Psicopatologia Psicodinâmica: Visão Geral

Psicopatologia Psicodinâmica

• A psicopatologia psicodinâmica baseia-se nas teorias psicanalíticas e psicodinâmicas para a compreensão dos distúrbios mentais.
• Concentra-se nas influências inconscientes, conflitos internos e dinâmicas psicológicas que contribuem para sintomas e comportamentos desadaptativos.
• Distúrbios emocionais e mentais têm raízes em conflitos internos não resolvidos, traumas passados, mecanismos de defesa, desejos reprimidos e influências da infância.
• Visa entender o comportamento através da exploração do inconsciente, relações objetais e experiências de desenvolvimento.
• Examina padrões de relacionamento e questões não resolvidas da infância que se manifestam em problemas emocionais e comportamentais na vida adulta.

Conceito de Normal e Patológico

• A distinção entre normal e patológico é um debate central na psicopatologia com implicações filosóficas, científicas e clínicas.
• Os conceitos variam conforme a perspectiva: estatística, biomédica, psicológica ou sociocultural.

Normalidade Estatística

• Considera normal o que é mais frequente em uma população.
• O que foge da média é visto como anômalo ou patológico.
• Nem tudo que é raro é patológico, como a genialidade.

Normalidade Funcional

• Um indivíduo é considerado normal se consegue adaptar-se ao ambiente e manter relações sociais saudáveis.
• Alguns transtornos permitem adaptação aparente, mas geram sofrimento interno.

Normalidade Ideal

• Baseia-se em um modelo teórico de saúde psicológica plena, como Maslow e autorrealização.
• Esse conceito pode ser rígido e inatingível.

Normalidade Sociocultural

• O que é considerado normal varia conforme a cultura e o contexto histórico.
• A homossexualidade já foi considerada um transtorno mental, mas não é mais.

O Que é o Patológico?

• A patologia não é apenas "estar doente", mas um funcionamento psíquico que causa sofrimento e prejuízo ao indivíduo ou ao seu meio social.

Critérios para Identificar o Patológico

• Sofrimento e Dano: O indivíduo sofre ou prejudica outros.
• Rigidez e Inflexibilidade: Comportamentos não se adaptam às mudanças da vida.
• Dificuldade de Funcionamento: Problemas em relações sociais, trabalho e vida pessoal.
• Persistência: O padrão de funcionamento disfuncional não é passageiro. A tristeza, se prolongada e intensa, pode ser classificada como depressão.

A Relação entre Normal e Patológico

• Limite Difuso: Não há uma linha clara entre o que é normal e patológico.
• Perspectiva Dimensional: Alguns modelos sugerem um espectro contínuo entre normalidade e patologia, em vez de categorias fechadas.
• Influência Cultural e Temporal: O que é considerado patológico pode mudar conforme a época e a cultura.
• A normalidade não é um conceito absoluto, mas relativo ao contexto social, histórico e individual e o patológico não significa apenas "doença", mas sim um funcionamento psíquico que compromete a qualidade de vida. O desafio da Psicopatologia é compreender essas nuances para evitar tanto o excesso de diagnósticos quanto a negligência de sofrimentos reais.

Pseudo normalidade de David Bergeret

• David Bergeret usa o conceito de pseudo-normalidade para descrever um estado psíquico em que o indivíduo parece funcional e adaptado, mas esconde conflitos psíquicos profundos.
• A pseudo-normalidade pode ser um mecanismo de defesa para evitar o confronto com angústias internas, ocorrendo em estruturas psíquicas frágeis, como neurose grave, estados-limite e algumas psicoses bem compensadas.
• Dificuldades emocionais, impulsos reprimidos e uma identidade pouco estruturada podem levar a colapsos psíquicos; a pseudo-normalidade não é um equilíbrio verdadeiro.

Atravessamento histórico do conceito de normalidade

• Na psicopatologia, o conceito de normalidade evoluiu ao longo do tempo.
• No passado, a normalidade era a ausência de sintomas ou comportamentos fora do padrão, com base em modelos biomédicos e psicopatológicos.
• No século XX, com a psicanálise e a psiquiatria, o conceito foi ampliado para incluir o funcionamento psíquico e emocional.
• Hoje, a normalidade é vista de forma mais relativa e flexível, considerando fatores culturais, sociais e individuais, estando ligada à capacidade de adaptação e ao bem-estar, reconhecendo a diversidade de experiências e formas de ser.

Personalidade

• Estrutura e personalidade são conceitos fundamentais para compreender os transtornos mentais.
• A abordagem estrutural da personalidade se refere à forma como os aspectos emocionais, cognitivos e comportamentais de um indivíduo se organizam e funcionam ao longo da vida.

Principais Modelos Estruturais da Personalidade na Psicopatologia

• Psicanálise (Freud, Klein, Bion, etc.)
  • Estrutura Psíquica: Freud propôs as instâncias psíquicas id, ego e superego, e alterações nessas estruturas levam a psicopatologias como neuroses, psicoses e perversões.
  • Estruturas Clínicas (Lacan): Neurose: Conflito entre desejo e repressão (ex: transtornos de ansiedade e fobias). Psicose: Falha na simbolização e construção do ego (ex: esquizofrenia). Perversão: Desvio da norma social e do desejo + negação da castração simbólica (ex: transtornos sexuais).

Abordagem Estrutural de Otto Kernberg

• Kernberg propõe que a personalidade é organizada em níveis estruturais:
  • Neurótico: Identidade bem estruturada, defesa por repressão (ex: TOC, fobias).
  • Limítrofe: Identidade difusa, relações instáveis, defesa por clivagem.
  • Psicótico: Identidade fragmentada, pensamento desorganizado, dificuldades na realidade externa.

Modelo dos Cinco Grandes Fatores (Big Five)

• Essa abordagem avalia a personalidade em cinco dimensões principais: Abertura à experiência, Conscienciosidade, Extroversão, Amabilidade e Neuroticismo.
• Altos níveis de neuroticismo estão associados a maior vulnerabilidade a transtornos como ansiedade e depressão.

Teoria da Desregulação Emocional (Marsha Linehan - TCD)

• A estrutura da personalidade pode ser afetada por dificuldades na regulação emocional, como no Transtorno de Personalidade Borderline.

Importância da Estrutura da Personalidade na Psicopatologia

• Ajuda a diferenciar transtornos psiquiátricos de características normais da personalidade.
• Orienta o tratamento, indicando se o foco deve ser na reestruturação da identidade, na regulação emocional ou na mudança de padrões de pensamento.
• Permite prever a evolução dos transtornos e a resposta ao tratamento.