CORAGEM - Seção 1 - PDF
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Este documento contém um texto sobre coragem e superação de desafios em diferentes contextos, ideal para inspiração e motivação.
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# APRESENTAÇÃO Ao longo dos anos, tenho escrito muitas histórias sobre jovens e adultos que enfrentaram situações terríveis, circunstâncias assustadoras e até eventos que ameaçaram a vida deles. Mas, eles não recuaram. Eles não desistiram. Como o jovem pastor Davi, aquelas pessoas enfrentaram os g...
# APRESENTAÇÃO Ao longo dos anos, tenho escrito muitas histórias sobre jovens e adultos que enfrentaram situações terríveis, circunstâncias assustadoras e até eventos que ameaçaram a vida deles. Mas, eles não recuaram. Eles não desistiram. Como o jovem pastor Davi, aquelas pessoas enfrentaram os gigantes e permaneceram firmes em sua fé de que Deus estava com elas. Reuni essas histórias neste livro para apresentá-las a você. Espero que elas o inspirem. Primeiro, deixe-me esclarecer uma coisa: ser corajoso e destemido não significa não se sentir com medo, preocupado ou desejando não ter de fazer o que precisa ser feito. Significa simplesmente que você está com medo, preocupado, desejando não ter que fazer o que precisa ser feito e, mesmo assim, não recuará. Isso exige coragem! ## Como você descobrirá nestas páginas, as pessoas que escolhem a coragem aprendem lições valiosas. Suas experiências realmente fortalecem a fé em Deus e lhes dão capacidade de lidar com os desafios da vida: grandes ou pequenos. É verdade! Porque, com Deus ao lado, elas realmente têm menos medo. Ao longo do livro, você também encontrará algumas páginas espalhadas chamadas "Não tenha medo". Elas podem ajudá-lo a desenvolver sua marca pessoal de coragem. Por que isso é importante? Porque há muitas pessoas neste mundo apenas esperando que alguém venha em seu socorro a fim de mostrar-lhes como sentir menos medo. Esse alguém pode ser você, se estiver disposto a fazer isso. # Seção 1 ## ESPERE PELO SENHOR E SEJA VALENTE E CORAJOSO; SIM, ESPERE PELO SENHOR. _Salmo 27:14_ # 1 SEM SAÍDA Alice Hall, de Bar Harbor, Estados Unidos, estava voltando do trabalho para casa e decidiu pegar um atalho ao longo da costa. Ela esqueceu quão rapidamente as marés podem subir. Ela dirigia por um cordão litoral quando, de repente, percebeu que a água do mar já estava na altura das calotas. "Sem problemas", a jovem pensou, "vou apenas acelerar um pouco." Errado! Em minutos, as ondas batiam contra as portas do carro e subiam. Ela estava presa. Não havia saída. Walter Koester sentiu seus pés escorregarem. Ele olhou para cima a tempo de ver toneladas de terra caindo em sua direção. Em segundos, ele estava enterrado até a cintura, com mais terra e pedras a caminho. O pai de Walter, que trabalhava nas proximidades, pegou a única coisa que conseguiu encontrar - uma mangueira de jardim - e jogou-a no poço que se enchia rapidamente. Assim que seu filho a agarrou, a terra soterrou completamente o menino a 2,5 metros de profundidade. Na escuridão, Walter enfiou a ponta da mangueira na boca e tentou respirar. Porém, tinha um problema: a mangueira do jardim estava cheia de água. Walter estava em apuros. Não havia saída. Frank Brown, um técnico de raios X que trabalhava no Hospital Bellevue, em Nova Iorque, instruiu seu paciente a ficar imóvel na mesa. Uma enfermeira em atendimento, Grace Fusco, viu Brown tentando desligar a máquina para fazer alguns pequenos ajustes. Entretanto, algo estranho aconteceu. Pela mão, Frank fechava um circuito elétrico de alta voltagem. Ele não conseguia falar nem se mover e desmaiou, mas sua mão permanecia enroscada, firmemente presa pelo poder mortal que passava através dos cabos. Com o rosto pálido, o paciente saltou para o chão e saiu correndo da sala. A enfermeira, agindo por impulso, correu para o técnico e agarrou- o pelos ombros. O choque a atingiu como um ônibus em alta velocidade, jogando-a para trás na sala e contra a parede. Grace tentou mais duas vezes resgatar o homem da corrente elétrica. Mais duas vezes ela se viu jogada contra a parede oposta. Ela estava prestes a perder a consciência. Não havia saída para Frank Brown. Você já passou por tudo. A vida é demais para ser suportada. Tudo, tudo mesmo, parece projetado para machucá-lo, destruí-lo, impedi-lo de encontrar qualquer felicidade verdadeira. Seus amigos riem de você. Seus pais parecem despreocupados. O pregador na igreja nunca diz nada que você precisa ouvir. Tudo está perdido. Se algo não acontecer logo, você acabará com a própria vida. Essa é a única maneira lógica de sair de uma situação desesperadora. Não há saída. As águas continuavam subindo. Alice Hall olhou desesperadamente ao redor do carro que afundava lentamente. Sem lanterna. Sem qualquer meio de comunicação. Sua mão bateu no volante, fazendo soar a buzina. Espere. A buzina. A buzina! "Mas as pessoas na margem escura pensarão que alguém está apenas buzinando para um amigo ou dizendo a outro motorista para sair do caminho." O capitão Fred Hayes, um marinheiro que vivia perto da praia, inclinou a cabeça para o lado e desligou seu rádio. O que ele estava escutando? Hayes empalideceu. Aquela buzina ao longe estava tocando um código, o sinal de socorro internacional conhecido por todos os marinheiros: Bi-bi-bi!, biiii-biiii-biiii!, bi-bi-bi! (Código Morse para SOS). Saindo de casa, Hayes avistou o carro na arrebentação. Rapidamente ele chamou alguns amigos, pegou um barco e se apressou para realizar o resgate. Alice continuou buzinando até que viu algo se aproximando. A mulher foi salva no momento em que a maré envolveu o carro com seus braços aquáticos. Walter Koester sabia que, se quisesse respirar o ar fresco lá de cima, teria de beber a água da mangueira do jardim. Ele contou mais tarde que tinha certeza de que devia ter pelo menos um galão de água (o equivalente a 3,78 litros). Quando a mangueira secou, ele teve um pouco de ar para respirar. Logo os socorristas colocaram um tanque de oxigênio na outra extremidade. Depois de duas longas e agonizantes horas, Walter estava livre - abalado e sem nem um pouco de sede. O barulho na sala de raios X incomodou outro técnico, que percebeu algo errado na sala ao lado. Ele invadiu o ambiente correndo e ficou horrorizado com o que viu. Então ele fez uma coisa muito científica - não tão heroica quanto a coragem impulsiva da enfermeira, mas muito mais eficaz. Ele pulou até o disjuntor principal na parede e desligou toda a eletricidade da sala. Meio eletrocutado, Frank Brown caiu no chão, totalmente inconsciente. Ele sofreu queimaduras por causa do choque, mas os médicos disseram que ele se recuperaria. E ele se recuperou. A enfermeira se machucou um pouco, mas estava bem. Você reflete sobre sua situação pessoal. Quem vai ouvir seu SOS no meio das ferozes ondas? Quem vai jogar uma mangueira de jardim em sua direção enquanto a terra cai e as luzes se apagam? Quem entrará correndo e desligará a energia que parece determinada a acabar com sua vida? Não há saída. Você está desamparado, sem esperança, perdido. Espere! Você vê um homem correndo em sua direção. Ele está com as mãos estendidas. "Finalmente", você pensa. "Aí vem meu salvador!" Mas, então, o homem é pego por uma multidão enfurecida e pregado em uma cruz. Você olha para Ele, e Ele olha para você. - Estou aqui - Ele sussurra. - Estou aqui para salvar você. Mesmo que tudo pareça falhar, confie no Homem que sabe o que é sentir como se não houvesse saída. Jesus não está mais na cruz. Quando você aceita a salvação que Ele oferece, Jesus passa a habitar em seu coração e está pronto para lhe dar a coragem necessária para você vencer qualquer situação. Ele está pronto para ajudá-lo a enfrentar qualquer medo, circunstância ou desafio. Basta pedir! # 2 PERDIDO A pedra fortemente lançada por Jeremy quicou nas claras águas do lago da montanha e formou pequenas ondas que corriam em todas as direções. Junto à margem, dois cavalos saltaram e relincharam de susto em resposta ao profundo splash da água. - Ei! - disse Carolyn, amiga de longa data do rapaz, que estava sentada em uma toalha de piquenique estendida sobre a grama ali perto. - Você está assustando nossos animais. Vá com calma. Jeremy enfiou as mãos nos bolsos e chutou uma pedra solta. - Como posso relaxar quando minha vida está indo de mal a pior? Ele ouviu a risada de Carolyn. - Aqui no acampamento, você tem uma atividade tão legal! Além disso, tem a minha amizade. Seu irmão me acha bonita. O adolescente sorriu, apesar de sua frustração. - Meu irmão tem cinco anos. - Bem - retrucou Carolyn, fingindo arrumar o cabelo -, ele já tem idade para apreciar as belas coisas da vida. Jeremy foi até a toalha e se sentou ao lado da amiga. - É só que... bem... às vezes, fico meio confuso. Quero dizer, estou aqui, bancando o conselheiro de um grupo de crianças, ensinando-as a andar a cavalo e tentando ajudá-las a se divertir neste acampamento. Então uma delas me faz uma pergunta que eu não consigo responder. Eu me sinto tão estúpido. Quando se trata de religião, eu sou um fracasso. - Por que você diz isso? - Eu sei falar sobre Daniel na cova dos leões ou sobre Moisés atravessando o Mar Vermelho, mas um menino me perguntou como eu sei que Deus me ama mesmo quando não sinto que Ele me ama. Como explicar isso? Carolyn concordou com a cabeça. - Eu entendo o que você quer dizer. Ela fez uma pausa. - Talvez você devesse perguntar isso ao pastor de nossa igreja. Ele parece ser legal. - Ele é - concordou Jeremy -, mas ele não pôde vir neste acampamento. Só sei que esse garoto vai me incomodar de novo hoje à noite. Ele é um garotinho insistente. A garota olhou para o céu de fim de tarde. - Bem, não sei o que dizer. E acho que é melhor voltarmos para o acampamento. Ela sorriu para seu amigo. - Gostei do nosso piquenique, embora você tenha assustado os cavalos e batido no lago. Jeremy riu. - Desculpe-me por isso. Eu também me diverti. Você é uma verdadeira amiga. Carolyn suspirou. - Sim, eu sei. Os dois juntaram as coisas e montaram nos cavalos. Durante a cavalgada de volta para o acampamento, não se ouvia qualquer barulho, exceto o pio distante de um falcão e o farfalhar suave das ondulações no lago. Jeremy e Carolyn estavam apreciando a paisagem e se deliciando com o ar fresco da montanha quando, de repente, a égua do rapaz começou a agir de maneira estranha. - Qual é o problema, garota? - perguntou Jeremy. - Olhe - Carolyn apontou para um tronco caído a alguns metros de onde as duas trilhas se cruzavam. Lá, sentado sozinho, estava um menino de sete ou oito anos. Seu rosto estava sujo de lama e sua jaqueta parecia rasgada, como se ele tivesse rastejado pelo mato. - Olá? - disse Jeremy, controlando rapidamente seu animal para fazê-lo parar. - Você está bem? O menino ergueu o queixo. - - Não - disse ele. - Estou perdido. - Há quanto tempo você está aqui? - Desde esta manhã. Meus pais estavam pescando no Big Lake, e eu fui dar uma volta. Você sabe onde fica o Big Lake? - Claro que sim - respondeu Jeremy, escorregando de sua sela e caminhando até o garotinho. - Eu trabalho em um acampamento lá perto. Quer uma carona de volta? - Vamos encontrar sua mãe, seu pai e todo mundo. O menino concordou. - Fiquei meio assustado. - Eu sei - disse o adolescente. - Isso é o que acontece quando você fica perdido. Mas você fez a coisa certa. Você veio para essa trilha e ficou aqui. Estou muito orgulhoso de você. Agora, deixe-me ajudá-lo a subir. Vamos voltar e encontrar seus pais. Eles provavelmente estão muito preocupados. Enquanto o menino estava sendo içado para a sela, ele notou outra pessoa em um cavalo esperando por perto. - Quem é ela? - ele perguntou. - O nome dela é Carolyn - disse Jeremy. - Ela é uma amiga minha. O menino olhou para a garota por um longo momento. - Ela é linda - disse ele. Jeremy revirou os olhos. - Já ouvi isso antes. Trinta minutos depois, quando o trio entrava no Big Lake Summer Camp, rostos surpresos e aplausos os cercaram imediatamente. - Onde vocês o encontraram? - perguntou o diretor do acampamento, correndo até os cavalos. - Temos equipes de busca procurando por horas. Jeremy estava prestes a explicar o que havia acontecido quando um homem e uma mulher abriram caminho no meio da multidão. - Oh, Willie! Eles encontraram você. Graças a Deus, você está a salvo! - Mãe! - o menino chorou ao cair nos braços abertos da mãe. O homem e a mulher abraçaram o filho enquanto lágrimas de alegria escorriam por dezenas de rostos. Jeremy estava feliz. Quando ele olhou para Carolyn, ela estava com seu largo sorriso. Ambos estavam contentes por terem participado do resgate do pequeno Willie. O alegre reencontro continuou se repetindo na mente de Jeremy enquanto ele cumpria suas tarefas naquela noite, cuidando dos cavalos e certificando-se de que os acampantes estivessem alimentados e os pratos, devidamente lavados. Ele não conseguia tirar a cena daquele pai e daquela mãe de seus pensamentos, mesmo quando o sol se pôs sobre o lago e os grilos começaram suas serenatas noturnas. Uma oração especial de agradecimento foi oferecida no início da reunião em torno da fogueira do acampamento. Então o diretor pediu a Jeremy e Carolyn que contassem para todos os detalhes do resgate. Os dois adolescentes alegremente compartilharam os acontecimentos da tarde. Quando terminaram, Jeremy disse: - Sabem, uma pessoa me fez uma pergunta importante. Ele quer saber como podemos ter certeza de que Deus nos ama mesmo quando não sentimos que Ele nos ama. Bem, essa tarde descobri a resposta. O pequeno Willie estava perdido, mas seus pais não pararam de amá-lo. Eles estavam procurando em todos os lugares, mesmo que seu filho não soubesse. Deus ainda nos procura, mesmo que não possamos vê-Lo. Ele ainda nos ama, mesmo quando nos sentimos perdidos. Portanto - Jeremy concluiu, com um sorriso gentil marcando seu rosto jovem -, para quem tem pensado nisso, eu digo que não se preocupe. Não há lugar para onde você possa ir ou nada que possa fazer que impeça o Pai Celestial de parar de procurá-lo e amá-lo. E isso deve nos fazer saber que temos muito valor. O adolescente olhou para Carolyn, que estava sentada com um orgulhoso sorriso iluminando seu rosto por causa do amigo. Parecia que duas pessoas haviam sido resgatadas naquela tarde. # NÃO TENHA MEDO! Pessoas que confiam em Deus tendem a ser mais corajosas. Elas acreditam em Deus quando outros se recusam a fazê-lo. Elas falam com Deus quando todo mundo fica em silêncio. Elas se tornam pessoas incomuns. No entanto, elas estão em boa companhia. Jesus também era incomum. Ele curou pessoas no sábado, embora os líderes da igreja de Sua época dissessem que isso era contra as leis religiosas feitas pelos homens. Ele jantou com homens e mulheres de má reputação, trazendo acusações dos religiosos e fazendo com que as línguas dos que se achavam mais santos se agitassem. Ele era amigo dos pobres e até percebeu quando uma viúva deu uma pequena oferta no templo. Ele andava com leprosos e aleijados, tratando-os como iguais. Portanto, se você quer se tornar tão incomum quanto Cristo era: * Faça coisas boas e ajude as pessoas, não importa que dia seja; * Não vire as costas para as pessoas que são alvo de boatos desagradáveis ou risadas injustas; * Se um aluno pobre aparecer na aula usando um par de tênis novos que não são exatamente da última moda, diga-lhe: "Ei, tênis legais! Aposto que você consegue correr mais rápido com eles!"; * Se você vir alguém com mobilidade reduzida lutando para subir escadas, abrir uma porta ou jogar futebol em uma cadeira de rodas, ajude essa pessoa a levantar-se, passar e vencer! # 3 A GUERRA DE ANGELINA Angelina cuidadosamente se ergueu mais alto, abraçando o galho estreito com os braços e as pernas. A copa das árvores balançava na brisa fresca, levando-a para a frente e para trás em um arco vertiginoso. Mas ela não se importava. Ali em cima, o mundo parecia um pouco menos ameaçador, um pouco menos assustador. - Angelina Shiwotenko - ela ouviu uma voz distante chamar -, você não deve subir tão alto. Você pode cair. A jovem sorriu e olhou para a mãe, parada lá embaixo. - Estou bem - respondeu ela. - Quero ver quando o papai estiver voltando. Talvez ele traga algumas maçãs ou pão... Suas palavras foram interrompidas pelo som de um veículo se aproximando rapidamente. Um caminhão do exército alemão se chocou em uma elevação e seguiu pesadamente pela estrada rural; seu motorista estava obviamente com muita pressa. Quando o veículo passou derrapando perto de onde a garota estava, Angelina agarrou o galho com mais força. Na caçamba aberta do caminhão, estavam vários homens, seus uniformes estavam manchados de sangue e cobertos de lama. Em um instante, eles se foram, deixando para trás o leve cheiro da fumaça do escapamento. - Desça daí! - a menina ouviu a mãe pedir novamente. - Seu pai está ocupado tratando dos soldados feridos. Não acho que ele queira adicionar a filha mais nova à lista de pacientes. Angelina concordou com a cabeça. - Está bem, mamãe. Estou indo. Enquanto fazia seu caminho por entre os galhos, a menina de dez anos balançava a cabeça tristemente. Nos últimos três anos, ela e a família viram a vida no pequeno assentamento ucraniano ir de mal a pior. Com a Segunda Guerra Mundial devastando a Europa, nunca havia o suficiente para comer. Agora, com as forças militares alemãs lutando contra os russos, eles tinham de dividir as escassas provisões que a terra oferecia com dois exércitos inimigos. E tinha o pai. Na noite anterior, ela ouviu seus pais conversando. - Os alemães me obrigaram a cuidar de seus doentes - disse o homem, em voz baixa -, mas posso afirmar que eles estão ficando nervosos. As forças comunistas russas estão ficando mais fortes a cada dia. Fala-se em uma retirada. "Se os nazistas partirem, eles prometem nos levar com eles. Você é um quarto alemã, Pauline. Hitler quer você para sua nação especial, "limpa". Podemos começar uma nova vida longe daqui. Enquanto Angelina ouvia, o homem fez uma pausa e então sua mãe falou baixinho. - Talvez eles até deixem você recuperar sua licença médica. Aqui na Ucrânia, você não pode atuar enquanto se recusar a entrar para o partido comunista. Mas ainda pode continuar seu trabalho como pastor. - Não. Isso não é suficiente - o homem interrompeu, com firmeza. - Deus me chamou para curar almas feridas, assim como corpos feridos. Devo fazer as duas coisas. - Então iremos com os alemães quando eles recuarem - concluiu mamãe, suavemente. - Vamos levar as meninas e deixar este lugar para sempre. "Deixar este lugar. Deixar este lugar." As palavras ecoaram nos pensamentos de Angelina durante toda a noite e no dia seguinte. Mesmo depois, ela se lembrava da urgência na declaração de sua mãe. A Alemanha parecia ser sua única esperança. Ela se perguntava como seria o novo país. Será que eles se sentiriam seguros e, mais importante, encontrariam o suficiente para comer naquela terra distante? A locomotiva do trem de carga chiava com o vapor e cuspia água fervente enquanto esperava que os passageiros subissem a bordo. O pai guiava sua pequena família ao longo da plataforma da estação, dando instruções em voz alta acima do barulho dos oficiais que gritavam dando ordens para soldados confusos e do estrondo de tiros distantes. Angelina e sua irmã mais velha, Adventina, junto à mãe, sentiram uma certa emoção ao enfrentar a longa jornada. Para a jovem, a vida era uma aventura, não importava o que estivesse prestes a acontecer. Então ela viu as fileiras de homens feridos gemendo, deitados em camas de palha empoeiradas, corpos alinhados em vários vagões como lenha recém cortada. Essas vítimas feridas da guerra viajariam com os refugiados. O trabalho do pai era garantir que o maior número possível de soldados chegasse vivo ao ponto final. Cheiro de infecção e de suor pairava no ar como uma névoa sufocante. Mas essa não era para ser uma viagem de lazer. Os passageiros que lotavam a plataforma e se comprimiam nos vagões abertos fugiam para salvar a vida. Ficar para trás significava prisão e morte certa nas mãos dos comunistas que se aproximavam. Os dias seguintes transcorreram em uma mistura de longas esperas e movimentos apressados e bruscos sobre trilhos perigosos. Aviões de guerra sobrevoavam, jogando morte de suas asas, com bombas explodindo, levantando toneladas de terra e transformando trilhos de aço em esculturas grotescas. Parecia que nada poderia impedir a corrida desesperada e impetuosa dos russos em direção à Alemanha. Os passageiros sentavam-se amontoados em vagões, esperando e orando para que a próxima bomba falhasse, ou caísse longe, e que eles vivessem para ver outro nascer do sol. Por fim, a viagem acabou. A fronteira alemã chegou e ficou para trás. Enquanto a locomotiva suspirava de alívio ao final da viagem, Angelina leu a placa pendurada na plataforma da estação. Com letras em negrito, anunciava a todos que eles haviam chegado a LEIPZIG. O prédio tremia com as vozes e a comoção incessante das pessoas. "Então essa é a Alemanha", refletiu Angelina enquanto seguia os pais para uma grande sala com outras 40 pessoas. - Parece que agora fazemos parte de uma grande família - disse o pai, olhando para os jovens e velhos moradores do movimentado acampamento da cidade. - Onde vamos dormir? - perguntou Adventina. - Ali - disse a mãe, apontando para as fileiras de treliches alinhadas nas paredes. - Angelina, vou deixar você ficar na cama de cima, já que você gosta de escalar as coisas. - Não é exatamente uma árvore - ela disse, sorrindo -, mas, se eu olhar pela janela enquanto estou deitada na minha cama, talvez consiga fingir que estou no alto dos galhos lá de casa. - Não - falou o pai. - Esta é nossa casa. Nunca mais voltaremos à Ucrânia. Você entende? - Sim, papai - respondeu Angelina, balançando a cabeça solenemente. - Esta é minha casa... por enquanto. - Isso mesmo - disse o homem, sorrindo, com os olhos cheios de ternura familiar. - Somos uma família. Aonde quer que formos, desde que estejamos juntos, estamos em casa. A vida no acampamento ditava um padrão de trabalho e de sono. Exceto pelos grandes insetos que percorriam o teto à noite, caindo inesperadamente em quem dormia logo abaixo, Leipzig definitivamente estava um passo acima do que a família havia deixado para trás. Mas, assim que as coisas pareciam estar melhorando, o governo alemão informou ao pai de Angelina que ele deveria se apresentar para a entrada imediata no exército como soldado. - Não posso ir - sussurrou o homem na noite do anúncio. Angelina se inclinou sobre a borda do seu beliche na escuridão, tentando ouvir suas palavras. - Como posso eu, um médico e pastor adventista do sétimo dia, pegar uma arma e matar alguém, mesmo que seja um inimigo? Devo obedecer a Deus, não aos homens. - O que você vai fazer? - perguntou a mãe. Depois de uma longa pausa, o homem anunciou: - Vou passar fome até morrer. Angelina perdeu o fôlego. Ela ouviu direito? Depois de sobreviver aos comunistas na Ucrânia e à angustiante viagem de trem para a Alemanha, seu pai morreria de fome? # UMA FAMÍLIA - Angelina Shiwotenko? - o homem com um uniforme cuidadosamente passado lendo a lista fez uma pausa e olhou para os rostos reunidos ao seu redor. - Angelina está aqui? - Sim, senhor - veio uma resposta tímida do meio da multidão. - Ótimo - respondeu o oficial, marcando o nome da garota. – Você e os outros da minha lista serão enviados para outro campo para novas ordens de trabalho. Os ônibus chegarão amanhã cedo. Não é longe e o trabalho não é difícil. Führer Hitler aprecia seus esforços em nome do nosso grande país, a Alemanha, que luta nobremente contra a agressão estrangeira. Desejo uma noite agradável a todos vocês. Com isso, o homem de uniforme se virou e saiu rápido da sala lotada, deixando para trás vozes agitadas. Mais trabalho, maior circulação de pessoas e habilidades; a Alemanha estava fazendo o possível para resistir à pressão constante aplicada pelo avanço dos exércitos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e Rússia. Todos, homens, mulheres e crianças, dentro das fronteiras alemãs eram obrigados a trabalhar de alguma forma para ajudar no esforço de guerra. - Mas... eu não quero deixar vocês! - Angelina soluçava nos braços da mãe. - Vou ficar sozinha e com medo. Não seremos mais uma família. - Você não deve se preocupar, filha - disse o pai disse, enquanto The acariciava o cabelo loiro e macio. - Vou lhe dizer uma coisa. Todos os dias, ao meio-dia, quando os sinos da igreja aqui em Leipzig tocarem, onde quer que estejamos ou o que quer que estejamos fazendo, faremos uma pausa e oraremos. Estaremos orando juntos, como se estivéssemos no mesmo cômodo. Angelina concordou enquanto olhava para o rosto gentil de seu pai. - Papai? Você... você vai morrer? - Por que você está perguntando uma coisa dessas? Eu ouvi você e a mamãe conversando algumas semanas atrás. Você disse que iria morrer de fome para que eles não o levassem para o exército. Você vai morrer? - Não, minha querida! Estou apenas me enfraquecendo para que não me forcem a entrar no exército e me ordenem a matar pessoas. Em vez disso, quero conseguir minha licença médica alemã para poder salvar vidas e contar aos outros sobre Jesus. Angelina analisou seu pai por um momento. Seus olhos estavam escuros e fundos, seus braços e dedos, ossudos e enrugados. Então ela entendeu. Ele não iria se matar de fome. Estava apenas tentando de todas as formas não se tornar um soldado combatente. Um alívio inundou seu corpo enquanto ela abraçava o homem. - Amo muito você, papai - disse ela, enterrando o rosto em seu peito esquelético. - Às vezes tenho tanto medo. O que acontecerá conosco quando os americanos ou os russos vierem? - Espero que os americanos nos encontrem primeiro - sussurrou o homem. - Ouvi dizer que eles são muito mais gentis do que os russos. Mas agora devemos trabalhar e sonhar com nosso futuro juntos depois da guerra. Você deve entrar naquele ônibus e, quando ouvir os sinos da igreja tocando, lembre-se de orar. Dessa forma, permanecemos uma família, certo? Angelina concordou. Após alguns meses de separação, Angelina e sua família receberam a notícia de que estavam sendo transferidos para outro acampamento em uma cidade distante. A essa altura, o pai da menina precisou ser hospitalizado por causa da desnutrição. Em poucos dias, foi decidido que seus serviços não seriam necessários no exército. Ele estava livre para buscar sua licença médica alemã ou morrer, o que viesse primeiro. O pastor Shiwotenko venceu sua batalha particular e secreta com o exército. A família se estabeleceu em sua nova casa na cidade de Freiburg. Pelo menos, todos estariam trabalhando no esforço de guerra no mesmo lugar, em vez de estarem em campos separados. Certa tarde, o pai pegou suas duas filhas pela mão e as levou colina abaixo em busca de comida, uma atividade comum dos refugiados na Alemanha devastada pela guerra. - Aposto que há uma mulher na vila assando pães neste exato momento - afirmou o homem, com confiança, enquanto caminhavam pela estrada poeirenta - e ela ficará feliz em compartilhar alguns conosco. - Estou com frio, papai - disse Angelina, tentando afastar o frio do inverno. - É só mexer os dedos dos pés enquanto caminha - sugeriu o homem. - Isso pode ajudar a esquentá-los um pouco. Chegando à periferia da aldeia, eles decidiram se separar e cada um escolheu algumas casas para bater e pedir comida. Angelina bateu timidamente à porta da frente da primeira casa e esperou com expectativa. Ora, ora - veio uma voz atrás da tela. - O que você está fazendo a í fora em um dia tão frio de inverno? A garota sorriu. Embora ela entendesse um pouco de alemão, tinha dificuldade em falar. Contudo, ela aprendeu uma frase com perfeição. - Temos fome - disse ela. - Você tem algo para comer, por favor? Angelina viu a mulher sorrir calorosamente. - Claro - veio a resposta, rapidamente. - Acabei de assar pão. Tenho algumas maçãs também. Você quer algumas? A garota sorriu. O papai estava certo! Aquela gentil mulher estava fazendo exatamente o que o pai havia predito. Correndo de volta para os outros, Angelina orgulhosamente mostrou-lhes seus presentes. - Espere - disse o homem. - Você não se esqueceu de alguma coisa? A garota pensou por um momento e observou o pão quentinho e as maçãs crocantes firmemente seguras em seus braços. - Não, papai. Acho que não. - Você se esqueceu de agradecer ao Senhor. Angelina sorriu e concordou timidamente com a cabeça. - Acho que sim - disse ela. Então, ali mesmo, parados na estrada rural com o vento de inverno assobiando no ouvido deles, os três estrangeiros inclinaram a cabeça e oraram, agradecendo a Deus a bondade dos estranhos e a comida da qual logo desfrutariam. Depois de um tempo, o pai fez os testes do governo e recebeu uma licença para exercer a medicina na Alemanha. Ele imediatamente encontrou trabalho em Pirna, uma cidade a 18 quilômetros de Dresden. - Ficaremos seguros lá - disse ele. Logo eles descobriram que ele estava errado. - Ouçam! A mãe ergueu o dedo, interrompendo subitamente toda a conversa. Angelina olhou ao redor da pequena sala que agora chamavam de lar. A princípio, ela não ouviu nada. Depois, um copo sobre a mesa começou a vibrar, enviando minúsculas ondas circulares pela superfície da água que estava nele. A janela balançou ligeiramente, depois balançou novamente. Angelina e sua irmã sentiram as tábuas do assoalho tremerem sob seus pés quando um baixo e raivoso estrondo soou em seus ouvidos e um barulho pressionou seu estômago como uma mão invisível. - O que é isso? - as meninas perguntaram, em um rouco sussurro. As três se levantaram juntas e caminharam até a janela. Quando abriram as cortinas, ficaram boquiabertas. O céu noturno brilhava em rosa, vermelho e amarelo para o lado de Dresden. Batidas baixas e percussivas pulsavam no ar frio. Angelina olhou para o céu e notou que as estrelas pareciam estar piscando aleatoriamente. Mas esse mistério logo se revelou quando chamas brilhantes começaram a cair de um céu cheio de bombardeiros. Os aliados escolheram a cidade a 18 quilômetros de distância como alvo de bombardeio para aquela noite. Pelo céu escuro voavam centenas de aeronaves poderosas, todas carregadas com toneladas de destruição. Como o povo alemão havia apagado ou escondido cuidadosamente todas as luzes nas casas e cidades abaixo, os pilotos não tinham como saber se estavam realmente atingindo seus alvos. Alguns ficaram conhecidos por lançar suas bombas longe dos alvos pretendidos. O pai entrou correndo na sala, com o rosto pálido de angústia. - Venham! Temos que fugir, temos que fugir rapidamente - gritou ele - ou poderemos morrer! # MILAGRES A estação de trem estava tumultuada. As pessoas gritavam e se empurravam, tentando se posicionar ao longo da plataforma para que estivessem paradas ao lado das portas abertas dos vagões quando o próximo trem chegasse. À distância, as batidas percussivas de bombas estourando ecoavam no ar frio, e um brilho misterioso lançado pela cidade em chamas de Dresden refletia nos rostos aterrorizados que passavam apressadamente. O pai abraçou a mãe e as duas filhas pequenas, tentando evitar que fossem empurradas para o lado e, quem sabe, até separadas da família. - Vamos ficar bem - assegurou. - Papai, estou com medo - chorou Angelina. - Continue orando - pediu o homem. Eles ficaram na plataforma por horas, esperando e orando. De repente, eles ouviram o apito estridente de uma locomotiva que se aproximava. O vapor anuviando o motor, o gemido profundo e o barulho dos carros só aumentavam o medo. Com uma guinada, o transporte parou. Ele já estava cheio de gente, algumas paradas precariamente entre os carros. O pai percebeu que não conseguiria reunir todos da família ao mesmo tempo, então entrou em ação. Angelina sentiu-se sendo erguida no ar e literalmente jogada por uma pequena janela aberta. Ela ficou no topo da cabeça das pessoas e começou a escorregar sobre os ombros delas e a cair lentamente, passando por braços e pernas que se mexiam. - Papai! - ela gritou. Tudo o que ela podia ouvir eram as reclamações das pessoas que a cercavam. Ela tinha dificuldade para respirar enquanto deslizava lentamente cada vez mais para baixo na direção dos pés de seus companheiros de viagem. O trem deu um solavanco para frente, jogando-a nas tábuas do assoalho com uma dura pancada. Angelina começou a chorar. Deitada ali, cercada por pés nervosos e botas de couro endurecidas pela neve, ela chorava muito. Sua família foi deixada para trás com as bombas caindo. Todos eles morreriam antes que o sol da manhã nascesse em meio à fumaça e aos escombros que já estavam sendo lançados para o alto como um manto de morte. Então ela ouviu uma voz chamando seu nome. Parecia distante. - Angelina. ANGELINA! - Papai. Estou aqui. PAPAI! - Angelina - gritava a voz distante. - Estamos todos a bordo. Ainda estamos juntos! A garota estremeceu de alívio. De alguma forma, o pai dela, a mãe e Adventina conseguiram entrar no trem! Ao olhar em volta, entre as pernas de seus companheiros de viagem, ela percebeu um vaso sanitário de porcelana bem perto de sua cabeça. Na pressa de colocar sua preciosa filha no trem, o pai a jogou pela janela aberta de um banheiro. Pouco antes do amanhecer, o sobrecarregado trem entrou em Wallersberg. Não conhecendo ninguém, os quatro viajantes cansados sentaram-se em um banco frio na plataforma da estação para tentar traçar um plano de ação. Eles estavam com fome. Suas únicas posses eram as roupas finas e esfarrapadas que os protegiam do frio matinal. De repente, alguém que estava por perto falou: - Vocês têm um lugar para ficar? A pequena família se vir