O Sabor Está na Diferença - MEC PDF
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2001
Miguel Esteves Cardoso
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Summary
Este documento explora a ideia de que a diferença é a coisa mais bonita do mundo defendendo que a diversidade é essencial. O autor argumenta que a tendência para a uniformização e a padronização pode levar a conflitos e a uma perda de sabedoria. Em essência, a peça destaca a importância de apreciar e celebrar as nuances de diferentes perspectivas.
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O sabor está na diferença A coisa mais bonita do mundo, mais bonita do que a beleza, é a diferença. Suponhamos que o leopardo é o animal mais bonito da terra. Mais bonito do que ver cem leopardos juntos é ver um leopardo rodeado de outros animais, feios ou bonitos. Bonito, bonito é um leopardo ao...
O sabor está na diferença A coisa mais bonita do mundo, mais bonita do que a beleza, é a diferença. Suponhamos que o leopardo é o animal mais bonito da terra. Mais bonito do que ver cem leopardos juntos é ver um leopardo rodeado de outros animais, feios ou bonitos. Bonito, bonito é um leopardo ao pé de um ornitorrinco, um ornitorrinco ao pé de um flamingo, um flamingo ao pé de um crocodilo. É por isso que a ideia da Arca de Noé é tão comovente. Noé não escolheu os animais mais bonitos, nem os mais úteis, nem os mais fortes. Escolheu dois de cada espécie, não porque tivessem alguma qualidade particular, mas por serem diferentes dos demais. Ser diferente é uma qualidade só por si. Só por ser diferente tem de ser defendido. Acontece, porém, que vivemos num tempo igualitário, unificador e racionalista, em que as diferenças que ainda existem tendem a ser abolidas. Nota-se em tudo. Uniformiza-se, massifica-se, burocratiza-se como nunca antes. (...) Claro que é mais fácil governar um mundo constituído por pessoas parecidas, com interesses parecidos e ideias parecidas, posses parecidas e hábitos parecidos, do que um mundo multiplicado por um milhão de diferenças. As diferenças levam a conflitos, a confusões, a guerras, à necessidade de tomar decisões. É por isso, por razões de eficiência, que as diferenças tendem a ser eliminadas pelas sucessivas vagas de unificação. \[\...\] A diferença é a coisa mais bonita do mundo, É distinta. A igualdade é indistinta. Distinguir é diferenciar. Portugal e as outras nações da Europa e do mundo têm de defender-se da atração uniformizadora da racionalidade e da economia. Têm de distinguir-se pela diferença. Com as nações, sobretudo com as velhas, é na diferença que está o sabor. Miguel Esteves Cardoso, Último Volume Assírio & Alvim Ed., 2001 (págs. 47-51, com supressões)