Métodos de Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento PDF
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Instituto Politécnico de Bragança
Sílvia Ala
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Este documento apresenta uma resenha de métodos de pesquisa em psicologia do desenvolvimento, com exemplos e tipos de métodos usados, incluindo autorrelatos, observações, estudos de caso, e estudos psicofisiológicos bem como modelos transversais, longitudinais e sequenciais.
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UC: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Licenciatura em Gerontologia/Enfermagem 1º Semestre 2024/2025 ✣ Sílvia Ala – Psicóloga Clínica e da Saúde ✣ [email protected] 2 Sílvia Ala ✣ Métodos de Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento 4...
UC: PSICOLOGIA DO DESENVOLVIMENTO Licenciatura em Gerontologia/Enfermagem 1º Semestre 2024/2025 ✣ Sílvia Ala – Psicóloga Clínica e da Saúde ✣ [email protected] 2 Sílvia Ala ✣ Métodos de Pesquisa em Psicologia do Desenvolvimento 4 Psicologia do desenvolvimento 2. METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO Objetivos do estudo Questão de partida? Variáveis: dependentes; independentes… Hipóteses População e amostra Tipo de estudo IRDs Sílvia Ala Recolha dos dados Tratamento dos dados 5 Psicologia do desenvolvimento Sílvia Ala 6 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE A Psicologia é uma ciência, utiliza o método científico para produzir conhecimentos. O método científico consiste num conjunto de pressupostos metodológicos que devem ser seguidos para produzir evidências científicas. Cada ciência usa os próprios critérios para definir os seus métodos e garantir o rigor das suas pesquisas e das Sílvia Ala evidências produzidas. 7 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE Embora os métodos científicos sejam mais ou menos iguais, cada ciência pode ter as suas variações. A Psicologia tem os seus métodos científicos que permitem aos psicólogos produzir conhecimentos nas mais diferentes áreas: Educação Saúde Sílvia Ala Comunidades Família 8 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE Alguns destes métodos incluem: estudos experimentais quasi-experimentais longitudinais correlacionais transversais estudos de caso estudos clínicos estudos observacionais e descritivos estudos de meta-análise. Sílvia Ala 9 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE Esses estudos podem ser: ✓ quantitativos baseados em análises estatísticas ✓ qualitativos baseados nas descrições e interpretações do pesquisador. Sílvia Ala METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE Os estudos em Psicologia normalmente utilizam uma grande variedade de técnicas para a recolha dos dados, por exemplo, podem ser usados: testes psicológicos questionários entrevistas observações vídeos Sílvia Ala outras técnicas de acordo com os objetivos da pesquisa. Importância do estudo das metodologias de pesquisa ✣ Leitura crítica dos relatos de pesquisa. ✣ Elaboração de projetos de pesquisa. Estratégias básicas de recolha de dados ✣ Metodologias de autorrelato: Entrevistas, questionários, testes psicológicos e método clínico ✣ Metodologias observacionais: Observação naturalista e observação estruturada ✣ Estudo de caso ✣ Etnografia ✣ Estudos psicofisiológicos ✣ (Shaffer, 2009, p. 12-17) Metodologias de autorrelato Entrevistas, questionários, testes ✣ Série de questões sobre algum aspecto do desenvolvimento. ✣ São respondidas oralmente (entrevistas) ou por escrito. ✣ Nas entrevistas e questionários estruturados, as pessoas respondem às mesmas perguntas apresentadas na mesma ordem. Metodologias de autorrelato Entrevistas, questionários, testes ✣ Requerem compreensão do que está a ser solicitado e habilidades verbais. ✣ Os participantes podem ocultar ou distorcer as respostas. ✣ Dificuldades de comparação nas entrevistas abertas. Nos questionários, esses problemas são minimizados, mas perde-se um pouco da individualidade e riqueza das respostas. Entrevistas, questionários, testes ✣ Em caso de respostas diferentes entre crianças e outros informantes, é difícil determinar as respostas mais acuradas. ✣ Estes métodos podem ser bastante úteis e proporcionar muitas informações num período relativamente curto. Metodologias de autorrelato Entrevistas, questionários, testes ✣ Entrevistas abertas trazem ricas informações sobre pensamentos e sentimentos. ✣ Se o procedimento tem o formato estruturado ou padronizado, pode haver comparação direta entre as respostas dos diferentes participantes. ✣ Testes controlados permitem excelente controlo sobre a situação. Metodologias de autorrelato Entrevistas, questionários, testes ✣ Exemplos: - Pesquisa (1975) sobre estereótipos de género: várias histórias contendo adjetivos estereotipados foram contadas a crianças para que respondessem se a personagem em questão era um homem ou uma mulher. - Pesquisa com crianças: características atribuídas às bonecas brancas e negras. Metodologias de autorrelato Método clínico ✣ Semelhante à técnica de entrevista. ✣ Usualmente, todos os participantes começam com a mesma pergunta/tarefa e as demais variam conforme as respostas oferecidas. ✣ Considera-se a singularidade de cada participante. Metodologias de autorrelato Método clínico ✣A flexibilidade do método pode proporcionar entendimento mais amplo e rico das respostas. ✣ Liberdade para garantir que o participante entendeu o significado das perguntas. ✣ São recolhidas muitas informações em pouco tempo. Metodologias de autorrelato Método clínico ✣ Dificuldades de comparação das respostas. Os participantes não são tratados da mesma maneira. ✣ As perguntas e as interpretações podem ser tendenciosas, afetadas pelas conceções teóricas do pesquisador. ✣ O pesquisador deve ter habilidade para formular questões que sejam proveitosas. ✣ Requer domínio da atividade verbal. Metodologias de autorrelato Método clínico ✣ Exemplo: pesquisa de Piaget sobre o desenvolvimento moral das crianças. Questão inicial: “Sabes o que é a mentira?”. Jean Piaget (1896-1980) Metodologias observacionais ✣ A observação do comportamento é uma alternativa (normalmente, preferível) aos relatos, questionários e similares. ✣ Questões básicas: a) o que observar? b) onde? c) como registrar? Observação naturalista ✣ Realizada no ambiente natural dos participantes (ex.: lar, escola). ✣ Em geral, o pesquisador focaliza e regista apenas determinados comportamentos que se relacionam com a sua hipótese. Observação naturalista ✣ Não restringe a participação daqueles que não tenham habilidades verbais (bebés e crianças pequenas). ✣ Os observadores “captam”, supostamente, o comportamento dos participantes tais como ocorrem no dia-a-dia. Observação naturalista ✣ Ocorrências raras e comportamentos socialmente indesejados são dificilmente presenciados em ambiente natural. ✣ No ambiente natural, há muitos eventos simultâneos, tornando-se mais difícil isolar as variáveis que estão a causar o comportamento. ✣ A própria presença do observador pode ser uma variável interveniente. Observação naturalista ✣ Exemplo: observação, num infantário, das tentativas de socialização de crianças que foram abusadas fisicamente e de outro grupo de crianças que não passaram pela mesma experiência. Observação estruturada ✣ Realizada em laboratório por meio de uma câmera ou espelho. ✣ É apresentada aos participantes uma situação que pode induzir o comportamento de interesse. ✣ Indicada para observar comportamentos indesejáveis ou incomuns. ✣ Os estímulos são mais homogéneos; ambiente padrão. As informações são comparáveis. Observação estruturada ✣ Os comportamentos observados no laboratório podem não ser os mesmos que o participante apresentaria no seu ambiente natural. ✣ Perde-se alguma validade ecológica. Exemplos - crianças são induzidas a oferecer ajuda ao pesquisador numa tarefa enfadonha e, então, deixadas em uma sala com vários brinquedos interessantes. Teste do marshmallow com crianças (https://www.youtube.com/watch?v=2cjTtJhq2Pw) Estudos de caso ✣ Vários métodos (entrevistas, observações, testes psicológicos…) são empregados para se obter um quadro detalhado do desenvolvimento de um indivíduo. ✣ É difícil fazer comparações diretas devido à falta de padronização dos métodos. Estudos de caso ✣ Pode haver um “vazio em generalizações”, pois os resultados obtidos em estudos de caso podem não ser condizentes com a população geral. ✣ As conclusões devem ser verificadas por outras técnicas. Estudos de caso ✣ Exemplos: - Biografias de bebés (séc. XIX e XX). Ex.: Darwin (1809- 1882). - Estudos de caso de Sigmund Freud (1856-1939). Etnografia ✣ Método de estudo da cultura de uma determinada comunidade e do seu impacto sobre o desenvolvimento. ✣ É uma forma de observação participante muito comum na antropologia. ✣ Há uma rica e extensa recolha de dados sobre crenças, costumes etc., que dificilmente apareceriam em entrevistas ou observações curtas. Etnografia ✣A interpretação dos dados pode ser consideravelmente influenciada pela referência cultural do pesquisador e pelas suas crenças teóricas. ✣ Os resultados não são generalizáveis para outros grupos culturais. Etnografia ✣ Exemplo: Bronislaw Malinowski (antrópologo, 1884- 1942) realizou um intenso estudo etnográfico entre os nativos das ilhas Trobriand (Nova Guiné) entre 1915 e 1918. Estudos psicofisiológicos ✣ Estudo das relações entre comportamentos e respostas fisiológicas (ex.: ritmo cardíaco, atividade cerebral). ✣ Dão indicações de experiências sensoriais, emocionais e cognitivas, o que é especialmente útil diante da impossibilidade de que sejam verbalizadas (estudo de bebés, por exemplo). Estudos psicofisiológicos ✣ Os resultados podem ser alterados por irritabilidade e cansaço, por exemplo. ✣ As respostas fisiológicas não são indicadores perfeitos dos estados psicológicos. Não indicam com certeza o que o participante pensa ou sente. Estudos psicofisiológicos ✣ Exemplos: - Estudos sobre os ciclos do sono. - Padrões de atividade no EEG caracterizam diferentes estados de consciência. 8 METODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA E SAÚDE Estudos transversais VS Estudos longitudinais Sílvia Ala 9 Estudos Longitudinais Estudos longitudinais, acompanham grupos durante longos períodos para avaliar, alterações nas condições de saúde ou outras variáveis... Sílvia Ala 0 Estudos Longitudinais Um estudo – possivelmente o mais longo feito sobre a vida adulta – pela Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, teve início em 1938…com 724 sujeitos. Em 2018 apenas restavam 60 pessoas, estas já na faixa dos 80 e 90 anos de idade. Eles investigam, o que nos mantêm saudáveis e felizes Sílvia Ala enquanto passamos pela vida. 1 Estudos Longitudinais Estudo de Desenvolvimento Adulto, coordenado pelo psiquiatra e psicanalista Robert Waldinger A cada dois anos, os pesquisadores enviam questionários, entrevistam alguns participantes, conversam com as esposas e filhos, recebem os seus boletins de saúde e até fazem exames aos seus cérebros. Sílvia Ala 2 Estudos Longitudinais A importância dos bons relacionamentos; vínculos sólidos. Vários pensadores, como Bauman, tem nos alertado para a volatilidade das relações afetivas nesta Pós Modernidade em que vivemos, caraterizada pela inconstância de valores, individualismo, hedonismo, superficialidade, competitividade, valorização do efémero e do descartável, consumismo, grande importância às aparências, necessidade exacerbada de reconhecimento, arrogância e falta de confiança no outro. Sílvia Ala 3 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ESTUDOS TRANSVERSAIS VS LONGITUDINAIS A grande maioria das pesquisas realizadas na área das ciências humanas e da saúde, do tipo transversal, investiga um determinado grupo social em determinado momento histórico. Quando se estudam comportamentos, atitudes e valores nas diversas fases de vida de um indivíduo, geralmente recorremos às suas lembranças com as inevitáveis limitações que esse método nos apresenta. Sílvia Ala 4 VANTAGENS E DESVANTAGENS DOS ESTUDOS TRANSVERSAIS VS LONGITUDINAIS Numa investigação longitudinal, a riqueza de dados é consideravelmente maior. Todavia, trata-se uma opção cara e de difícil acompanhamento, pois os sujeitos vão se ausentando, seja por morte ou mudanças de residência , o mesmo acontece com os pesquisadores. Sílvia Ala Para Refletir: ✣ O mais importante é sempre respeitarmos os critérios éticos da pesquisa. Pense numa pesquisa que você considera que seria não ética. MODELOS DE PESQUISA MODELOS DE PESQUISA ✣ Modelo correlaccional ✣ Modelo experimental ✣Experimento em laboratório ✣Pesquisa de campo ✣Experimento natural (ou quase) ✣Modelo transversal ✣Modelo longitudinal ✣Modelo sequencial ✣Comparações interculturais (Shaffer, 2009, p. 18-27) Ponto de partida: um exemplo ✣ Problema: a exposição à violência televisionada induz ao comportamento violento? ✣ Hipótese: quanto mais as crianças observam personagens violentos na TV, mais inclinadas estarão a se comportar com violência com outras crianças. Ponto de partida: um exemplo ✣ Definir a amostra de crianças. ✣ Definir como medir as duas variáveis do estudo. ✣ Estratégias de coleta/recolha de dados: - Quantos atos violentos as crianças observam na TV? ↓ Entrevista com pais - Com que frequência as crianças agem violentamente com os seus pares? ↓ Observação natural (creche, parque etc) MODELO CORRELACIONAL ✣ Coeficiente de correlação: A presença (ou ausência) de uma relação entre as variáveis pode ser determinada por um procedimento estatístico que determina um coeficiente de correlação. Este fornece uma estimativa numérica (entre -1 e +1) da força e direção da relação entre as variáveis. -1...-0,8...-0,6...-0,3...0...+0,3...+0,6...+0,8...+1 MODELO CORRELACIONAL ✣ Coeficiente de correlação: ✣ O valor absoluto (sem considerar o sinal) indica a força da relação. ✣ O sinal indica a direção da relação: - sinal positivo indica que as variáveis seguem a mesma direção. Ex.: notas escolares e autoestima. - sinal negativo indica uma relação inversa entre as variáveis. Ex.: violência e popularidade. MODELO CORRELACIONAL Retornando ao exemplo inicial: ✣ Muitos estudos similares a esta situação hipotética encontraram resultados que sugerem uma correlação moderadamente positiva entre as variáveis estudadas (entre +0,3 e 0,5). -1...-0,9..-0,8...-0,5...-0,3...0...+0,3...+0,5...+0,8...+0,9...+1 ✣ Em outros termos, crianças que assistiam a muitos programas violentos na TV agiam mais violentamente com os seus pares do que as crianças que assistiam a poucos programas violentos. MODELO CORRELACIONAL ✣ Um estudo de correlação como este é capaz de determinar se a exposição à violência televisionada (A) induz as crianças ao comportamento violento (B)? MODELO CORRELACIONAL ✣ A resposta é NÃO! ✣ Possibilidades: A B B A C AeB MODELO CORRELACIONAL Características: ✣ procura determinar se duas ou mais variáveis se relacionam de maneira significativa num ambiente natural. Estima a força e a direção dessa relação (coeficiente de correlação). ✣ Não determina se há relação de causa e efeito entre as variáveis. ✣ Não há tentativa de manipulação do ambiente. Os participantes da pesquisa já foram “manipulados” pelas experiências de vida. ✣ Como o pesquisador pode proceder se pretende responder se há relação causal entre exposição à violência televisionada e o comportamento violento? MODELO EXPERIMENTAL Características: ✣ Permite a determinação de uma relação causal entre as variáveis. ✣ O pesquisador altera (manipula) algum aspecto do ambiente e mede o efeito desta alteração no comportamento dos participantes. MODELO EXPERIMENTAL Exemplo: ✣ As crianças que participaram da pesquisa foram divididas em 2 grupos. ✣ Metade das crianças assistiu a uma cena de um filme violento e a outra metade assistiu a uma cena de filme não violento. ✣ Depois, cada criança foi levada para uma sala onde tinha 20 oportunidades de ajudar ou magoar outra criança que supostamente estava na sala ao lado. ✣ Resultado: crianças que assistiram à cena violenta tenderam a escolher a opção de magoar. (Liebert e Baron, 1972, citados por Shaffer, 2009, p. 20) MODELO EXPERIMENTAL ✣ Tipos de cenas assistidas (com violência e sem violência) é a variável independente desta pesquisa. ✣ A reação das crianças (ajudar ou machucar) é a variável dependente. MODELO EXPERIMENTAL VI: - É o aspecto do ambiente que foi manipulado. - São os procedimentos a que os participantes são expostos. - É o suposto elemento causal. VD: - É o comportamento ou aspecto do desenvolvimento que presumivelmente depende da VI. MODELO EXPERIMENTAL ✣ Esta pesquisa permite determinar que a exposição a cenas de violência na TV induz as crianças ao comportamento violento? ✣ Outras variáveis poderiam ser as responsáveis pelo resultado encontrado? MODELO EXPERIMENTAL ✣ Variáveis aleatórias são todas os fatores (que não a VI) que podem afetar a VD se não forem devidamente controladas pelo pesquisador. ✣ Ex.: violência presenciada no lar, níveis preexistentes de violência, residir em bairro com alto índice de violência. MODELO EXPERIMENTAL ✣ O controlo experimental destina-se a tornar as variáveis aleatórias equivalentes em cada condição experimental. ✣ Uma técnica de controlo experimental muito importante é a escolha aleatória dos participantes de cada grupo. MODELO EXPERIMENTAL ✣ Grupo experimental: recebe um determinado tratamento que o pesquisador acredita que produzirá um efeito específico. Ex.: grupo que assistiu ao filme violento. ✣ Grupo controlo: recebe um tratamento neutro ou nenhum tratamento especial. Ex.: grupo que assistiu ao filme neutro. MODELO EXPERIMENTAL ✣ Por razões éticas, é contraindicado quando se pretende conhecer os efeitos de experiências que podem trazer prejuízos físicos ou psicológicos. ✣ O ambiente do laboratório, por ser restrito e controlado, pode ser artificial. Logo, as conclusões podem não ser válidas para o mundo real. ↓ ✣ O experimento natural e a pesquisa de campo são alternativas frente a estas limitações do experimento em laboratório. PESQUISA DE CAMPO ✣ Um experimento pode ser realizado no ambiente natural dos participantes (de modo similar à pesquisa conduzida em laboratório). Assim sendo, é denominado pesquisa de campo. ✣ O pesquisador manipula algum aspecto do ambiente (VI) e mede o seu impacto na VD. ✣ Combina as vantagens da observação naturalista com o rigor da experimentação. PESQUISA DE CAMPO ✣ Exemplo: Uma pesquisa que pretendia averiguar se a violência televisionada pode tornar os expectadores mais violentos foi conduzida em abrigos belgas para jovens delinquentes. Inicialmente, os pesquisadores observaram e mediram o nível de agressividade típico de cada participante (estabelecendo uma linha de base que serviria de comparação). PESQUISA DE CAMPO ✣ Dois subgrupos foram formados: um de jovens muito agressivos e outro de jovens pouco agressivos. ✣ Durante uma semana, filmes violentos foram exibidos para alguns jovens pouco agressivos e alguns muito agressivos. Filmes neutros foram exibidos para outros jovens dos dois subgrupos. ✣ A interação entre jovens nos abrigos após a exibição dos filmes foi observada. PESQUISA DE CAMPO Resultado: a pesquisa sugere que a exposição à violência televisionada instiga comportamentos agressivos, sobretudo naqueles jovens que previamente apresentavam níveis mais elevados de agressividade. (Leyens et al., 1975, citado por Shaffer, 2009, 21) EXPERIMENTO NATURAL (ou quase) ✣ Se os pesquisadores querem conhecer os efeitos de experiências como privação social, negligência, abuso sexual, uso de drogas etc, não podem conduzir uma pesquisa manipulando estas variáveis. EXPERIMENTO NATURAL (ou quase) ✣ Exemplo: numa pesquisa sobre o desenvolvimento intelectual de crianças que experimentaram privação social precoce, teríamos: VI: privação social precoce; VD: desenvolvimento intelectual Gr experimental: crianças institucionalizadas no início da vida Gr controlo: crianças que viveram com as suas famílias. EXPERIMENTO NATURAL (ou quase) ✣ São observadas as consequências de acontecimentos naturais. ✣ A VI é a experiência vivida. O pesquisador não tem controlo sobre a VI. ✣ Não é possível escolher aleatoriamente os participantes de cada grupo. ✣ Pela falta de controlo experimental, é mais difícil determinar relações causais. Por isto, considera-se que, a rigor, é um método correlacional (Papalia, 2000). Estudar mudanças ou continuidades com a idade ✣ Crianças de 4, 6 e 8 anos são igualmente influenciadas pela violência televisionada? ✣ As crianças que, numa pesquisa sobre violência televisionada, apresentaram níveis mais elevados de agressividade têm mais probabilidade de se tornarem adolescentes e adultos mais agressivos? ↓ ✣ Quando se pretende estudar mudanças ou continuidades no desenvolvimento no decorrer do tempo, alguns modelos de pesquisa podem ser especialmente importantes: transversal, longitudinal e sequencial. MODELO TRANSVERSAL ✣ Pessoas dediferentes idades (por exemplo, um grupo de crianças de 4 anos, um grupo de crianças de 6 anos e outro de crianças de 8 anos) são estudadas ao mesmo tempo. ✣ Cada participante é testado uma vez. ✣ É relativamente rápido. MODELO TRANSVERSAL ✣ Problema de coorte Uma coorte é um grupo de pessoas que nasceram num intervalo reduzido de anos e compartilharam as mesmas experiências culturais/históricas. As diferenças entre grupos de idades diferentes podem decorrer de mudanças culturais. ✣ Este modelo não traz informações suficientes sobre consistência ao longo do tempo e possíveis sequências típicas no desenvolvimento. MODELO LONGITUDINAL ✣ As mesmas pessoas são estudadas ao longo do tempo (até mesmo por décadas). ✣ Fornece dados sobre: - sequências de mudanças - consistência/inconsistência individual - origem MODELO LONGITUDINAL ✣ É mais demorado e requer mais recursos financeiros. ✣ Os sujeitos podem abandonar o estudo a qualquer momento e, se as amostras são pequenas, torna-se difícil generalizar os resultados. ✣ Não há problema de coorte. MODELO SEQUENCIAL ✣ Há alguma combinação dos modelos transversal e longitudinal. ✣ Exemplo 1: 2014: grupo A (8 anos) e grupo B (10 anos) 2016: grupo C (8 anos) e grupo D (10 anos) 2018: grupo E (8 anos) e grupo F (10 anos) ✣ Exemplo 2: 2014: grupo A (8 anos) e grupo B (10 anos) 2016: grupo A (10 anos) e grupo B (12 anos) 2018: grupo A (12 anos) e grupo B (14 anos) Referências bibliográficas ✣ Turato, E. R. (2005). Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças e seus objetos de pesquisa. Revista de Saúde pública, 39, 507-514. ✣ Denzin, N. K., & Lincoln, Y. S. (2005). Introduction: The discipline and practice of qualitative research. Morse, J. M., & Field, P. A. (1995). Qualitative research methods for health professionals (No. 610.73072M6). ✣ Minayo, M. C. D. S., & Sanches, O. (1993). Quantitativo- qualitativo: oposição ou complementaridade? Cadernos de saúde pública, 9(3), 237-248. Referências bibliográficas ✣ Shaffer, D. (2005). Introdução à Psicologia do desenvolvimento e suas estratégias de pesquisa. In Psicologia do desenvolvimento: infância e adolescência (pp. 11-32).São Paulo: Pioneira Thomson.