Ovogénese: Formação do óvulo

Ovogénese

• É o processo de formação, desenvolvimento e maturação do gâmeta feminino (oócito).
• Ocorre nos ovários, que são as gónadas femininas.

Desenvolvimento Inicial (Fase Fetal)

• Por volta do quarto mês de gestação, os ovários fetais contêm células germinativas primordiais, que se transformam em oogónias.
• Pode existir cerca de 5 milhões de oogónias.
• Durante a vida fetal, a maioria das oogónias degenera (atresia).
• As oogónias restantes aumentam de volume e iniciam a primeira divisão da meiose, interrompendo na prófase I.
• Estas células são chamadas oócitos primários (ou oócitos I).
• Cada oócito primário é rodeado por uma camada de células foliculares pavimentosas, formando o folículo primordial.
• Ao nascimento, existem cerca de 1 a 2 milhões de folículos.

Desenvolvimento Pós-Natal até à Puberdade

• Ocorre mais atresia folicular resultando na diminuição do número de folículos.
• Os folículos primordiais, com os oócitos primários em prófase I, permanecem em estado quiescente até à puberdade.
• Na puberdade, restam entre 300.000 a 400.000 folículos.

Desenvolvimento Pós-Puberdade (Ciclo Ovárico)

• Vários folículos primordiais iniciam o desenvolvimento a cada ciclo menstrual, mas geralmente apenas um atinge a maturação completa.
• Na puberdade, a influência hormonal (pico de LH) faz com que um folículo primordial se desenvolva até à fase de folículo maduro (ou de Graaf) a cada ciclo menstrual.
• Pouco antes da ovulação (cerca de 10-12h após o pico de LH), o oócito primário completa a Meiose I dentro do folículo.
• A meiose I origina um oócito secundário (ou oócito II) e o primeiro corpúsculo polar (uma célula pequena não funcional).
• O oócito secundário inicia imediatamente a Meiose II, interrompendo na metáfase II.
• A Meiose II só se completa se ocorrer fecundação.

Anatomia dos Ovários

• Os ovários são revestidos por uma camada superficial de células chamada epitélio germinativo (uma modificação do peritoneu).
• A túnica albugínea é uma camada de tecido conjuntivo denso abaixo do epitélio germinativo.
• O interior do ovário, o estroma, é dividido em córtex e medula.
• O córtex é a zona externa mais densa, onde se encontram os folículos ováricos em diferentes fases de desenvolvimento.
• A medula é a zona central mais laxa, contendo tecido conjuntivo, vasos sanguíneos, vasos linfáticos e nervos.

Desenvolvimento dos Folículos Ováricos

• Os folículos ováricos consistem num oócito rodeado por uma ou mais camadas de células foliculares (ou granulosas).
• Os folículos progridem por vários estágios de desenvolvimento.

Estágios de Desenvolvimento Folicular

• Folículo Primordial: Composto por um oócito primário rodeado por uma única camada de células foliculares pavimentosas.
• Folículo Primário: O oócito cresce e as células foliculares tornam-se cúbicas, proliferando e formando múltiplas camadas (células da granulosa). Surge a zona pelúcida entre o oócito e as células da granulosa.
• Folículo Secundário (ou Antral): As células da granulosa continuam a proliferar e surgem espaços preenchidos por líquido folicular, formando uma cavidade chamada antro. O tecido conjuntivo do estroma organiza-se em teca folicular, que se diferencia em teca interna (vascularizada e endócrina) e teca externa (fibrosa).
• Folículo Maduro (ou de Graaf ou Pré-ovulatório): O folículo atinge o seu tamanho máximo (aproximadamente 2-2.5 cm), com um antro grande e único; o oócito está localizado excentricamente, rodeado pela corona radiata e projetando-se para o antro sobre um pequeno pedestal de células granulosas, o cumulus oophorus. Esta é a fase imediatamente anterior à ovulação.

Processo de Ovulação

• A ovulação é induzida pelo pico de LH.
• Ocorre a rutura da parede do folículo maduro e da superfície do ovário.
• O oócito secundário (em metáfase II), rodeado pela zona pelúcida e pela corona radiata, é expulso do folículo.
• O oócito é, em geral, captado pela trompa de Falópio (tuba uterina).

Pós-Ovulação

• Após a rotura do folículo, as restantes células da granulosa e da teca interna no ovário colapsam e reorganizam-se sobre a influência de LH, formando o corpo amarelo (ou corpo lúteo).
• Este corpo lúteo é uma estrutura endócrina temporária que produz progesterona e estrogénio.
• Se não ocorrer fecundação, o corpo amarelo degenera após 10-14 dias, formando uma cicatriz fibrosa, o corpus albicans.
• Se ocorrer fecundação, o corpo amarelo é mantido (pela hCG) e continua a produzir hormonas para suportar a gravidez inicial.

Ciclo Menstrual

• Conjunto de alterações cíclicas e coordenadas que ocorrem nos ovários e no útero.
• A duração média é de 28 dias e é dividido em dois ciclos que ocorrem simultaneamente: ovárico e uterino.

Ciclo Ovárico

• Alterações nos ovários, incluindo o desenvolvimento folicular, a ovulação, a formação e a degeneração do corpo amarelo.

Ciclo Uterino (ou Endometrial)

• Alterações no revestimento interno do útero, o endométrio.
• Duração média é de 28 dias e é regulado pelas gonadotrofinas hipofisárias (FSH e LH) e pelas hormonas ováricas (estrogénio e progesterona).

Fase Folicular (Dia 1 ao ~14)

• Inicia-se no primeiro dia da menstruação (Dia 1) e dura até à ovulação (aproximadamente Dia 14).
• Níveis baixos de estrogénio e progesterona no início do ciclo permitem que a hipófise liberte FSH (e algum LH) sob estímulo da GnRH hipotalâmica.
• Sob estímulo do FSH, vários folículos primordiais iniciam o seu desenvolvimento.
• As células foliculares (granulosa e teca) produzem quantidades crescentes de estrogénios à medida que crescem.
• Geralmente, um dos folículos torna-se dominante (folículo de Graaf) e continua a maturar, enquanto os outros sofrem atresia (degeneração).
• Os níveis crescentes de estrogénio inibem inicialmente a libertação de FSH (feedback negativo), mas exercem um feedback positivo sobre a hipófise, quando atingem um pico elevado e sustentado, induzindo o pico de LH.

Ovulação (~Dia 14)

• Caracterizada por um pico acentuado de LH (e um pico menor de FSH), induzido pelos níveis elevados de estrogénio produzidos pelo folículo maduro (feedback positivo).
• O pico de LH desencadeia a conclusão da Meiose I no oócito primário (formando o oócito secundário), a rutura do folículo maduro e a libertação do oócito secundário (parado em metáfase II).
• O oócito secundário é rodeado pela zona pelúcida e corona radiata.

Fase Luteínica (ou Lútea) (~Dia 14 ao ~28)

• Decorre entre a ovulação e o início da menstruação seguinte.
• Após a ovulação, as células da granulosa e da teca interna do folículo rompido, sob a influência do LH, reorganizam-se, formando o corpo amarelo (ou lúteo).
• O corpo amarelo é uma glândula endócrina temporária que produz níveis elevados de progesterona e estrogénio.
• Estas hormonas preparam o endométrio para uma possível gravidez e exercem feedback negativo sobre o hipotálamo e a hipófise, inibindo a libertação de GnRH, FSH e LH, impedindo o desenvolvimento de novos folículos.
• Se ocorrer fecundação, o embrião em desenvolvimento produz gonadotrofina coriónica humana (hCG).
• A hCG é semelhante ao LH e mantém o corpo amarelo funcional nas primeiras semanas de gestação, assegurando a produção contínua de progesterona e estrogénio.
• Na ausência de fecundação, o corpo amarelo começa a degenerar cerca de 10-14 dias após a ovulação, transformando-se em corpus albicans (tecido cicatricial).
• A degeneração do corpo amarelo (luteólise) causa uma queda acentuada nos níveis de progesterona e estrogénio, levando ao início da menstruação e removendo o feedback negativo sobre FSH e LH, permitindo o início de um novo ciclo.

Ciclo Uterino (ou Endometrial)

• Reflete as alterações na espessura e estrutura do endométrio em resposta às variações nas hormonas ováricas (estrogénio e progesterona).

Fase Menstrual (Dia 1 ao ~5)

• Coincide com o início da fase folicular do ciclo ovárico.
• Esta fase é causada pela diminuição abrupta dos níveis de estrogénio e progesterona devido à degeneração do corpo amarelo no final do ciclo anterior.
• A camada funcional do endométrio desintegra-se, os vasos sanguíneos contraem-se e depois rompem-se, levando à hemorragia e eliminação desta camada, juntamente com sangue e muco (menstruação).
• A camada basal do endométrio permanece intacta.

Fase Proliferativa (do ~Dia 5 ao ~14)

• Coincide com a fase folicular do ciclo ovárico (após a menstruação).
• É uma fase dependente do estrogénio produzido pelos folículos ováricos em crescimento.
• O estrogénio estimula a proliferação das células da camada basal, regenerando a camada funcional do endométrio.
• O endométrio aumenta de espessura, torna-se mais vascularizado, e as glândulas uterinas alongam-se.

Fase Secretora (~Dia 14 ao ~28)

• Coincide com a fase luteínica do ciclo ovárico.
• É uma fase dependente principalmente da progesterona, produzida pelo corpo amarelo, mas também do estrogénio.
• A progesterona estimula um maior desenvolvimento do endométrio, que atinge a sua máxima espessura e vascularização.
• As glândulas uterinas tornam-se mais tortuosas e começam a segregar um muco rico em glicogénio e outros nutrientes.
• Estas alterações tornam o endométrio receptivo à implantação de um embrião, caso ocorra fecundação.
• Se não houver implantação, a diminuição da progesterona e do estrogénio no final desta fase leva à vasoconstrição das artérias espiraladas resultando no início da fase menstrual.

Regulação Hormonal do Ciclo

• Início do Ciclo: Níveis baixos de Estrogénio/Progesterona -> Libertação de GnRH -> Libertação de FSH (e LH) pela adeno-hipófise.
• Fase Folicular: FSH estimula crescimento folicular -> Folículos produzem Estrogénio crescente.
• Meio Ciclo: Pico de Estrogénio -> Feedback positivo -> Pico de LH (e FSH menor).
• Ovulação: Pico de LH induz a ovulação e formação do corpo amarelo.
• Fase Luteínica: Corpo amarelo produz Progesterona (e Estrogénio) -> Inibição de FSH/LH (feedback negativo). Preparação do endométrio (fase secretora).
• Fim do Ciclo (sem gravidez): Degeneração do corpo amarelo -> Queda de Progesterona/Estrogénio -> Menstruação. Remoção do feedback negativo -> Aumento de FSH -> Novo ciclo.
• Fim do Ciclo (com gravidez): hCG mantém corpo amarelo -> Níveis altos de Progesterona/Estrogénio -> Manutenção do endométrio.

Processo de Fecundação

• Acontece com a fusão do gâmeta masculino (espermatozoide) com o gâmeta feminino (oócito secundário).
• Origina à formação de um zigoto.

Transporte dos Espermatozoides

• Após a ejaculação na vagina durante a relação sexual, os espermatozoides móveis atravessam o colo do útero, a cavidade uterina, entrando nas tubas uterinas (trompas de Falópio).

Local da Fecundação

• Ocorre tipicamente na ampola, uma secção da tuba uterina.
• Só ocorre se aí existir um oócito secundário viável (libertado do ovário durante a ovulação e captado pela tuba).

Penetração e Formação do Zigoto

• Vários espermatozoides podem alcançar o oócito, mas geralmente apenas um consegue penetrar a corona radiata e zona pelúcida.
• A penetração do espermatozoide no oócito secundário desencadeia a conclusão da Meiose II deste último, formando o óvulo maduro e o segundo corpúsculo polar.
• Os núcleos do espermatozoide e do óvulo maduro (prónucleos masculino e feminino) fundem-se (singamia), restaurando o número diploide de cromossomas (46 cromossomas), formando o zigoto.
• O zigoto é, portanto, a primeira célula do novo indivíduo.

Transporte e Implantação

• Após a fecundação na tuba uterina, o zigoto inicia uma série de divisões celulares mitóticas (clivagem) enquanto é transportado em direção ao útero.
• Ao fim de alguns dias, forma-se uma estrutura multicelular chamada blastocisto.
• O blastocisto chega à cavidade uterina e implanta-se (nidação) na parede do útero (endométrio), que se encontra preparada (fase secretora) para o receber.

Formação de Gémeos

• Desenvolvimento simultâneo de dois ou mais fetos.

Gémeos Monozigóticos (Idênticos)

• Resultam da fecundação de um único oócito por um único espermatozoide, formando um único zigoto.
• Numa fase inicial do desenvolvimento, a massa celular interna divide-se em duas (ou mais), dando origem a dois (ou mais) embriões geneticamente idênticos.
• Estes gémelos partilham, geralmente, a mesma placenta (o mesmo córion); desenvolvem-se em bolsas amnióticas separadas.
• São do mesmo sexo.

Gémeos Dizigóticos (Fraternos ou "Falsos")

• Resultam da fecundação de dois oócitos diferentes por dois espermatozoides diferentes, geralmente libertados no mesmo ciclo ovárico (poli-ovulação).
• Formam-se dois zigotos distintos, que se desenvolvem independentemente; cada um com o seu próprio código genético (semelhantes como irmãos).
• Cada embrião tem a sua própria placenta e bolsa amniótica e podem ser do mesmo sexo ou de sexos diferentes.

Observações Finais

• A fecundação marca o início de uma nova vida, com a formação do zigoto diploide.
• A implantação do blastocisto no endométrio é essencial para o estabelecimento da gravidez.
• A gemelaridade (formação de Gémeos) pode ocorrer por divisão de um único zigoto (monozigóticos) ou pela fecundação de múltiplos oócitos (dizigóticos).