Summary

This article is a summary of a methodological debate about quantitative and qualitative methods in health investigations. The authors, a public health anthropologist and a biostatistician, argue that though these methods are distinct, they are complementary for understanding social reality.

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ARTIGO / ARTICLE Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Quantitative and Qualitative Methods: Opposition or Complementarity? Maria Cecilia de S. Minayo 1 Odécio Sanches 2 MINAYO, M. C. S. & SANCHES,...

ARTIGO / ARTICLE Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Quantitative and Qualitative Methods: Opposition or Complementarity? Maria Cecilia de S. Minayo 1 Odécio Sanches 2 MINAYO, M. C. S. & SANCHES, O. Quantitative and Qualitative Methods: Opposition or Complementarity? Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/sep, 1993. This paper summarizes a methodological debate underway at the Brazilian National School of Public Health concerning the two major approaches for investigations in the field of health: the quantitative and qualitative methods. The authors — a public health anthropologist and a biostatistician — used theoretical and practical arguments to demonstrate that these methods are differentiated in nature, but that they complement each other in the understanding of social reality. In a world where human beings are distinguished by communicative language, this debate focuses on the possibility, meaning, and limits of both mathematical language and the language commonly used in everyday life. Key words: Biostatistics; Research Methods; Social Sciences; Public Health INTRODUÇÃO dados, ajude a refletir sobre a dinâmica da teoria. Portanto, além de apropriado ao objeto Este artigo tem sua origem em uma das da investigação e de oferecer elementos teóricos atividades curriculares do Curso de Pós-Gra- para a análise, o método tem que ser operacio- duação em Saúde Pública da Escola Nacional nalmente exeqüível. de Saúde Pública (Ensp), Fundação Oswaldo Aceitando um desafio do Editor da Revista, Cruz (Fiocruz) — os denominados Seminários dois investigadores se encontram: um trabalha Avançados de Teses —, quando os autores, com a abordagem quantitativa; o outro, com a discutindo um dos projetos apresentados, tive- metodologia qualitativa. Ambos defendem seus ram a oportunidade de apontar as potencialida- respectivos instrumentos de ação, porém ambos des e limitações das abordagens quantitativa e os relativizam, pois só quando os mesmos são qualitativa que estavam sendo utilizadas no utilizados dentro dos limites de suas especifici- projeto em discussão. dades é que podem dar uma contribuição efeti- Estas abordagens são os instrumentos de que va para o conhecimento da realidade, isto é, a se serve a Saúde Pública, em particular, para se busca da construção de teorias e o levantamen- aproximar da realidade observada. Nenhuma to de hipóteses. das duas, porém, é boa, no sentido de ser Na primeira parte, a abordagem quantitativa suficiente para a compreensão completa dessa é examinada mais no contexto de uma lingua- realidade. Um bom método será sempre aquele, gem. Sem particularizar para o campo da Saúde que permitindo uma construção correta dos Pública, procura-se evidenciar a evolução das idéias associadas a esta abordagem na descrição 1 e interpretação de fenômenos biológicos de um Departamento de Ciências Sociais da Escola Nacional de Saúde Pública. Rua Leopoldo Bulhões 1480 - 9º modo geral (portanto, não adentrando a comple- andar, Rio de Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil. xidade inter e multidisciplinar da Saúde Públi- 2 Departamento de Epidemiologia e Métodos ca). Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública. Rua Leopoldo Bulhões 1480 - 8º andar, Rio Na segunda parte deste trabalho, a metodolo- de Janeiro, RJ, 21041-210, Brasil. gia qualitativa é abordada procurando enfocar, Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 239 Minayo, M. C. S. & Sanches, O. principalmente, o social como um mundo de Nas áreas denominadas ciências exatas, nos significados passível de investigação e a lingua- últimos 3 séculos tem havido consideráveis gem comum ou a “fala” como a matéria-prima avanços a este respeito, já existindo, atualmen- desta abordagem, a ser contrastada com a te, todos os pré-requisitos para o manuseio do prática dos sujeitos sociais. crescimento acelerado do conhecimento, princi- Finalmente, procura-se concluir que ambas as palmente o da linguagem, conforme acentua abordagens são necessárias, porém, em muitas Bailey (1967). circunstâncias, insuficientes para abarcar toda a De fato, a título de ilustração, consideremos realidade observada. Portanto, elas podem e aquela que parece ser a mais antiga das ciências devem ser utilizadas, em tais circunstâncias, exatas: a Astronomia. É bem conhecido o como complementares, sempre que o planeja- fantástico conhecimento adquirido pelos astrô- mento da investigação esteja em conformidade. nomos da Babilônia e do Egito antigo, não só O conhecimento científico é sempre uma envolvendo a observação prolongada e precisa busca de articulação entre uma teoria e a reali- dos eventos, mas também desenvolvendo a dade empírica; o método é o fio condutor para habilidade para se distinguir padrões de mudan- se formular esta articulação. O método tem, ças, sobre cuja base puderam criar um calendá- pois, uma função fundamental: além do seu rio suficientemente preciso, que permitiu o papel instrumental, é a “própria alma do conteú- desenvolvimento de atividades que, moderna- do”, como dizia Lenin (1965), e siginifica o mente, constituem o cerne da economia agríco- próprio “caminho do pensamento”, conforme a la. expressão de Habermas (1987). Na verdade, para se alcançar tais resultados era necessário mais que observar os aconteci- mentos e registrar luz e calor nos dias de verão, O QUANTITATIVO ou luz esmaecida e dias frios no inverno. A observação de padrões reconhecíveis e a deter- A Descrição Matemática minação e mensuração de suas posições eram como uma Questão de Linguagem essenciais. A manipulação e o registro de tais medidas com propósitos de predição implica- O desenvolvimento da linguagem é uma etapa vam a existência de uma linguagem e de uma fundamental na evolução do controle deliberado escrita adequadas. Não é, pois, por um acidente e consciente das circunstâncias ambientais. A que a matemática babilônica e egípcia possuía fala exerce um papel vital na rápida transmissão as qualidades suficientes para atender a tais de grandes quantidades de informação entre os necessidades. diferentes elementos de um grupo. Quando se A lição fundamental que se pretende extrair atinge o estágio da escrita, cria-se, então, a da lembrança histórica de tal fato de conheci- possibilidade do registro permanente, revisado mento de todos é que, mesmo no chamado e acumulado. A modificação consciente e Mundo Antigo, um conhecimento considerado intencional da linguagem para servir a propósi- suficientemente preciso não teria sido atingido tos deliberados é uma etapa posterior do pro- e aplicado sem as noções básicas de contar e cesso. medir, acompanhadas de um adequado instru- Aqueles que acompanham e operam na evo- mento matemático para manipulá-las. lução das idéias e do conhecimento sabem que Isto parece corroborar nosso ponto de vista de a situação atual da investigação científica é que uma interação entre pensamento e lingua- urgente: os trabalhos científicos são produzidos gem e, conseqüentemente, seu desenvolvimento a uma taxa sempre crescente, tornando-se mútuo são pautados por uma correspondente constantemente mais difícil acompanhar lado a interdependência entre pensamento e matemáti- lado os novos desenvolvimentos, tanto na ca, quando nos dispomos a usá-la para propósi- própria área de interesse específico quanto no tos de maior precisão de expressão. âmbito inter e multidisciplinar, independente- A despeito dos grandes avanços na Biologia mente da existência de meios eletrônicos para Molecular e na Engenharia Genética, reconhe- armazenamento da informação. cemos, no entanto, que nas chamadas soft 240 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 Quantitativo-Qualitativo sciences da Biologia, Psicologia, Sociologia, todo, não se restringindo, portanto, à investi- etc., o progresso tem sido mais incerto. Uma gação biológica, médica ou social. razão para este fato é que os sujeitos da pesqui- sa, nestas áreas, são muito mais variáveis e O Papel da Teoria de Propabilidade e complexos que aqueles das denominadas Ciên- da Inferência Estatística cias Exatas. No entanto, à medida que as observações e Todos nós sabemos que características indivi- mensurações tornam-se mais acuradas e extensi- duais tais como peso, altura, pressão arterial, vas, no âmbito das soft sciences tem surgido a taxas de componentes bioquímicos no sangue, oportunidade de se usar a linguagem matemáti- resposta a estímulos externos, etc., variam entre ca para descrever, representar ou interpretar a indivíduos de um grupo num dado instante e, multidiversidade de formas vivas e suas possí- num mesmo indivíduo, de instante para instante. veis inter-relações. Ordem e regularidade só podem ser estabeleci- A questão fundamental, porém, é decidir que das, de forma aproximada, em termos médios e espécies de arrazoados matemáticos são rele- sobre um grande número de indivíduos. vantes para determinados problemas, que limi- Nossa impossibilidade de predizer antecipada- tações estão impostas e como tais métodos mente, e com certeza, os resultados de um podem ser ampliados e generalizados. Não se experimento em sucessivas repetições, sempre pode perder de vista que o uso da linguagem sob as mesmas condições, caracteriza-se como matemática leva a descrições e modelos ideali- um experimento aleatório. A variabilidade zados, uma construção abstrata que, na prática, presente, nestas condições, é chamada variabili- na melhor das situações, será observada apenas dade aleatória, casual, randômica ou estocástica. parcialmente. Em matemática, o instrumento adequado para Quanto mais complexo for o fenômeno sob trabalhar o aleatório é um conjunto de procedi- investigação, maior deverá ser o esfoço para se mentos que constitui a chamada teoria da chegar a uma quantificação adequada, em parte probabilidade. Para todo evento aleatório é porque algumas atividades são inerentemente possível associar uma ou mais variáveis, ditas difíceis de serem mensuradas e quantificadas e, variáveis aleatórias (função definida no espaço em parte, porque, até o presente momento, amostral do experimento aleatório em questão), descrições matemáticas excessivamente compli- e para cada variável aleatória (ou conjunto de cadas são extremamente intratáveis, do ponto de variáveis aleatórias) é possível encontrar uma vista de solução, para que tenham algum valor função que descreva a distribuição de probabili- prático. dades para a referida variável (ou conjunto de Deve, então, ser exercitada uma considerável variáveis), dita função densidade de probabili- habilidade no julgamento de quais fatores são dade. relevantes, ou pelo menos aproximadamente O uso de distribuições de probabilidade para relevantes, para um determinado problema. descrever padrões biológicos, médicos ou A realidade, porém, é que nos defrontamos sociais não é recente. Quetelet (1835) já havia com uma situação conflitante, que requer realis- utilizado as propriedades da distribuição de mo e manejabilidade. Uma descrição extrema- Gauss para descrever padrões de altura de seres mente precisa de todos os fatos conhecidos, por humanos; Galton (1889), um médico inglês, exemplo, a respeito da evolução de uma espé- havia utilizado as propriedades da mesma cie, pode impedir qualquer representação mate- distribuição nos estudos de genética sobre mática útil. Por outro lado, uma supersimplifi- herança natural, tendo sido o criador da teoria cação do quadro matemático utilizado poderia de análise de dados largamente utilizada em permitir, com grande facilidade, o cálculo estatística e conhecida sob o rótulo de regressão numérico de certos coeficientes, mas isto seria, linear. ou poderia ser, totalmente infrutífero, porque É importante observar que as distribuições de muitos fatos relevantes teriam que ser omitidos. probabilidade estão fundamentalmente associa- Este é, certamente, um dos dilemas presentes das a conceitos matemáticos, embora sejam no moderno trabalho de investigação como um derivadas das noções comuns de chance e Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 241 Minayo, M. C. S. & Sanches, O. possibilidade, estabelecidas pelo senso comum, minados desenhos de estudo. No entanto, tem e as conclusões devam ser interpretadas em ocorrido um certo abuso na utilização de tais sentido prático. procedimentos por parte de muitos pesquisado- Ao construirmos um quadro matemático res desta área, que, desconhecendo ou intencio- válido de alguns fenômenos com fortes flu- nalmente ignorando as limitações impostas a tuações aleatórias, introduzimos idéias de tais procedimentos pelos pressupostos sobre os probabilidades e usamos a teoria da probabilida- quais se assentam, extrapolam sua aplicações, de para desenvolver as implicações práticas da deixando sob suspeita os resultados da análise mesma. Se o modelo é razoavelmente satisfató- conduzida (Altman, 1991). Isto ocorre principal- rio, pelo menos a algum respeito, então as mente nos testes de hipóteses estatísticas, em implicações devem ser verificadas na prática. particular com o abuso do chamado “p-valor” Isto é, as conclusões matemáticas devem mos- como uma medida de evidência em relação à trar um certo grau de aproximação ou aderência hipótese de nulidade (Miettinen, 1985; Stephen às observações que são feitas e aos resultados et al., 1988; Berger & Selke, 1987; Goodman & obtidos para o fenômeno em questão. Royall; 1985). Os estatísticos encontram-se É função da estatística estabelecer a relação atualmente na situação dos bioquímicos e dos entre o modelo teórico proposto e os dados farmacólogos: não se sentem responsáveis pelo observados no mundo real, produzindo instru- uso indevido e abusivo de seus produtos. Não mentos para testar a adequação do modelo. Em são procedentes as críticas feitas à Estatística; resumo, enquanto a teoria da probabilidade está elas devem ser dirigidas aos maus usuários. dentro da esfera da lógica dedutiva, a estatística Associadas às questões de inferência estatísti- encontra-se no âmago da lógica indutiva, con- ca temos as questões de amostragem. Em regra, forme explicita Bailey (1967). aqui também há um desconhecimento quase A grande potencialidade dos procedimentos geral, por parte dos não-especialistas, a respeito estatísticos de análise de dados, na presença de do papel da amostragem, sua relação com a variabilidade aleatória está contida na possibili- inferência e, conseqüentemente, os pressupostos dade de se estabelecer inferência, neste caso básicos que devem nortear a opção por um chamada inferência estatística. determinado desenho de amostragem e um Uma das aplicações da inferência estatística tamanho específico da amostra. Esta não é uma é o teste de ajuste — também chamado teste de questão apenas técnica, relacionada à definição aderência (em inglês, goodness of fit) — de um do tamanho da amostra; não é uma questão modelo teórico proposto ao conjunto de dados meramente estatística ou para deixar para o observados. estatístico resolver. Pesquisadores experimenta- Formalmente, dois são os grandes problemas dos na área das ciências humanas (aqui incluin- estatísticos de natureza inferencial: os proble- do as ciências da saúde) não podem ignorar, e mas de estimação de parâmetros e os problemas muito menos esquecer, que as questões de de testes de hipóteses estatísticas. amostragem são parte integrante das questões As questões de inferência estatística que gerais de desenho da investigação. deram origem à denominada estatística mate- mática surgiram de modo mais formal com os trabalhos, quase simultâneos (e às vezes polê- O QUALITATIVO, SUAS micos), de Sir Ronald A. Fischer e da dupla J. POTENCIALIDADES E SUAS LIMITAÇÕES Neyman e E. S. Pearson, na década 20-30 (Neyman, 1976; Neyman & Pearson, 1967; O Social como um Mundo Fischer, 1934), sendo brilhantemente unificadas de Significados Passível de Investigação num contexto de teoria das decisões por A. Wald (Wald, 1950). Ao inscrever, no item anterior, a descrição Um grande avanço tem sido conseguido nas matemática como uma questão de linguagem, ciências da saúde, e em particular na Epidemio- Sanches afirma que “quanto mais complexo é o logia, com a criação de alguns procedimentos fenômeno sob investigação, maior deverá ser o inferenciais estatísticos, específicos para deter- esforço para se chegar a uma quantificação 242 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 Quantitativo-Qualitativo adequada”. Em seguida, o autor relativiza as descrição dos comportamentos. Weber também “descrições matemáticas complicadas” como afirma que o elemento essencial na interpre- sendo “extremamente intratáveis”, devendo o tação da ação é o dimensionamento do signifi- investigador defrontar-se com situações confli- cado subjetivo daqueles que dela participam tantes entre realismo e manejabilidade. (Weber, 1970). A reflexão de Sanches ajuda a introduzir o Da mesma forma, William Thomas (1970), estudo sobre as potencialidades e os limites do um dos pais da sociologia norte-americana, método qualitativo, dentro de uma discussão avançou na elaboração do clássico teorema epistemológica mais ampla. segundo o qual é essencial, no estudo dos seres Uma das questões colocadas sobre a cientifi- humanos, descobrir como eles definem as cidade das ciências sociais diz respeito à plausi- situações nas quais se encontram, porque “se bilidade de se tratar de uma realidade na qual eles definem situações como reais, elas são tanto investigadores como investigados são reais em suas conseqüências” (1970: 245-247). agentes: esta ordem de conhecimento não O que Weber e Thomas afirmaram tornou-se escaparia radicalmente a toda possibilidade de hoje um axioma da investigação dos “objetos” objetivação? sociais. A compreensão de que os seres huma- Para responder a esta pergunta, uma corrente nos respondem a estímulos externos de maneira de estudiosos das áreas humano-sociais, como seletiva, bem como de tal seleção é poderosa- Durkheim (1978), tem se munido de dois mente influenciada pela maneira através da qual argumentos metodológicos: a) é possível traçar eles definem e interpretam situações e aconte- uniformidades e encontrar regularidades no cimentos, passou a complicar o raciocínio sobre comportamento humano; e b) regularidades a cientificidade enquanto modelo já construído. predizíveis existem em qualquer fenômeno A corrente compreensivista — mãe das humano-cultural e podem ser estudadas sem abordagens qualitativas — ganhou legitimidade levar em conta apenas motivações individuais. à medida que métodos e técnicas foram sendo Outros cientistas, porém, tentam encaminhar aperfeiçoados para a abordagem dos problemas a discussão de forma diferente, questionando se, humanos e sociais. No entanto, persistem ao buscar instrumentos de objetivação do social muitas questões, complexas e profundas, que se apenas através da quantificação das uniformida- tornam posições intelectuais e ideológicas frente des e regularidades, não se estaria descaracteri- aos interrogantes teóricos, metodológicos capa- zando o que há de essencial nos fenômenos e zes de abranger os objetos com mais profundi- nos processos sociais. dade. No início do século XX, em Chicago, Estados O positivismo de Comte (1978) e Durkheim Unidos, e no final do século XIX, em Heidel- (1978), por exemplo, tem defendido que a única berg, Alemanha, surgia uma escola sociológica forma científica de apreender o social é a que se rebelava radicalmente contra a tentativa observação dos dados da experiência, isto é, dos de analogia entre ciências naturais e ciências caracteres exteriores, objetivamente manifestos sociais. Seu fundamento residia na argumen- nos fatos: “a posição epistemológica de base do tação de que as ciências sociais privam-se da positivismo”, dizem Bruyne et al. (1991), “é a sua própria essência quando se abstêm de recusa da apreensão imediata da realidade, da examinar a estrutura motivacional da ação compreensão subjetiva dos fenômenos, da humana. pesquisa intuitiva de suas essências”. A atitude O desenvolvimento desta segunda corrente, positivista é caracterizada, quanto ao método, em oposição ao positivismo, deveu-se a estudio- pela subordinação da imaginação à observação sos como Wilhelm Dilthey, embora certas de (Comte, 1978). Os fatos são valorizados pelas suas raízes possam ser encontradas em Hegel, suas características exteriores, como bem o Marx e, até, Vico. Quem deu maior consistên- descreve Durkheim (1978): “é coisa todo objeto cia metodológica a esta reflexão, no entanto, foi de conhecimento que não é naturalmente pene- Max Weber. É de Weber a afirmação de que trável pela inteligência (...) e que o espírito só cabe às ciências sociais a compreensão do pode chegar a compreender com a condição de significado da ação humana, e não apenas a sair de si mesmo, por meio de observações e de Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 243 Minayo, M. C. S. & Sanches, O. experimentações”. Assim, resumindo, a aborda- Weber (1970) elabora a tarefa qualitativa gem positivista limita-se a observar os fenôme- como a procura de se atingir precisamente o nos e fixar as ligações de regularidade que conhecimento de um fenômeno histórico, isto é, possam existir entre eles, renunciando a desco- significativo em sua singularidade. brir causas e contentando-se em estabelecer as É no campo da subjetividade e do simbolismo leis que os regem. A lógica que preside esta que se afirma a abordagem qualitativa. A linha de atividade é de caráter comparativo e compreensão das relações e atividades humanas exterior aos sujeitos. O positivismo não nega os com os significados que as animam é radical- significados, mas recusa-se a trabalhar com mente diferente do agrupamento dos fenômenos eles, tratando-os como uma realidade incapaz sob conceitos e/ou categorias genéricas dadas de se abordar cientificamente. pelas observações e experimentações e pela Um dos marcos históricos a favor desta descoberta de leis que ordenariam o social. corrente foi a tese de Doutorado de Samuel A abordagem qualitativa realiza uma aproxi- Stouffer, em 1930, na Universidade de Chicago mação fundamental e de intimidade entre sujei- (naquela ocasião, o templo norte-americano da to e objeto, uma vez que ambos são da mesma abordagem qualitativa), com o título “An Expe- natureza: ela se volve com empatia aos moti- rimental Comparison of Statistical and Case vos, às intenções, aos projetos dos atores, a History Methods of Attitude Research” (1931). partir dos quais as ações, as estruturas e as Tal tese ensejou um amplo debate acadêmico relações tornam-se significativas. sobre a propriedade dos métodos quantitativos No entanto, não se assume aqui a redução da e qualitativos nas ciências sociais, redundando compreensão do outro e da realidade a uma numa clara prioridade a favor da abordagem compreensão introspectiva de si mesmo. É por estatística, porque: a) foi considerada mais isso que, na tarefa epistemológica de delimi- rápida, mais fácil de ser viabilizada e capaz de tação qualitativa, há de se superar tal idéia, abranger um número maior de casos; e b) as buscando uma postura mais dialética dentro análises qualitativas foram consideradas, quando daqueles três aspectos descritos por Bruyne et muito, estudos heurísticos, pré-científicos, al. (1991): a) o movimento concreto, natural e subjetivistas ou, até, “reportagens malfeitas”. sócio-histórico da realidade estudada (sentido Ora, o debate da década de 30 não se encer- objetivo); b) a lógica interna do pensamento rou; pelo contrário, continua ainda hoje em enquanto sentido subjetivo; e c) a relação entre todos os centros de reflexão sobre o social. Os o objeto real visado pela ciência, o objeto motivos que fundamentaram a crítica de Stouf- construído pela ciência e o método empregado fer, no entanto, estão muito mais relacionados (sentido metodológico). ao pouco desenvolvimento de métodos e técni- É necessário buscar o auxílio de pensadores cas compatíveis do que com a própria natureza como Habermas (1987), para quem “uma teoria do conhecimento. E é neste sentido que, ao dialética da sociedade procede de maneira contrário do positivismo, a sociologia compre- hermenêutica. Nela, a compreensão do sentido ensiva coloca o aprofundamento do “qualitati- é constitutiva. Tira suas categorias primeiro da vo” inerente ao social, enquanto possibilidade e consciência que têm da situação os próprios único quadro de referência condizente e funda- indivíduos em ação. No sentido objetivo do mental das ciências humanas no presente. meio social, articula-se o sentido sobre o qual Neste debate, como já se mencionou, W. se insere a interpretação sociológica, ao mesmo Dilthey (1956) separa as ciências físicas e as tempo identificadora e crítica”. ciências humanas com um recorte fundamental. Em outras palavras, do ponto de vista qualita- Para ele, nas ciências físicas é possível procu- tivo, a abordagem dialética atua em nível dos rarmos explicações e lidarmos com a compre- significados e das estruturas, entendendo estas ensão dos fenômenos através da análise de seus últimas como ações humanas objetivadas e, significados. Nas primeiras estabelecem-se leis logo, portadoras de significado. Ao mesmo causais; nas segundas, configurações e interpre- tempo, tenta conceber todas as etapas da inves- tações. tigação e da análise como partes do processo 244 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 Quantitativo-Qualitativo social analisado e como sua consciência crítica crenças e valores, que se expressa pela lingua- possível. Assim, considera os instrumentos, os gem comum e na vida cotidiana — o objeto da dados e a análise numa relação interior com o abordagem qualitativa. pesquisador, e as contradições como a própria Por trabalhar em nível de intensidade das essência dos problemas reais (Minayo, 1982). relações sociais (para se utilizar uma expressão Voltando ao ponto inicial sobre as indagações kantiana), a abordagem qualitativa só pode ser espistemológicas de tal abordagem, dir-se-ia empregada para a compreensão de fenômenos que a cientificidade tem que ser pensada aqui específicos e delimitáveis mais pelo seu grau de como uma idéia reguladora de alta abstração, e complexidade interna do que pela sua expressão não como sinônimo de modelos e normas quantitativa. Adequa-se, por exemplo, ao estudo rígidas. Na verdade, o trabalho qualitativo de um grupo de pessoas afetadas por uma caminha sempre em duas direções: numa, doença, ao estudo do desempenho de uma elabora suas teorias, seus métodos, seus princí- instituição, ao estudo da configuração de um pios e estabelece seus resultados; noutra, inven- fenômeno ou processo. Não é útil, ao contrário, ta, ratifica seu caminho, abandona certas vias e para compor grandes perfis populacionais ou toma direções privilegiadas. Ela compartilha a indicadores macroeconômicos e sociais. É idéia de “devir” no conceito de cientificidade. extremamente importante para acompanhar e Definir o nível de simbólico, dos significados aprofundar algum problema levantado por e da intencionalidade, constituí-lo como um estudos quantitativos ou, por outro lado, para campo de investigação e atribuir-lhe um grau de abrir perspectivas e variáveis a serem posterior- sistematicidade pelo desenvolvimento de méto- mente utilizadas em levantamentos estatísticos. dos e técnicas têm sido as tarefas e os desafios O material primordial da investigação qualita- dos cientistas sociais que trabalham com a tiva é a palavra que expressa a fala cotidiana, abordagem qualitativa ao assumirem as críticas seja nas relações afetivas e técnicas, seja nos interna e externa exercidas sobre suas investi- discursos intelectuais, burocráticos e políticos. gações. Segundo Bakhtin (1986), existe uma ubiqüi- dade social nas palavras. Elas são tecidas pelos Linguagem e Prática: fios de material ideológico; servem de trama a Matérias Primas da Abordagem Qualitativa todas as relações sociais; são o indicador mais sensível das transformações sociais, mesmo Segundo Granger (1982), a realidade social é daquelas que ainda não tomaram formas; atuam qualitativa e os acontecimentos nos são dados como meio no qual se produzem lentas acumu- primeiramente como qualidades em dois níveis: lações quantitativas; são capazes de registrar as a) em primeiro lugar, como um vivido absoluto fases transitórias mais íntimas e mais efêmeras e único incapaz de ser captado pela ciência; e das mudanças sociais. b) em segundo lugar, enquanto experiência Nestes termos, a fala torna-se reveladora de vivida em nível de forma, sobretudo da lingua- condições estruturais, de sistemas de valores, gem que a prática científica visa transformar normas e símbolos (sendo ela mesma um em conceitos. deles), e, ao mesmo tempo, possui a magia de Falando dentro do campo sociológico, Gur- transmitir, através de um porta-voz (o entrevis- vitch (1955) diferencia também dois níveis de tado), representações de grupos determinados experiência em constante comunicação: a) o em condições históricas, sócio-econômicas e “ecológico, morfológico, concreto”, que admite culturais específicas. expressão em cifras, equações, medidas, gráfi- Uma das indagações mais freqüentes no cos e estatísticas; e b) o das “camadas mais campo da pesquisa é a que se refere à repre- profundas”, que se refere ao mundo dos símbo- sentatividade da fala individual em releção a los, dos siginificados, da subjetividade e da um coletivo maior. Tal indagação constituía intencionalidade. uma preocupação de Bourdieu (1972) quando É exatamente esse nível mais profundo (em este definiu o conceito de habitus, segundo o constante interação com o ecológico) — o nível qual a identidade de condições de existência dos significados, motivos, aspirações, atitudes, tende a produzir sistemas de disposições seme- Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 245 Minayo, M. C. S. & Sanches, O. lhantes, através de uma harmonização objetiva As considerações acima encaminham-se para de práticas e obras: “cada agente, ainda que questões de ordem prática, sobretudo em re- não saiba ou não queira, é produtor e reprodu- lação à representatividade da fala e da obser- tor do sentido objetivo, porque suas ações são vação das práticas, das instituições e do “evasi- o produto de um modo de agir do qual ele não vo da vida cotidiana”. é o produtor imediato, nem tem o domínio O confronto da fala e da prática social é completo”. Daí a possibilidade de se exercer, na tarefa complementar e concomitante da investi- análise da prática social, o efeito da universali- gação qualitativa, que, no entanto, em alguns zação e da particularização (180). casos, limita-se ao material discursivo. Em O referido autor define o conceito de habitus particular, as abordagens etnográficas não da seguinte maneira: “um sistema de dispo- dispensam as etapas de observação e convivên- sições duráveis e intransferíveis que integra cia no campo. todas as experiências passadas e funciona a A ênfase quase absoluta na fala como mate- todo momento como matriz de preocupações, rial de análise transforma a questão da desco- apreciações e ações (...) o inconsciente da berta e da validade em habilidade de manipu- história que a história produz, incorporando as lação dos signos. Ela está fundamentada na estruturas objetivas” (Bourdieu, 1972). crença de que a “verdade” dos significados No mesmo sentido, existe um comentário situa-se nos meandros profundos da significação feliz de Sapir (1967) quando diz que o “indiví- dos textos. duo concretiza, sob mil formas possíveis, idéias Ao contrário, o ensinamento fundamental da e modos de comportamento implicitamente Antropologia é o cotejamento da fala, com a inerentes às estruturas ou às tradições de uma observação das condutas e dos costumes e com dada sociedade”. O autor acrescenta que “se um a análise das instituições. Checar o que é dito testemunho individual é comunicado, isto não com o que é feito, com o que é celebrado e/ou quer dizer que se considera tal indivíduo pre- está cristalizado. Desta forma, uma análise cioso em si mesmo. Essa entidade singular é qualitativa completa interpreta o conteúdo dos tomada como amostra da continuidade de seu discursos ou a fala cotidiana dentro de um grupo” (Sapir, 1967:90). quadro de referência, onde a ação e a ação Resumindo, para Goldmann (1980), “a cons- objetivada nas instituições permitem ultrapassar ciência coletiva só existe nas consciências a mensagem manifesta e atingir os significados individuais, embora não seja a soma dessas latentes. últimas”. Há vários métodos e técnicas de análise do Sociologicamente, diferente do que se passa material qualitativo. E, assim, como observa com a Psicologia, a análise das palavras e das Sanches a respeito do uso da estatística, há situações expressas por informantes personaliza- trabalhos bem-feitos ou malfeitos. Há investiga- dos não permanece, pois, nos significados dores que não passam além do que Bourdieu individuais. A compreensão intersubjetiva requer (1972) denomina “ilusão da transparência”, da a imersão nos significados compartilha- repetição do que ouve e vê no trabalho de dos. Sociólogos e antropólogos têm desmonstra- campo. Tal procedimento não pode ser atribuí- do que a função essencial das normas culturais do ao método em si, mas ao seu uso superficial é prover os membros de um grupo ou sociedade e pobre. Segundo Granger (1982), um verdadei- com definições de situação intelegiveis e inter- ro modelo qualitativo descreve, compreende e cambiáveis no coletivo. Sem isso, a vida social explica, trabalhando exatamente nesta ordem. seria impossível. Para Nicole Ramognino (1982), um trabalho Portanto, se um estudioso do social astá apto de conhecimento social tem que atingir três a entender a linguagem e a definição da si- dimensões: a simbólica, a histórica e a concreta. tuação típica de um grupo, estrato ou sociedade A dimensão simbólica contempla os significa- — respondendo às indagações tradicionais da dos dos sujeitos; a histórica privilegia o tempo ciência —, ele está apto também a predizer as consolidado do espaço real e analítico; e a respostas desse grupo com um certo grau de concreta refere-se às estruturas e aos atores probabilidade. sociais em relação. 246 Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 Quantitativo-Qualitativo CONCLUSÕES dos fenômenos ou processos sociais estudados. Da mesma forma, uma abordagem qualitativa Propositalmente, não se entrou, neste traba- em si não garante a compreensão em profundi- lho, nas questões específicas da área da saúde, dade. uma vez que a pretensão do texto era ser intro- Esta observação torna-se necessária para dutório de uma problemática que concerne e rebater a tese de vários estudiosos que, do ultrapassa o campo. No entanto, é certo que, ponto de vista científico, colocam, numa escala, hoje, os objetos de investigação, tanto dos a abordagem quantitativa como sendo a mais professores como dos pós-graduandos em Saúde perfeita, classificando estudos qualitativos Pública da Ensp, vinculam-se metodologica- apenas como “subjetivismo”, “impressões” ou, mente aos temas aqui tratados, fato conhecido no máximo, “atividades exploratórias”. através do desenvolvimento das linhas de Não cabe neste espaço desenvolver o tema, pesquisa e dos projetos de tese. mas, tanto do ponto de vista quantitativo quanto A intenção dos autores, portanto, é apenas dar do ponto de vista qualitativo, é necessário um pontapé inicial num debate que consideram utilizar todo o arsenal de métodos e técnicas extremamente relevante e indiscutivelmente que ambas as abordagens desenvolveram para possível e promissor. que fossem consideradas científicas. Consideram que, do ponto de vista metodoló- No entanto, se a relação entre quantitativo e gico, não há contradição, assim como não há qualitativo, entre objetividade e subjetividade continuidade, entre investigação quantitativa e não se reduz a um continuum, ela não pode ser qualitativa. Ambas são de natureza diferente. pensada como oposição contraditória. Pelo A primeira atua em níveis da realidade, onde contrário, é de se desejar que as relações sociais os dados se apresentam aos sentidos: “níveis possam ser analisadas em seus aspectos mais ecológicos e morfológicos”, na linguagem de “ecológicos” e “concretos” e aprofundadas em seus significados mais essenciais. Assim, o Gurvitch (1955). estudo quantitativo pode gerar questões para A segunda trabalha com valores, crenças, serem aprofundadas qualitativamente, e vice- representações, hábitos, atitudes e opiniões. versa. A primeira tem como campo de práticas e objetivos trazer à luz dados, indicadores e tendências observáveis. Deve ser utilizada para RESUMO abarcar, do ponto de vista social, grandes aglomerados de dados, de conjuntos demográfi- MINAYO, M. C. S. & SANCHES, O. cos, por exemplo, classificando-os e tornando- Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou os inteligíveis através de variáveis. Complementaridade? Cad. Saúde Públ., Rio A segunda adequa-se a aprofundar a comple- de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993. xidade de fenômenos, fatos e processos particu- lares e específicos de grupos mais ou menos Este trabalho resume um debate metodológico delimitados em extensão e capazes de serem em processo na Escola Nacional de Saúde abrangidos intensamente. Pública, Brasil, sobre as duas formas de Do ponto de vista epistemológico, nenhuma abordagem mais correntes nas investigações das duas abordagens é mais científica do que a da área de saúde: o método quantitativo e o outra. De que adianta ao investigador utilizar método qualitativo. instrumentos altamente sofisticados de mensu- Os autores — uma antropóloga sanitarista e ração quando estes não se adequam à compre- um bioestatístico — demonstram, com ensão de seus dados ou não respondem a per- argumentações teóricas e práticas, que esses guntas fundamentais? Ou seja, uma pesquisa, métodos são de natureza diferenciada, mas se por ser quantitativa, não se torna “objetiva” e complementam na compreensão da realidade “melhor”, ainda que prenda à manipulação social. sofisticada de instrumentos de análise, caso Num mundo onde o que distingue o ser deforme ou desconheça aspectos importantes humano é a linguagem comunicativa, o acento Cad. Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (3): 239-262, jul/set, 1993 247 Minayo, M. C. S. & Sanches, O. deste debate recai sobre a possibilidade, o GURVITCH, G., 1955. Determinismes Sociaux et significado e os limites da linguagem Liberté Humaine. Paris: Presses Universitaires de matemática e da linguagem de uso comum na France. experiência cotidiana. HABERMAS, J., 1987. Dialética e Hermenêutica. Palavras-Chave: Bioestatística; Métodos Porto Alegre: LPM. de Ciências Sociais; Saúde Pública MIETTINEN, O, 1985. Theoretical Epidemiology. New York: John Wiley & Sons. LENIN, W., 1965. Cahiers Philosophiques. Paris: REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Ed. Sociales M. MINAYO, M. C. S., 1982 O Desafio do Conheci- ALTMAN, D. G., 1991. Statistics in medical jour- mento. São Paulo: Hucitec. nals: developments in the 1980s. Statistics in NEYMAN, J., 1976. The emergence of mathematical Medicine, 10: 1897-1913. statistics. In: On The History of Statistics and BAILEY, N. T. J., 1967. The Mathematical Ap- Probability (D. B. Owen, ed.), pp. 68-121, New proach to Biology and Medicine. London: John York: Marcel Dekker. Wiley & Sons. NEYMAN, J. & PEARSON, E. S., 1967. Joint BAKHTIN, M., 1986. Marxismo e Filosofia da Statistical Papers of J. Neyman and E. S. 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