Efeitos do treinamento aeróbico sobre a frequência cardíaca PDF
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Universidade de Brasília
2003
Marcos B. Almeida e Claudio Gil S. Araújo
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Este artigo revisa os efeitos do treinamento aeróbico na frequência cardíaca, destacando a importância do exercício físico na redução da morbimortalidade cardiovascular. O artigo aborda os mecanismos fisiológicos envolvidos na modulação da frequência cardíaca durante o exercício e a recuperação pós-esforço.
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See discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/200138090 Efeitos do treinamento aeróbico sobre a frequência cardíaca Article · January 2003 CITATIONS READS 58 5,075 2 authors: Marcos Bezerra de Almeida Claudio Gil Araujo Universidade Federal de Sergipe CLINIMEX - Clínica de Medicina do Exercício (Exercise Medicine Clinic), Rio de Jane… 99 PUBLICATIONS 843 CITATIONS 398 PUBLICATIONS 7,749 CITATIONS SEE PROFILE SEE PROFILE All content following this page was uploaded by Claudio Gil Araujo on 01 February 2014. The user has requested enhancement of the downloaded file. ARTIGO DE REVISÃO Efeitos do treinamento aeróbico sobre a freqüência cardíaca Marcos B. Almeida1 e Claudio Gil S. Araújo1,2 RESUMO informação prognóstica relevante. Aqueles que apresentam recuperação mais lenta da FC no primeiro minuto pós-es- O exercício físico regular representa um importante fator forço possuem risco de mortalidade aumentado. Não são para reduzir índices de morbimortalidade cardiovascular e claros ainda os mecanismos envolvidos na modulação da por todas as causas. Entretanto, parece haver benefícios FC em função de um programa de exercícios. adicionais e independentes da prática regular do exercício físico e da melhora no nível de condição aeróbica. A fre- Palavras-chave: Treinamento. Freqüência cardíaca. Sistema ner- qüência cardíaca (FC) é mediada primariamente pela ativi- voso autônomo. Exercício. dade direta do sistema nervoso autônomo (SNA), através dos ramos simpático e parassimpático sobre a auto-ritmi- cidade do nódulo sinusal, com predominância da atividade RESUMEN vagal (parassimpática) em repouso e simpática durante o Efectos de los ejercicios aeróbicos en la frecuencia car- exercício. O comportamento da FC tem sido amplamente díaca estudado em diferentes tipos e condições associadas ao La práctica de ejercicio físico regular representa un fac- exercício. Redução do tônus vagal cardíaco e, conseqüen- tor importante para reducir los índices de morbilidad car- temente, da variabilidade da FC em repouso, independen- diovascular y las provenientes de otras causas. Sin embar- temente do protocolo de mensuração, está relacionada à go, parece haber beneficios adicionales e independientes disfunção autonômica, a doenças crônico-degenerativas e en la práctica regular de ejercicios físicos y en la mejora ao risco de mortalidade aumentado. Indivíduos com boa del nivel de condición aeróbica. La frecuencia cardiaca condição aeróbica tendem a apresentar FC de repouso mais (FC) está dada principalmente por la actividad directa del baixa, concomitantemente a maior atividade parassimpáti- sistema nervioso autónomo (SNA), a través de la vía del ca ou menor atividade simpática, mas não se pode afirmar simpático y del parasimpático sobre el ritmo del nódulo que esta seja uma conseqüência direta do treinamento, pois sinusal, predominando la actividad del vago (parasimpá- outras adaptações inerentes ao condicionamento aeróbico tico) en reposo y del simpático durante el ejercicio. El com- podem influenciar o comportamento da FC em repouso. A portamiento de la FC ha sido ampliamente estudiado en resposta da FC no início do exercício permite estudar a in- diferentes tipos y condiciones asociadas al ejercicio. Una tegridade da ação vagal cardíaca. A recuperação da FC após reducción de la acción cardiaca del vago y en consecuen- esforço tanto máximo como submáximo também denota cia la variación de la FC en reposo, independiente del tipo de medida, está relacionada a la disfunción autónoma, a 1. Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Gama Filho – Rio de Janeiro, RJ. enfermedades crónico-degenerativas y al aumento del ries- 2. Clinimex – Clínica de Medicina do Exercício – Rio de Janeiro, RJ. go de mortalidad. Individuos con buena condición aeróbi- Recebido em 27/11/02 ca tienden a presentar FC de reposo más baja, concomi- 2a versão recebida em 6/2/03 tantemente con una mayor actividad parasimpática o menor Aceito em 14/3/03 actividad simpática. A pesar de esto, no se puede afirmar que ésta sea una consecuencia directa del ejercicio, pues Endereço para correspondência: otras adaptaciones inherentes al condicionamiento aeró- Dr. Claudio Gil S. Araújo bico pueden influir en el comportamiento de la FC en re- Clínica de Medicina do Exercício – Clinimex (www.clinimex.com.br) Rua Siqueira Campos, 93/101 poso. La respuesta de la FC al iniciar el ejercicio, permite 22031-070 – Rio de Janeiro, RJ estudiar en su integridad la acción cardiaca del vago, así E-mail: [email protected] como la recuperación de FC después de un esfuerzo tanto 104 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 máximo como moderado, incluyendo un pronóstico para una información de carácter relevante. Aquellos que pre- sentan una recuperación más lenta de la FC en el primer minuto pos-esfuerzo, poseen un mayor riesgo de mortali-... dad. Aún no son claros los mecanismos relacionados con Parassimpático Freqüência cardíaca la modulación de la FC en función de un programa de ejer- Simpático cicios. Palabras clave: Ejercicio. Ritmo cardiaco. Sistema nervioso autono- mo. Entrenamiento. Repouso Exercício Exercício INTRODUÇÃO submáximo máximo Apesar de o exercício físico regular constituir um im- Fig. 1 – Controle autonômico da freqüência cardíaca no repouso e no portante fator para reduzir os índices de morbimortalidade exercício. Participação parassimpática diminui com o aumento da in- cardiovascular e por todas as causas1,2, parece haver tam- tensidade do exercício, enquanto o contrário ocorre com a simpática. bém benefícios adicionais e independentes da prática re- gular do exercício físico e da melhora da condição aeróbi- pelo qual a FC aumenta nos quatro primeiros segundos do ca3-6, valorizando sobremaneira sua prática cada vez mais exercício físico já foi extensivamente estudado, inclusive freqüente. Um posicionamento institucional recente da sob efeito de bloqueio farmacológico20-22, sendo quase ex- American Heart Association recomenda que os indivíduos clusivamente mediado pela inibição vagal sem participa- realizem exercícios físicos na maioria dos dias da semana, ção simpática expressiva20, em parte decorrente dos dife- se possível todos os dias, com intensidade variando entre rentes tempos de latência dos dois ramos a esse estresse moderada e vigorosa, de acordo com sua aptidão física, fisiológico. por um período de tempo igual ou superior a 30 minutos7. A variabilidade da FC foi originalmente estudada por Hon Muito embora exercícios moderados já contribuam para e Lee23 em recém-nascidos e vem sendo alvo de inúmeras o aprimoramento da saúde, há evidências consistentes e pesquisas nos últimos anos. Em uma busca com as pala- recentes de que exercícios de alta intensidade ou vigoro- vras-chave heart rate variability no MedLine, mais de seis sos produzem efeitos positivos ainda mais importantes so- mil referências aparecem, sendo cerca de 32% só entre os bre o perfil lipídico8, com reduções de até duas vezes nas anos de 1999 a 2002, demonstrando como este tema vem taxas de mortalidade em período superior a uma década9- ganhando destaque recentemente junto ao meio acadêmi- 12. co/científico. As variações ou a variabilidade da FC podem Os efeitos agudos e crônicos do exercício físico sobre o ser mensuradas nos domínios do tempo e da freqüência, funcionamento do corpo humano têm sido alvo de inúme- com protocolos específicos para cada domínio24-30, inclu- ras pesquisas nas últimas décadas13-18, sendo identificados sive com especificidade suficiente para a avaliação isolada como respostas ao exercício como, por exemplo, a acele- do tônus vagal cardíaco (ramo parassimpático) na transi- ração da FC no transiente inicial do exercício, e adaptações ção entre o repouso e o exercício dinâmico20. ao treinamento, como FC mais baixa para uma mesma in- Uma redução do tônus vagal cardíaco e conseqüente- tensidade de esforço submáximo, respectivamente. mente da variabilidade da FC, independentemente do pro- Pela facilidade de mensuração, o comportamento da tocolo de mensuração, está relacionada a disfunção auto- freqüência cardíaca (FC) tem sido bastante estudado du- nômica, a doenças crônico-degenerativas e a risco de rante diferentes tipos e condições associadas ao exercício. mortalidade aumentado31-37 e representa, dessa forma, um A FC é controlada primariamente pela atividade direta do importante indicador do estado de saúde38,39. A diminuição sistema nervoso autônomo (SNA), através de seus ramos isolada da variabilidade da FC expressa aumento de três a simpático e parassimpático sobre a auto-ritmicidade do nó- cinco vezes do risco relativo de mortalidade por evento dulo sinusal, com predominância da atividade vagal (pa- cardíaco33,40; quando associado a depressão significativa da rassimpática) em repouso, que é progressivamente inibida sensibilidade do barorreflexo (< 3ms/mmHg), este risco com o exercício19, e simpática quando do posterior incre- relativo sobe para até sete vezes33. Por outro lado, indiví- mento da intensidade do esforço (figura 1). Diferentes duos com insuficiência cardíaca congestiva que apresen- mecanismos operam para ajustar a FC nos distintos mo- tam aumentos de variabilidade da FC, embora pequenos, mentos de um exercício físico. Por exemplo, o mecanismo em alguns índices, como por exemplo, o desvio padrão de Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 105 intervalos RR normais (domínio do tempo), podem estar dução atrioventricular47. Alguns estudos sugerem que ape- diminuindo o risco de mortalidade em até 20%32. Por essa nas a prática regular de exercícios físicos parece não ser razão e também pela sua predominância no repouso, a ati- suficiente para a diminuição efetiva do risco de mortalida- vidade vagal cardíaca tem sido alvo de vários experimen- de, sendo necessário que o programa de treinamento seja tos, especialmente quando relacionados à prática do exer- capaz de promover adaptações tanto na condição aeróbi- cício físico. ca3,45,46 ou na função autonômica do indivíduo48. Hoje, à luz da ciência, não se pode negar que o treina- Permanece, contudo, ainda incerto se o aumento da con- mento aeróbico tende a proporcionar melhoras no consu- dição aeróbica advinda do treinamento acarreta aumento mo máximo de oxigênio15,41,42, provocadas, pelo menos em do tônus vagal cardíaco e, conseqüentemente, da variabili- parte, por um aumento do débito cardíaco, principalmente dade da FC em repouso. Sendo assim, o objetivo desta revi- à custa de um aumento do volume sistólico. Já a FC máxi- são é discutir os efeitos do treinamento aeróbico sobre o ma não tende a se alterar, enquanto valores algo menores sistema nervoso autônomo no controle da FC no repouso e podem ser vistos em repouso e, principalmente, durante nos transientes inicial e final do exercício, ou seja, o po- um exercício submáximo43, provavelmente relacionados a tencial do treinamento aeróbico em induzir modificações mecanismos como aumento do retorno venoso e da contra- fisiológicas do tônus vagal cardíaco. tilidade miocárdica44. Além disso, o consumo máximo de Esta revisão baseou-se primariamente em estudos origi- O2, tanto absoluto como relativo ao gênero e idade, repre- nais em humanos de condições clínicas e físicas (níveis de senta um destacado fator de promoção da longevidade, ou atividade física) variadas, num escopo que contemplou de seja, quanto mais alta a condição aeróbica do indivíduo, cardiopatas graves, inclusive transplantados, até atletas de menor o risco de mortalidade3,45,46 (tabela 1). Essas adapta- alto rendimento, passando por indivíduos saudáveis, po- ções no comportamento da FC advindas do treinamento fí- rém sedentários. sico, especialmente o aeróbico, podem ser ainda decorren- tes de modificações no balanço simpático-vagal ou mesmo EFEITOS SOBRE A FC DE REPOUSO de adaptações intrínsecas como melhora no sistema de con- Uma FC de repouso baixa tende a representar um bom quadro de saúde, enquanto valores mais altos aparentemente estão relacionados a risco aumentado de mortalidade49. Um TABELA 1 equívoco freqüente no meio desportivo é utilizar a FC de Risco relativo de mortalidade de repouso como indicativa do grau de condicionamento ae- acordo com a condição aeróbica róbico, já que a associação entre FC em repouso baixa e Condição RR potência aeróbia máxima é apenas modesta e pode tam- aeróbica* (IC 95%) bém ser conseqüência de maior atividade vagal em repou- so50, reduzindo a taxa de despolarização diastólica e, assim, Laukkanen et al., 2001 > 10,6 1,0 (ref) prolongando a duração do ciclo cardíaco, primariamente à (indivíduos assintomáticos) 9,3-10,6 0,71-3,01 custa de diástole proporcionalmente mais longa13. No en- 7,9-9,2 1,44-5,39 < 7,9 2,02-7,32 tanto, será que o treinamento pode induzir maior atividade vagal em repouso e, conseqüentemente, ser também res- Kavanagh et al., 2002 < 4,2 1,0 (ref) ponsável por FC de repouso mais baixa? (indivíduos com doença 4,2-6,3 0,54-0,71 cardiovascular) > 6,3 0,33-0,47 Estudos sugerem que indivíduos bem treinados ou bem condicionados fisicamente (aerobicamente) possuem FC de Myers et al., 2002 1,0-5,9 3,0-6,8 repouso mais baixa, sugerindo maior atividade parassim- (indivíduos assintomáticos) 6,0-7,9 1,5-3,8 pática51-55, ou menor atividade simpática56, como a expli- 8,0-9,9 1,1-2,8 10,0-12,9 0,7-2,2 cação fisiológica para esse fato. Contudo, à exceção do > 13,0 1,0 (ref) último, a característica transversal desses estudos não nos permite afirmar que o treinamento tenha sido responsável Myers et al., 2002 1,0-4,9 3,3-5,2 (indivíduos com doença 5,0-6,4 2,4-3,7 por essa adaptação sobre o SNA. Nesses trabalhos não fo- cardiovascular) 6,5-8,2 1,7-2,8 ram levados em consideração o nível de condicionamento 8,3-10,6 1,4-2,2 aeróbico e a função autonômica dos atletas antes de inicia- > 10,7 1,0 (ref) rem o treinamento e, sabendo-se que há uma influência * Condição aeróbica medida em METs. genética importante na determinação da variabilidade da RR: Risco relativo de mortalidade cardiovascular. FC57, poder-se-ia especular que aqueles indivíduos teriam Ref.: Valor de referência. melhor adaptação cardiovascular ao treinamento em fun- 106 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 ção de apresentar previamente melhor tônus vagal cardía- tensão mecânica do átrio e, por conseguinte, do nódulo si- co58. Uusitalo et al.59 e Bonaduce et al.60, após estudos com nusal em função de maior retorno venoso, além do aumen- características longitudinais, identificaram redução da FC to da temperatura corporal e da acidez sanguínea73. de repouso, apesar de não serem observadas alterações ex- Enquanto Tulppo et al.74 e Goldsmith et al.75 atribuem a pressivas nos indicadores autonômicos. A bradicardia indu- diminuição da variabilidade da FC com a idade à perda de zida pelo exercício pode ainda ser conseqüência de adap- condicionamento físico inerente ao envelhecimento e que tação intrínseca no nódulo sinusal61. esta situação poderia ser revertida com a manutenção ou A FC de repouso mais baixa pode ocorrer ainda em fun- melhora da condição física aeróbica, os resultados de Mi- ção de outros fatores decorrentes de um programa de trei- gliaro et al.76 e Byrne et al.77 sugerem que a idade isolada- namento60, como o aumento do retorno venoso e do volu- mente seria o principal fator de diminuição da modulação me sistólico. Com a melhora da função do retorno venoso, autonômica, independentemente da condição aeróbica. ocorre um conseqüente aumento do volume sistólico e a O aumento do consumo máximo de O2 através do trei- lei de Frank-Starling sugere que, quando há aumento no namento aeróbico pode ainda atenuar o declínio da sensi- volume de sangue em suas cavidades, o coração aumenta bilidade do barorreflexo cardiovagal também relacionado também sua contratilidade62. Para manter o débito cardía- ao avanço da idade78,79. Um programa de exercícios de in- co em repouso constante, há diminuição da FC em resposta tensidade leve seria suficiente para apresentar algum grau a volume sistólico aumentado, sendo estas adaptações pre- de melhora na função autonômica de indivíduos adultos vistas em indivíduos com melhor condicionamento aeró- saudáveis80 ou com insuficiência cardíaca crônica81, mes- bico62, independentemente da função autonômica. No en- mo sem supervisão direta do treinamento82; as alterações tanto, será que os efeitos do treinamento sobre as variáveis promovidas pelo treinamento sobre a atividade vagal se- cardiorrespiratórias não produzem também modificações riam centrais, possivelmente atuando diretamente no baror- no SNA? reflexo, enquanto que a atividade simpática relacionar-se-ia primariamente com alterações periféricas (vasoconstri- EFEITOS SOBRE A FC NO EXERCÍCIO ção)82. Essas alterações podem ser notadas já nas primei- ras semanas de treinamento em indivíduos com doença ar- Como discutido anteriormente, o comportamento da FC terial coronariana83 e em pós-infartados84,85. Muito embora ao longo do exercício é mediado pelo SNA. A variabilidade Seals et al.86 tenham sugerido que essas melhoras devem da FC representa a oscilação temporal entre consecutivas ser mais evidenciadas em pessoas com função cardíaca contrações do miocárdio (sístoles)23. anormal, acreditando que o treinamento aeróbico teria Estudos com bloqueio farmacológico seletivo22 foram menor impacto sobre a variabilidade da FC de indivíduos realizados e demonstraram a participação exclusiva do ner- saudáveis, Melanson e Freedson87, Stein et al.88, Al-Ani et vo vago na resposta da FC no transiente inicial do exercí- al.89 e Gallo Jr et al.90 obtiveram resultados expressivos com cio20,21, a predominância da atividade vagal durante o o treinamento sobre os marcadores autonômicos em indi- repouso sendo gradualmente inibida no exercício submá- víduos saudáveis e Levy et al.91 ainda sugerem que estes ximo63 tanto ativo como passivo64-66, até o nível máximo de ganhos seriam independentes do fator idade. Apesar de as esforço, no qual a atividade parassimpática aparentemente metodologias aplicadas terem sido bastante distintas e o é totalmente inibida67, produzindo menor ou ausência de tempo efetivo do treinamento ter variado de seis semanas a variabilidade da FC. 12 meses, os resultados foram consonantes, demonstran- Nos primeiros segundos do exercício, a FC aumenta por do, de forma geral, um aumento da atividade vagal em de- inibição da atividade vagal, que não só aumenta a contrati- corrência do programa de exercícios ou mesmo diminui- lidade dos átrios, mas também eleva a velocidade de con- ção da atividade simpática em repouso, contribuindo para dução da onda de despolarização dos ventrículos a partir as melhoras hemodinâmicas56,92. do nódulo AV62, independentemente do nível de intensida- Duru et al.93 não obtiveram êxito ao investigar os efeitos de do esforço68,69 e do nível de condicionamento aeróbico positivos do exercício físico regular na função autonômica de indivíduos saudáveis70,71. Por outro lado, um indivíduo de indivíduos pós-infartados quando comparados com seus que não consiga elevar sua FC significativamente nessa fase pares sedentários, pois, apesar de a FC de repouso ter apre- inicial do exercício pode estar sinalizando deficiência da sentado valores mais baixos após o período de treinamen- atividade vagal72. Após essa fase inicial, com o prossegui- to, os índices de variabilidade (no domínio da freqüência) mento do exercício, a FC aumenta novamente pela exacer- não se alteraram expressivamente. Por outro lado, no gru- bação da estimulação adrenérgica no nódulo sinusal ou pelo po controle, houve diminuição considerável desses mes- aumento da concentração sanguínea de norepinefrina, dis- mos índices, indicando um estado avançado de desequilí- Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 107 brio autonômico em favor de um domínio simpático nos como um notável complemento quando da avaliação clíni- indivíduos com disfunção ventricular esquerda pós-infar- ca e/ou física de um indivíduo101. to. Esses resultados podem ser interpretados de outra for- Ao final do exercício deve haver atenção especial ao ma: a prática regular de exercícios físicos pode ao menos comportamento da FC, pois sua redução em menos de 12 manter o balanço simpático-vagal sob predominância pa- batimentos por minuto (bpm), se a volta à calma for ati- rassimpática em indivíduos pós-infartados, ao passo que o va97, ou 18, se passiva, na posição supina102, no primeiro sedentarismo tende a aumentar a influência simpática mes- minuto de recuperação após um teste de exercício máxi- mo em repouso. Outros estudos também falharam em en- mo, representa um prognóstico desfavorável em termos de contrar adaptações diferenciadas do SNA a um programa risco relativo de mortalidade cardiovascular em indivíduos de exercícios. Loimaala et al.94 não acharam diferenças após assintomáticos e em cardiopatas95,97,102, ou seja, tanto no cinco meses de treinamento sobre os índices de variabili- transiente inicial como no final, quanto menor a variação dade de sedentários aparentemente saudáveis com idades da FC, maior o risco relativo. variando entre 35 e 55 anos, mesmo durante o período da Apesar de essa fase do exercício estar sendo investigada noite, quando a atividade simpática é bastante diminuída e intensamente nos últimos anos, os resultados ainda diver- existe menor interferência de outras variáveis, havendo gem quanto ao tempo necessário para a total restauração melhora apenas na FC de repouso, provavelmente devido a aos níveis de repouso do SNA pós-exercício. O tempo des- adaptações intrínsecas. pendido para o retorno da FC aos níveis de repouso depen- Por outro lado, em outro aspecto interessante, Boutcher de da interação entre as funções autonômicas, do nível de e Stein58 verificaram que indivíduos com melhor tônus va- condicionamento físico103,104 e também da intensidade do gal cardíaco respondem melhor a um treinamento aeróbi- exercício68,105. A recuperação pode levar de uma hora após co, tendo maiores ganhos no consumo máximo de oxigê- exercício leve ou moderado105, quatro horas após exercício nio e reduzindo mais a FC de repouso. Corroborando os aeróbio de longa duração106, a até 24 horas após um exercí- últimos estudos, Uusitalo et al.59 e Bonaduce et al.60, após cio intenso ou máximo107. Os mecanismos responsáveis por investigar os efeitos do treinamento de alta performance essas discrepâncias quanto ao tempo necessário para a to- aeróbica sobre a modulação autonômica de atletas jovens, tal recuperação da FC pós-esforço não estão totalmente não encontraram diferenças tanto para homens como para esclarecidos, considerando-se no momento as seguintes mulheres, respectivamente. É possível que certas modifi- explicações como as mais plausíveis: atividade vagal di- cações na atividade do SNA em função do treinamento só minuída105,108-110, atividade simpática exacerbada107,111 ou, sejam observáveis sob a forma de resposta a um estímulo, até mesmo, aumento da atividade de ambos os ramos do como mudança de postura e durante o exercício, mas não SNA, retomando o equilíbrio com leve predominância va- durante o repouso85,90, como na maioria dos protocolos. Não gal25. Cinco minutos após uma sessão de exercício mode- se pode afirmar que a falha em encontrar diferenças na fun- rado ou intenso a concentração de norepinefrina no sangue ção autonômica decorrentes do treinamento tenha sido de- continua em valores acima dos de repouso110, o que sugere vida à mensuração em repouso sem levar em consideração elevada atividade simpática nesta fase. Todavia, deve-se a possibilidade de haver um efeito-teto das atividades do levar em conta que há um tempo de latência de aproxima- SNA, o que poderia justificar a simples manutenção das damente 2,5 minutos para que a concentração de norepine- magnitudes das influências simpática e parassimpática so- frina no plasma chegue a seu valor máximo112, o que faz bre a variabilidade da FC após o período de treinamento supor que o tempo de cinco minutos de recuperação utili- em atletas ou pessoas muito bem condicionadas aerobica- zado neste estudo possa ter sido demasiado curto. Ao que mente. parece, com o envelhecimento, o tempo de remoção da norepinefrina da circulação passa a ser mais lento, man- EFEITOS SOBRE A RECUPERAÇÃO tendo o ritmo cardíaco acelerado durante um período mais DA FC PÓS-EXERCÍCIO prolongado após o exercício. A diminuição da concentra- ção de norepinefrina no pós-exercício é acompanhada de Outro aspecto importante e que tem merecido destaque redução da FC, porém, há indícios de que logo no início da na literatura nos últimos anos é a recuperação da FC pós- recuperação a modulação vagal é prioritariamente respon- esforço, tanto máximo95-97 como submáximo98-100. O com- sável pela queda da FC69,110. portamento da FC no transiente final do exercício é mais Indivíduos com corações transplantados têm recupera- um indicador da integridade do nervo vago. A queda da FC ção da FC significativamente mais lenta no primeiro minu- ao final do exercício não substitui outras formas de men- to pós-esforço quando comparados com indivíduos apa- suração da atividade autonômica cardíaca, mas funciona rentemente saudáveis113, ratificando a hipótese de Perini et 108 Rev Bras Med Esporte _ Vol. 9, Nº 2 – Mar/Abr, 2003 al.110. O treinamento físico pode aumentar o delta entre a lógicas, como aumento do retorno venoso e do volume sis- FC no final do exercício e nos instantes iniciais da recupe- tólico e melhora da contratilidade miocárdica, ou periféri- ração, sendo que oito semanas de treinamento seriam sufi- cas, como melhora da extração de oxigênio (diferença ar- cientes para aumentar essa diferença nos primeiros 30 teriovenosa de oxigênio) ou melhora da utilização do O2 segundos pós-exercício114, não havendo diferenças nos re- para gerar mais trabalho (eficiência mecânica), resultando sultados entre gêneros ou faixa etária115, mas esta adapta- em diminuição da FC para aqueles níveis (submáximos) de ção, no entanto, se perde com apenas poucas semanas de exigência. destreinamento79,114. Em crianças, a recuperação parece ser Aparentemente, os indivíduos melhor condicionados ae- mais rápida do que em adultos jovens por causa de sua robicamente possuem atividade autonômica mais eficiente maior modulação central colinérgica116, o que denota grande do que os sedentários, havendo também indícios de que os diferença também para idosos, os quais necessitam de tem- indivíduos com melhor tônus vagal cardíaco respondem po maior para a diminuição da concentração de norepine- melhor a um treinamento aeróbio, levando-nos a questio- frina no sangue no pós-exercício117. Aparentemente, o tem- nar: será que atletas bem condicionados aerobicamente têm po necessário para a total restauração das atividades do tônus vagal cardíaco mais alto em conseqüência do treina- SNA está inversamente relacionado ao nível de consumo mento ou será que aqueles indivíduos com tônus vagal car- máximo de O255,106, apesar de Arai et al.63 não terem encon- díaco geneticamente mais alto têm potencial mais alto para trado evidências em seus resultados que indicassem dife- se tornar atletas de ponta se devidamente treinados? renças entre várias situações, tais como: gênero63,118, posi- Certamente, a grande variedade de métodos de mensu- ção na fase de recuperação (sentado ou em posição supina) ração da variabilidade da FC, assim como as peculiarida- e nível de atividade física entre indivíduos saudáveis63. des e características das amostras e dos delineamentos uti- Quando da comparação de indivíduos saudáveis com gru- lizados em cada experimento, tenham contribuído para as pos de indivíduos com insuficiência cardíaca ou transplan- divergências entre os resultados e suas interpretações quanto tados, os primeiros precisaram de menor tempo para a re- aos efeitos do exercício e do treinamento sobre o SNA pa- cuperação da FC pós-exercício máximo; não obstante, a rassimpático e o controle da FC. variabilidade da FC medida no domínio da freqüência no Apesar da necessidade de outros estudos sobre os efei- pico do exercício não revelou diferenças entre nenhum dos tos agudos imediatos e tardios, e efeitos crônicos do exer- grupos, provavelmente indicando inibição completa da ati- cício físico sobre o sistema nervoso autônomo, especial- vidade vagal nesta fase67. Os grupos de indivíduos com mente do componente parassimpático, identificando as insuficiência cardíaca ou submetidos a transplante cardía- possíveis modificações sobre o tônus vagal cardíaco, algu- co reduziram sua FC em menos de 10 batimentos por mi- mas conclusões podem ser alcançadas. nuto na fase inicial da recuperação, resultados compatí- veis com provável disfunção autonômica e relacionados Dr. Claudio Gil S. Araújo declarou contribuir e receber com elevado risco relativo de mortalidade95-97. apoio de empresas que atuam no mercado relacionado ao CONCLUSÕES tema deste artigo. Conforme discutido nesta revisão, a variabilidade da FC vem sendo alvo de inúmeras pesquisas nos últimos anos, principalmente em sua relação com o risco aumentado de REFERÊNCIAS mortalidade cardiovascular, notório nos resultados de vá- 1. Blair SN, Kohl 3rd HW, Barlow CE, Paffenbarger RS, Gibbons LW, Mac- rios desses estudos. A atividade do nervo vago (ramo pa- era CA. 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