A Outredade - Análise da Opressão Feminina (PDF)

Summary

Este documento discute a opressão das mulheres, argumentando que a opressão é inerente à condição feminina em diferentes contextos sociais e culturais. O texto explora a desigualdade de género e a violência contra as mulheres ao longo da história.

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Quando nasce uma mulher nasce uma opressão. Esta afirmação poderia parecer um exagero para qualquer pessoa do primeiro mundo, especialmente se compararmos a vida das meninas e as mulheres europeias com a vida das meninas e mulheres em qualquer país do terceiro mundo, mas todas elas partilham uma mes...

Quando nasce uma mulher nasce uma opressão. Esta afirmação poderia parecer um exagero para qualquer pessoa do primeiro mundo, especialmente se compararmos a vida das meninas e as mulheres europeias com a vida das meninas e mulheres em qualquer país do terceiro mundo, mas todas elas partilham uma mesma realidade: são a *outredade* a respeito do homem. A vida de uma mulher europeia, branca, culta e com dinheiro suficiente para viver confortavelmente num país em paz não parece comparável com a vida de uma mulher negra, pobre e analfabeta em qualquer país sem garantia de uma mínima segurança. Claro que a diferença entre ambas as vidas destas mulheres, exemplos extremos, não se deve unicamente ao sexo com que nasceram, mas esse é o eixo de opressão que partilham. Há outros eixos de opressão que, quando somados, fazem a grande diferença: raça, riqueza, acesso à educação, emprego, saúde, planificação familiar, etc. A opressão por sexo marca as mulheres desde o berço. A metade da população mundial será socializada e educada para servir e atender as necessidades da outra metade. O corpo da mulher será marcado (quer seja fazendo uma ablação do clítoris quer seja furando as orelhas para colocar brincos, continuando com exemplos extremos), o espaço que ocupará no mundo será limitado, as funções que poderá ou não realizar na sociedade, etc., tudo na vida das mulheres virá determinado pelo sexo. Essa opressão será, em diferentes graus, violenta. Essa mulher europeia, branca e rica, pode não sofrer o mesmo grau de violência que a mulher negra e pobre, mas se tirarmos outros eixos de opressão da equação (raça, riqueza, educação, etc.) veremos que todas as mulheres partilham um lugar comum: serem pessoas de uma categoria inferior. Desde o nosso ponto de vista ocidental achamos terrível a ablação do clítoris ou a obrigação de vestir burka. Dano corporal e exigência estética. É menos terrível fazer cirurgias estéticas ou ter a obrigação de vestir sapato de salto e saia, maquiar ou fazer as unhas? Tudo isto tem a mesma origem: encaixar num molde, ser aceite na sociedade para evitar violência, em diferentes graus e modos: violência física, verbal, psicológica. Até nos partos existe violência, infligida a algumas mulheres (já se acunhou o termo, chama-se violência obstétrica). Afinal, quem desenhou essa *outredade* que subordina as mulheres foram os homens, não individualmente, mas como classe sexual dominante. Eis o patriarcado.

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