História da Psicologia e Marxismo

História da Psicologia e Marxismo

• A psicologia tradicional focava no abstrato, no a-histórico e nos aspectos inconscientes ou biológicos do indivíduo.
• Questões sobre a organização social e a produção de meios para reprodução social eram de menor interesse para a psicologia.

O Trabalho na Perspectiva Marxista

• Marx e Engels definem a essência humana como o conjunto das relações sociais.
• A modificação da natureza leva à mudança nas forças e relações de produção.
• A acumulação de capital é um produto do desenvolvimento.
• O trabalho diferencia humanos da natureza, criando o ser social.
• A evolução separa os humanos das esferas inorgânica e orgânica, permitindo a transformação do mundo.
• O trabalho envolve escolhas conscientes, superando instintos biológicos e formando mediações sociais complexas.
• A individualidade é construída através das relações de produção, não sendo inata.
• O capitalismo tende a isolar indivíduos, enquanto sociedades comunitárias priorizam o coletivo.

Suicídio e Sociedade Burguesa

• Marx relaciona o suicídio às contradições da sociedade burguesa, como opressão de gênero, alienação e desespero econômico.
• A alienação afeta até mesmo classes não proletárias, como mulheres e desempregados.
• A formação do indivíduo está ligada a relações sociais e estruturas econômicas, não existindo isoladamente.
• A natureza humana é um produto histórico, não uma essência fixa.
• Citados exemplos de suicídios relacionados a humilhação, frustração e sobrecarga familiar.

História da Psicologia Social Comunitária: Contexto Histórico

• As Guerras Mundiais motivaram o estudo do impacto da guerra na vida das pessoas por psicólogos sociais.
• A Guerra Fria representou um conflito ideológico entre capitalismo e socialismo, consolidando o sistema capitalista.
• Nas décadas de 50/60, houve insatisfação com a falta de compromisso social e político nas universidades, vistas como "torres de marfim".
• A psicologia tradicional serviu como instrumento de dominação em sistemas ditatoriais na América Latina.

Psicologia das Elites e Perspectivas de Mudança

• A psicologia das elites contrastava a psicanálise tradicional com a psicologia experimental/behaviorismo.
• No Brasil, os cursos de psicologia seguiam um modelo individualista e patologizante, ignorando a realidade brasileira; opositores da ditadura eram enviados a manicômios; houve expansão nos cursos com foco no modelo médico durante a ditadura.
• Em meados dos anos 60, surgiram movimentos de "minorias ativas" buscando mudança.
• Havia descontentamento com as condições de vida no Brasil, incluindo falta de saneamento, miséria, falta de educação e submissão.
• Buscou-se romper a dualidade indivíduo-sociedade, defendendo que a saúde depende de acesso à educação, lazer, cultura, moradia e renda.

Surgimento da Psicologia Social Comunitária (PSC)

• A PSC aproximou-se da sociologia e educação, baseando-se na psicologia histórico-cultural que vê o indivíduo como ator e autor em seu meio social, constantemente influenciado por ele.
• No século XX, surgiram três vertentes teóricas na psicologia social:
  • Psicologia das multidões (ou das massas): originada na França a partir de movimentos sociais urbanos em sociedades capitalistas, estudando o comportamento humano em multidões e a reunião em grandes grupos compartilhando ideias e sentimentos, tendo Gustav Le Bon como representante.
• Psicologia da opinião pública: questiona o funcionamento da democracia moderna baseada na síntese de milhares de pensamentos individuais, vendo a opinião pública como a soma das opiniões pessoais da maioria ou minoria dos cidadãos.
• A psicologia comunitária: um paradigma latino-americano com construção e transformação crítica, caracterizado pela relação dialógica entre pesquisador e sujeitos da pesquisa, e ênfase na aplicação da ciência à transformação social.
• Relação dialógica: movimento ativo de transformação e interação através do diálogo.
• Aproximação com a educação: preocupação com a educação popular liderada por Paulo Freire, buscando conscientização e visão social crítica através da alfabetização de adultos, utilizando cultura e educação de base como instrumentos de conscientização de classe.

Histórico do Surgimento da PSC

• Década de 1950: Primeiros trabalhos comunitários com caráter assistencialista e paternalista.
• Década de 1960: Aproximação com a educação de base.
• Década de 1970: Prevenção da saúde mental e início de uma reforma sanitária.
• Encontro de 1981: Projeto de saúde mental comunitária no Jardim Santo Antônio, Educação Popular do Instituto Sedes Sapientiae, atuação nos bairros e com mulheres na periferia (método: Psicodrama).
• Encontro de 1988: Favela Vila Acaba Mundo, atuação em um posto de saúde onde o indivíduo desaparece sob a "doença", buscando o psicólogo para tratamento.
• Trabalhos em áreas rurais: Alfabetização de funcionários pelos fazendeiros, com educação acrítica e trabalhos paternalistas e assistencialistas (análogos à escravidão).

Princípios da PSC

• Ser humano como ser integral, produto e produtor de mudanças no meio social, transformando e sendo transformado pela realidade cotidiana.
• Perspectiva crítica, analítica e dialógica dirigida à reflexão, produtos do materialismo histórico.
• Interesse pelo coletivo e pelas comunidades.
• Posicionamento a favor das minorias e dos movimentos sociais.
• Transformação individual e social na incorporação das culturas populares e participação social.
• Incorporação das ideias de Marx e Gramsci que quebram a noção de comunidade passiva e estática.

Alicerces da PSC

• Conjuntura política ditatorial entre 1960 e 1980.
• Rompimento com a psicologia norte-americana.
• Estreitamento entre teoria e prática, com foco no contexto social.

Definição de PSC

• Diferenças e semelhanças entre as definições de Monteiro, de Góis e de Campos.

Saberes Sociais

• O sujeito constrói uma realidade que, por sua vez, o transforma, limita e impulsiona, num processo dinâmico constante.
• Jovchelovitch: teoria das representações sociais.
• Saberes sociais são produzidos no e pelo cotidiano.
• Dimensões constitutivas do saber social:
  • Significado: construção simbólica que difere entre gerações.
  • Comunidade: pode ser uma sociedade, instituição, grupo ou vila, delimitada pela cultura.
  • Cultura: símbolos, tradições, comportamentos, regras.

Participação e Consciência

• Participação: Fenômeno indicador de fenômeno psicossocial.
  • O participante se apropria e transforma o objeto e é por ele modificado.
  • Depende do grau de identificação e compromisso com o objeto.
  • Pode ser: assistência (menor compromisso), participação permanente (responsabilidade em equipe) e orgânica (maior grau, assumindo a causa desde o início).
  • A participação comunitária mobiliza a consciência e transmite novos padrões de comportamento.
• Consciência: Captação individual da experiência social e pessoal.
  • Captação da ação de um grupo ou classe social.

Métodos e Técnicas

• Reconhecer heterogeneidade e dinâmica social.
• Aproveitar experiências existentes.
• Promover a descentralização de recursos e necessidades.
• Planejar a participação de organizações públicas e privadas.
• A comunidade deve apropriar-se da sua história e encontrar soluções para os seus problemas, rompendo com a dependência.
• A inserção na comunidade depende de contatos e agentes intermediários.
• As técnicas incluem entrevistas, conversas informais, visitas, registro de observação, recuperação da história, resgate de documentos e encontros.
• A intervenção começa com a coleta de informação e identificação de necessidades do cotidiano.
• Detecção dos métodos de enfrentamento.
• Resolução de problemas em comunidade por meio de estratégias de discussão.
• Pesquisa participante onde pesquisador e sujeito trabalham juntos.
• A comunidade é quem dita os problemas e soluções e não há neutralidade científica.
• Articulação com as políticas públicas, para além da assistência social.

O Que É Comunidade?

• Nos dicionários:
  • Qualidade ou estado comum a diversos indivíduos.
  • Grupo que vive em comum e compartilha recursos financeiros e materiais.
  • Grupo que vive na mesma região e compartilha cultura.
  • Grupo com interesses em comum.
  • Sociedade como um todo.
  • Pessoas com características comuns que acessam os mesmos recursos.
  • Pessoas que vivem na mesma área e interagem ou dependem uns dos outros.
  • Pessoas ligadas pela mesma profissão.
• Campos (2013):
  • Lugar em comum onde ocorre grande parte da vida cotidiana.
  • Comunidade geográfica: bairros, cidades, países.
  • Comunidade psicossocial: colegas de trabalho.

Relações Sociais

• Relação: ordenação e direcionamento intrínseco de algo a outro algo; não pode existir sozinha.
• Díade: relações diretas com as pessoas.
• Nem sempre positivas: podem ser violentas ou excludentes.
• Impossível quantificar: podem se contradizer em diferentes momentos.
• Podem ter diferentes níveis de intensidade, estabilidade e abrangência.
• Exemplos: comunicação, união, diálogo, conflito, rejeição, exclusão.
• As relações transformam-se constantemente e, ao fazê-lo, transformam o grupo.
• Visão positivista (ultrapassada):
  • Grupo como ente estático.
  • Pessoas com papéis fixos e pouca possibilidade de mudança.

Multidão (massa) e público

• Massa:
  • Grande número de pessoas que não se conhecem, não estabelecem relações, mas compartilham um interesse.
  • Le Bon afirma que a multidão é perigosa porque as pessoas são guiadas pelas emoções e pela certeza da impunidade.
  • Exemplo: torcida de futebol.
• Público:
  • Multidões espalhadas por diversos lugares ligadas por um interesse ou objetivo em comum.
  • Exemplo: telespectadores.
  • Sem interação; um fala e o outro escuta/vê.

Relações de Dominação

• Poder: capacidade de um indivíduo ou grupo de executar uma ação.
  • Todos possuem poder na medida em que podem fazer coisas.
• Dominação: relação onde uma parte expropria o poder da outra, tratando-a desigualmente.
• Relações de dominação: surgem de ideologias e relações desiguais.
  • Ideologia: emprego de formas simbólicas para criar, sustentar e reproduzir determinados tipos de relação, significando a realidade cotidiana.
• Formas de Dominação
  • Dominação economica: Alguém rouba a capacidade de trabalho de outro.
    • Exploração do trabalho (riqueza das nações).
    • Mais-valia.
  • Dominação politica: relações entre pessoas e grupos na sociedade, incluindo relações entre estados/governos/cidadãos.
    • Implica desrespeito aos direitos dos diversos sujeitos.
  • Dominação cultural:
    • Racismo: criação de estereótipos e discriminações negativas.
    • Patriarcalismo: assimetrias baseadas em gênero.
    • Institucionalismo: elevação de uma instituição à condição de absoluta e eterna.
  • Dominação profissional: atrelada a um determinado tipo de profissão (ex: médico/advogado).

Os Sentidos da Comunidade na História

• A vivência comunitária possui caráter evolutivo: alimentação, proteção, desenvolvimento da agricultura, sobrevivência.
• Comunidade na Idade Média: relações de exploração no sistema feudal.
• Iluminismo:
  • Destruição de grupos e associações medievais.
  • Movimentos anticomunitários endossados por ideias de contrato social (homens livres fora de corporações ou do campo, que se unem racionalmente com propósitos específicos) e pela Revolução Industrial (que cria o capitalismo).
  • Ideias anti-comunitárias: egoísmo racional, racionalidade económica levada a satisfazer necessidades de forma perfeita.
  • Foco no individualismo e na ideia de que as comunidades impedem o desenvolvimento económico, a reforma administrativa e o progresso.
• Movimento contrário ao Iluminismo:
  • Conservadorismo: antirracionalismo e anti-individualismo.
  • Resgate da comunidade: tomada como sociedade boa.
  • Protótipo: Família.
  • Representação simbólica: religião, nação, raça, profissão, cruzadas.
  • Comunhão de objetos e e coesão social.
  • Caráter utópico de comunidade cooperativa.
• Mudanças no sentido de Comunidade: impactos na religião, filosofia e sociologia.
• Para Hegel, a comunidade não é uma agregação de indivíduos por um contrato, mas uma rede de relações.
• A sociedade é vista para ele como uma rede de instituições (família, comunidade, classe, estado) que se unem para dar a ideia de Estado e de Indivíduo.
• Em conjunto, um elemento formativo do estado e do indivíduo em si.

Comunidade Para Marx

• Tipo de vida onde todos são chamados pelo nome (igualdade).
• Vivência que preserva a singularidade de cada um, permitindo a manifestação individual.
• Visão de pessoa: se opõe ao individualismo e à noção de "pedaço de máquina".
• Individualismo liberal: pressupõe autossuficiência, isolamento e competição.
• "Peça de máquina": indivíduo a serviço do Estado/instituições, anulando a subjetividade.

Comunidade Como Fenômeno Empírico

• Inicialmente Sociologia no Século XX
• Estudo de casos e observação

Comunidade Na Psicologia

• Wundt: Comunidade = Interação Coletiva A Psicologia Popular consiste nos produtos mentais criados por uma Comunidade Humana.
  • A Psicologia Popular consiste nos produtos mentais criados por uma Comunidade Humana não individual.
• Freud: Comunidade tem Homogeneizador
  • Trocar parte da felicidade/segurança
  • Negativa Injusta onde todos são iguais em desejos e necessidades.
• Psicologia Norte Americana
  • Problemas provocados pela imigração e promovendo integração na sociedade americana.
• Década de 50: ideais liberais populistas.
  • Estratégias de modernização do pós Guerra e com objetivo de enfrentar a Guerra Fria.
• Condutivismo (integrar individuos e grupos atraves da transformação de atitudes)
• Área Clinica/Humanizar doente mental
• Integração para programas oficiais de modernização.
  • Educação Popular, Medicina Psiquiatrica
• Marxismo na teoria do conhecimento e necessidade.
• Classe trabalhadora realiza o conhecimento e negar a exclusão no capitalismo.

Psicologia Social Norte-Americana e Latino-Americana

• Diferença Principal é a mudança Social
• A Mudança está acoplada à modernização dos setores atrasados para adaptar o capitalismo.
• Considera Transformação Social exploradora contra revolução cidadã.
• Transformar em ação
• Mais no educador social ou clinico fora, mas promove a consciência.
• Valores Comunitário precisam ser interiorizados.
• Pensamentos e sentimentos são necessidades