Ricardo Reis: Filosofia e Heteronímia

Heterónimos, Fernando Pessoa

• Fernando Pessoa criou heterónimos como Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.
• Os heterónimos representam diferentes estilos poéticos e visões de mundo.
• A palavra "heterónimo" deriva do grego e que significa "outro nome".
• O recurso aos heterónimos consiste numa passagem da expressão pessoal para uma personificação estética do texto ou da escrita, com sua própria biografia e estilo.
• Para Fernando Pessoa, a origem dos seus heterónimos deriva do seu lado histérico ou histeroneurasténico, o qual assume aspetos mentais que o levam ao silêncio e à poesia.
• Pessoa alega ver as caras e gestos destes poetas no espaço incolor do sonho criando-lhes idades e vidas.

Alberto Caeiro

• Alberto Caeiro é um poeta bucólico que se apresenta como poeta do real objetivo, recusa o pensamento metafísico.
• Ao assumir-se metaforicamente como um "guardador de rebanhos", Caeiro expressa o desejo de viver de forma simples, em comunhão com a natureza.
• Dá primazia às sensações, atribuindo maior importância à visão, pois recusa pensamento defendendo que “pensar é estar doente dos olhos".
• O poeta deambula, surpreendendo-se com a renovação e a novidade do mundo, valorizando as sensações e recusando o pensamento, vendo a natureza como maior exemplo de vida.
• No poema «Ο Guardador de Rebanhos», Caeiro apresenta-se como um pastor, usando essa máscara poética pela semelhança existente entre ambos
• Caeiro vive em plena sintonia com os elementos da Natureza, sendo para ele essencial a ausência de pessoas para a criação do ambiente de paz.
• Caeiro integra-se na natureza, identificando-se com os elementos naturais que observa, como um poeta pagão que aspira à conciliação e harmonia entre a natureza e o humano.
• Caeiro concebe as sensações como a forma de alcançar o conhecimento do mundo, Privilegiando avisāc, como fama de chegar a verdade das coisas, recusaar cab pensamento.
• Caeiro acredita no mundo e no vê como um malmequer, vendo, mas não compreendendo o real e crendo que o "Muncku não se fez para pensarmos nele".
• Na poesia de Caeiro, os elementos naturais assumem uma importância fundamental, constituindo o tema de muitos dos seus poemas.

Fingimento Artístico (Caeiro)

• Os elementos naturais são temas fundamentais, configurando a Natureza como objeto de amor, que é configurada como um espaço de deambulação onde aprecia os aspetos do cenário campestre, captando a sua diversidade pelos sentidos.
• Na relação com a Natureza, Caeiro defende que o homem deve viver em harmonia, integrado, de acordo com os ritmos naturais.
• A Natureza é também objeto de observação, o espaço onde se recolhem as sensações que constituem a matéria da sua poesia.
• Integração, comunhão e harmonia com os elementos naturais, havendo também afastamento social.
• Pretende ser parte da harmonia universal da Natureza, abolindo o pensamento e levando uma vida tranquila e alegremente no seio da mãe Terra.
• A criação artística nega a intelectualização de emoções, procurando libertar-se da excessiva introspeção e dor de pensar, traduzindo inocência e pureza da visão com um estilo simples até quase infantil.
• Em termos de linguagem, estilo e estrutura existe uma linguagem simples, familiar, objetiva, prosaica, oralizante, com máximas e aforismos, um vocabulário concreto e predominância de construções coordenadas e subordinadas adverbiais.

Reflexão Existencial (Caeiro)

• Caeiro é o "Mestre" criado por Pessoa, que quer ser alguém que não procura um sentido para a vida ou universo, vivendo segundo o primado das sensações, sentindo sem pensar e sendo o criador do sensacionismo mestre dos outros heterónimos.
• Caeiro não procura conhecer nem adivinhar o oculto, expressando um conceito de vida baseado na aceitação serena do mundo e da realidade, saboreando cada impressão captada pelo olhar.
• No encontro e descoberta da "eterna novidade do mundo", há atitude de "pasmo essencial" num presente absoluto num tempo sem tempo que é o da visão "originária": ver tudo sempre da primeira vez, em que não há reencontros, mas encontros sempre novos e puros.
• Os sentidos opõem-se ao conhecimento intelectual.
• Sobrepõe-se da sensação ao pensamento. Observando a realidade de forma objetiva, rejeitando o pensamento abstrato e a intelectualização, numa filosofia da antifilosofia.
• O poeta do real objetivo vive no presente, sem pensar no passado (não sofrendo de nostalgia), nem no futuro (não temendo a morte).

Ricardo Reis

• Ricardo Reis é o poeta clássico que aceita com calma e lucidez a relatividade e a rapidez de todas as coisas, apresentando claras influências Filosóficas Clássicas.
• Defende o epicurismo, estoicismo, neopaganismo e horacianismo, levando a consciência da efemeridade da vida à indiferença à morte e à reflexão sobre a inexorabilidade do tempo, comparando a vida ao curso de um rio.
• Na verdade, a aceitação estoica do poder do destino revela uma atitude de abdicação, conduzindo à recusa das emoções.
• A filosofia estoica une-se à epicurista na medida em que esta defende a procura da felicidade relativa e da ataraxia, fuga aos sentimentos extremos, sofrimento e indiferença face à morte.
• Reis pretende aproveitar a vida e os prazeres do momento presente, tendo consciência da efemeridade da vida, com a aceitação passiva da realidade e da tranquilidade a fazerem da vida uma condenação à morte.
• Reis é um monárquico, educado num colégio de jesuítas latinistas.
• Representa a sabedoria do passado, o património da tradição humanista bem como um esforço lúcido e disciplinado para obter a calma, escrevendo em odes de tipo horaciano e cultivando temas como o neopaganismo, horacianismo, estoicismo e epicurismo.
• Reis, consciente do fluir do tempo, aceita a efemeridade da vida bem como a inevitabilidade da morte, pois na vida tudo passa e para enfrentar do medo da morte, faz uma encenação da mortalidade e um saudação carpe diem.
• Para Reis,é preciso viver cada instante, sem pensar no futuro (numa perspetiva epicurista de saudação através da autodisciplina, da abdicação, da renúncia a afetivos e sociais, da aceitação da calma e serena da vida e a inevitabilidade da morte).

Fingimento Artístico (Reis)

• Uma Ode era um texto lírico que se destinava a ser cantado, retratando temas importantes, com o objetivo de elogiar ou homenagear.
• O neopaganismo defendia a hierarquização ascendente (animais, homens, aos quais o Fado preside).
• O epicurismo demanda da felicidade e do prazer relativos; indiferença perante as emoções acessivas e preferência pelo estado de ataraxia (tranquilidade sem perturbação; moderação nos prazeres; indiferença face à morte).
• A aceitação do poder do destino revela a atitude de abdicação, conduzindo ao sofrimento, resignação e a voluntariedade de compromissos.

Reflexão Existencial (Reis)

• Reis, consciente do tempo aceita a efemeridade da vida bem como a inevitabilidade da morte.
• A mortalidade é parte da condição humana.
• Defende que é preciso viver cada instante, sem pensar no futuro e a aceitação da calma e serena da vida.
• Apresenta uma linguagem culta, erudita e latinizante com um estilo e forma complexos.
• Detem um tom didático e moralista e um tom coloquial na presença de um interlocutor privilegiado.
• Em termos de linguagem, estilo e estrutura nota-se a preferencia por uma composição poética em ode, regularidade estrófica, rítmica e métrica, ausência de rima e predominância de sintáticas subordinadas.

Álvaro de Campos

• Álvaro de Campos passa por várias fases: decadentista, futurista, sensacionista, abúlica e intimista..
• Na sua face intimista, pode-se verificar ainda o isolamento e o desejo de recuperação da infância, vista como paraíso perdido, experienciando nostalgia da infância como inconsciência e alegria.
• Prevalece angustia existencial e "dor de pensar".
• Campos toma consciência profunda de si próprio, da falta de coincidência entre o que idealiza e o que consegue concretizar e da inevitabilidade da passagem do tempo.
• Diferentes sentimentos disfóricos invadem a sua consciência: abulia, tédio, cansaço e solidão.
• A escrita exprime um cariz eufórico, excessivo, dinâmico com uma multiplicidade da civilização mecânica bem a pluralidade de sentimentos e sensações.

Fase Decadentista (Campos)

• Apresenta desilusão e tédio de viver, procurando novas sensações. Há uma busca da evasão apresentando uma atitude desafiadora das normas instituídas.

Fase Futurista e Sensacionista (Campos)

• Aqui, dá-se uma apologia da civilização tecnológica, da força, modernidade e exaltação do presente.
• Existe experiência e expressão acessiva das suas emoções, sentindo euforia o tempo todo e sadismo e masoquismo.

A imaginário épico (Campos)

• Há exaltação do moderno, apoteose da civilização e celebração do progresso e da técnica.
• O arrebatamento do canto manifesta-se na ode, expressão adequada ao conteúdo e linguagem com euforia e admiração do real.

Reflexão Existencial (Campos)

• Campos mostra consciência profunda sobre si, da falta de coincidência entre o que idealiza e o que consegue concretizar bem da passagem do tempo.
• Essa fase mostra: abulia, cansaço e solidão, havendo um grande desejo de recuperar a infância, experimentando a "nostalgia da infância", vivida como um tempo de inconsciência e felicidade.
• Mostra angustia existencial e pela "dor de pensar".
• A linguagem, estilo e estrutura caracterizam-se por verso livre e ausência de rima, linguagem simples e inclusão de vários registos.
• Vocabulário concreto, construções nominais e recursos como aliteração.
• Fôlego modernista e épico decai aproximando-se do registo poético do ortónimo.

Fase Abúlica e Intimista (Campos)

• Caracteriza-se por apresentar tédio existencial, desalento e angustia, solidão e grande dificuldade de socialização e desajustamento face ao presente traduzindo "dor de pensar" num tom introspetivo e pessimista.
• Um estilo sonolento, com temáticas intimistas e introspetivas que expressa uma criação emotiva e espontânea, independentemente do seu estado de espírito.

Explore a filosofia de Ricardo Reis, um dos heterônimos de Fernando Pessoa. Este estudo aborda suas visões sobre a vida, a morte e a busca pela ataraxia. Analisa ainda a influência das filosofias clássicas em sua obra poética.