Saliva (PDF)
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Este documento detalha a saliva, um líquido aquoso complexo produzido pelas glândulas salivares. Abrange tópicos como a composição, funções, pH, e fatores que afetam a quantidade de saliva presente. Inclui informações sobre a importância da saliva na digestão, defesa e remineralização nos dentes.
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SALIVA Fluido aquoso e complexo produzido pelas glândulas salivares e que reveste as estruturas bucais. É constituída essencialmente por água, matéria inorgânica (minerais) e matéria orgânica (principalmente proteínas). O volume diário gira em tor...
SALIVA Fluido aquoso e complexo produzido pelas glândulas salivares e que reveste as estruturas bucais. É constituída essencialmente por água, matéria inorgânica (minerais) e matéria orgânica (principalmente proteínas). O volume diário gira em torno de 1 a 1,5 litro. Já a saliva total é a combinação dos produtos aquosos de secreção das glândulas salivares maiores e menores, matéria orgânica e inorgânica, além de restos alimentares, microrganismos, produtos do metabolismo bacteriano, células que descamam do epitélio oral, muco da cavidade nasal, faringe e fluido transudato da mucosa e exudato dos sulcos gengivais. A tabela abaixo representa os valores de fluxo salivar: Normal: 1,0 a 3,0 ml/min Baixo: 0,7 a 1,0 ml/min Hipossalivação: < 0,7 ml/min Xerostomia: < 0,1ml/min pH Salivar O pH salivar normal fica sempre próximo a 7,0, porém pode variar entre 6,5 - 7,5. Alterações no pH salivar estão relacionadas com doenças bucais. Acidificação do pH bucal O dente e a saliva estão sempre trocando sais minerais. Entretanto, quando a saliva se torna ácida, o esmalte dentário passa a doar mais sais minerais ao meio bucal. Assim, o dente torna-se mais suscetível à cárie. Observe a figura: Alcalinização do pH Bucal A saliva é contém minerais que podem ser depositados sobre os dentes. A alcalinização do meio bucal favorece a precipitação desses minerais sobre a matriz proteica. O resultado é a formação de cálculo dentário. O pH bucal alcalino proporciona um ambiente ideal para fixação e precipitação do fosfato de cálcio. Observe a Figura. É Importante Medir a Secreção Salivar (Sialometria)? Sim. Deveria fazer parte do exame inicial do paciente. Diagnóstico de Hipossalivação. Avaliar a capacidade de Tamponamento. Avaliação de risco à doença cárie. Prevenção de halitose. Fatores que Afetam o Fluxo Salivar: A- Medicamentos – antidepressivos, narcóticos, diuréticos. B- Radioterapia C- Doenças Auto-imunes – Síndrome Sjogren. D- Menopausa, contraceptivos E- anorexia, jejum e desnutrição. F- Diabetes Funções da Saliva São inúmeras as funções atribuídas à saliva como preparação do bolo alimentar, umedecimento das mucosas bucais, ação solvente e de limpeza, excretora, digestiva, controladora do balanço hidroeletrolítico, proteção e remineralizante nos dentes. 1- Função digestiva Mínima – uma enzima digestiva alfa amilase 2- Lubrificante / Solvente Facilita a deglutição do bolo alimentar Solubilização dos alimentos; Percepção do sabor. 3- Defesa / Proteção Várias proteínas antimicrobianas (Mucinas) 4- Mecânica Lavagem das superfícies bucais 5- Capacidade de Tamponamento (CT) Reações Químicas Bicarbonato Fosfato Mucinas Neutralização de pequenas quantidades de ácidos / bases produzidos na cavidade bucal. Composição da Saliva – Resumo A- Água (99%) B- Matéria Inorgânica: Bicarbonato / Fosfato / Hidrogênio / Cálcio / Flúor C- Matéria Orgânica: Proteínas Antimicrobianas / Glicoproteínas A composição média da saliva estimulada é composta por 99,5% de água e 0,5% de elementos sólidos e varia de acordo com o fluxo, natureza da estimulação, duração, composição do plasma, a hora do dia na qual as amostras são coletadas. Muitos são os elementos inorgânicos da saliva, sendo os mais importantes: Componentes Inorgânicos da Saliva 1- HCO3- / H2CO3 (Bicarbonato/Ácido Carbônico) Principal sistema de tamponamento salivar. O bicarbonato pode ser encontrado dissolvido na saliva ou na forma de gás carbônico (CO 2). Sua capacidade tamponante é excelente. Veja abaixo como o bicarbonato funciona estabilizando o pH salivar em casos de acúmulos de ácidos ou de bases. Reação de Neutralização de Ácidos Bacterianos: Olhe a equação abaixo. Nela o bicarbonato aceita ácidos produzidos pelas bactérias bucais. Os produtos finais da reação são água, principal componente da saliva, e dióxido de carbono, um gás, que é eliminado. HCO3- + H+ H2CO3 H2O + CO2 Reação de Neutralização de Bases Bacterianas: Agora o ácido carbônico presente na saliva consegue capturar hidroxilas livres que estão deixando o ambiente bucal básico. Perceba que o ácido carbônico doa um H + para a hidroxila formando água. As hidroxilas que deixavam o pH salivar alto, deixam de existir e o pH mantem-se estável. OH- + H2CO3 HCO3- + H2O Importante: a concentração de bicarbonato na saliva é de aproximadamente 5mmol/L, entretanto quando estimulamos a produção de saliva os níveis de bicarbonato sobem acentuadamente, podendo chegar a 20 mmol/L. Você deve ter percebido a importância do bicarbonato, por isso estimule a produção de saliva. Mastigue, mastigue! Quanto maior a secreção salivar, maior será a concentração de HCO3- na saliva. A concentração de bicarbonato na saliva varia segundo o fluxo salivar e, às vezes, pode exceder a taxa do plasma, provém do metabolismo da glândula, ou da transferência em troca com cloro, pelo menos nas porções mais distais do túbulo, atua como osmorregulador e no sistema tampão salivar; atinge uma concentração superior à do plasma. 2- Fosfato Outro sistema de tamponamento salivar importante. Aparece na saliva na forma de íons primário (H2PO4-1), secundário (HPO4-2) e terciário (PO4-3). Atua no processo de remineralização e também é um osmorregulador, atinge uma concentração superior à do plasma sem depender da taxa de fluxo salivar. 3- Fluoreto (F- ) Aparece na saliva ligado ao cálcio formando fluoreto de cálcio (CaF2). Sua concentração na saliva depende da ingestão de compostos fluoretados. Quando incorporado ao esmalte forma Fluoroapatita (FA) = Ca10(PO4)6(F)2 A fluorapatita é menos solúvel do que a hidroxiapatita portanto mais resistente aos ataques ácidos Fluoreto: - Bactericida – altera permeabilidade da membrana. - Bacteriostático – inibe a via glicolítica (Enolase) Atua na prevenção da cárie dentária; o sódio depende diretamente do fluxo salivar, é osmorregulador e participa no transporte ativo de componentes através da membrana celular; 4- Cálcio A concentração de cálcio salivar depende muito do ritmo circadiano. Normalmente quanto maior o fluxo salivar, maior será a quantidade de cálcio na saliva. Desempenha funções importantes tais como ativação da amilase salivar, porém sua principal função está diretamente relacionada à remineralização dentária. Pode aparecer de duas formas distintas: Ionizado – Ca++: aparece assim quando há ataque acidogênico à superfície do esmalte, participando do reestabelecimento do equilíbrio entre o cálcio salivar e o cálcio dentário. Lembre: pH = cálcio ionizado Ligado - CaF2: na sua forma ligada, encontra-se associado ao flúor formando fluoreto de cálcio. Esse composto reveste a superfície dentária garantindo proteção aos dentes. Observação: a concentração de cálcio salivar depende de medicamentos também da utilização de alguns medicamentos tais como Verapamil e Pilocarpina. 5- SCN (Tiocianato) Responsável pela neutralização do H2O2 produzido por bactérias. Atua simultaneamente com duas enzimas: a mieloperoxidade e a peroxidase salivar. 6- Hidrogênio O íon hidrogênio pode ser considerado a variável principal na manutenção do equilíbrio bucal. Ele influencia a maioria das reações químicas bucais. Sua concentração é medida por meio de uma escala, a escala de pH. Fontes de H a- secreção glandular; b- fluídos transitórios; c- metabolismo bacteriano. Está relacionado com o consumo de carboidratos Fermentáveis. 7- Ferro Aparece na saliva em pequenas quantidades e parece estar associado à uma proteína, a lactoferrina, pertencente ao grupo das metaloproteínas, que possui atividade antibacteriana. Dessa forma presume-se que o ferro possua atividade contra bactérias. Saliva - Componentes Orgânicos A saliva chamada de saliva total consiste de uma mistura de fluidos bucais que inclui secreções de glândulas salivares maiores e menores, células epiteliais descamadas, fluido do sulco gengival, células bacterianas, etc, porém a saliva “limpa”, que sai dos ductos é formada basicamente por água, íons e matéria orgânica. Os componentes orgânicos predominantes na saliva são as proteínas salivares. Abaixo são descritas algumas delas. 1- GLICOPROTEÍNAS Glicoproteínas são proteínas que contêm carboidratos ligados a elas. Conferem à saliva maior viscosidade. Sua superfície externa da proteína tem cargas negativas, por esse motivo conseguem aderir-se às superfícies com cargas opostas. A- Glicoproteínas Mucosas Mucinas (GM1- GM2) B- Glicoproteínas Serosas Funções das Glicoproteínas 1.1- Agregar células bacterianas – defesa; 1.2- Tamponamento Salivar Favorece a formação da Placa Bacteriana! Devemos Considerar: Influenciam na formação da PA; Influenciam na adesão Bacteriana; 2- ESTATERINA A estaterina é um dos componentes orgânicos presente na saliva, ela é uma fosfoproteína ácida, com 43 aminoácidos, de estrutura terciária, rica em prolina, tirosina e ácido glutâmico. A função da estaterina é a inibição primária e a secundária da precipitação dos sais de fosfato de cálcio, da solução supersaturada da saliva bucal e de glândulas salivares pois sua extremidade amino-terminal é carregada negativamente, associando-se ao cálcio e fosfato da saliva evitando a precipitação de CaPO4, fosfato de cálcio, sobre a superfície do dente retardando a formação de cálculo dentário e também o crescimento dos cristais de hidroxiapatita. Dessa forma, a estaterina não age sobre as bactérias salivares e sim em bactérias ligadas à superfície de hidroxiapatita, ajudando a manter a estabilidade dos dentes Lembrar: Saliva é supersaturada. Estaterina impede a precipitação de Cálcio e Fosfato sobre os dentes 3. Histatinas As proteínas salivares denominadas histatinas possuem atividade contra Candida albicans, o fungo causador da candidíase orofaríngica especialmente em indivíduos imudeprimidos e também em pessoas que utilizam próteses, especialmente próteses totais. A histatina é uma pequena proteína rica no aminoácido histidina. Apresenta atividade antifúngica uma vez que seus níveis aumentam em pessoas com candidíase. Acredita-se que esse nível aumentado previne infecções mais sérias, bem como evita o estabelecimento de infecções secundárias pelo organismo. Funções: Liga-se à hidroxiapatita atraindo Ca++ PO4-3 sobre os dentes. Auxilia nos eventos de remineralização. Potente inibir do crescimento do fungo Candida albicans 4- Proteínas Ricas Em Prolina (Prp) Constituem a maior parte do componente proteico da saliva e ocorrem nas formas acídica, básica e básica glicosilada. Formam um complexo grupo de proteínas que inibem a precipitação espontânea de cristais de cálcio e fosfato sobre os dentes. Possuem aproximadamente 100 a 150 aminoácidos. Adsorvem-se às superfícies dentárias formando formarem coberturas orgânicas sobre essas superfícies, além de envolverem os alimentos, lubrificando-os e favorecendo sua mastigação e deglutição. Impedem a formação de cálculo dentário e influencia a adesão bacteriana aos dentes. Essas proteínas também, juntamente com a esterina inibem o crescimento dos cristais de hidroxiapatita. Adsorvem-se rapidamente a superfície da hidroxiapatita dentária e podem mediar a adesão bacteriana a esta superfície. Aminoácido Predominante: Prolina. Função idêntica a Estaterina Influencia a adesão bacteriana aos dentes. 5- Amilase Salivar A alfa-amilase salivar catalisa a digestão do amido, principal polissacarídeo na alimentação de humanos. Atua muito bem em pH neutro quebrando as ligações dos açúcares do amido iniciando a sua digestão. Obs.: estudos relacionam o aumento da amilase salivar com níveis aumentados de stress do indivíduo. A figura abaixo representa a estrutura da proteína alfa amilase. Observações: Ca e Cl são cofatores da amilase É inativada pela pH ácido 6 – Lisozima (Lz) Está presente nas lágrimas, muco, leite e saliva. A lisozima presente na saliva total provem de glândulas salivares maiores e menores, fluído crevicular e também de leucócitos salivares. Foi descoberta por Alexander Fleming em 1922. Possui papel efetivo na proteção do corpo pois exibe forte atividade antimicrobiana uma vez que é capaz de hidrolisar as ligações entre o ácido N-acetil murâmico e a N acetil glucosamina dos peptidoglicanos da parede celular bacteriana. É uma proteína fortemente catiônica que pode ativar autolisinas bacterianas as quais destroem os componentes celulares bacterianos, especialmente a parede celular. Lembre-se: Proteína catiônica. Bactericida – Ativa autolisinas bacterianas Atividade de Muramidase. Ácido N-acetil murâmico (NAM) N-acetil-glicosamina (NAG) 7 – Lactoferrina (Lf) LF é uma glicoproteína secretada por células serosas das glândulas salivares maiores e menores ligante de ferro com ação antibacteriana, antifúngica e antiviral. Sua concentração na saliva de pacientes saudáveis é de 500 mg/ml. A proteína possui dois sítios de ligação para o ferro salivar. O efeito bacteriostático da LF é atribuído à sua afinidade com o íon ferro e consequente privação deste mineral pelas células bacterianas. O efeito bactericida da LF requer a combinação desta proteína diretamente com a célula bacteriana. Lembre-se: “Rouba” o ferro da célula bacteriana. Efeito Bacteriostático Efeito Bactericida 8 – Sistema Peroxidase O Sistema Peroxidade na saliva humana é composto por duas enzimas: Peroxidase salivar, produzida pelas células acinares e Mieloperoxidase originada dos leucócitos gengivais. Juntas com o tiocianato conseguem neutralizar os efeitos tóxicos do peróxido de hidrogênio produzido pelas células bacterianas aeróbicas. As principais funções deste sistema são: proteção contra a toxicidade do peróxido de hidrogênio bacteriano e atividade antibacteriana. Formado por duas enzimas: A- Peroxidase Salivar (PS) B- Mieloperoxidase (MP) Catalisam a seguinte reação: H2O2 + SCN- MP/PS OSCN- + H2O Função: Atividade Antimicrobiana Proteção contra o H2O2 9- Imunoglobulinas (Iga) É um anticorpo, ou seja, consegue reconhecer antígenos presentes na saliva. A principal imunoglobulina salivar é a Imunoglobulina A. Sua ação baseia-se na ligação específica à superfície celular bacteriana através da interação com as adesinas bacterianas. Importante destacar que as IGA apresentam atividade contra as glicosiltransferases, enzimas bacterianas responsáveis pela síntese polissacarídeos extracelulares bacterianos. Sua estrutura é composta por 2 unidades ( dimérica) ligadas a uma cadeia J. Possui um componente secretor cuja função é proteger a molécula das enzimas hidrolíticas (destrutivas). O sítio FC é o local da ligação de antígenos. O principal papel da IGA é proteger o organismo de invasão viral ou bacteriana através das mucosa. São Glicoproteínas antimicrobianas. Exemplos: IgA, IgD, IgE, IgM e IgG. IgA é a principal na saliva 10- Aglutininas e Fibronectina Também são glicoproteínas e possuem funções análogas à Imunoglobulina 11- Lipídios e Carboidratos Também são componentes orgânicos da saliva. Porém aparecem em menores quantidades. Na saliva, os carboidratos são encontrados em pequenas quantidades, sendo que, o grupo de carboidratos mais encontrados na saliva são os Oligossacarídeos e a sacarose é a mais encontrada e mais perigosa por conta do seu teor cariogênico. 12 - Sialina Tetrapeptideo da parótida responsável pelo bloqueio do metabolismo bacteriano e consequentemente o bloqueio do processo de fermentação ácida. Atua regulando o pH salivar. 13- Cistatinas Eles são parte de uma família de fosfoproteínas contendo o aminoácido cisteína. Sua estrutura é formada por folhas beta antiparalelas, envolvendo uma hélice alfa 5 voltas. Estão envolvidas no controle da atividade de enzimas proteolíticas do tipo cisteinilproteinases, e são libertadas a partir do hospedeiro ou das bactérias. A maioria dos cisteinilproteinases tem uma atividade inibidora da amostra de cistatina C por um mecanismo independente da sua atividade inibidora da protease, que podem modular a reação do hospedeiro ao ataque bacteriano dos tecidos orais e inibir o crescimento de microrganismos com potencial para produzir danos. Podem também ter um papel na regulação do cálcio da saliva. 14- Defensinas São peptídeos, relativamente ricos em arginina, não glicosilados, com seis resíduos de cisteína. As defensinas são expressas no epitélio oral, nas glândulas salivares ou nos queratinócitos bucais e têm atividade antimicrobiana de amplo-espectro - matam os microrganismos pela formação de microporos em suas membranas e aumentam o recrutamento e a atividade fagocítica de neutrófilos pela estimulação da degranulação de mastócitos e pela produção de IL-8 pelas células epiteliais. As defensinas podem atuar como elo entre a imunidade inata e a adaptativa. 15- Calicreínas As calicreínas são enzimas pertencentes ao grupo das serino-proteases, que se caracterizam pela presença de um resíduo de serina no centro ativo. Elas possuem atividade proteolítica especifica, ou seja, são capazes de quebrar moléculas de proteínas de parede celular bacteriana além de auxiliarem na resposta inflamatória. São secretadas pelas células epiteliais do ducto estriado e atua simultaneamente com as proteínas ricas em prolina e as cistatinas na saliva. Bibliograf ia Para Esta Aula: Thylstrup / Fejerskov, Cariologia Clínica, Cap. 2 - Saliva Caries-Protective Factors In Saliva, Adv Dent Res 8(2):229-238, July, 1994.