Y – Relativamente capital intensivo X – Relativamente trabalho intensivo 2. Quando variam os preços relativos dos fatores, existe uma redução na produção da indústria (produto), relativamente intensiva no fator cujo preço relativo diminuiu e um aumento da produção na outra indústria. K = Kx + Ky K/L = Kx/L + Ky/L  K/L = Kx/Lx * Lx/L + Ky/Ly * Ly/L L = Lx + Ly Em termos relativos 𝑤 𝐾 Se  →  (Kx/Lx) e  (Ky/Ly) → Como K, L e não se podem alterar, Ly terá de diminuir e Lx terá 𝑟 𝐿 de aumentar:  Lx,  Kx →  Qx  Ly,  Ky →  Qy Em termos absolutos 39 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva 𝑤 PX Relação entre e , considerando: 𝑟 PY Y relativamente K intensivo X relativamente L intensivo 3. O aumento do preço relativo de um fator, leva, ceteris paribus, ao aumento do preço relativo do bem que é relativamente intensivo nesse fator. 𝑤 PX ( ) →Qx,  QY → TMT → ( ) 𝑟 PY TMT -> Taxa Marginal de Transformação Descrição e implicações dos pressupostos do modelo de HO Pressupostos de enquadramento Número de países, fatores e bens (2x2x2) 2 países (A e B); 2 bens homogéneos, X e Y; 2 fatores produtivos, homogéneos (trabalho - L e capital - K) O país A é relativamente abundante no fator trabalho e o país B no fator capital (por ex.) Perfeita mobilidade interna e completa imobilidade internacional dos fatores: Mobilidade dentro do país assegura que w e r são idênticos em todas as indústrias de um mesmo país Imobilidade entre países permite remunerações relativas dos fatores diferentes entre os países, em situação de autarcia Pressupostos teóricos (não representativos da realidade): ➔ Em ambos os países há concorrência perfeita nos mercados de bens e de fatores ➔ Inexistência de custos de transporte e de outros elementos suscetíveis de provocar distorções nos preços. 40 Estes pressupostos asseguram a igualização dos preços dos produtos e dos fatores entre os países após comércio Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Pressupostos quanto à oferta: Fatores são homogéneos e existem em quantidades fixas Existe pleno emprego Função de produção é caracterizada por rendimentos constantes à escala, para ambos os bens, em ambos os países Fatores de produção obedecem à lei dos rendimentos decrescentes → Custos de oportunidade de produção crescentes Irreversibilidade fatorial Funções de produção idênticas nos dois países, ou seja, a tecnologia é universal Pressupostos quanto à procura: A procura é idêntica nos dois países, isto é, as preferências são similares → Isto significa que a procura é neutra. Uma vez que a tecnologia é idêntica e a procura é neutra, concluí-se que as diferenças nos preços relativos dos bens resultam, exclusivamente, das distintas dotações fatoriais (distintas condições da oferta) Teorema de Heckscher-Ohlin Cada país deve especializar-se na produção do bem em cuja função de produção se incorpora relativamente mais o fator em que o país é relativamente mais abundante. Um país relativamente trabalho abundante vai exportar o bem relativamente trabalho intensivo. Um país relativamente capital abundante vai exportar o bem relativamente capital intensivo. Diagrama de Harrod-Johnson Este diagrama ilustra o teorema de Heckscher-Ohlin considerando as 3 relações vistas anteriormente. 41 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Explicação económica do teorema de Heckscher-Ohlin: Partindo do pressuposto de que: 𝑤 𝑤 ➔ A é relativamente L-abundante e B relativamente K-abundante: ( )A < ( )B 𝑟 𝑟 𝐾 𝐾 ➔ X relativamente L-intensivo e Y relativamente K-intensivo: ( )X < ( )Y 𝐿 𝐿 Como X requer uma percentagem relativamente elevada de trabalho, a sua produção deverá ser mais barata onde o trabalho for relativamente mais barato A (relativamente L-abundante) tem uma vantagem relativa em X (relativamente L- intensivo) B (relativamente K-abundante) tem uma vantagem relativa em Y (relativamente K- intensivo) (1) Teorema de Samuelson Este teorema demonstra que: Se entre dois países (A e B) que produzem dois bens (X e Y) para os quais apresentam funções de produção idênticas Se não existirem restrições ao comércio internacional nem custos de transporte A remuneração dos fatores (relativa e absoluta) é a mesma nos dois países. Nos pressupostos do modelo de HO, o comércio internacional dá origem à igualização dos preços dos fatores nos dois países, quer em termos relativos, quer em termos absolutos 𝑤 𝑤 ( 𝑟 )A = ( 𝑟 )B wA = wB; rA = rB (Ambos após comércio) 42 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Explicação económica do modelo de Samuelson O comércio internacional (CI) de bens elimina as diferenças nos preços dos fatores de produção → Funciona como um substituto perfeito da mobilidade internacional de fatores. O comércio é motivado pelas diferenças de preços dos bens: País A País B Antes de comércio: > Com comércio: 𝑤 PX 𝑤 PX wA, rA, ( ) → ( )A wB, rA, ( ) → (P )B 𝑟 A PY 𝑟 B Y PX P 𝑤 𝑤 Até que ( )A = (PX)B →( )A = ( )B PY Y 𝑟 𝑟 RTI Nestas condições, o CI implicará que o país A aumente a produção de X e diminua a produção de Y: A indústria X vai necessitar de mais factores de produção (L e K), enquanto a indústria Y precisará de menos. Como X é mais L intensivo que Y, o seu aumento de produção requer mais trabalho do que a indústria Y está a libertar, e menos K do que o libertado pela indústria Y → No país A a procura de L aumenta, enquanto a procura de K diminui Como a oferta de fatores é constante, o resultado será um aumento do preço de L (fator relativamente abundante) e uma diminuição do preço de K (fator relativamente escasso) e 𝑤 consequente aumento de 𝑟 No país B, uma vez que é relativamente K abundante, acontece precisamente o oposto. Críticas ao Teorema de Samuelson As suas conclusões são contrariadas pelo que se observa no mundo real → As remunerações dos fatores podem registar grandes diferenças entre países que são parceiros comerciais. 43 Comissão de Finalistas FEP Cláudio Silva Possíveis explicações - Alguns dos pressupostos não se verificam: Ausência de custos de transporte. Identidade de tecnologia ao nível mundial estão longe de se verificar na prática. - Diferenças de produtividade dos fatores: Porque o trabalho (em particular) não é homogéneo. Porque os países diferem grandemente em termos institucionais e ao nível dos restantes fatores de produção.

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