Resumo Capítulo 2 Saúde e Classes Sociais PDF

Summary

Este resumo foca-se na relação entre as desigualdades em saúde e as classes sociais. Descreve como diferentes variáveis associadas à classe, como rendimento, escolaridade e condições de vida, influenciam a saúde. O texto questiona como os dados são construídos e operacionalizados para analisar essa relação, destacando a complexidade da análise e a importância de considerar múltiplos fatores.

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2.1 Saúde e Classes sociais (página 74-91) Que relação existe entre as desigualdades em saúde e as classes sociais? É vista como relação entre desigualdades em saúde e outras variáveis associadas à condição de classe, como rendimento, escolaridade, posição profissional, e...

2.1 Saúde e Classes sociais (página 74-91) Que relação existe entre as desigualdades em saúde e as classes sociais? É vista como relação entre desigualdades em saúde e outras variáveis associadas à condição de classe, como rendimento, escolaridade, posição profissional, exposição a riscos no trabalho, condições de alojamento, alimentação e estilos de vida. A mortalidade precoce e a morbilidade são muito superiores entre classes situadas na base da hierarquia social do que entre as do topo, ou seja, as desigualdades na saúde acompanham a hierarquia das desigualdades sociais. A taxa de prevalência das doenças (proporção de indivíduos com uma doença diagnosticada) e a taxa de mortalidade infantil (antes de completarem um ano de idade) são maiores entre os estratos inferiores que trabalham em profissões manuais e se situam na base da pirâmide social (estes apresentam ainda maiores perturbações no sono e um menor acompanhamento na gravidez). O campo da saúde constitui-se como um “observatório” privilegiado das desigualdades sociais contemporâneas e, muito particularmente, das diferenças ao nível das classes sociais, refutando hipóteses e teses defendidas por vários autores que recomendaram o declínio da importância da análise das classes sociais no contexto das sociedades modernizadas, como resultado das alterações da estrutura socioeconómica, do crescimento das “classes médias”, etc. A redução das desigualdades sociais em saúde depende não só do conhecimento concreto e rigoroso desta nova realidade, mas também das políticas sociais integradas e da intervenção social alargada a outros domínios (ex.: educação, emprego e condições sociais em geral). Até que ponto a forma como os dados são construídos e operacionalizados podem enviesar a análise da relação entre as desigualdades em saúde e as classes sociais? Na maioria dos trabalhos de investigação realizados e na recolha dos dados estatísticos, as classes sociais são categorizadas com base numa única variável (profissão), ou na combinação de duas variáveis (a profissão e a situação na profissão), colocando-se a questão da possibilidade de se estarem a medir diferenças entre as profissões e não entre classes sociais. Uma das consequências da associação direta é a impossibilidade de estimar a pertença de classe nos indivíduos ao longo das diferentes fases da vida, porque a sua situação atual pode ser diferente da sua situação na infância, em consequência de processos de mobilidade social (mudança de posição na estrutura de classes), intrageracional e intergeracional. Como o estado de saúde faz parte de um processo cumulativo, é de realçar a importância das condições sociais existentes durante a infância, uma vez que podem influenciar significativamente o estado de saúde dos adultos. A profissão é apenas um entre vários indicadores de distribuição de recursos, poder e oportunidades numa dada sociedade, e o seu uso exclusivo não permite conhecer um conjunto de outros indicadores como o status/prestígio ou o acesso a bens materiais e a bens de consumo. O uso exclusivo deste indicador parte do pressuposto de que as condições de existência dentro de cada classe são homogéneas, não dando conta das diferenças que possam existir dentro de cada classe social. Mas a profissão tem a vantagem de ser multidimensional, por estarem associados outros indicadores como propriedade, rendimento, escolaridade e posição profissional. Que critérios permitem identificar as classes sociais? De que modo se relacionam entre si e como se operacionalizam? As desigualdades em saúde são consequência de desigualdades presentes na estrutura das classes sociais e relacionam-se com as condições de existência dos indivíduos, traduzidas em diferenças face Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT ao rendimento, acesso a bens de primeira necessidade, condições de alojamento, acesso e gestão de informação, escolaridade, alimentação ou condições de trabalho. o Classe social: reporta-se a categorias sociais compostas por conjuntos de indivíduos que por serem portadores de montantes e tipos de recursos semelhantes, têm condições de existência semelhantes e a desenvolvem afinidades nas suas práticas e representações sociais, ou seja, naquilo que fazem e naquilo que pensam. Está associado a diferentes tipos de capitais: capital económico (propriedade e rendimentos), capital cultural (escolaridade e cultura), capital social (relacionamentos sociais) e capital simbólico (prestígio). A necessidade de se considerar a multidimensionalidade de critérios relaciona-se com o facto de indivíduos terem, por exemplo, rendimentos elevados e baixo grau de escolaridade. As classes sociais são identificadas como: Empresários, Dirigentes e Profissionais Liberais - proprietários e diretores de empresas, dirigentes do público. Profissionais Técnicos e de Enquadramento - profissões qualificadas com diploma. Trabalhadores independentes - pequenos comerciantes e microempresas. Agricultores Independentes - detentores de propriedades agrícolas familiares. Empregados Executantes - profissões pouco qualificadas do setor terciário. Operários – incluem todos os operários industriais. Assalariados Agrícolas - trabalhadores agrícolas que trabalham por conta de outrem. A produção sociológica sobre o efeito provocado pelas desigualdades entre as classes sociais nas desigualdades em saúde tem privilegiado duas dimensões principais que se articulam: a influência das condições materiais e a influência dos fatores culturais: o Os rendimentos mais elevados proporcionam o acesso mais alargado a recursos de saúde, e as pessoas com rendimentos menores têm mais dificuldades aceder a cuidados de saúde privados, determinadas especialidades médicas, compra de medicamentos, cumprir ordens médicas e recursos alimentares. o Quanto maior é a escolaridade menor é a mortalidade precoce e ocorrência de doenças, uma vez que têm maior acesso a informação relacionada com a saúde e maior capacidade de absorver e interiorizar a informação. Maiores recursos cognitivos e informativos provenientes de um maior volume de capital cultural e a maior predisposição para comportamentos preventivos. Apesar de existir articulação e sobreposição entre dimensões, os indivíduos posicionados na classe social com maior escolaridade vivem mais anos que aqueles com maior rendimento. A análise sociológica sobre diferentes posições sociais tem origem em duas correntes teóricas: o Estratificação social: categorização hierárquica dos indivíduos, famílias ou grupos numa escala social, em função dos seus recursos desiguais. As posições não são fixas nem imutáveis, predominando a tendência para a reprodução social, ou seja, os indivíduos ocupam as posições de que descendem. Nas sociedades contemporâneas observa-se a existência de mobilidade social: ocupam posições sociais na estrutura de classes diferentes das que as suas famílias ocupavam (mobilidade intergeracional) ou da que ocupavam no início da sua trajetória profissional (mobilidade intrageracional). o Classe social Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT Qual a relação entre saúde e estilos de vida? Até que ponto dependem de opções individuais e até que ponto dependem de condicionantes sociais? A abordagem de estilos de vida relacionados com a saúde está associada a práticas específicas que se podem enquadrar como promotoras da saúde ou para a prevenção de riscos. A na álise/discussão acerca da relação entre estilos de vida e saúde têm-se posicionado em torno de dois polos: a perspetiva de que as práticas, que podem favorecer ou evitar o aparecimento de grande parte das doenças predominantes nas sociedades contemporâneas, dependem principalmente das escolhas individuais, e a perspetiva de que os estilos de vida se relacionam com fatores estruturais e com condições sociais de existência. A relação entre saúde e os estilos de vida não é linear e depende do cruzamento entre práticas individuais e condicionantes sociais, correlacionando-se com classes sociais e variando consoante a posição social ocupada. Se comportamentos e práticas dependessem exclusivamente das escolhas individuais, não se verificariam diferenças tão acentuadas entre os estilos de vida das diferentes classes sociais, com consequências ao nível das desigualdades em saúde. o “Habitus” incorpora capital cultural, simbólico, social e económico acumulado ao longo da trajetória de vida, logo a maioria dos indivíduos que pertence a uma classe social tende a ter recursos semelhantes, mas também ideias, práticas e gostos (modo de vestir, hobbies, gostos alimentares, etc.). Os estilos de vida não são só definidos pela forma como os indivíduos ocupam uma posição na classe, mas também pela forma como as condições sociais de existência homogéneas e as vivências similares influenciam o seu modo de pensar e agir. Porque é que as desigualdades entre as classes sociais aumentaram em vez de diminuir? No rescaldo da segunda guerra mundial, as orientações políticas permitiram aplicar os princípios Keynesianos do Estado-Providência, a fim de garantir equidade social e a redução das desigualdades sociais através da implementação de políticas públicas centradas na proteção dos cidadãos. No entanto, verificou-se um aumento das disparidades entre classes sociais, refletindo-se este fator no aumento das desigualdades em saúde, confirmando a ideia de que o campo da saúde constitui um reflexo das desigualdades sociais (por exemplo em relação à distribuição de rendimentos e as taxas de pobreza). Não existe relação direta entre a generalização do acesso à saúde e a diminuição das desigualdades sociais em saúde, pois as condições de saúde são determinadas por um conjunto de fatores e não apenas pelo acesso a serviços e bens de saúde. O direito e acesso à saúde passou a estar garantido a toda a população e, sem dúvida, este fator contribuiu para a melhoria dos resultados expressos nos variados indicadores de saúde (taxa de mortalidade e esperança média de vida), mas a existência de direito não equivale ao acesso traduzido na frequência dos serviços e dos cuidados de saúde que varia consoante as classes sociais. As classes situadas na base da hierarquia usufruem menos desses serviços, sobretudo os mais especializados como cirurgias, medicina dentária e intervenções tecnológicas, mas também cuidados preventivos e diagnósticos de doenças em fase inicial. 2.2 Saúde e desigualdades étnicas, territoriais e etárias (páginas 91-101) De que forma a idade se relaciona com as desigualdades em saúde? Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT Quanto maiores são as probabilidades de contrair doenças e as necessidades das pessoas de usufruírem de mais recursos de saúde menores são as condições socioeconómicas que têm para enfrentar essas dificuldades, devido ao abandono do mercado de trabalho e à passagem à situação de reforma ("lei dos cuidados inversos" - relação inversa entre as necessidades e as condições socioeconómicas para as enfrentar). Além disso, os mais velhos tendem a ter um menor grau de escolaridade (recurso importante para prevenir a saúde e enfrentar a doença). Estas questões assumem relevância devido ao envelhecimento da população como consequência da diminuição da taxa de mortalidade e natalidade. Em países como Portugal, acresce-se o baixo valor médio das reformas e pensões. O envelhecimento reproduz e agrava as desigualdades sociais na trajetória de vida dos indivíduos, fazendo com que as desigualdades em saúde tendam a aumentar com a idade. Deve-se ter em conta que a idade não é uma categoria homogénea, pois entre a população idosa existem diferentes condições sociais e materiais de existência, diferentes recursos para prevenir a saúde e enfrentar a doença, bem como diferentes percursos de vida que se refletem no estado de saúde atual. Até que ponto as diferenças étnicas constituem um prolongamento das diferenças entre as classes sociais? Em Portugal e na maior parte dos países Europeus, a maior parte dos grupos étnicos minoritários correspondem a populações imigrantes ou provenientes de famílias de origem de imigrantes, evidenciando pior estado de saúde que a população nascida nesses países. Na estrutura das classes sociais, estes grupos posicionam-se geralmente nas classes situadas na base da hierarquia, verificando-se uma sobreposição entre as diferenças étnicas e as diferenças reportadas às classes sociais, o que leva a questão de as diferenças étnicas poderem constituir um prolongamento das diferenças existentes entre classes sociais. Parte das desvantagens das minorias étnicas relativamente à saúde e à doença não se devem apenas a fatores relacionados com a pertença a grupo étnicos, mas também a diferentes classes sociais que se refletem nesses grupos, pelo facto de se posicionarem nas classes da base da hierarquia social (locais onde estes vivem, apresentam más condições de habitualidade e do espaço público). Acrescentam-se as desvantagens relacionadas com a discriminação por pertencerem a grupos étnicos, que estão direta ou indiretamente relacionados com racismo. Esta discriminação étnica está presente nos serviços públicos de saúde (nomeadamente nos cuidados prestados no âmbito do Serviço Nacional de Saúde), em práticas de profissionais caracterizadas, pelo não reconhecimento e aceitação da diversidade social e das diferenças culturais existentes entre a população. Outro exemplo de discriminação étnica é o diagnóstico das doenças mentais, cujo mesmo é influenciado por valores sociais e por estereótipos culturais. Num mesmo país, os grupos étnicos são muito diferentes uns dos outros em termos culturais e sociais (classe social, grau de escolaridade, estilos de vida), sendo que no interior destes, aqueles que se situam em posições mais elevadas da estrutura de classes sociais apresentam geralmente melhor estado de saúde. Qual a relação entre as diferenças culturais subjacentes aos grupos étnicos e as desigualdades em saúde? Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT As desigualdades em saúde que se verificam entre os grupos étnicos englobam aspetos relacionados com as identidades e as culturas desses grupos. o Raça: diferenças físicas/biológicas que se possam estabelecer entre grupos humanos. o Etnicidade: conjunto de características e traços identitários distintivos que trazem formas de diferenciação cultural e sistemas de valores, comunicação, práticas sociais e estilos de vida que distinguem os membros de grupos étnicos. Pode incluir origens históricas e identidades políticas comuns. Um grupo étnico não se pode considerar apenas através de uma única variável (raça), fatores como a origem geográfica, a língua, as crenças, os valores, as regras, os costumes, as tradições, os estilos de vida, a maneira de vestir e o tipo de alimentação também devem ser considerados. Na análise dos grupos étnicos é necessário considerar que as identidades culturais são processos dinâmicos, que se vão alterando com o tempo e de geração em geração. O enfoque excessivo colocado nas diferenças culturais na tentativa de explicar as desigualdades em saúde, tende a atribuir à cultura dos grupos étnicos a responsabilidade pela maior ocorrência de certos tipos de doença (“culpabilização da vítima”) nesses grupos, ocultando os fatores estruturais que estão por trás da incidência da doença. De que forma as desigualdades territoriais se relacionam com as desigualdades em saúde? As desigualdades em saúde que se relacionam com as classes sociais, grupos étnicos, idade e género estão desigualmente distribuídas em termos de espaço e território, o que origina uma sobreposição entre a dimensão territorial e as outras referidas. Assim, os espaços geográficos ocupados por populações com maiores carências sociais e materiais refletem-se nas diferenças geográficas em termos de saúde (ex.: áreas metropolitanas ocupadas por populações com menos recursos (velhos, emigrantes) têm piores condições urbanas, de habitabilidade e de higiene). A relação entre as desigualdades territoriais e as desigualdades em saúde resulta da combinação entre dois tipos de efeitos, a composição da população e o contexto do local/territorial. A poluição, o clima, a qualidade da água, do ar, habitacional, são fatores que estão relacionados com a maior ou menor incidência de determinadas doenças. A distribuição mais equitativa dos rendimentos de um dado país tende a resultar numa maior esperança média de vida à nascença da população. As maiores assimetrias de um país ou região, em termos socioeconómicos, tendem a resultar numa taxa de mortalidade mais elevada e numa menor esperança média de vida à nascença, enquanto as sociedades mais homogéneas em termos económicos e sociais, as pessoas tendem a viver mais anos. Ou seja, não existe uma relação direta entre a riqueza do país ou o investimento em saúde e os indicadores relativos (ex.: EUA que têm alto rendimento per capita e uma % elevada de investimento face ao PIB, apresenta valores de e.m.v semelhantes aos de Cuba). 2.3 Saúde e género (páginas 101-114) Como se distribui a esperança média de vida à nascença, a taxa de morbilidade e o tipo de doença, por sexo? Como se distinguem os conceitos de sexo e de género? Em termos gerais, as mulheres vivem durante mais anos que os homens. As características biológicas das pessoas não se alteram significativamente ao longo do tempo, ao contrário do que Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT acontece às transformações sociais e culturais, que levam a alterações do papel da mulher na sociedade. o Sexo: domínio natural, referente a diferenças de características físicas que distinguem homens de mulheres a partir da determinação genética e biológica; é uma categoria descritiva. o Género: domínio das dimensões sociais e culturais que se refere aos traços sociais e culturais configuradores de masculinidade e feminilidade, interiorizados e contruídos socialmente a partir de representações dominantes acerca das características e das práticas mais apropriadas a homens e mulheres; é uma categoria analítica. No sexo masculino são mais frequentes as mortes prematuras causadas por doenças cardiovasculares, pulmonares, do estômago, esófago, fígado, DSTs, acidentes de trabalho, de viação, alcoolismo, toxicodependência, homicídios e suicídio, etc. O tipo de doenças mais frequentes no sexo feminino são psicológicas e tendencionalmente menos fatais. No entanto, o facto de as mulheres serem, em média, mais velhas e menos expostas a acidentes e doenças fatais de curto prazo, torna-as mais propensas a contrair doenças associadas ao envelhecimento, como doenças crónicas. Até que ponto a forma como os dados são construídos e operacionalizados podem enviesar a análise entre as desigualdades em saúde e o género? Até que ponto essa análise assenta em artefactos? Ao contrário do que sucede na taxa de mortalidade, medida através de dados fiáveis e menos ambíguos, a taxa de morbilidade é operacionalizada com base num critério aparentemente objetivo, assente no diagnóstico médico de uma doença, mas que depende de fatores e juízos de valor subjetivos relacionados com a subjetividade (como são expressos os sintomas e da própria interpretação do médico) inerente aos diagnósticos e atos médicos. Logo, os diagnósticos não estão isentos de representações sociais e de ideologias que os influenciam decisivamente (ex.: as doenças mentais). Estes fatores cruzam-se com as questões relacionadas com o género, na medida em que devido aos valores dominantes que são transmitidos e interiorizados nos processos de socialização, as mulheres tendem a admitir que estão doentes mais facilmente que os homens, visto que estes tendem a dispensar mais os cuidados de saúde e a negar a presença de dor ou doença, embora admitam com mais frequência problemas relacionados com dependências. Os médicos tendem a valorizar de forma diferente os sintomas declarados em função do sexo, prescrevendo um maior número de medicamentos e diagnósticos às mulheres do que aos homens, nem sempre devido às diferenças reais face ao estado de saúde, mas sim devido à influência das representações sociais dos estereótipos acerca da identidade de género (ideia de que as mulheres são mais frágeis, associada à suscetibilidade de contração de doenças). Outros fatores que podem enviesar a análise acerca da diferença entre a taxa de morbilidade masculina e feminina são o facto de as mulheres acederem mais aos serviços de saúde do que os homens, o que torna mais provável que lhes sejam diagnosticadas doenças com maior frequência. De que forma as identidades de género influenciam a saúde e a doença? As diferenças de género produzem efeitos na evolução desigual da esperança média de vida masculina e feminina ao traduzirem perceções e práticas sociais distintas, quer através das formas de lidar com a doença e com os riscos de a contrair, quer através das práticas que envolvem riscos Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT para a saúde bem como das práticas preventivas ligadas aos cuidados particulares relativamente à saúde. Os traços dominantes da masculinidade refletem-se negativamente na saúde e na mortalidade precoce dos homens porque, estes tendem a ser mais vulneráveis a situações e comportamentos de risco, por privilegiarem mais as atividades de lazer que envolvem maior risco físico (ex.: atividades radicais) e por serem mais propensos ao consumo de álcool e de tabaco. Estas práticas são interiorizadas ao papel masculino, que tendem a incentivar os homens a assumir este comportamento e estigmatizar aqueles que não o fazem. Por oposição os valores dominantes referentes aos papéis associados ao sexo feminino induzem- nas a evitar comportamentos de risco. De outro modo, a maior procura e maior acesso efetivo aos serviços de saúde por parte das mulheres têm sido relacionadas com a socialização feminina transmitido desde ter um relacionamento próximo com os serviços de saúde que ocorre desde a infância e prolonga-se ao longo da vida através de práticas associadas ao papel feminino tradicional de "cuidar", bem como devido ao estereótipo tradicional do género feminino que influencia a maioria das mulheres a aceitar e conviver facilmente com a condição de fragilidade física e psicológica. Os homens tendem a assumir comportamentos contraproducentes para a saúde ao subestimar e desvalorizar os sintomas de doença e mal-estar físico e psicológico, dispensar mais frequentemente os conselhos e a ajuda médica (sinal de fraqueza) e solicitar menos os serviços de saúde, faltam os relacionados com a “socialização para a masculinidade”, que produz formas identitárias associadas à robustez, força física e virilidade. As diferenças de género também se verificam ao nível das práticas sexuais, em que os indivíduos do sexo masculino tendem a ter maior número de passeios sexuais e mais relações sexuais desprotegidas facto que, não é independente da maior frequência de transmissão do vírus da SIDA a indivíduos do sexo masculino, facto que está associado ao estereótipo masculino que relaciona as noções de masculinidade e de sexualidade. Como é que as condições sociais influenciam a saúde e a esperança média de vida feminina e masculina? Relativamente à evolução da esperança média de vida feminina, o seu aumento relaciona-se com diversos fatores: a redução da mortalidade no parto, a criação de menos filhos e em melhores circunstâncias, a melhor situação económica e maior autonomia resultante da presença massiva das mulheres no mercado de trabalho, a maior separação entre as férias familiar e profissional, a melhoria geral das condições de vida materiais e psicológicas. Por outro lado, a maior taxa de mortalidade masculina também está relacionada com o facto de o desempenho profissional dos homens envolver maior risco físico e estar sujeito a condições de trabalho piores, mais perigosas e mais desgastantes. No que toca a fatores estruturais explicativos de maior taxa de morbilidade (contração de doenças diagnosticadas por um médico) feminina relativamente à masculina, prende-se com a sobrecarga de trabalho que recai sobre as mulheres pelo facto de acumularem múltiplos papéis sociais, nas esferas profissional e familiar, em consequência da distribuição desigual das tarefas domésticas. Como consequência existe a probabilidade de deterioração do estado de saúde e uma maior ocorrência de doenças do foro psicológico em mulheres. Contudo, a relação entre a morbilidade e o desempenho simultâneo de papéis familiares e profissionais, varia significativamente em função das condições e do tipo de trabalho desempenhado. Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT Como tem evoluído a esperança média de vida à nascença por sexo? Quais os motivos que podem estar na base dessa evolução? A esperança média de vida tem aumentado significativamente para ambos os sexos. Contudo há um aumento da diferença entre a e.m.v feminina e masculina. A taxa de mortalidade masculina está a descer a um ritmo maior (efeitos de campanha de prevenção) que a feminina (no futuro, pode haver uma maior redução da diferença entre os sexos em termos de mortalidade prematura e de esperança média de vida à nascença, resultado das mudanças correspondentes às identidades de género). Num contexto de diminuição das distâncias entre os papéis masculino e feminino, acompanhada das novas formas de entender a masculinidade e a feminilidade resulta na adoção por um maior número de mulheres de um conjunto de práticas que envolve riscos para a saúde (consumo de álcool, condução mais arriscada), enquanto que mais homens adotam cada vez mais um conjunto de práticas e comportamentos que, na aceção tradicional dos papéis masculino e feminino, estavam reservados às mulheres, nomeadamente a precaução com a saúde e com o corpo. Como variam as relações entre a saúde e género nas diferentes classes sociais? A distribuição desigual da esperança média de vida à nascença em função do sexo, não se traduz da mesma forma em todas as classes sociais, nem em todos os grupos étnicos. As diferenças inerentes às condições sociais de existência das diferentes classes sociais tendem a sobrepor-se às diferenças de género, ou seja, “serão mais distantes entre si os indicadores de saúde/doença das mulheres de diferentes estratos sociais, do que as verificáveis entre mulheres e homens com posições sociais idênticas”. A diferença entre as taxas de morbilidade feminina e masculina pode também estar associada com a posição ocupada pela maioria das mulheres na divisão social do trabalho comparativamente à dos homens. Assim, as mulheres tendem a ocupar posições desfavoráveis na divisão social do trabalho e, consequentemente na estrutura de classes, aumentando deste modo a probabilidade de contrair doenças. Beatriz Leonardo – 1º ano IMRT

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