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[9:36 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A s cortinas do quarto balançaram, e Shaila sentiu um bafo gelado no rosto. Suas energias fugiam, como se ela fosse um balão de ar sendo esvaziado por alguém que sugasse seu fôlego. Agoniada, a menina se debateu na cama. Jogou o cobertor para um lado e o seu s...

[9:36 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A s cortinas do quarto balançaram, e Shaila sentiu um bafo gelado no rosto. Suas energias fugiam, como se ela fosse um balão de ar sendo esvaziado por alguém que sugasse seu fôlego. Agoniada, a menina se debateu na cama. Jogou o cobertor para um lado e o seu sapo de pelúcia para o outro. Sentou-se e esfregou os olhos. Um som abafado parecia vir da janela, das cortinas. Uma risada maligna de vilão de filme de terror... anunciando algo assustador, terrível, mortal. Então houve silêncio. E ela se sentiu desperta. "Foi um sonho", tentou se convencer. Era junho, mas ainda fazia calor. As cortinas estavam paradas e nenhum vento penetrava no quarto. O único som vinha do rádio do avô, no andar de baixo: võ Murilo acordava cedo para fazer pão ao som de ópera, e já estava em atividade. Ela se levantou, recolheu o cobertor caído e abraçou seu sapo de estimação. Ele a confortava, desde que era bebê, sem- pre que se sentia ameaçada. E a confortaria agora se estivesse em perigo. Pensar em perigo quase a fez sentir de novo o medo, o bafo gelado a roubar suas energias. [9:44 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Escutou então o despertador do outro avô, Anton. Logo ele estaria na outra cozinha, fazendo café e implicando com Mu- rilo. O som a acalmou. A normalidade do dia a dia apagaría as sensações desagradáveis, embora, na verdade, o cotidiano de Shaila não fosse lá muito normal: de seus doze anos de vida, havia passado dez naquela casa - ou casas, pois eram duas. Após a morte dos pais, ela fora morar com os avós pater- nos e maternos, que viviam em sobrados geminados numa rua de Santa Cecília, bairro central de São Paulo. Haviam ob- tido a guarda conjunta da neta, fizeram uma reforma e abri- ram uma porta entre as duas salas do sobrado e outra entre as duas cozinhas. No andar de cima, derrubaram uma parede entre dois cômodos, tornando o quarto da garota enorme, com o dobro do tamanho de um quarto comum. Os sobrados, juntos, formavam uma casa grande, e todos viviam em paz, embora vó Ana e vó Marina também implicassem uma com a outra de tempos em tempos. Shaila abriu as janelas e deixou a luz invadir o quarto. O medo foi embora. Só estranhou não ver Amy, a gata, na almofada. Ela sempre dormia ali e dessa vez havia pas- sado a noite em outro lugar. Falou com o sapo, ajeitando-o sobre o travesseiro. - Melhor ir tomar café. Vou encontrar o Pedro e o Cadu antes da aula. O aroma delicioso dos pãezinhos enchia a copa quando ela desceu e deu com a mesa posta. Da cozinha de seu lado da casa, vô Murilo sorriu para ela. Vô Anton vinha da cozinha oposta trazendo um pote de geleia de morango preparada pela Oma, a palavra alemã para vovó, como dona Ana gosta- va de ser chamada. - Bom dia, Schatz - saudou-a Anton, com um sorriso. Sua geleia preferida! [9:45 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - O pão está pronto, mia cara - foi a saudação de Murilo, retirando a assadeira do forno. Shaila estava mais faminta que de costume; devia ser cul- pa do sonho em que sentira suas energias que eram sugadas. Sentou-se à mesa da copa e pôs leite na caneca, mas, enquan- to abria o pote de achocolatado, lembrou do sumiço da gata. Vocês viram a Amy? Ela não dormiu no meu quarto esta noite. Os dois homens trocaram um olhar de preocupação. - Está na frente da porta de entrada desde ontem - disse Murilo. - Miou para mim, zangada, quando tentei passar - acres- centou Anton. Isso não era típico de sua gata. E aquela não era a única coisa estranha daquela manhã. A essa altura as avós já deve- riam estar ali, insistindo para que se alimentasse. - Cadê a Nonna? - perguntou. - E a Oma? Mais uma vez os avós se entreolharam. - A Ana não está se sentindo bem, vou levar um chá para ela na cama. - Marina passou parte da noite acordada, é melhor que durma até mais tarde. Ambos tentavam não preocupar a menina, mas estavam alarmados. E bem naquele momento um súbito vento bateu a porta dos fundos e a da frente. A gata miou, em alarme. Vô Murilo foi verificar os fundos, võ Anton foi conferir a entrada. E a garota misturou o achocolatado ao leite, cismada. Não estava imaginando coisas. Algo estranho estava mes- mo acontecendo. Uma ameaça se aproximava. [9:46 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 1. Algo maligno vem por ai Colégio Casmurro combinava com o nome. Sério, 0 imponente, clássico. Desde a fundação, havia quase duzentos anos, ele sofrera várias reformas. Terrenos próximos haviam sido comprados para ampliá-lo, porém a casa original era a mesma, com sua atmosfera de palacete do Império. Sempre que subia a escadinha do casarão e entrava na construção centenária, Shaila sentia um arrepio. A entrada normal dos alunos era na rua lateral, mas a sala da redação do jornal escolar ficava na ala antiga. Shaila, Pedro e Cadu eram a equipe que o redigia; usavam a saleta sob a escadaria de mármore que levava à biblioteca, no andar superior. Assim que pisou no vestíbulo um cômodo tétrico, de teto alto-, a sensação de medo voltou. - Deviam derrubar esta casa mal-assombrada e construir outra resmungou. Ouviu então a voz de dona Esperidiana; teria de passar pela diretora para chegar à redação. - É você, Eugênia? perguntou a mulher, surgindo no corredor. [9:47 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue Shaila não via dona Eugênia, a mais antiga servente do colégio, fazia dias. - Não, sou eu, a Shaila. Temos reunião na redação do jor- nalzinho. 12 A diretora a fitou de cima a baixo, com o olhar sombrio que reservava aos alunos. Todos tremiam sob esse olhar, mas a ga- rota já havia percebido que ele era mais teatral que outra coisa. Esperidiana Bulhões e Cascalho, dona das unidades do Colégio Casmurro, fazia questão de manter a seriedade. Após tornar-se gestora da instituição, dizia a quem quises- se ouvir: Este colégio teve dias de glória durante o Império e a Primeira República. Pessoas famosas estudaram aqui. Vou retomar as tradições antigas: excelência no ensino, disciplina e respeito! Ela implantara regulamentos rígidos. Ali, não se tolera- va indisciplina, atitude que os pais dos alunos adoravam - e os filhos detestavam. Talvez por isso, apesar de a mensali- dade não ser tão cara, a procura por vagas não era grande ultimamente. Bom dia, senhorita Shaila disse ela, seca. Seus cole- gas já chegaram. Espero que tenham uma reunião produtiva. E que o próximo número do periódico não atrase. Os três haviam atrasado a entrega da última edição, o que lhes rendera uma bronca enorme. - Bom dia, dona Esperidiana. A garota sorriu amarelo. Este mês o trabalho está adiantado... -Hum. Se vir dona Eugênia, avise-a de que preciso falar com ela foi a resposta da mulher, antes de voltar à sua sala. Parecia mais mal-humorada que de costume. Shaila não queria estar no lugar da servente quando a gestora a encontrasse. 6 de 53 Su dava Castig te da seguir ficava -A dentro -A gência Ela ecoou u viu no "Alg sombric Shail Cadu e s sem jane em que algo prec Fazia por dona jornal es fora func légio, por Na época, alunas do ingressar bem [9:47 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Resana Rios Suspirou e seguiu pelo corredor. Havia uma passagem que dava na ala mais moderna; uma porta exibia a placa "Sala do Castigo - Museu Escolar". Esse era o local mais aterrorizan- te da escola, a antessala do gabinete de Esperidiana. A porta seguinte era a da diretoria, e afinal a menina abriu a que ficava sob as escadas, com os dizeres O Sinistro. - Até que enfim, Shai! a voz de Pedro a saudou, lá de dentro da sala. - A gente precisa conversar acrescentou Cadu, com ur- gência na voz. Ela entrou e fechou a porta. Pela escadaria de mármore ecoou um rangido lúgubre, que seu Ruiz, o bibliotecário, ou- viu no piso superior. "Alguma coisa maligna vai acontecer", pensou o homem, sombrio... Shaila beijou Pedro, despenteou os cabelos crespos de Cadu e sentou-se em uma velha carteira no meio da salinha sem janelas. Estantes cobriam as paredes, menos no canto em que ficava a mesa do computador. E ela podia ver que algo preocupava os garotos; eles nunca chegavam cedo. Fazia alguns meses que eles tinham sido convocados por dona Esperidiana para assumir a redação do tradicional jornal escolar, inativo desde a década de 1960. O Sinistro fora fundado em 1864, dez anos após a fundação do co- légio, por um grupo de alunos do então Liceu Casmurro. Na época, era feito à mão, os artigos copiados à pena pelas alunas do ensino básico. Oficialmente, só rapazes podiam ingressar no ensino médio. As moças, porém, escreviam bem melhor que eles, e o Liceu Casmurro seria uma das e e a. e ar a. a [9:48 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 14 Invisivel Sugador de Sangue primeiras escolas de ensino médio a aceitar estudantes do sexo feminino. O colégio, fundado por Esperidião Bulhões e Cascalho, bi- savô da atual diretora, mantinha o nível de ensino mais ele- vado que o de escolas públicas e colégios religiosos concor- rentes. O fundador e seus descendentes juravam que Dom Pedro II tinha visitado o Liceu em uma viagem a São Paulo e o comparado ao colégio que levava seu nome, no Rio de Janeiro. Ninguém sabia se era verdade, mas o Casmurro se tornou sinônimo de educação refinada e castigos severos. Shaila nunca imaginara ser redatora de um jornalzinho. Fora parar lá porque suas notas estavam péssimas no início daquele ano. Quando dona Esperidiana a chamara à direto- ria, em março, ela esperava uma advertência; só não esperava encontrar naquela antessala tétrica Carlos Eduardo, o garoto mais bonitão do colégio, e Pedro Augusto, o nerd menos po- pular de todos. Tinha sido um dia inesquecível... Quatro meses antes Final de março: Shaila estava desolada com as notas que acabavam de ser divulgadas. O sétimo ano no Colégio Cas- murro prometia ser uma encrenca! E, se o resultado das ava- liações a preocupava, tudo piorara quando a professora Leni- ra, a coordenadora, avisara-lhe que dona Esperidiana queria vê-la na diretoria, na parte antiga do casarão. A menina adentrou a assustadora antessala, onde alu- nos chamados pela diretora aguardavam. Nos últimos anos, ali fora inaugurado um museu escolar: havia retratos de [9:49 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios ex-diretores, troféus, móveis do tempo do Onça. Mas todos sabiam que aquela havia sido a infame Sala do Castigo... Em tempos antigos, os alunos que aprontavam eram le- vados para lá e recebiam castigos horrorosos. Não existia o Estatuto da Criança e do Adolescente, e os bagunceiros eram surrados naquela sala com varas de marmelo. Con- tava-se ainda que quem desobedecia era castigado com a palmatória, uma espátula para bater na mão dos alunos, e quem tirava nota baixa tinha de usar um chapéu com ore- lhas e a placa "Burro". Esses singelos instrumentos e outros piores estavam expostos na sala em que os três esperavam para ser recebidos pela diretora. O efeito psicológico era terrível; era como se fantasmas de professores do passado ali estivessem, prontos a castigá-los. Para não pensar nos horrendos objetos, Cadu havia pu- xado conversa. - Vocês sabem por que a gente está aqui? perguntara, com um carregado sotaque carioca. Ele nascera no Rio de Janeiro. Passava metade do ano com o pai, em São Paulo, e a outra metade com a mãe, na cidade de Niterói. Como o Colégio Casmurro tinha filial nas duas cidades, seus estudos não eram interrompidos. Pedro parecia não se importar. - Não tenho a menor ideia. Tuas notas devem estar ruins, mas as minhas continuam altas. Shaila não gostava de Pedro, achava-o metido a sabichão, mas concordou. Nunca tive um boletim tão ruim. Minhas avós vão res- mungar o mês inteiro! - É uma injustiça - suspirou Cadu. Sei que eu me dei mal nas últimas provas, mas fiz três gols na decisão do cam- peonato interescolar! Isso devia contar alguma coisa. [9:50 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: O Invisivel Sugador de Sangue O outro garoto riu com ironia. Conta pra arrumar mais namoradas, mas pra passar de ano não conta, não... Falou o cara que nunca teve uma namorada na vida - zombou Cadu, levantando-se e exibindo o corpo atlético que despertava suspiros nas meninas. Ou em quase todas: Shaila o considerava um presun- çoso e não ligava a mínima para seu sucesso no esporte. Também nunca se impressionara com seus olhos esverdea- dos, que contrastavam com a pele negra e eram admirados pelas colegas. - Parem com isso! - ela os repreendeu. Aposto que a di- retora chamou vocês por causa da encrenca que arrumaram semana passada na biblioteca... Era verdade. Carlos Eduardo e Pedro eram colegas no oi- tavo ano e, na semana anterior, quase haviam se atracado nos domínios de seu Ruiz. Foi ele que começou - justificou-se Pedro. Mentira! retrucou Cadu. Ele ficou fazendo piada porque eu me enganei com um livro. - Foi hilário! Tu confundiu um livro do Machado de As- sis com um do Assis Brasil! Era tudo Assis! Qualquer um pode se enganar, até um nerd parabólico como você foi a resposta furiosa, que fez Pedro rir mais ainda. [9:50 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios - A palavra que tu queria usar é paranoico, e não sou eu que tenho ataques de paranoia... Shaila, sentada entre ambos, riu do charmoso sotaque gaúcho de Pedro, porém bronqueou: - Já disse pra ficarem quietos! Ou ela vai pegar no nosso pé mais do que de costume. A bronca veio bem a tempo. Assim que os garotos se cala- ram, trocando olhares de raiva, a porta que dividia o Museu Escolar e a Diretoria se abriu e dona Esperidiana ordenou: Entrem. Os três. E eles lá se foram, lançando olhares desconfiados para o armário cheio de instrumentos de punição, que tinham o as- pecto menos ameaçador que o da mulher à espera deles. No entanto, não receberam repreensões sobre notas ou brigas. A diretora apenas os convidara para serem a nova equipe de redação do jornal escolar. - Há anos eu desejo restabelecer nosso tradicional pe- riódico dissera ela. O Sinistro marcou época quando foi fundado, no século XIX. Os alunos publicavam arti- gos, resenhas de livros, notícias de interesse. Mas está parado há uns trinta anos! Mandei levar um computador para a sala da redação, aqui ao lado. Vocês são bons em informática, vão reunir material para compor o jornal todo mês, escrever artigos, montar um arquivo. No fim do mês, entreguem para o seu Ruiz. Ele aprovará as ma- térias e mandará imprimir na gráfica. Receberão pontos na média pela atividade. Pedro não precisava disso: sempre tirava as melhores notas da turma. Já era excelente aluno no colégio que fre- quentava em Porto Alegre, sua terra, antes de os pais virem trabalhar em São Paulo. O convite da diretora, porém, era irrecusável... [9:51 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue Assim, a partir daquele mês, os três tiveram de aturar-se e passaram a se encontrar várias vezes por semana no cubículo sem janelas para redigir o tal O Sinistro. Na época, não sabiam por que o nome era tão macabro.... mas logo iriam descobrir... Na manhã de junho em que Shaila, com o ar cansado, os encontrara na salinha, as discussões já haviam diminuído. Cadu e Pedro ainda se estranhavam de vez em quando, e ela precisava acalmar a situação. Mas uma inesperada amizade começava a uni-los. Vocês também tiveram pesadelos à noite? a menina. perguntou Nervoso, Carlos Eduardo se pôs a andar pela salinha. - Aquilo não foi pesadelo. Acordei com um peso no peito, um frio esquisito, como......como se uma força sobrenatural estivesse sugando tuas energias - completou Pedro. Shaila olhou de um para o outro, assustada. Foi exatamente o que eu senti! E ouvi uma risada que metia medo. Isso! exclamaram os garotos, ao mesmo tempo. Que bizarro! Como poderiam os três sonhar a mesma coisa? E por que a sensação de pavor? - Olha - disse Pedro, o mais sensato dos três -, o jeito é a gente não pensar nisso agora. Vamos adiantar o jornal, pra não estourar o prazo de novo. Ele estava com a razão. Tinham tempo antes da primeira aula, e não podiam arriscar-se a atrasar o jornalzinho daque- le mês. Puseram-se a reunir os artigos prontos e, enquanto [9:51 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue Assim, a partir daquele mês, os três tiveram de aturar-se e passaram a se encontrar várias vezes por semana no cubículo sem janelas para redigir o tal O Sinistro. Na época, não sabiam por que o nome era tão macabro.... mas logo iriam descobrir... Na manhã de junho em que Shaila, com o ar cansado, os encontrara na salinha, as discussões já haviam diminuído. Cadu e Pedro ainda se estranhavam de vez em quando, e ela precisava acalmar a situação. Mas uma inesperada amizade começava a uni-los. Vocês também tiveram pesadelos à noite? a menina. perguntou Nervoso, Carlos Eduardo se pôs a andar pela salinha. - Aquilo não foi pesadelo. Acordei com um peso no peito, um frio esquisito, como......como se uma força sobrenatural estivesse sugando tuas energias - completou Pedro. Shaila olhou de um para o outro, assustada. Foi exatamente o que eu senti! E ouvi uma risada que metia medo. Isso! exclamaram os garotos, ao mesmo tempo. Que bizarro! Como poderiam os três sonhar a mesma coisa? E por que a sensação de pavor? - Olha - disse Pedro, o mais sensato dos três -, o jeito é a gente não pensar nisso agora. Vamos adiantar o jornal, pra não estourar o prazo de novo. Ele estava com a razão. Tinham tempo antes da primeira aula, e não podiam arriscar-se a atrasar o jornalzinho daque- le mês. Puseram-se a reunir os artigos prontos e, enquanto [9:52 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A batida os apanhou de surpresa. Shaila estremeceu. Cadu ficou tão pálido que seu rosto de traços africa- nos parecia ter a mesma cor da face morena de Pedro, que foi abrir a porta. Contudo, quando a porta foi aberta, não havia fantasma nem nada parecido. Os três jovens jornalistas arregalaram os olhos para Fabiana, que estudava na mesma sala de Shaila. - Oi - saudou a garota. Posso entrar? Pedro escancarou a porta, e Cadu assumiu seu costumeiro ar de conquistador. Fabi e sua irmā mais nova eram duas das garotas mais admiradas do colégio. Claro, você fotografou a feira do livro na semana pas- sada-lembrou-se Shaila. - Veio trazer as fotos? - Isso... e outra coisa. Mandei as fotos para seu e-mail, Pedro. Mas tenho umas cópias impressas aqui, vocês preci- sam ver - disse ela, entregando um envelope a Shaila. Como Fabiana era ótima fotógrafa, tinham lhe pedido que documentasse a feira que seu Ruiz organizara na Semana do Livro. A exposição de livros de literatura havia acontecido no novo salão de eventos. Shaila descrevera tudo num artigo para O Sinistro, só faltavam as fotos. 21 [9:52 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Havia obras no colégio desde que, no ano anterior, dona Esperidiana comprara uma casa na rua de trás. Após demo- lirem o imóvel, construiu-se um grande salão, inaugurado com a tal feira. Pedro foi mexer no computador. Localizava os arquivos enviados por Fabi quando Shaila e Cadu abriram o envelope, soltando exclamações de assombro. - O que é isto? - disse Shaila, assustada, mostrando uma mancha numa das fotografias. - Parecem fantasmas... murmurou Cadu. O garoto gaúcho não se impressionava facilmente e tra- tou de sossegar os colegas. Olhou com ar crítico as cópias, que ostentavam estranhas manchas. Bah, pessoal, isso é defeito na impressão. Só faltava tu achar que cada mancha dessas é um fantasma, Fabi. - Não é defeito de impressão, Pê- retrucou Fabiana. - Só algumas fotos têm essas coisas estranhas. E as manchas só aparecem perto de certas pessoas. Os quatro se debruçaram sobre as cópias. Cadu arregalou os olhos verdes. Todas as fotos da dona Eugênia estão borradas. E as da sua irmã, Fabi. Nestas duas dá pra ver as minhas avós, a Oma e a Non- na- acrescentou Shaila. E também tem sombras nos retra- tos da dona Esperidiana... Fabiana se voltou para a amiga, ansiosa. Viram? Por isso eu vim procurar vocês. Por acaso as suas avós não ficaram doentes, Shai? Uma sensação de frio enregelante tomou conta do peito da garota. - Pra falar a verdade, as duas não estavam bem hoje cedo. Por quê? [9:53 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Porque revelou a garota eu acho que essas man- chas são um sinal. Minha irmã ficou doente de repente. Ninguém sabe o que é! E vocês já sabem da dona Eugênia, a servente? O que é que tem ela? perguntou Pedro, vendo que Cadu empalidecia de novo e que Shaila resmungava algo so- bre a diretora estar procurando a mulher. Quando meus pais levaram a Nanda pro hospital, sou- beram que a dona Eugênia estava internada lá. Parece que acharam a coitada em coma, na casa dela... - Espera aí o jovem gaúcho encarou Fabi. - As pessoas das fotos manchadas ficaram doentes? Tinha alguma coisa sobrenatural na feira do livro atacando a gente? Sei que parece maluquice, Pê- disse a garota, com lá- grimas nos olhos, mas não pode ser coincidência. E se for algum tipo de maldição? De todo mundo que estava lá, cin- co pessoas aparecem em fotos esquisitas. E aí todas passam mal ao mesmo tempo! Acho que as minhas avós não estão doentes, só indis- postas rebateu Shaila. - E a dona Esperidiana tá aí na diretoria - concluiu Pedro. Fabi enxugou as lágrimas. Eu sei, mas desde anteontem ela está esquisita. Com olheiras, parece cansada. Por isso... Os três se entreolharam. Sabiam o que a garota iria dizer. E ela disse: - Vocês são os Sinistros. Precisam investigar essa história. Todo mundo sabe que em abril vocês expulsaram o fantasma do banheiro do segundo andar. Não foi bem assim que aconteceu tra-argumentar. A menina sacudiu os cabelos negros. Cadu tentou con- [9:53 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue - Tinha um fantasma lá. Vocês investigaram, fizeram al- guma coisa, o fantasma sumiu. Foi ou não foi? Pedro se calou, contrariado. Não podia negar. E Shaila to- cou os ombros da amiga. - Fabi, eu sinto muito que a Nanda esteja doente, mas vai ver a doença dela é só uma virose, logo fica boa. E a dona Eugê- nia tem muita idade, pode ser coincidência ela estar no hospital - A Shai tem razão - disse Pedro. O que tu quer que a gente faça? Fabiana respirou fundo. - Descubram se alguém mais tirou fotos na feira do livro. Falem com a família da dona Eugênia. Se não acharem nada, tudo bem. Mas eu sei que vão achar. Acordei hoje com uma sensação de frio enregelante... como se estivessem sugando minhas energias. Vocês sabem do que estou falando! A frase foi decisiva para os três. Olharam-se, enquanto Fabiana abria a porta da salinha. Vamos investigar - Shaila teve ânimo de dizer. não conta pra ninguém, tá? Mas Quando o sinal da primeira aula soou, eles ainda estavam ali, olhando as fotografias manchadas e imaginando o que fa- zer. Precisavam de um plano. Afinal, eles eram os Sinistros! Três meses antes Tudo havia começado num final de abril, após as aulas da tarde. Eles haviam entregado ao bibliotecário o primeiro jor nal criado pelo trio. Estavam orgulhosos com o resultado: Pe- dro escrevera um artigo sobre o bairro, Cadu criara a tabela dos eventos esportivos, Shaila fizera a lista dos aniversariantes 24 [9:54 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Ries do mês e uma matéria sobre shows de rock na cidade. Tinham até entrevistado uma atriz de TV que estudara no Casmurro. Muito bem, Sinistros elogiara seu Ruiz. - Espero que também mantenham a tradição investigativa de seus antecessores. Diante do ar de interrogação de Shaila, dera a ela um pa- pelzinho no qual estava escrito 9-С. Ao voltarem à salinha da redação, Cadu fez as perguntas óbvias: - Por que ele chamou a gente de Sinistros? E o que diabos é 9-C? - A gente escreve O Sinistro respondeu Shaila. - Quem sabe ele achou que seria um bom apelido. Eu só queria en- tender por que o jornal tem um nome tão... - Já sei o que é 9-C! passando os olhos pela sala. interrompeu-a Pedro, que estivera O garoto começou a checar as estantes. Desde que ha- viam assumido a redação do jornal, ocupados com as maté- rias, nem tinham se interessado em verificar as prateleiras. Agora descobriam livros com encadernação antiga, gavetas fechadas à chave e chapinhas douradas numerando as es- tantes, embora quase todas apagadas. As primeiras osten- tavam o leo 2 ainda visíveis. Todos entraram na brincadeira. Viram que cada estante se dividia nas seções A, B e C. Pedro parou diante da estante que deveria ser a número 9. - Tem um A na prateleira de cima. Quer dizer que a do meio é a Bea de baixo é a C. Cadu tentou abrir a porta que fechava a prateleira infe- rior, sem sucesso. Devia estar trancada havia tempos: tinha um buraco de chave empoeirado. Não abre bufou o garoto. [9:55 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Copilot Invisivel Sugador de Sangue - Dona Esperidiana deve ter a chave - disse Shaila. - Ela deu pra gente a da porta... Os olhos de Pedro brilharam. Deixa eu ver essa chave pediu ele. Assim que ela pescou a chave na bolsa, ele começou a ex- perimentá-la nas fechaduras das gavetas e portas das prate- leiras. Todas se abriam... - Uma chave mestra! um gênio. exclamou Cadu. Cara, você é - Isso é óbvio, tu é que nunca tinha percebido - ironizou ele. E abriu a portinha que escondia a prateleira 9-C, o que fez soar um rangido soturno como o de um portão de caste- lo mal-assombrado. Havia pastas lá, arrumadas em pé. Cada um deles puxou uma. E Shaila matou a charada: São as edições anteriores do nosso jornalzinho! As pastas estavam separadas por ano, começando em 1864; as mais antigas continham folhas amareladas em que se lia o nome O Sinistro escrito à mão, em letra cursiva. Ha- via jornais datilografados ou mimeografados. As pastas mais modernas abrigavam cópias xerográficas. - Gente, vocês precisam ver isso - sussurrou Cadu. A pasta que ele pegara continha uma edição datada de 1899, com os seguintes dizeres na capa interna: Sociedade de Investigação e Neutralização de I ndesejáveis Seres Tenebrosos, Repugnantes e cultos [9:55 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rios Um acróstico! berraram Shaila e Pedro, ao mesmo tempo. Um o quê? resmungou Cadu. Os outros dois se atropelaram para explicar que as pri- meiras letras da frase formavam a palavra sinistro. A menina murmurou: - Será que os alunos que escreviam o jornalzinho faziam parte de um tipo de sociedade? Uma sociedade secreta! entusiasmou-se Pedro. - Bah, o seu Ruiz deve conhecer essa história. Ele disse que a gente devia manter a tradição investigativa dos antecessores. Carlos Eduardo fez uma careta, enquanto Shaila relia a frase. Sociedade de Investigação e Neutralização de Indese- jáveis Seres Tenebrosos, Repugnantes e Ocultos. Sinistro. O nome do jornalzinho... Agora nós somos membros dessa sociedade? -Tem lógica - declarou Pedro, achando a ideia interessante. Eu não faço parte de porcaria de sociedade nenhuma discordou Cadu, mal-humorado. Será que a dona Espe- ridiana sabe disso? - Duvido comentou Shaila. Pra mim, ela nem descon- fia dessa sociedade... E o jornal tá parado faz uns trinta anos! Naquele tempo o dono da escola era o pai dela. Pedro mexeu nos exemplares com datas da década de 1960: numa fotografia, a legenda confirmava que o diretor era o professor Esperidião Bulhões e Cascalho Neto, pai da atual dona. No entanto, não viu mais nada que mencionasse seres tenebrosos, repugnantes e ocultos. - Isso é totalmente doido suspirou Cadu. - Os antigos investigavam esses tais seres? O que eram eles? Zumbis, alienígenas gosmentos, fantasmas? Isso nem exist... - Aaaaaaah! [9:56 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue Um grito aterrorizante soou bem naquele momento, in- terrompendo-o e ecoando no palacete. Uma menina gritara em algum dos andares superiores. Os três largaram as pastas e saíram correndo da salinha... O colégio estava vazio: alunos e professores haviam ido embora no final das aulas. Subiram a escadaria de mármore e seguiram seu Ruiz, que ia por outra escada do primeiro para o segundo pavimento. Lá havia salas de artes, informática, laboratórios. Os alunos não subiam por ali, usavam o acesso que vinha da ala mais moderna, atrás do casarão. Do final do corredor vinham soluços. Correram para lá na companhia do bibliotecário, viram a porta do banheiro feminino se abrir e dona Lenira sair abra- çando uma garota do nono ano, Bia. Calma, Beatriz - dizia a coordenadora. Não tem nada lá, foi só um susto. Mas... disse a menina, assombrada eu vi... na janelal Seu Ruiz tentou acalmar a aluna, e os três adolescentes se aproximaram. Acredito em você disse ele. Agora respire fundo e conte o que viu. Com os cinco de olho nela, Bia contou: - Minha turma teve aula de artes, todo mundo foi em- bora, mas eu precisava ir ao banheiro. Nunca tinha usado este, porque as meninas dizem que é mal-assombrado... Estremeceu. Continue, filha incentivou o bibliotecário. - Eu estava lavando as mãos. Aí, pelo espelho, vi que tinha alguém na frente da janela que dá para o pátio. Um homem [9:56 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: de avental azul, com um buraco no peito e a cabeça cheia de sangue! Larguei os livros, corri para a porta, mas ela não abria... então eu gritei. - Eu vim assim que ouvi seu grito - disse dona Lenira -, e a porta do toalete abriu normalmente. Você viu algum reflexo na janela e ficou impressionada, Beatriz... Vamos para a sala dos professores, vou te dar um chá e tudo vai ficar bem. Mais calma, Bia seguiu a coordenadora para a outra ala. Seu Ruiz fitou Shaila, Cadu e Pedro. Abriu o banheiro feminino. - Vamos ver. Os três o seguiram e deram com os livros da garota, caí- dos no chão. Pedro os recolheu. Isso já aconteceu disse Shaila. Também ouvi dizer que este lugar é mal-assombrado. Mas pensei que o fantas- ma fosse algum tipo de loira do banheiro, não um sujeito ensanguentado! O bibliotecário abriu e fechou o vitrô, mais moderno que os das outras janelas do casarão. Uma vez por ano alguém vê esse espectro confirmou ele-, sempre no mês de abril. Eu trabalho aqui há anos e já ouvi essas descrições de um homem com um buraco no peito e sangue na cabeça. Alguma coisa desaparece quando ele é visto, mas dona Esperidiana jamais acreditou nos alunos ou em mim. Tentei me aprofundar no caso, até descobrir a nota fiscal de compra desta janela, trocada em 1969. E só. Quem é o homem ensanguentado? Por que ele só aparece em abril? Talvez consigam descobrir... afinal, vocês são os Sinistros. Sem dizer mais nada, seu Ruiz foi para a escada que descia para a biblioteca. Os amigos discutiam aquilo enquanto seguiam pelo outro lado para entregar o material de Bia. Estavam as [9:57 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: sustados, embora Cadu custasse a admitir. Já Shaila se mostrava decidida. - A Bia não é menina de ter chiliques. Se ela diz que viu um fantasma, eu acredito. - Não sei não – contrariou Cadu. - Melhor a gente esque- cer essa sociedade secreta. Não vamos virar caça-fantasmas, isso só acontece em filmes! Chegaram à sala dos professores e viram a garota saindo. Pedro lhe entregou o material. -Tudo bem, Bia? Pegamos suas coisas lá em cima. Obrigada, Pê cadernos. agradeceu ela, pegando os livros e os A coordenadora também saiu. Ótimo, vamos todos embora. Onde está o material de vocês três? - Na salinha do jornal - respondeu Cadu. - A gente pode voltar pra lá pelo corredor. Todos estranharam o pedido de Bia para ir com eles até a redação. Claro, depois a gente vai pra casa juntas Shaila. concordou Dona Lenira se despediu, e Cadu resmungou, a caminho da ala antiga do casarão: - Desde quando vocês moram perto? Que eu saiba... Cala a boca, guri! - repreendeu-o Pedro. - A Bia quer falar com a gente sem a professora por perto. Era verdade. Foi só entrarem na sala da redação, e a garota desabafou: -Vocês acreditam em mim, não é? Eu não imaginei aquilo. Eu vi o fantasma! E tem mais. - Mostrou o material escolar em suas mãos. - Você pegou todos os meus livros, Pedro? - Tudo que estava no chão do banheiro - assegurou ele. [9:58 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Ela passou o olhar de um para outro. Estava calma quando declarou: - É que uma coisa sumiu. O meu livro de matemática..... Nos dias que se seguiram, os três Sinistros assumiram de vez a alcunha e passaram a investigar o fantasma do banhei- ro. Pedro fez descobertas na internet. Cruzei referências entre o colégio e o ano de 1969. Em abril desse ano aconteceu um acidente aqui... O jornal noti- ciou que um vândalo invadiu o colégio uma noite e quebrou a janela do banheiro do segundo andar. A janela despencou lá de cima para o pátio. Por isso tiveram de trocar o vitrô. A polícia investigou, só que nunca descobriu quem foi. Cadu ainda achava que devia haver uma explicação sim- ples para o caso. Eu falei com o seu Ruiz. Não tem lógica nenhuma, mas ele encontrou os registros de achados e perdidos do colégio, na biblioteca. Sabem o que mais some por aqui? Livros de matemática. - E aposto que só desaparecem no mês de abril! Shaila. disse Ele resmungou algo sobre "coincidências bobas". Não é coincidência não rebateu a menina. Pergun- tei aos meus avôs sobre o colégio. Eles sempre moraram no bairro e conheceram muitos professores, inclusive um tal Alfeu Vesdelmino. - O que tem ele? - Pedro ergueu as sobrancelhas. - Deu aula de matemática, aqui, no final dos anos 1960. Um dia, sumiu. Cadu tentou não parecer interessado. A garota continuou: [9:59 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - Aí perguntei sobre ele à dona Eugênia, a servente. Vocês sabem como ela gosta de fofocar... Disse que o professor Alfeu foi mandado embora porque era comunista, contra o governo. De um dia pro outro ele desapareceu, e os alunos ficaram um tempo sem aula de matemática. Adivinhem... num mês de abril. - É isso! - exclamou Pedro. - 1969, no tempo da ditadura militar no Brasil. Naquela época, muitos professores foram presos. Se ele era procurado pelos militares e vieram atrás dele aqui, na escola... Eu li que, quando pegavam um suspei- to, eles atiravam antes e perguntavam depois. Os três se entreolharam. Shaila prendeu a respiração, Carlos Eduardo coçou a cabeça. - Sei lá. Pra história do professor perseguido fazer sen- tido, ele teria de se esconder no banheiro e ser jogado de lá com janela e tudo! Não tinha notícia sobre um corpo, tinha? - Podem ter sumido com o corpo pra abafar o caso. E o fan- tasma do professor assombra o lugar onde foi morto, como a Bia disse... Com um buraco no peito e a cabeça cheia de sangue. Atiraram nele, caiu contra a janela e se arrebentou lá embaixo murmurou Pedro. Cara! Dava um filme de terror! Cadu começava a acreditar. O professor é perseguido e assassinado. Depois passa a assombrar o colégio onde deu aula e some com livros dos alunos! Mas por quê? A resposta surgiu, ao mesmo tempo, na cabeça dos três. Porque ele era inocente. E quer que as pessoas saibam disso. Nenhum deles teve sossego naquela noite, pensando no fantasma do professor. No dia seguinte, após as aulas da ma- nhã, encontraram-se na cantina da escola. [9:59 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - O que vocês acham que a gente deve fazer agora? - co- meçou Shaila. - Podemos contar pro seu Ruiz sobre o que concluímos em nossa pesquisa sobre o caso - propôs Cadu. para a gente investigar. Ele disse Tem razão concordou Pedro. - Vamos lá! Deram com o bibliotecário olhando, pensativo, pela janela do primeiro andar. Shaila contou o que haviam concluído. Depois de a ouvir em silêncio, o homem declarou: - Sua hipótese tem lógica. Naquela época, os professores usavam avental azul. Mas falta darem o passo final. - E, diante do ar de ansiedade dos três, concluiu: - Precisam falar com ele. De volta à redação, Cadu relutava, Shaila mostrava-se in- decisa, mas Pedro estava decidido: - No fim da tarde, depois que der o sinal, eu vou lá. Nem que seja sozinho! No entanto, quando chegou a hora, os três foram juntos. O corredor do segundo andar estava vazio. Cadu resmun- gou, diante do toalete: Não vou entrar no banheiro das meninas! - Deixa de ser bobo, a gente entrou outro dia - disse Pedro, empurrando a porta. Shaila foi postar-se diante da janela. Professor... professor Alfeu? Alfeu Vesdelmino? - cha- mou ela, baixinho. Os dois garotos se entreolharam, concordando pela pri- meira vez na vida: parecia ridículo chamar um professor invisível num banheiro escolar. No entanto sentiram um vento estranho soprar ali dentro. A tarde ficou nublada e o ambiente foi se tornando frio, escuro. - Nós achamos que sabemos o que aconteceu...prosse- guiu Shaila, engolindo o medo. O senhor foi perseguido [10:00 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: visivel Sugador de Sangue pelos militares no tempo da ditadura. Eles entraram na esco- la em abril de 1969. O senhor se escondeu aqui. E aconteceu. Um tiro... a janela. Eles abafaram toda a história, não foi? Quando ela acabou de falar, a escuridão era completa. En- tão uma espécie de névoa surgiu diante da vidraça e foi to- mando forma humana... Os três se achegaram, amedrontados. Porém, se espera- vam ver o fantasma materializar-se diante deles, isso não aconteceu. Viram apenas a névoa, mas escutaram um rosna- do ameaçador. Então a garota reagiu: O senhor era inocente, professor Alfeu. A gente estu- dou aquela época, as coisas horríveis que aconteceram... Va- mos contar para as pessoas. Vamos publicar sua história no jornal do colégio, pra todos saberem que um professor daqui foi vítima de uma injustiça! O vento soprou de novo, vindo sabe-se lá de onde e tra- zendo uma onda de pó que fez os três fechar os olhos. No meio do turbilhão soou um suspiro fundo, um soluço. De repente, tudo parou. Quando abriram os olhos, a tarde estava clara de novo e não se via o menor sinal da névoa. Mas havia um objeto no chão, perto da janela do banheiro. Pedro foi até lá e o pegou. - O livro de matemática da Bia..... Nos dias que restavam daquele mês de abril, nada mais aconteceu no banheiro feminino do segundo andar. A maté ria sobre o professor de matemática, perseguido injustamen- te pela ditadura militar, foi publicada na edição de maio de O Sinistro. Dona Esperidiana até elogiou os três. [10:00 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A história inteira não foi revelada a ninguém; porém Bia sorria para seus amigos sempre que os via. Aos poucos, os rumores começaram a correr. O trio de jornalistas mirins passou a ser visto com outros olhos por alunos e professores do Casmurrо. E, três meses depois, ao se aproximarem as férias de julho, Shaila, Cadu e Pedro tinham um novo desafio: investigar as estranhas fotografias tiradas na feira do livro. [10:01 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 3. Sugadores de sangue por toda parte D ona Ana e dona Marina, as avós de Shaila, não esta- vam bem. A Nonna se queixava de um cansaço tre- mendo, e a Oma andava quase sem fôlego. Consul- taram médicos e tudo, mas não melhoravam, preocupando os avós e a neta. Na sexta-feira seguinte à visita de Fabi, durante o in- tervalo das aulas, os meninos estavam na redação do jornal quando Shaila chegou e noticiou: - É mesmo verdade: a dona Eugênia está mal, no hospital. Tem uma servente nova no colégio, é amiga de uma sobrinha dela e me contou. Mas qual é a doença? - perguntou Pedro. Velhice, oras - brincou Cadu, com saudade de implicar com o colega. A garota o beliscou no braço e disse: Mais respeito, Carlos Eduardo! O caso é sério. Ela está com anemia profunda. Pedro franziu as sobrancelhas, sinal de que estava tendo ideias. Como seus pais eram médicos, ele se achava na obri- gação de entender mais de doenças que os outros. [10:01 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - Hum... a anemia se relaciona com o sangue. Vou pesquisar Enquanto ele começava a digitar no computador, a garota suspirou. O pior é que a Fabi disse que a Nanda não melhorou. Ainda não sabem direito o que ela tem, mas um dos sinto- mas também é anemia. Cadu pareceu ficar impressionado. - Ontem, depois das aulas, procurei mais pessoas que re- gistraram a feira do livro, e quase todo mundo fotografou com os celulares. As tais manchas esquisitas aparecem em muitas fotos, perto da dona Esperidiana e da dona Eugênia. A menina arregalou os olhos. Então não era defeito nas fotos da Fabi! E, adivinhem só, a diretora não veio trabalhar hoje. Perguntei na secreta- ria, disseram que ela não estava se sentindo bem. - Querem saber? Deve ter algum tipo de maldição no salão de eventos. Ele foi construído no local em que estava a casa branca, imóvel antigo que o colégio comprou e demoliu. Vai ver o lugar era amaldiçoado, vivia cheio de vampiros ou coisa parecida. Vampiros gostam de sangue... - concluiu Cadu. Com um estremecimento, Shaila completou: -...e, se todas as vítimas têm anemia, podem estar sendo sugadas por vampiros! - Vamos com calma Pedro fitou os amigos. Sei que livros e filmes de vampiro estão tri na moda, mas, daí a achar que eles existem e andam por aqui, já é demais! - Ah, tá! - Cadu cruzou os braços, irritado. - Quando eu disse que fantasmas não existem, vocês me zoaram. Agora o nerd aí não acredita em vampiro? Por que é que fantasma existe e vampiro, não, hein? Porque a gente viu um fantasma, espertinho! - retru- cou o gaúcho, furioso. - E tudo fazia sentido naquela inves [10:02 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: tigação: o professor desaparecido, o vitrô que foi trocado, os livros que sumiram... -Chega! - interrompeu a menina. - Não vamos conseguir nada se vocês ficarem implicando um com o outro. Vamos primeiro juntar informações e depois tirar conclusões, certo? Os meninos resmungaram, em resposta. Ela prosseguiu: - Pra começar, vamos fazer de conta que todos os seres tenebrosos, repugnantes e ocultos existem: zumbis, fantas- mas, vampiros, daleks, o diabo a quatro. Cadu, você desco- briu uma coisa importante: mais fotos com manchas. Agora é sua vez, Pedro, o que achou sobre a anemia? Bom ele conferiu o computador. - Existem vários ti- pos de anemia, e todos têm uma coisa em comum: a dimi- nuição dos glóbulos vermelhos, que levam oxigênio para as células do corpo. A garota olhou um e o outro com ar autoritário. Então vamos dividir o trabalho de investigação. Hoje, depois das aulas, vou pedir a um dos meus avôs que me leve até o hospital, pois quero visitar a Nanda. Aí eu aproveito pra descobrir mais sobre a dona Eugênia. Você, Cadu... Ele resmungou algo como "quem te elegeu chefa supre- ma do universo?", mas ela o ignorou....você vai atrás de informações sobre a casa branca. Quem morava lá, quando foi demolida. Vai que ali era mes- mo um covil de vampiros? - E eu, o que tu quer que eu faça? - quis saber Pedro, re- signado. - Vou caçar lobisomens? Você, seu metido, vai reunir informações sobre tudo que é criatura que suga sangue ou energia. Acham que con- seguem? Ou é muito difícil? O sinal de término do intervalo interrompeu os protes- tos de ambos. Correram para as respectivas classes. Faltavam [10:03 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: horas para o dia escolar terminar e só poderiam pesquisar coisas sinistras depois disso. Combinaram encontrar-se, no final da tarde, no apartamento de Cadu... Por volta de seis horas, após a visita ao hospital, vô Murilo deixou Shaila na portaria do prédio, prometendo vir buscá -la mais tarde. Pedro já estava ali à sua espera. Seus pais vêm te pegar? - perguntou ela, assim que en- traram no elevador. - Eles nem sabem que eu vim pra cá - disse ele, meio sem jeito. Vão fazer plantão até tarde. E mesmo se chegarem em casa e eu não estiver, duvido que notem. A menina não acreditava naquilo, mas nada comentou. Haviam chegado ao andar de Cadu, que já os esperava com a porta aberta. Vamos usar o escritório do meu pai. Ele tá na cozinha. Seu Alberto trabalhava no Tribunal de Justiça do Estado. Não havia se casado de novo depois de separar-se de dona Marô, mãe de Cadu. Morava sozinho, a não ser nos seis meses que o filho passava com ele. No escritório havia es- tantes cheias de livros de direito e fotos dele junto a pessoas importantes, como Nelson Mandela e o arcebispo Desmond Tutu. Pedro sabia que o pai do colega era ligado a entidades africanas de defesa dos direitos humanos, mas Shaila ficou surpresa. - Uau! exclamou ela. Cadu, seu pai é demais! -Tá, mas vamos ao que interessa. O menino não pare- cia interessado nas atividades ou nos relacionamentos do pai. Ambos fitaram Shaila, a autonomeada chefa suprema do universo, e ela começou seu relato. [10:04 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rins - Certo. Peguei o endereço do hospital com a Fabi e custei a convencer o Nonno a me levar. Mas sempre consigo o que quero disse ela deixando escapar uma risadinha marota -, e a gente foi. A Fabi estava lá com a mãe; deixei meu vô con- versando com elas e fui procurar a dona Eugênia... Aliás, vi a dra. Heloísa, Pedro. Você não disse que sua mãe trabalhava naquele hospital. O garoto sacudiu os ombros, como quem não se importa- va. Ela prosseguiu: Vi a nossa servente por trás de um vidro, está na UTI. Falei com a Silnara, a sobrinha dela. Estava bem triste. Disse que o estado de saúde de dona Eugênia se complicou por causa de doenças oportunistas e que a tia talvez não dure muito.. Mas como essa anemia começou? Ninguém sabe. A Silnara encontrou dona Eugênia des- maiada, em casa, no mesmo dia em que a irmā da Fabi ficou doente. Logo depois da feira do livro - comentou Cadu. Isso. E, fora o fato de que a servente tem setenta anos e está com o fígado e o pâncreas afetados, os sintomas dela pare- cem com os da Nanda. Anemia aguda, pressão baixa, palidez. Bah-murmurou Pedro, sem saber o que dizer. - Sua vez, Cadu - disse Shaila, com um suspiro. descobriu? O que Muita coisa! disse o garoto, animado. Falei com a dona da padaria da alameda. Ela mora no bairro desde que eu nasci, sabe todas as fofocas. Disse que a dona Esperidiana comprou muitas casas no quarteirão da escola nos últimos dez anos; a casa branca foi adquirida no ano passado. Estava vazia desde que o dono sumira, um tal Ludovico Murnau, que todo mundo detestava. [10:05 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Engraçado, já vi esse nome antes - comentou o gaúcho, - Por que detestavam o sujeito? Isso ela não disse - respondeu o colega. - Pra mim, ele morreu e ficou assombrando a casa. - Agora é minha vez disse Pedro. E eu nem cheguei a pesquisar os vampiros. Tu nem imagina, Shai, mas bem antes do Drácula já existiam tantos mitos e lendas sobre monstros sugadores de sangue que a Transilvânia parece mais alegre que a Disney! Entregou a ela uma folha de papel impresso contendo re- sumos de suas pesquisas. Em boa parte da América Latina existe a crença em seres assustadores que se alimentam de sangue (hematófagos). O mais conhecido é o chupa-cabra, criatura que suga o sangue de animais de criação: ca- bras, galinhas, vacas. Suas primeiras aparições foram em Porto Rico. Em outros países, como Argentina, Brasil, Chile, El Salvador, Bolívia, México, Nicarágua e Estados Unidos, também houve casos de animais que tiveram o sangue drenado. As descrições do chupa-cabra variam, mas em seu rastro sempre havia animais mortos e com o sangue drenado, restando marcas arredondadas de caninos no pescoço ou no abdômen. No entanto não se acredita que chupa- -cabras ataquem seres humanos. Nas Guianas, em especial no Suriname, na fronteira norte do Brasil, acredita-se em uma criatura chamada azeman. É um vampiro que se alimenta do sangue de pessoas e animais. Durante o dia tem a forma de mulher e nada denuncia que ele seja um azeman, [10:05 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: mas à noite se transforma em morcego ou lobo e sai para obter alimento. Diz a lenda que o azeman tem obsessão de contar as coisas. Para se salvar dele, uma forma é pôr uma vassoura no caminho: ele contará uma por uma as cerdas da vassoura, deixando a víti- ma escapar. Pode-se também jogar no chão, para ele contar, um punhado de sementes. Se enquanto isso amanhecer, ele voltará a ter corpo humano e, nessa forma, pode ser morto. No folclore hindu existe a palavra em sânscrito vetala: descreve um espírito maligno que vaga pela Terra e tenta apossar-se das pessoas para se alimentar de seu sangue e de suas energias, vampirizando-as. Algumas descrições do vetala o retratam como um esqueleto com asas em frangalhos ou como um ca- dáver decomposto, podre. Uma curiosidade sobre o vetala é que ele já foi humano; ao morrer, seu corpo não recebeu sepultura, por isso vaga em busca de energia dos vivos e de vingança. A tradição diz que ele tem o poder de influenciar a mente do ser huma- no, projetando nela imagens horríveis e enfeitiçando a pessoa. Para não cair sob o domínio de um vetala é preciso ficar em silêncio quando ele fala. Os vetalas contam longas histórias, sempre terminando com perguntas, que a pessoa acaba respondendo sem lembrar que devia ter ficado em silêncio. Os japoneses têm uma lista enorme de demônios e seres assustadores; um deles é o kappa. Essa criatura, que vive em lagos e rios, aprecia agarrar gente e ani- mais para afogá-los. Segundo outra tradição, o kappa [10:06 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue rapta pessoas para beber seu sangue e comer seu fígado. Existem também kappas que são brincalhões, que só pregam peças nos seres humanos. O kappa tem o aspecto de um humanoide baixinho, a pele cheia de escamas e uma espécie de pires na cabeça Como é um ser da água, quando se afasta dos rios deve manter o pires cheio de água, para sobreviver Uma das formas de não ter o sangue drenado por um kappa é fazer uma curvatura respeitosa para ele O kappa retribuirá, curvando-se também, e isso fará a água do pires de sua cabeça se derramar, o que o deixará paralisado. Eles haviam acabado de ler as pesquisas de Pedro quando seu Alberto os chamou: Fiz panquecas, venham lanchar. O pai de Cadu cozinhava bem. As panquecas estavam ma- cias e havia vários recheios. Os três comeram tanto que mal conseguiram responder às perguntas do advogado sobre as funções deles no jornal escolar. No entanto ele nada sabia so- bre as atividades paralelas, nenhum deles tinha falado com a família sobre a tarefa de caçar fantasmas... Após o lanche, estavam de volta ao escritório falando sobre chupa-cabras, azemans, vetalas e kappas, quando o celular de Carlos Eduardo tocou. Ele atendeu e ouviu a voz de Fabiana. Cadu, a Shai e o Pê estão aí? - perguntou a garota. E ao ouvir a resposta afirmativa, prosseguiu: Ótimo. Olha. estou no hospital com os meus pais, e a Nanda continua na mesma. Mas vocês precisam saber que a dona Eugênia, col tada... ela não resistiu. - Morreu?! Essa não lamentou o menino. [10:07 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - A sobrinha dela não sabe direito, mas me contou que a causa da morte teria sido a falência do fígado e outros órgãos. Bom, só queria avisar vocês... o enterro é amanhã. Cadu repassou o recado aos dois colegas. Os três se en- treolharam. Teria a boa senhora sido vítima de um kappa que sugara seu sangue e consumira seu fígado? Ou seria apenas coincidência? uma - E agora? - perguntou Cadu. Por um tempo, nenhum deles disse nada. Conheciam dona Eugênia havia anos, e saber de sua morte os entristecia. Mas tinham de agir. Os Sinistros precisavam de um plano, antes que mais pes- soas morressem. [10:07 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 4. Um velório e um caderno de capa negra 0 dia seguinte era sábado. Haveria jogos na quadra de es- portes, mas foram suspensos em respeito ao falecimento de dona Eugênia. Puseram um aviso sobre o local do ve- lório no portão do Casmurro, e os moradores do bairro espa- lharam a notícia. A velha senhora era querida por lá. O velório da Avenida Doutor Arnaldo amanheceu lotado de alunos, professores e funcionários do colégio. Os Sinistros logo trataram de se reunir num canto para confabular. Vô Anton acompanhou Shaila. Vô Murilo levara a Non- na ao médico, e a Oma teria o encontro mensal de seu grupo de leituras, com as amigas reunidas em sua casa. Pedro foi com a mãe. O pai chegara exausto do plantão e não acordara na hora do café da manhã, quando o filho men- cionou o velório. A mãe não desejava sair em sua folga, mas algo na narrativa sobre a morte da mulher a intrigou. Por que você não disse nada antes sobre essa senhora? ela havia indagado. - Eu poderia ter me inteirado do caso. Teve anemia, você disse? Estranho. -Ah, mãe, vocês passaram a semana de plantão, nem deu pra gente conversar - disse ele. [10:08 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: wvisivel Sugador de Sangue Dra. Heloísa foi se arrumar para sair. Uma doença mis. teriosa atacando uma pessoa que seu filho conhecia merecia ser investigada. Cadu estava com o pai, que conhecia Silnara; seu Alberto era membro de várias associações afro-brasileiras e tinha con- tato com toda a comunidade ligada à cultura negra no bairro, Dona Esperidiana, no velório, parecia adoentada. Fora acompanhada por seus dois primos, que os alunos conhe ciam, pois sempre iam ao colégio: o dr. Espério e o professor Idião. Apesar de o dia estar quente e o lugar lotado, ambos usavam terno, gravata e colete. Eles parecem pinguins de geladeira - zombou Cadu. Eu não gosto deles - murmurou Shaila. - Quando apa- recem, discutem com a diretora e ela passa um mês com a cara enfarruscada. No ano passado até suspenderam a festa da primavera... - Voltando à vaca-fria - Pedro a cortou-, minha mãe ficou cismada com a morte da dona Eugênia, veio conversar com a Sil- nara. Se teve alguma coisa estranha na tal doença, ela descobre. - Viva a dra. Heloísa! - A garota quase bateu palmas. Sem- pre se preocupava com a aparente indiferença dos pais do ami- go e, naquele dia, ele parecia feliz com a atitude da mãe. Agora a gente tem de ir olhar o... - propôs Cadu. - Vo- cês sabem. O cadáver suspirou Shaila. Coisa tétrica, parece os seriados policiais americanos. Pedro abriu caminho entre os visitantes do velório até chegar junto ao corpo ladeado por velas. Os dois amigos o seguiram e fitaram o rosto da falecida. Parecia dormir, serena, no caixão, cercada por margaridas e vestida num terninho elegante. Não parecia a mesma pes- soa, pois no colégio eles sempre a viam com o uniforme de [10:08 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: funcionária. Eugênia fora uma mulher risonha e falante e, naquele momento, os três perceberam como sentiriam sua falta. Viram dona Esperidiana, sentada não muito longe, en- xugar disfarçadamente uma lágrima. Pedro foi o único com estômago para conferir o corpo bem de perto. Não tem marcas de dentes no pescoço nem nas mãos nem os pulsos comentou. O pessoal da funerária disfar- çaria isso com maquiagem, mas mesmo assim daria para ver. Então ela não foi sugada por um vampiro comum, nem por um chupa-cabra: eles deixam marcas - concluiu o amigo. Pode ter furos na barriga, é claro. - Vocês notaram a palidez? - perguntou Shaila. -Todo mundo que morre fica assim, é a palidez post mortem comentou Pedro, que adorava termos científicos. - Segundo meu pai, o sangue não circula mais e a pele não fica rosada. Cadu ia fazer piada sobre o assunto, mas um olhar de Shaila o fez fechar a boca. Eu sei, Pêretrucou ela, já fui a velórios com meus avôs. É que dona Eugênia era negra, e a pele dela agora tá clara demais. Cadu, isso não é estranho? Agora que você falou... - O garoto aproximou o próprio braço do caixão. - A pele dela era da mesma cor da minha. Tam- bém já fui a velórios de parentes e nunca vi uma palidez assim. - Pode ser efeito da doença - supôs Pedro. - Isso a gente vai saber depois, com o que sua mãe desco- brir concluiu a menina. Saíram da câmara-ardente e foram para a saída. Apesar do bom humor com que tentavam encarar a situação, encon- travam-se diante da morte. Quisessem ou não admitir isso os afetava... Estavam em silêncio, digerindo o que tinham visto, quando Cadu fez um sinal para eles. [10:09 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Sem querer, acabaram ao lado dos primos de dona Espe. ridiana, que falavam em voz baixa. E a conversa dos pinguins teria passado despercebida se não tivessem mencionado o colégio.....sim, fechar o Casmurro vai dar o que falar - dizia um deles. Mas temos esse direito. Teremos esse direito, Idião - rebateu o outro. - Assim que a querida prima não estiver mais no nosso caminho. 0 que não deve demorar, pelo aspecto da velha. Meu caro Espério, ela parece estar com o pé na cova! - Ele riu. - Não vai durar muito. E, como não tem filhos nem irmãos, somos os herdeiros da instituição. Será que a propos-C ta da construtora ainda está de pé? - Claro que sim. - O outro baixou a voz, porém os garo- tos ouviram o que disse: - A única dúvida é se transformar F o casarão num hotel de luxo dará mais dinheiro que demolir tudo e construir um shopping. A essa altura, viram dona Esperidiana se aproximar. Os sujeitos correram para ela. Querida prima, que momento triste - disse um, toman- do-a pelo braço. Você parece mal, devia ir para casa descansar centou o outro. acres - Estou bem - foi a seca resposta. - O colégio vai sobrevi ver à perda de uma funcionária. Claro, priminha, você está certa, como sempre. Aliás respeito do colégio... Os três deixaram o velório, enquanto os pinguins ainda fa- lavam com a diretora. Os amigos trocaram olhares de suspeita Dá pra imaginar uma coisa dessas? - bufou Pedro. Querem transformar o colégio num hotel ou num shop ping! exclamou Cadu. [10:09 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosan - Ah, não vão conseguir. - Shaila fechou os punhos. – Não vão mesmo! A partir daquele momento, os Sinistros tinham um novo objetivo: salvar o Casmurro. E, para isso, deviam proteger a saúde de dona Esperidiana... Se realmente houvesse um vampiro ou algo parecido atacando, ela não poderia tornar-se uma vítima dele!.. No domingo, as preocupações de Shaila duplicaram. A Oma estava melhor, porém a Nonna caíra de cama. Segundo o avô, haviam diagnosticado uma virose, mas a neta a achou pálida demais. O médico pediu um exame de sangue pra ver se a se- nhora tem anemia? - perguntou ela. Reclinada na poltrona e cercada por chás e pães feitos pelo marido, a Nonna sorriu. - Pediu, sim. Os resultados ficam prontos em uma sema- na. Não se preocupe, "doutora". Shaila nada respondeu. Dona Eugênia havia adoecido, ido para a UTI e morrido em menos de uma semana. À tarde, a Oma também se reclinou numa poltrona da sala. Enquanto as avós escolhiam o que ver na TV, a garota resolveu ir à panificadora. "Vou comprar um bolo de merengue pra animar as duas", pensou. Ao sair da padaria, encontrou a sobrinha de dona Eugênia. -Oi, Silnara, como vai? - Fazer o quê? A vida continua. E todo mundo tem sido tão gentil comigo. Até os ex-patrões da minha tia me procuraram. A garota franziu a testa. Se a servente trabalhava no [10:10 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: colégio havia décadas, quem seriam esses ex-patrões? Não segurou o comentário. - Estranho, pensei que dona Eugênia só trabalhava lá ng Casmurro.liveb - Nos últimos anos, sim - confirmou a moça. - Mas an tes ela fazia faxina em várias casas do bairro, na papelaria, na padaria... Uma súbita inspiração fez Shaila disparar a pergunta: - Ela também trabalhou na casa branca da rua detrás do colégio, não foi? Silnara nem desconfiava das segundas intenções na in- dagação. - A que foi demolida? Sim, faz mais de trinta anos. Eu en pequena e lembro que ela detestava aquela casa. Quando saiu de lá, contou pra todo mundo que o ex-patrão era do mal. Você sabe o nome dele? Não, só sei que ele sumiu. Titia chamava o homem de seu Morcego... Bom, até outro dia, Shaila. Um abraço para seu avô e sua avó. A garota não perguntou para qual avô e para qual avo seria o abraço. Recordava as palavras de Cadu sobre o sujeito um tal Ludovico Murnau, que todo mundo detestava. "Seu Morcego?", pensou, e sentiu um arrepio. Junho começava a esfriar, afinal. Mas o arrepio que Shaila sentira não era de frio... Na segunda-feira, antes das aulas, os três foram à redação Chegaram lá ao mesmo tempo e - surpresa! deram coma sala aberta e uma figura à espera deles. - Bom dia, Sinistros - disse o bibliotecário, ao vê-los. [10:10 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosan Pedro nada disse, Cadu engrolou um "bom-dia", e Shaila fechou a porta. Tinha muito a contar aos amigos, mas agora não dava. O que o homem estava fazendo ali? Estamos terminando o jornal - começou ela. Ele não respondeu. Tinha os olhos fixos nas estantes, como se estivesse analisando cada livro nas prateleiras. Por fim, voltou-se para os três amigos e declarou: Dona Esperidiana telefonou hoje cedo e avisou que ia ao médico. Pediu que eu viesse abrir o colégio mais cedo. O olhar significativo que os três jovens trocaram não pas- sou despercebido ao bibliotecário. - É importante, para todos, que ela fique boa - prosseguiu ele. - Sei que vocês concordam. Estive no enterro de Eugê- nia, sábado, e conversei com os primos de nossa diretora. A gente não viu o senhor lá - murmurou Cadu. Nem sempre as pessoas me veem foi a estranha res- posta do homem. - Mas sei o que vocês estão pesquisando. E encontrei no cofre da biblioteca algo que pode ajudar.... lançou um olhar desconfiado para a porta antes de completar...nas pesquisas. Passem na biblioteca depois da aula. Sem explicar nada, seu Ruiz deixou sobre uma carteira da sala um caderninho com capa de couro preto. Parecia manu- seado, gasto, empoeirado e fedido. - Capaz! Tem que desinfetar isso, deve estar cheio de ger- mes - disse Pedro, com nojo. Shaila não ligou e tomou o objeto nas mãos. O que será isto? sussurrou. -Tá com cara de ser o diário do Pedro Álvares Cabral foi a tirada de Carlos Eduardo. Assim que a garota o abriu na primeira página, os me- ninos aproximaram os rostos e leram juntos o que estava escrito ali, a nanquim: [10:11 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Sociedade de Investigação e Neutralização de Indesejáveis Seres Tenebrosos, Repugnantes e Ocultos. Livro de Anotações. Monstros e Congêneres. - Anotações dos Sinistros que vieram antes da gente! exclamou Shaila. Ainda sem querer se contaminar, Pedro virou as páginas com a ponta dos dedos. - Datas de 1870, 1914, 1937... Tu adivinhou, guria. Carlos Eduardo torceu o nariz e se sentou ruidosamente em uma das carteiras. O que são congêneres? Outro tipo de vampiro? Vou te dar um dicionário de presente de Natal, Cadu.- Shaila o fuzilou com os olhos. Congênere é uma coisa igual, do mesmo gênero - Pe dro teve paciência de explicar. Um relato dos Sinistros antigos sobre monstros e coisas parecidas. Por que estava na biblioteca? Pra mim, seu Ruiz é o único que sabe da associação-disse a menina. - Aposto que ele mesmo guardou no cofre, para os últimos Sinistros! A última anotação aqui é de 1968. - Mas e aí, o que é que tá escrito? O garoto carioca es tava impaciente. Shaila se sentou em outra carteira e começou a ler. Fala sobre coisas sobrenaturais. Abantesmas. Espectros Incubo e Súcubo. Wendigo... - Vê se tem vampiro, kappa, nossos suspeitos! - entusias mou-se Pedro. [10:12 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: "Vampiro: um morto-vivo que sai do caixão à noite e vai sugar o sangue de jovens donzelas. Tem medo da luz do sol, do alho ou de objetos sagrados como o crucifixo. Para matá-lo, deve-se enterrar uma estaca em seu coração e cortar sua cabeça" - leu a garota. A essa altura, Cadu desandou a rir e não conseguia parar. Isso é sério, Carlos Eduardo! - Shaila o chutou. - Tu cozinhou a moleira, guri? - bufou Pedro. Foi com lágrimas nos olhos, de tanto rir, que o outro se explicou: Cara... não deu pra segurar! A Nanda é linda, mas ima- gina se a dona Eugênia era uma jovem donzela? Nunca um vampiro ia querer o sangue dela! E desandou a rir de novo. - Esquece o idiota aí - suspirou Pedro. Continua, vê se tem as outras criaturas na lista. Mas Shaila não encontrou ali nem o azeman, nem o kap- pa, nem o chupa-cabras. Em compensação, havia um verbete dedicado ao vetala. Olha só. Ela pareceu animada. - "O vetala é um ser mitológico da Índia, um fantasma que deseja vingança e absorve a energia vital das pessoas, como outros monstros sugadores de sangue de outras mitologias. Muitas vezes tra- ta-se do espírito que habitava um corpo não sepultado. As vítimas do vetala se tornam anêmicas, adoecem e podem morrer, se ele não for combatido." Os três se entreolharam; Cadu parou de rir. Haveria um ve- tala à solta no Colégio Casmurro? Teria ele marcado as pessoas da fotografia, para absorver suas energias a distância? Se hou- vesse, e eles não neutralizassem a criatura, tudo iria se complicar. O toque do sinal de entrada das aulas soou em seguida. Apesar de ainda terem muito a conversar, o jeito foi deixar a conversa para mais tarde. [10:12 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 5. Descobertas em plena escuridão S omente após as aulas os Sinistros conseguiram trocar as notícias obtidas. Pedro relatou o que sua mãe contara sobre a doença de dona Eugênia. Os exames mostravam anemia profunda, e ela tivera falência de múltiplos órgãos. Mas ninguém sabia direito por quê. A garota falou sobre a informação de que dona Eugênia havia trabalhado na casa braca demolida. E Cadu trazia anotações resumindo o que haviam descoberto; um comentário dele os deixou pensativos. Não foi um vampiro tradicional que atacou as pessoas na feira do livro: era dia, tinha sol e vampiros não suportam a luz do sol. Podem rir, mas, se eles atacam donzelas, não teriam atacado suas avós, Shai, nem a dona Eugênia, muito menos a boa e velha Esperidiana. - Dos monstros que a gente pesquisou, o mais suspeito é mesmo o vetala - concluiu Shaila. - Pessoal - algo incomodava Pedro, que tinha a testa fran- zida -, no dia em que a gente achou as pastas com os jornais antigos, um deles confirmou que o dono do colégio era um tal professor... [10:13 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue Eu me lembro, o pai da dona Esperidiana - afirmou Cadu. E daí? O garoto gaúcho já estava abrindo a porta da prateleira 9-C e recuperando a última pasta. Daí que o nome dele estava na legenda de uma foto cheia de gente. Foi por isso que, quando você conversou com a dona da padaria e ela lhe disse que Ludovico Murnau tinha sido o dono da casa branca, lembrei que já tinha visto esse nome antes. Ele localizou o jornalzinho. A data era junho de 1967, e a fo- to estava bem desbotada. Shaila sugeriu que reproduzissem a foto no celular e pusessem o arquivo no computador, para editar Deu certo. A foto e a legenda surgiram melhoradas, no monitor, e a garota leu: O diretor do Colégio Casmurro, professor Esperidião Bulhões e Cascalho Neto, junto à sua filha e a alguns professores, recebe o benemérito apoiador da instituição e membro ilustre da comunidade, o Sr. Ludovico Mumau. Benemérito? Ilustre? bufou Cadu. O sujeito tem uma baita cara de vilão de filme! Ludovico Murnau disse Shaila. O homem que era detestado... Olha os outros. Pedro deu um zoom na imagem. - Esta menina é a dona Esperidiana. - Inacreditável tinha nascido velha! murmurou o amigo. Pensei que ela tinha nascido velha! [10:14 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: O homem no fundo parece familiar - comentou Shaila. Esta é a dona Sofia, professora de geografia. E aquele de cabelo escuro é o seu Ruiz! Será que ele já era bibliotecário? Lembraram-se, então, de que o homem os convocara a ir até a biblioteca após as aulas. Melhor a gente ir logo - propôs a garota. Pedro guardou a pasta com o jornal e trancou a prateleira. Então subiram ao primeiro andar. O bibliotecário não perdeu tempo quando os viu chegar. - Precisam me contar tudo o que descobriram - intimou. Eles hesitaram. Contar sobre seres sugadores de sangue? Ele os ajudara no caso do professor fantasma e lhes dera o caderninho sobre os monstros, mas não era provável que acreditasse neles. -Mostra a foto - disse Shaila, afinal, cutucando Pedro. Ah, bons tempos. - Sorriu seu Ruiz ao ver no celular o retrato antigo. - Foi o meu primeiro ano como professor aqui. Eu, Sofia, Alfeu, Esperidiana. Éramos jovens. -Alfeu?-espantou-se Shaila. - O professor de matemática? - Ele mesmo. - O homem suspirou. Isso foi antes de sua morte, da complicação política, de fecharem a redação de O Sinistro. Depois disso, tudo mudou. O diretor tinha medo de desagradar ao governo. E eu quase perdi o emprego, mas Espe- ridiana convenceu o pai a me deixar na biblioteca. Pedro não queria perder o foco da investigação. Ampliou um detalhe da foto. - E este aqui, quem era, seu Ruiz? - Um dos agiotas a quem o diretor vivia pedindo dinheiro, eu acho - revelou o bibliotecário. -Agiota? - Cadu estranhou o termo. - Uma pessoa que emprestava dinheiro a juros - explicou seu Ruiz. - Antigamente isso era comum. Não era como hoje, que os bancos é que financiam tudo: casas, carros, geladeiras. [10:15 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: O Invisível Sugador de Sangue - Estranho. - Shaila franziu a testa. - O jornalzinho que tem essa foto, de 1967, diz que o sujeito era um "benemérito apoiador da instituição e membro ilustre da comunidade". - Ludovico Murnau! - recordou Ruiz. - Claro! Ele mora- va... e interrompeu-se. Morava na casa branca, atrás do colégio - Pedro con- cluiu a frase de Ruiz. A que dona Esperidiana comprou e mandou demolir, para construir ali o salão de eventos, certo? O homem levantou-se, começou a andar pela sala de lei- tura e depois fitou-os, um por um. Vocês são espertos, Sinistros. Mais do que eu pensava. O que estão imaginando? Contem. Por enquanto a gente não tem certeza de nada - descon- versou a garota. Quando vimos essa foto, desconfiamos de que o fantasma do professor Alfeu pudesse ter voltado. Não foi, meninos? Ah, claro. Pedro riu amarelo. Hum, hum - corroborou Cadu, com um sorriso cativante. - Agora temos de ir - arrematou Shaila. - Boa tarde, seu Ruiz O homem ficou observando o trio deixar a biblioteca e descer a escadaria. Parecia cismado. Ao saírem na rua, a menina respirou fundo, como se esti- vesse exausta. Os dois a encararam. Que é que deu em ti, Shai? Pensei que tu confiava nele disse Pedro. - E que coisa foi aquela de jogar a culpa no fantasma do professor Alfeu? acrescentou Cadu. Ela soltou os cabelos, como se sacudindo os cachos pudes se sacudir as ideias. Achei melhor não dizer nada. Vocês notaram que ele ia dizer mais sobre o tal Ludovico e de repente parou? Ele não confia em nós. E a gente não pode confiar nos adultos. [10:16 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - Bom suspirou Pedro, se eu disser pra minha mãe que desconfiamos que um vampiro da Índia está atacando aqui na escola, ela me leva pro psiquiatra na hora. - E meu pai processa o colégio por me deixar pegar livros de terror na biblioteca... - Então, o que descobrirmos fica entre nós - decidiu Shaila. Mas o seu Ruiz acabou ajudando. O Ludovico era mesmo dono da casa branca. Emprestava dinheiro pro dire- tor do colégio! i slabibbal Um agiota comentou Pedro. Se os antigos detesta- vam emprestadores de dinheiro como os adultos detestam os bancos hoje, tá explicado por que ninguém gostava do ho- mem comentou Pedro. Segundo a Silnara - acrescentou Shaila, a tia chamava o fulano de seu Morcego. Um sugador de sangue... disse Cadu. Dona Eugênia sabia das coisas. Parados na esquina, eles olharam o colégio. A tarde caía, logo a escuridão o envolveria. O que fazemos, agora? perguntou a menina. Se isso fosse um filme, eu iria investigar o lugar onde tudo começou - sugeriu Cadu. Isso não é um filme, e não vão deixar a gente entrar no salão de eventos rebateu Pedro. Fecharam a sala de- pois da feira do livro, os pedreiros vão construir mais salas por lá. Shaila sorriu, um brilho maroto em seus olhos verdes. Por isso vamos lá à noite. Amanhã. Vocês topam? Ou vou ter de ir sozinha? [10:17 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Na manhã seguinte, a gata de Shaila, que estivera arisca uns dias, voltou ao quarto. Ao acordar, a garota viu Amy dei- tada diante da porta, olhando-a. Shaila levantou-se e colocou seu sapo sobre o travesseiro. Teve a estranha sensação de que ele a olhava com reprova- ção. Era como se os dois soubessem o que ela planejava. "Estou maluca", pensou. "Um sapo e uma gata não po- dem controlar o que eu faço!" Desceu para tomar café, decidida. Nada iria atrapalhar os planos noturnos dos Sinistros. Para sua alegria, vó Marina parecia recuperada da tal vi- rose. Apenas a Oma continuava com o ar cansado, mas pelo menos estavam todos cinco na mesa do café da manhã. Amy bem que miou ardido para Shaila, mas ela não ligou e saiu. Os três haviam combinado encontrar-se no intervalo. Ao chegar, Pedro mostrou o que desenhara: uma planta do colé- gio, destacando o salão de eventos. Mas somente ele e a me- nina examinaram a planta. Cadu enviou um bilhete por Fabi avisando que o professor de educação física o havia convocado para treinar futsal no intervalo. Terminava o bilhete dizendo: "Mandem mensagem pro meu celular mais tarde, mar cando hora e lugar. Tô dentro!" O lugar marcado foi o portão da casa de Shaila, às sete e meia da noite. A garota disse aos avôs e às avós que ia ao cinema do shopping Higienópolis ver um filme com Cadu, que disse a seu Alberto que ia estudar com Pedro, que não disse nada aos pais, pois eles teriam plantão no hospital outra vez. Shaila viu pela janela Carlos Eduardo aparecer e saiu para encontrá-lo. Dissera um boa-noite às avós, que sorriam como quem diz nossa-menininha-está-crescendo, quando ouviu [10:17 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Riss miado da Amy. A gata se postara diante da porta, costas ar- queadas e garras eriçadas, impedindo a passagem. O que é que deu na Katze? - resmungou vô Anton. - Está com ciúmes... - Vô Murilo riu, pegando-a com cui- dado para não ser arranhado. Shaila tratou de abrir a porta e sair depressa, antes que a gata contra-atacasse. A gente não vai esperar o Pedro? sem entender nada. perguntou Cadu, Andando rápido, a menina respondeu: Manda uma mensagem pra ele encontrar a gente no shopping... Agora não posso explicar. Pouco tempo depois, os três tomavam suco na praça de alimentação. Pedro levara a planta do colégio. Cadu, anima- do, tinha ido todo de preto. - Vocês deviam usar roupas escuras, pra ninguém ver a gente. Cara, tu não entrou no meio de um filme de espiona- gem! riu Pedro. - Lá no colégio só tem um vigia, e ele fica na frente do casarão. Vamos entrar pelo portão lateral. - Não vão começar a discutir! Vamos logo - sugeriu a me- nina. - Já chega a bendita gata que não queria que eu saísse. Deixaram o shopping e caminharam até Santa Cecília, a algumas quadras. O vigia noturno fazia a ronda nas ruas do quarteirão do colégio e, eventualmente, parava junto aos portões. Quando o viram parar na frente do casarão, foram para a lateral. - Tá trancado com uma corrente constatou Carlos Eduardo. - Vamos pular o muro? - Não vamos não. Olha só disse o gaúcho, puxando a corrente. Mostrou um cadeado que parecia ser usado desde os pri- [10:18 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de sangue mórdios do Casmurro. Pedro pegou no bolso a chave da sali- nha, que ficara com ele naquele dia, e a introduziu na fecha- dura. Ouviram um clique: o cadeado se abriu, e Pedro sorriu. Não acredito. Até isso a chave mestra abre?! preendeu-se o outro garoto. sur- Shaila entreabriu o portão, de olho na rua. Vazia: nin- guém os veria entrar. Recolocaram a corrente no lugar e seguiram para a en- trada do salão de eventos, depois do pátio. Era uma porta de madeira envernizada e vidro, que não parecia trancada. O trio hesitou diante dela, até que Pedro tomou a iniciativa. Testou o trinco, e a porta se abriu sem barulho. Entraram. A escuridão era quase completa, e os meninos tiveram de acionar a luz dos celulares. Não parecia haver nada maligno ali, no recinto vazio, só uma pilha de cadeiras num canto. O chão fora limpo talvez a última limpeza feita por dona Eugênia, antes de ser hospitalizada, e Shaila viu, na parede ao fundo, uma porta. - Onde será que essa porta vai dar? - perguntou-se, indo até lá. - Provavelmente no que era o quintal da casa branca sugeriu Pedro, conferindo a planta. Com um empurrão de Cadu, a porta se abriu, e os três saíram num quintalzinho atulhado de lajotas de cerâmica, restos de madeira, latas de tinta e muito lixo. O céu nublado refletia as luzes da rua; não precisavam mais dos celulares. Havia vestígios da recente construção, mas havia também coisas antigas jogadas na terra. -Tem jornais antigos aqui - disse Carlos Eduardo, confe- rindo um fragmento. Bah! exclamou Pedro. É coisa triantiga mesmo. Este é de 1955. [10:18 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Shaila tinha se dirigido a um canto do quintal que dava num muro descascado, com aspecto de mais de cem anos. Havia uma jardineira antiga de cimento caída, com restos de azulejos azuis. E seu pé pisou folhas secas e o que parecia ser um caderno velho, além de algo que fez um ruído metálico. O que-que é i-isso? - perguntou com a voz falhando. Não precisa ter medo, Shai, a gente tá aqui Cadu, tentando acalmá-la. disse A menina abraçou a si mesma. Um bafo gelado lhe subira dos pés à cabeça. Não tô-tô com medo, tô-tô com fri-frio... Os garotos chegaram perto dela e perceberam a mudança. Naquele canto o ar estava pesado. Cadu sentiu um aperto no peito, e Pedro, uma súbita fraqueza. Puxaram a amiga para trás. Vocês já sentiram um frio parecido? - murmurou Cadu. Foi Pedro quem respondeu: m Quando encontramos o fantasma do professor! Tam- bém tava um frio de renguear cusco. A expressão gaúcha, que significa frio tão intenso que pode deixar um cachorro mancando, não evitou que pela ca- beça do trio passasse a mesma ideia: se dessem com o ser que estavam caçando, como o enfrentariam? Shaila batia os dentes, enregelada. - Tem alguém aí? - perguntou Cadu, tentando esconder o medo. O frio pareceu aumentar, como se essa fosse a resposta. -Vamos vazar daqui... - disse Pedro, empurrando a porta. No entanto Shaila não tirava os olhos do canto. Enfren- tou o frio e correu de volta para ele. No chão, puxou os pedaços de papel dentre as folhas: era mesmo um caderno velho e, ao tirá-lo, a garota viu uma es- [10:19 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: pécie de grade de ferro trabalhado, oculta sob a jardineira caída. Então correu para junto dos dois e os três passaram pela porta, que se fechou com um baque. Estavam de volta ao salão de eventos e à escuridão. Mas dessa vez nenhum deles pegou o celular. Atravessaram o lu- gar com cautela, achando que o barulho atrairia alguém. No entanto não ouviram nada, a não ser carros passando na rua. Shaila ainda segurava os papéis que pegara. Enfiou-os na bolsa e foi para a entrada do salão. Vamos embora, depois a gente conversa. Não demoraram a sair pelo portão lateral e trancá-lo, usando corrente e cadeado. Nem sinal do vigia. Ao virarem a esquina, viram-no sentado nos degraus em frente ao Casmurro. Afinal, chegaram ao shopping e sentaram-se de novo na praça de alimentação. O que vocês acharam? Tinha uma coisa esquisita lá. Só não sei o quê - disse a garota. Carlos Eduardo limpou o suor do rosto com um guarda- napo da mesa. Um fantasma, como o do Alfeu? Mas o frio era diferen- te. Era como......como se uma força sobrenatural estivesse sugando as energias da gente disse Pedro. A mesma sensação de antes estava de volta, e não era nada agradável. Vamos ver se pelo menos isso serve pra alguma coisa... Shaila, com um suspiro, pescou na bolsa o que havia en- contrado e colocou sobre a mesa. Era um caderno escolar antigo, suas folhas e sua capa quase se desmanchavam. Alguém o usara como álbum, colando re cortes de jornais e revistas. Estava quase tudo ilegível. [10:19 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Q Rosana Rios Deixa comigo - sorriu Pedro, já recuperado da aventura. -Vou escanear o caderno e reproduzi-lo no computador, como fizemos com a foto. Jogando um pouco de contraste, dá pra ler. Conversaram mais e pediram três chocolates quentes. Após a última sessão de cinema, os avôs de Shaila aparece- ram à procura da neta, que se sentiu feliz em vê-los. - Podemos acompanhar vocês até em casa Murilo aos meninos. propôs vô Cadu pensou em dizer que não era criança e podia ir sozi- nho, mas engoliu as palavras. Pedro nem discutiu. Caminha- ram quietos pelo bairro, satisfeitos por não estarem sozinhos na rua. Não tinham certeza sobre o que caçavam, mas quase po- diam ouvir o eco de uma risada. O ser invisível havia deixado sua marca em cada um dos Sinistros. [10:20 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 6. Quarentena sinistra P edro foi acordado pelo pai o que era muito estra- nho. Geralmente a mãe o despertava de manhã. - Já tá na hora? - Sentou-se na cama, bocejando. Então viu que dr. Válter estava sentado junto a ele, segu- rando o estetoscópio. - Preciso te examinar, filho. Não vai demorar. Fica quie- to e respira fundo. Perplexo, o menino deixou o pai auscultá-lo e verificar sua temperatura. - Eu não tô doente, pai! Que é que tá acontecendo? Cadê a mãe? O médico respondeu pausadamente. - Tem razão, tua saúde parece perfeita. A tua mãe... ficou no hospital. É que a ala da enfermaria foi fechada por um tempo. Eu tinha saído da pediatria e estava no estaciona- mento quando Heloísa me ligou e avisou que não poderia sair. Mas ela está bem, não te preocupa. Pedrose levantou de um salto. A ala foi fechada? Assim, tipo acontece nos filmes? Uma quarentena? Válter saiu do quarto, e o filho o seguiu. - Não é bem uma quarentena, é só uma... medida pre- [10:20 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A Perguntar ao Copilot + ventiva. Assim que o pessoal da Secretaria da Saúde verifi- car que não tem nada errado, tudo volta ao normal. - Isso tem alguma coisa a ver com a doença da dona Eu- gênia? - inquiriu o garoto. - Tem mais gente com a mesma coisa? Já vi nos filmes, os hospitais fecham por causa de epidemias. O médico pôs as mãos nos ombros do filho. - Filho, filmes não têm nada a ver com a vida real! Pelo que sei, a morte da dona Eugênia foi natural. Mas há pes- soas com os mesmos sintomas, por isso o diretor achou me- lhor seguir o protocolo de emergência. Vão investigar se existe alguma contaminação. Um vírus? exclamou Pedro, arregalando os olhos. Tem um vírus atacando as pessoas? Com uma risada descontraída, Válter foi para a cozinha. - É só precaução. Não tem nenhum vírus, pode apostar. Amanhã, no máximo, tua mãe volta pra casa. Vem tomar café. Tu vai pra aula e eu vou pra pediatria, que não fechou. Apesar de tudo que Válter dissera, Pedro quase não con- seguiu engolir o cereal com frutas e leite. Nem quis dividir o chimarrão matinal com o pai, como de costume. Precisa- va ver Shai e Cadu. Seria possível que fosse mesmo uma doença a causar aquilo? "Tem uma força do mal no quintal da casa branca, eu senti isso. Mas ninguém vai acreditar se a gente contar. Mais fácil acharem que é uma epidemia!" Quando o pai propôs levá-lo de carro à escola, disse que iria depois. Preciso imprimir umas pesquisas no computador antes. Certo, mas na hora do almoço eu passo no colégio e te pego, a gente pede comida chinesa. Quem sabe até lá a Heloísa já voltou. [10:21 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Q Pedro viu, pela janela do apartamento, o carro do pai sair da garagem. Depois foi para a sala e ligou o computador. Pegou o caderno que Shaila havia deixado com ele na noite anterior e se pôs a escanear as páginas. O frio que apertava seu coração não era tão intenso quanto o que sentira no quintal sombrio, mas lhe dava a certeza de que sua mãe não estaria de volta tão depressa... Carlos Eduardo também acordou cedo naquela quarta- -feira - e sem o pai o chamá-lo, o que era raro. Tomou banho, vestiu-se para a escola e foi tomar café. O pai estava trabalhando no computador do escritório. Tem leite com chocolate na cozinha - disse ele, ao ver o filho. "Melhor tomar café mesmo, pra ver se acordo", pensou Cadu. Abriu a garrafa térmica e preparou café com leite. Caneca nas mãos, foi conferir o que o pai fazia. Seu Al- berto explicou: - É coisa do meu departamento. Estamos analisando uns processos criminais ligados a fatos antigos, por isso pesquisei crimes de tempos atrás em artigos de jornal do século XIX. Cadu quase engasgou. Século XIX, crimes, fatos antigos, jornais do passado... Foi para a cozinha, lavou a louça que tinha usado, fez um sanduíche de queijo e comeu enquanto esperava. Afinal o pai apareceu, pronto para sair. Bom dia pra você, filho. Tem treino hoje à tarde, não é? - Fico na quadra de futsal até as cinco, depois vou com o pessoal pra redação de O Sinistro. - Certo, mas não volte tarde para casa. [10:21 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: A Perguntar ao Copilot Invisivel Sugador de Sanyue Assim que Alberto saiu, ele se sentou ao computador e clicou no registro de visitas do navegador, para ver quais os sites que o pai tinha acessado. Encontrou o site Banco de Artigos do Jornalismo Brasileiro. Ali havia cópias digitali- zadas de mais de um século de edições de jornais! "Nem o nerd do Pedro conhece isso!", pensou, com um sorriso. Foi direto para o mecanismo de busca. Sabia exatamente o que pesquisar... Miaaaauuu o miado era impaciente. Sai daí, Amy! Shaila foi acordada às cinco da manhã pela gata, aboletada sobre o sapo, que por sua vez estava maçarocado em seu tra- vesseiro. A felina saltou para o chão levando o sapo junto. O que deu em você, hein? perguntou Shaila, vendo Amy lamber as patinhas com ar inocente. Primeiro não quer me deixar sair de casa. Agora me acorda de madrugada! Foi para o banheiro. Bobagem voltar a dormir, logo teria de levantar-se. Além disso, tinha coisas demais na cabeça: a aventura da noite anterior mostrava que havia, sim, algo nos fundos do Casmurro. E acordara com a sensação de que precisava fazer algo com urgência. Mas o quê? Desceu e foi arrumar a mesa do café. Quando dona Ma- rina e seu Murilo apareceram, espantaram-se. A neta nun- ca fizera aquilo antes. Veio com uma desculpa: - Vou mais cedo pro colégio. Preciso trabalhar no jornal- zinho, vocês sabem. O café da manhã transcorreu tranquilo, até que seu An- ton desceu. [10:22 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios O que é, vô? ar fatigado. perguntou a menina, alarmada com seu - Nada - ele disfarçou. - A Ana ainda não está bem. Vou levar café para ela na cama.ind Shaila engoliu o resto do leite e subiu correndo para o quar- to da avó. Deixara de se preocupar depois que a Nonna me- lhorara, mas esquecera-se de dona Ana. Achou-a muito pálida. Oma , você devia ir pro médico. - Não é nada, só um cansaço. - Ela sorriu, afagando os cabelos da garota. - Vou descansar um pouco. Não se preo- cupe, querida. No entanto era impossível a menina não temer pela saúde da Oma. Decidiu não perder tempo e correr para a redação de O Sinistro, sem imaginar que mais surpresas a esperavam... Faltava uma hora para a primeira aula quando ela aden- trou o casarão e seguiu para a redação. Ao passar pela di- retoria, primeiro susto: duas vozes vinham de lá. Uma fe- minina era dona Lenira e uma masculina. Já a tinha ouvido, mas onde? Então a coordenadora saiu, dizendo: - Tudo vai dar certo, professor Idião. "Um dos primos antipáticos", lembrou a garota. - Shaila? O que faz aqui tão cedo? - interpelou-a a mulher. - Eu e os meninos temos que terminar o jornal do mês, professora. - Sim, claro - suspirou Lenira. - Bem, até mais tarde. Cadê a dona Esperidiana? - Shaila não pôde segurar a pergunta. - Ela... Ah... Não está bem de saúde, foi ao hospital fazer exames. Enquanto ela estiver fora, o professor Idião será o [10:22 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Invisivel Sugador de Sangue diretor interino. Por pouco tempo. Logo dona Esperidiana estará de volta. Enquanto a coordenadora se afastava, mal disfarçando a própria preocupação, Shaila se distanciou, com medo de ser vista ou ouvida por aquele homem. Aquilo era grave! Somente ao pegar no trinco lembrou que a chave ficara com Pedro, na noite anterior. Mas isso não impediu que a porta se abrisse e ela tivesse o segundo susto do dia: o ami- go já estava lá. Que bom que tu veio cedo - disse ele ao vê-la. - Des- cobri umas coisas trilegais. Assim que disse isso, a porta se abriu de novo, e um afo- bado Carlos Eduardo entrou. - Ah! Vocês chegaram. Ótimo! Precisam ver o que en- contrei... Os Sinistros tinham muito a conversar. Antes que soasse o sinal da primeira aula, Shaila contou sobre a internação da di- retora; Pedro falou da quarentena no hospital e da desconfiança de que mais pessoas sofriam do mesmo mal de dona Eugênia. - Sabemos da Nanda e da dona Esperidiana concluiu. Precisamos ver as fotos de novo pra saber quem mais es- tava com aquela energia negativa na feira do livro. - A Oma - suspirou a menina. A Nonna melhorou, a "doença" só pegou uma das minhas avós. Bom, agora é a minha vez - pediu Cadu, tirando pági- nas impressas da mochila. - Achei uma página da internet com jornais antigos e dei busca nas palavras "Murnau", "Casmurro", "crime"... e apareceram artigos, um monte. Imprimi os principais. [10:23 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios - Tu descobriu se o tal Ludovico foi acusado de um cri- me? perguntou Pedro. Eu descobri que ele desapareceu, em 1975! Olha o que diz este artigo. [10:23 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 11 P Q Invisivel Sugador de Sangue Então ele sumiu mesmo! Será que fugiu? Por quê? - a menina quis saber. Sobre isso não achei mais nada. Acho que o mistério nunca foi solucionado. E vocês notaram como escreveram o nome do homem? Ludovico Murnau Filho declarou Pedro. - Isso quer dizer que... Existiu um Ludovico Murnau pai completou Cadu, mostrando outra folha impressa. - E parece que ele foi pior ainda que o Morcego. São Paulo, 16 de julho de 1953 Polícia procura homem suspeito de seis homicídios em bairros centrais da capital A polícia paulista procura o homem acusado de atacar mulhe- res em bairros centrais da capital. O Sr. L. Murnau, reconhecido por familiares das vítimas, agrediu dois policiais ao receber voz de prisão, e até hoje tem escapado à captura. Suspeito de seis homicí- dios, ele foi visto pela última vez na residência em que vivia com a mäe idosa e o filho menor de idade. As autoridades o julgam pessoa de alta periculosidade e pedem aos cidadãos da capital que colaborem na captura do facinora. [10:24 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: - A polícia achava que o pai do Morcego era um assassi- no serial? - perguntou a menina, surpresa. Facínora! Cada palavra que aparece... - Cadu riu. Quer dizer "bandido" - esclareceu Pedro. - Agora, eu digitalizei e ampliei as folhas do caderno que a Shai pegou ontem. Combina com o que o Cadu achou, era um álbum com recortes antigos. Mas não tinha esses aí, tinha outros, com informações tri-importantes! E mostrou uma foto da casa branca, num pedaço de re- vista, sem data. A legenda dizia: Sean Punone Photo/Istock/Getty Image Nesta casa, um dos imóveis mais antigos de Santa Cecilia, morou a viúva Wilhelmina Murnau, que faleceu em 1960. Imigrante europeia, Madame Murnau confeccionava vestidos de noiva para moças da sociedade paulistana. Seu falecimento constemou os vizinhos, que tinham apreço pela boa senhora, apesar do mistério que cercou seu filho. Ele chegou a ser acusado de homicidio, mas jamais foi preso. Um neto da ilustre modista herdou a casa dos Murmau. O jovem trabalha com finanças e apoia várias instituições. [10:25 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: visivel Sugador de Sangue Resumindo: naquela casa moraram uma velhinha que costurava vestidos de noiva, um assassino foragido emprestador de dinheiro que assustava todo mundo tou Pedro nos dedos. - Será que são três fantasmas? e um con- - A velhinha morreu e deve ter sido enterrada - rebateu Shaila. - A pesquisa dizia que o ser sugador de sangue po- deria ser alguém que ficou sem sepultura e queria vingança. - O que mais tinha no tal álbum? perguntou Carlos Eduardo, que já não ria. - Notícias sobre a caçada ao assassino de mulheres, o fa- lecimento da Madame, fotos de cenas dentro da casa. Mesas e cadeiras, cabides com vestidos brancos, margaridas. Margaridas? - cismou a garota. Deixa eu ver isso. Pedro separou as páginas em que havia fotografias de flores. Shaila sorriu. É uma jardineira! Pode ser aquela meio arrebentada que a gente viu no quintal. Tem azulejos entre a folhagem das margaridas. - Deve ser a mesma, sim. E na frente dela tem um troço no chão – mostrou Cadu. Shaila lembrou o metal trabalhado em que havia ba- tido o pé. Podia jurar que era o mesmo padrão que vira sob as folhas e papéis, porém as margaridas impediam a visão geral. Comparou com outras imagens e achou uma mais nítida. - É uma grade de metal. Só dá pra ver direito nas fotos que têm menos flores. - Um alçapão sussurrou Pedro. Uma abertura que vai dar no porão da casa, quem sabe. Era de lá que vinha aquele frio. O sinal de início do período soou, forte, em todos os can- tos do Colégio Casmurro. Os três nada disseram, reuniram [10:25 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios a papelada ea guardaram chou com a chave. na prateleira 9-C, que Shaila fe- Durante as aulas daquela manhã eles evitaram pensar no óbvio. No que deveriam fazer... Abrir o alçapão e ver o que haveria lá embaixo. [10:26 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: 7. Uma isca para o espectro e quarta para quinta-feira, Shaila sonhou com o quintal; sentia o frio enregelante e via a jardineira, a grade no chão. Despertou às quatro e meia. A gata D estava na cama, fitando-a. -Ai, Amy-fungou a garota. - Agora eu acordo cada vez mais cedo, e você sempre me vigiando! Um miado foi a resposta da felina, ao saltar para o colo da garota. Levando a gata, Shaila foi para a escrivaninha e ligou o computador. Os amigos haviam mandado as fo- tos de Fabi e os documentos digitalizados. Havia até ima- gens do caderninho preto dos Sinistros antigos, captadas por Pedro. Amy fitou o monitor como se também analisasse aquilo. Certo, já que está interessada, eu resumo a situação pra você disse a menina. Nas fotos da feira do livro vimos manchas esquisitas perto de algumas pessoas. Na se- mana seguinte, essas pessoas ficaram doentes, com anemia. Dona Eugênia morreu e agora mais gente tem os mesmos sintomas: a Nanda, do colégio, a dona Esperidiana, a Oma. Se for contagioso... Mas não pode ser. [10:26 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Amy pareceu entender o nervosismo de Shaila: aproxi- mou o focinho das mãos da garota, carinhosa. "Um fantasma que deseja vingança e absorve a ener gia vital das pessoas", leu Shaila e abriu outro arquivo. "Muitas vezes trata-se do espírito que habitava um corpo não sepultado." Mas por que ele quer se vingar dessas pes- soas? Todas são ligadas ao Casmurro, mas e daí? Abriu uma página do processador de textos e anotou os nomes das vítimas: Eugênia Apolinária. Fernanda Júlia Maurino. Esperidiana Bulhões e Cascalho. Estava na dúvi- da se digitava também o nome da Oma, quando vô Anton bateu na porta e entrou. Está tudo bem, Schatz? - - Claro, vô-e viu que ele já lia na tela do monitor o que escrevera. Estas são as pessoas que ficaram doentes? Eu vi na te- levisão a notícia sobre a quarentena do hospital. O Murilo levou você lá para visitar sua colega, outro dia. Ela confirmou. A preocupação de Anton parecia estar nos nomes que lera. Essa Fernanda que você visitou é neta do Maurino? - perguntou ele. - Eu sabia que o filho dele tinha voltado ao bairro, mas não sabia que as meninas eram suas amigas. Pela cabeça da garota passou outra informação que tinha relido: "As investigações prosseguem sob a coordenação do delegado adjunto Maurino, da 3.ª DP". O Maurino morava aqui perto prosseguiu o avô. - Grande sujeito, trabalhou anos na polícia. Sua avó Ana o ajudou como pesquisadora, quando ele investigou um caso misterioso sem solução, aqui no bairro. Morreu faz uns cinco anos. Coincidência... "Duvido que seja coincidência", pensou Shaila. Mas [10:27 PM, 29/09/2024] 🍫 Gabriel 🍭: Rosana Rios nada disse. Era melhor despistar seu Anton, pois agora pre- cisava investigar mais coisas. A Oma tá melhor, vô? Dormiu bem, mas continua muito cansada. Hoje vou levá-la ao médico. Bem, já que você acordou, vou fazer o café. Até daqui a pouco. Ao ver-se sozinha, a menina pegou o celular. Na lista de seus contatos, a melhor fonte de informações era Carlos Eduardo. Teclou o número dele. Shai? a voz dele veio sonolent

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