Repertório Teórico para Exame de Graduação 2023 - Fernandes Karate PDF

FERNANDES KARATE REPERTÓRIO TEÓRICO PARA EXAME DE GRADUAÇÃO 2023 Noções históricas acerca do Karate Bushido (7 virtudes, 5 chaves para saúde, 3 estados mentais) Dojo Kun (Shotokan) Parnamirim 2023 NO...

FERNANDES KARATE REPERTÓRIO TEÓRICO PARA EXAME DE GRADUAÇÃO 2023 Noções históricas acerca do Karate Bushido (7 virtudes, 5 chaves para saúde, 3 estados mentais) Dojo Kun (Shotokan) Parnamirim 2023 NOÇÕES HISTÓRICAS ACERCA DO KARATE Bubishi - 武 備 志 Pode ser traduzido enquanto “Manual de Preparação Militar” e faz referência a um livro de origem chinesa, cuja autoria é imprecisa. Sua versão mais antiga conhecida é de 1621 (Séc. XVII) e, desde então, já foram reconhecidos cerca de 240 volumes, todos transmitidos e transcritos manualmente através das gerações. Seu conteúdo consiste em várias técnicas e estratégias implementadas em guerras, perpassando por táticas de logística de exército, artilharia, guerra naval, armaduras, até mesmo catálogos de pontos vitais (regiões mais sensíveis do corpo), cujo reconhecimento demanda alto grau de conhecimento em anatomia. O Bubishi aborda ainda instruções de combate corpo a corpo (descritas e ilustradas). Embora não se tenha precisão histórica acerca do momento de inserção desta literatura em Okinawa, o Bubishi, de fato, integrou a modalidade marcial única que ali se formava. Trata-se, portanto, do registro mais antigo que se conhece relacionado ao Karate, tendo influenciado profundamente diversos mestres, dentre eles, Gichin Funakoshi. A partir de elementos do Bubishi combinados com as artes indígenas de Okinawa, formaram-se as bases do Tode (Karate). Figura 2: Registros de páginas originais de um Bubishi. Fonte: Bubishi The Classic Manual Of Combat, 2016. Figura 1: Diagramas retirados do artigo de defesa Pessoal do Bubishi. Ilustrações adaptadas de um original. Fonte: Bubishi The Classic Manual Of Combat, 2016. 2  Ryukyu, Okinawa e a formação do Karate Ryukyu atualmente é um arquipélago japonês localizado ao Sul do Japão, cuja ilha principal e central é a de Okinawa (hoje, oficialmente, uma prefeitura japonesa). JAPÃO CHINA Ilhas Ryukyu OKINAWA Figura 3: Localização do arquipélago Ryukyu, ao sul do Japão e sua ilha principal, Okinawa. Fonte: Adaptado do Google Maps. Entretanto, a anexação de Okinawa ao Japão é um evento mais recente do que se costuma entender. O arquipélago de Ryukyu, desde seus mais antigos registros, já indicava relações de comércio entre suas ilhas e o litoral chinês. Ao se unificar em um reino independente no século XV (1429), liderado pelo clã Shuri, Ryukyu tornou-se, cedo, um porto comercial chinês (estado tributário da dinastia Ming). Tamanho vínculo político e econômico entre a China e o reino de Ryukyu também promoveu um intenso intercâmbio cultural entre esses povos, através do qual, ao longo do tempo, os okinawanos tiveram contato com diversos elementos e disciplinas da tradição chinesa, por exemplo, dentre os notáveis para a formação do Karate: o Bubishi, o Quanfa (análogo ao Kata), Shuai Jiao (luta livre chinesa) e o Shaolin Quan (estilo de Wushu/ Kung Fu). Okinawa, apesar de suas relações políticas, já possuía uma população com idioma e cultura próprios (povo Uchinachu). Nesse contexto, mediante a crescente inserção de características chinesas na ilha, principalmente entre os séculos XVIII e XIX, era inevitável a miscigenação desses conteúdos culturais, tendo como resultado, o desenvolvimento de métodos de combate singulares e propriamente okinawanos, dentre eles: Torite – técnicas para agarrar e restringir baseadas no Shaolin Quan. Tegumi – técnicas de luta livre baseadas no Shuai Jiao. Kata – rotinas de luta solo baseadas no Quanfa. Ti’gwa – técnicas de percussão baseadas no Muay Boran (antigo Muay Thai). 3  Essas disciplinas foram desenvolvidas em Okinawa durante seu prolongado intercâmbio com a China, e compiladas numa modalidade única, então conhecida como Te, Toudi ou, ainda, Tode (“mão chinesa”, referentes ao Karate antigo). Nesse ponto, é evidente a conclusão de que o Karate é originalmente uma arte okinawana, mas fortemente baseada em métodos chineses. Sem maiores registros do período que antecede o século XVIII sobre a prática de Tode: no reino de Ryukyu, esse sistema de luta servia ao propósito estrito de segurança e ordem interna do império, logo, tratado apenas por oficiais militares e policiais. A partir do século XIX, pouco a pouco, tais conhecimentos alcançaram a comunidade civil, contudo, se limitavam à nobreza okinawana, que abordou o Tode numa perspectiva de autodefesa e Figura 4: Ideogramas desenvolvimento humano. chineses para “Tode”. Fonte: Google Imagens. Atenção! É comum, mas errôneo, o entendimento de que o Karate foi uma modalidade desenvolvida por camponeses desarmados. Além dos registros históricos descartarem essa hipótese, os conhecimentos prévios necessários para se versar o Tode (desde artigos militares até saberes anatômicos e biomecânicos) não eram acessíveis à comunidade plebeia. A reformulação do Karate Ainda no século XIX, com o advento da Restauração Meiji (reforma política e ideológica japonesa, iniciada em 1868) em substituição ao regime militar autoritário ali vigente, o arquipélago foi oficialmente anexado ao Japão, não de forma pacífica, mas por meio da censura ao idioma, cultura e religião próprios das comunidades de Ryukyu, sendo essas submetidas agora aos termos e administração nipônica (relativo ao Japão). Tal processo político foi de supra importância para o desenvolvimento da potência regional em que o Japão se transformaria na época, entretanto, para regiões periféricas como Okinawa (antes, pouco relacionadas com o império japonês) representou uma completa ruptura de sua identidade. Okinawa passou então a ser uma prefeitura japonesa e sua população, forçadamente, se adequou à cultura japonesa e, por consequência, as artes de luta também foram afetadas. Dado o caráter pacifista da reforma, os sistemas de luta japoneses foram descaracterizados de seu propósito de guerra e reformulados para atenderem às pautas de desenvolvimento humano. No Japão ocorreu, portanto, a substituição do Bujustu pelo Budo. 武術 “Técnica Marcial”, correspondente ao grupo de modalidades clássicas japonesas, treinadas exclusivamente pelos Bushi (“guerreiros”, samurais) BUJUTSU com o intuito de servir ao império, sobretudo, nas guerras. São exemplos de integrantes do Bujutsu: Kenjutsu, Iaijutsu, Bojutsu, Jujutsu, Kyujutsu, etc. 武道 “Caminho Marcial”, correspondente ao grupo de modalidades clássicas japonesas, em substituição ao Bujutsu, com foco no autodesenvolvimento, BUDO são técnicas admitidas pelos samurais, mas também gradualmente absorvidas pela polução civil. São exemplos de integrantes do Budo: Kendo, Iaido, Judo, Karate-Do, etc. 4  Todavia, sendo o Karate uma modalidade Okinawana, não haveriam motivos para a preservação desse sistema, salvo pelos esforços de mestres como Anko Itosu e seu então discípulo, Gichin Funakoshi. No decorrer do século XIX, esses nomes foram grandes responsáveis pela reformulação do Karate de Okinawa para o Karate do Japão, tendo eles promovido toda a adaptação metodológica que a arte demandava para atender às diretrizes do império japonês. Anko Itosu, criador da série de Kata Pinan (análogo aos Heian), foi responsável pela introdução do Karate nas escolas de ensino primário. Já Gichin Funakoshi, reconhecido “Pai do Karatê Moderno”, fundador do estilo Shotokan (mais praticado no mundo), e autor de diversas mudanças e literaturas importantes na divulgação e identificação do Karate enquanto pertencente ao Japão. Atenção! Dentre os esforços de Funakoshi para popularizar o Karate no Japão, foram produzidos livros inicialmente intitulados de “Tode-Jutsu” ou “Karate-Jutsu” (para indicar que a arte integrava o Bujutsu) e, conforme demandado, novos escritos mais tarde já traziam o sufixo “Do” (quando o Karate já estava compreendido nas disciplinas japonesas, no Budo). Entretanto, vale lembrar que o Karate, em verdade, é uma disciplina originalmente Okinawana, que só passou a integrar o escopo das modalidades japonesas pós reformar política e ideológica, portanto, nunca pertenceu ao Bujutsu. “KARA” Vazio “TE” Mão “DO” Caminho Figura 5: Esquema do tradução dos ideogramas que constituem KARATE-DO. Fonte: Adaptado de Bubishi The Classic Manual Of Combat, 2016 Funakoshi também trocou os ideogramas chineses por japoneses, de modo a preservar sua fonética (“Karate”) mas alterando o significado de “Mãos Chinesas” para “Mãos Vazias”. Adicionou ainda o sufixo “Do”, cujo significado é “Caminho” ou “Via”, para se alinhar aos termos japoneses. 5 BUSHIDO - 武⼠道 De autoria imprecisa, o Bushido é um código de ética não escrito seguido pelos Bushi (“guerreiros”) ou, mais conhecidos, samurais, que surgiu mediante o processo de reforma ideológica proposto na Era Meiji, cujo objetivo era remodelar a conduta dos samurais (antes, dedicados exclusivamente à guerra e seus recursos sanguinários) para se adequar à filosofia do Taoísmo (“Do”, para os japoneses). Bushido significa, literalmente, “Caminho do Guerreiro” e é composto por 7 virtudes, 5 chaves para saúde e 3 estados mentais, sendo eles: 7 VIRTUDES Características fundamentais do comportamento em sociedade, determinantes de seu caráter: MAKOTO – HONESTIDADE CHUUGI – LEALDADE YUKKI – CORAGEM GI – JUSTIÇA REI – RESPEITO MEIYO – HONRA JIN – BENEVOLÊNCIA 5 CHAVES PARA SAÚDE Regras básicas de cuidado com o próprio corpo: ALIMENTAÇÃO RACIONAL DESCANSO APROPRIADO ATIVIDADE FÍSICA REGULAR HIGIENE PESSOAL PENSAMENTO POSITIVO 3 ESTADOS MENTAIS Posicionamentos mentais ou estados psicológicos a serem alcançados: FUDOSHIN – Mente Inabalável: que não se permite desviar dos objetivos propostos, independente das dificuldades enfrentadas, admitindo os sacrifícios necessários. MUSHIN – Não Mente: estado de percepção plena no tempo presente, que não produz julgamento sobre o que se percebe, apenas contempla apuradamente os detalhes da situação, não se deixando acometer por ansiedades (futuro) ou angústias (passado). ZANSHIN – Mente Contínua: estado de capacitação total em um contexto determinado, onde a conduta é sempre precisa e assertiva conforme as situações são apresentadas. Aqui, todas as demandas/problemas de um dado contexto são conhecidas e as respostas/soluções para cada uma são imediatas e proporcionais. 6 DOJO KUN - 道場訓 Literalmente: “Ensinamentos do Dojo”, o Dojo Kun representa o conjunto de regras admitidas pelo praticante de determinada escola de artes marciais. No caso do Karate, a maioria dos estilos possui seu próprio Dojo Kun, sendo aquele admitido pela escola Shotokan: ESFORÇA-SE PARA FORMAÇÃO DO CARÁTER FIDELIDADE PARA COM O VERDADEIRO CAMINHO DA RAZÃO CRIAR O INTUITO DE ESFORÇO RESPEITO ACIMA DE TUDO CONTER O ESPÍRITO DE AGRESSÃO Não existe ordem de prioridade entre os princípios, cabendo ao praticante segui-los em prol de seu desenvolvimento pessoal. 7