Filosofia da Economia: Realismo e Verdade

Introdução à Filosofia e Metodologia da Economia

• Antes de distinguir realismo, instrumentalismo e retórica, é essencial responder:
  • Por que a economia é uma ciência?
  • O que separa uma ciência de uma não ciência?
• Palavras-chave: realidade, verdade, explicar, prever, verificação empírica.

Realidade e Teorias Científicas

• A ciência consiste em teorias que fazem afirmações sobre a realidade.
• Nenhuma teoria captura toda a realidade, apenas seus fragmentos.
• A realidade não se limita ao que observamos; exemplo: gravidade.

Critérios de Verdade e Realismo

• Teorias verdadeiras correspondem ao objeto que descrevem.
• A teoria da verdade como correspondência é uma ideia central no realismo.
• A palavra (ex: "porta") não é o objeto; a teoria deve corresponder à realidade.

Testando a Verdade de uma Teoria

• Teoria verdadeira concorda com a realidade, independentemente da opinião pública.
• Critério de verdade: acordo com a realidade, independente de opiniões.
• Juízo de verdade: avaliação social da veracidade de uma teoria, sem garantia de correção.
• Exemplo: Crença na Terra como centro do universo em 1300 era razoável no contexto, mas não garante que fosse verdade.

Relativismo Epistemológico

• Juízos de verdade são contextuais e dependem do nível de conhecimento, que é provisório e frágil.
• A verdade como correspondência é um critério com bases realistas.

Karl Popper e o Positivismo Lógico

• Karl Popper (1902-1994, Viena) contrastou com o positivismo lógico do Círculo de Viena.
• O positivismo lógico distingue ciência de não ciência (metafísica) com dois tipos de afirmações:
  • Afirmações analíticas: Verdadeiras por definição (ex: "solteiros são não casados").
  • Afirmações empíricas: Verificáveis pela experiência.
• Popper rejeitou a verificabilidade, propondo que as teorias científicas devem ser falsificáveis e aceitas como provisórias.
• "Todos os cisnes são brancos" não pode ser verificado sem observá-los todos, mas basta um cisne negro para falsificar a afirmação.
• A psicanálise não é ciência neste critério, pois não pode ser empiricamente falsificada.

Críticas a Popper

• Popper assume que as observações científicas são independentes da teoria, mas são influenciadas pelo quadro teórico.
• A falsificação precisa nem sempre é possível, pois uma teoria é complexa e multifacetada.
• Os critérios de juízo variam com a disciplina e o tempo.

Campo Social vs. Ciências Naturais

• Nas ciências naturais, a teoria se aplica a objetos independentes da teoria.
• Nas ciências sociais, a relação é mais complexa, o objeto de estudo depende da forma como o entendemos.
• O objeto de estudo nas ciências sociaisfenómenos que dependem da ação humana não é fixo ou independente, mas sim influenciado pelas nossas perícepções
• Teorias sociais versam sobre conceitos dependentes das nossas concepções, diferente das ciências naturais.
• A explicação é um objetivo central da teoria, visando entender o passado com dados presentes.
• A previsão é também um objetivo, quando possível
• As ações na bolsa de valores são determinadas pelas ações de indivíduos com base nas suas perícepções, crenças e teorias.
• O passado é fixo e não pode ser mudado pela teoria, que pode afetar o futuro.
• Objetos sociais são influenciados pelas concepções das pessoas, mas existem antes das teorias.
• O critério de verdade pode ser aplicado no campo social quando se considera que os objetos sociais são anteriores à teoria.
• Um objeto que é prévio ao ponto onde eu estou, é independente para efeitos do presente da teoria que eu tenho.

Realismo, Instrumentalismo e Retórica

• Aquilo que é uma classe social depende da conceção que nós, coletivamente, tivemos sobre o que são classes sociais; não é algo que existe independentemente das nossas conceções.
• Isso não faz diferença nenhuma se o nosso objetivo for explicar, olhando para o passado, uma vez que, tanto do ponto de vista social quanto natural, são dados que não podem ser verificados.
• A questão torna-se mais importante quando se fala em prever, o que veremos mais à frente.
• As teorias científicas são ou verdadeiras (V) ou falsas (F).
• A sua verdade é determinada pela correspondência com a realidade objetiva, que existe independentemente, ou, pelo menos, previamente às nossas conceções ou teorias.
• O objetivo é explicar o mundo tal como ele é, fazendo juízos que são provisórios e, sobre certas circunstâncias, também prever, mas fundamentalmente explicar.
• As teorias nem são verdadeiras nem falsas, são apenas instrumentos⇒ opõe-se ao realismo
• Uma teoria é útil se fizer boas previsões ⇒ versão 1
• As teorias podem ser falsas, mas é irrelevante se fizer boas previsões versão 2
• O modelo de Solow é um claro exemplo de instrumentalismo, pois é óbvio que a economia não é constituída por um bem homogéneo com capital e trabalho homogéneo.
• Do ponto de vista realista, o modelo não serve para nada.
• Do ponto de vista instrumentalista, serve se fizer previsões acertadas, como, sobre certas condições, em steady state, o modelo é compatível com os factos estilizados de Kaldor, ou seja, prevê os factos estilizados de Kaldor.
• As teorias são sobre um objeto e esse objeto é o resultado da própria teoria.
• O mundo é constituído pelas teorias que temos sobre ele, não há independência entre realidade e teoria.
• As teorias falam apenas do que elas mesmas criam, não podendo afirmar nada sobre o mundo fora do que a teoria define.
• Nesse sentido, não é possível aplicar o conceito de verdade como correspondência, como no realismo, porque a teoria e o seu objeto são inseparáveis; o objeto é criado pela própria teoria.
• Isto legitima cada pessoa ter a sua teoria e cada uma dizer que são igualmente válidas.
• Estas 3 Teorias da Ciência vão ser desenvolvidas mais à frente de forma detalhada.

Ontologia

• É a teoria sobre a natureza da realidade.
• É um campo da metafísica que estuda o que existe e quais as suas propriedades.
• Se sou realista, a ontologia é crucial, pois, precisamos de saber o que existe no mundo e como ele é, para construir teorias científicas de forma compatível com o conhecimento que temos.
• Adicionalmente, uma ontologia pode variar ao longo do tempo, isto é, achar que o mundo tinha certas propriedades há uns anos e depois ter outras propriedades.
• Na vida real, toda a gente é realista. Temos que ter uma teoria sobre a realidade que funcione minimamente para podermos funcionar no mundo. Exemplo: eu sei que se atravessar a rua com um automóvel a 60 km/h a 100 metros de distância vou ser atropelado.

Realismo vs realismo

• O Realismo, enquanto teoria da ciência, sustenta que as teorias científicas têm como objetivo descrever e explicar uma realidade que existe independentemente das nossas conceções ou teorias sobre ela. Ou seja, a ciência não cria a realidade, mas tenta compreender e explicar o mundo tal como ele é, independente da nossa percepção.
• Quando se diz que o realismo é uma teoria sobre uma realidade, ou seja, uma ontologia, está-se a afirmar que o realismo propõe uma visão sobre o que é a realidade e quais as suas propriedades. Neste sentido, há tantos realismos quanto as ontologias que eu falar. Realismo pode ser usado como sinónimo de ontologia.
• Para o Realismo, a ontologia é importante porque quero compreender a realidade.
• Se sou Instrumentalista, tenho implicitamente uma conceção ontológica, que é a do mundo ser previsível, caso contrário nunca conseguiria acertar nas minhas previsões. Tudo o que eu faço é apropriado ou não, dependendo da realidade.

Metodologia

• A metodologia é a teoria que justifica a escolha de um método em vez de outro.
• Se tenho duas opções método A e método B e escolho A, faço isso porque acredito que trará mais conhecimento que o método alternativo.
• Mas esta escolha não acontece no vazio: ela baseia-se numa epistemologia, isto é, numa teoria do conhecimento que explica como é que adquirimos conhecimento.
• Para realizar ações intencionais é pré requisito ter algum conhecimento
• O método tem de ser adequado à natureza do objeto a estudar, pois permite escoher o método mais apropriado para produzir conhecimento, e não o fazer causa erros.
• Conhecer a realidade é uma condição prévia essencial para que possamos decidir qual melhor método aplicar
• A escolha do método (escova e pasta) baseia-se no nosso entendimento da natureza dos dentes sensíveis, acumulam resíduos (ontologia) e no conhecimento de que esse método funciona.

Realismo Empírico e Aquisição de Conhecimento

• Empirismo e a Relação entre Mente e Mundo Exterior. por trás do conhecimento está uma teoria sobre a realidade e epistemologia.
• Para empiristas, mente é uma tábua rasa que aprende com os sentidos que emitem impressões sensoriais para o cérebro
• Resulta do contacto com objetos através dos sentidos e não da atividade laboratorial
• A realidade para empiristas
  • É constituída por objetos apreendidos pelos sentidos, divididos em acontecimentos e impressões. O que não pode ser apreendido não é real
  • acontecimentos ⇒ impressões

Empirismo e a Estruturação do Conhecimento Científico

• Cientistas constroem teorias ou conjuntos de teorias com base em causas e acontecimentos.
• Entender a realidade impíica em correlacionar regularmente os mais difrentes eventos e acontecimentos
• Se conseguirmos encontrar estas regularidades, podemos construir explicações através do modelo DN (Dedutivo-Nomológico) ->explicação é construída através de uma cadeia de raciocínios dedutivos, sendo que as leis gerais são aplicadas a condições específicas para entender os fenômenos Este modelo também incorpora a tese da simetria
• sistema fechado: garante a existência de regularidades ao nível dos acontecimentos. O realismo empírico exige um sistema fechado, porque se não existirem, não podem haver explicações sobre os acontecimentos.
• sistema aberto: a existência de regularidades ao nível dos acontecimentos é puramente acidental.

Karl Mengyer e Regularidades Espontâneas

• Karl menger defende para o empirismo pois
  • Todas as ciências fazem igual.
  • Nas ciências naturais, também não se encontram regularidades espontâneas. Os cientistas naturais fabricam cenários artificiais que garantem a existência de regularidades, e descobrem-se coisas úteis, ou seja, coisas que funcionam fora de laboratório;
  • Na economia, não podemos realizar experiências laboratoriais, mas criamos versões mentais dessas experiências, simulando cenários e condições
• 'Leis' são regularidades ao nível dos acontecimentos.
• As regularidades ao nível dos acontecimentos apenas estão garantidas sob condições controladas nas ciências naturais.

Realismo: a ontologia social de Cambridge

• Para efeitos desta cadeira, realismo crítico, realismo transcendental e ontologia social de Cambridge são entendidos como sinónimos, apesar de na realidade serem diferentes.

Tipos de raciocínio

• Dedução: Parte de uma regra geral para chegar a uma conclusão específica. Exemplo: "Todos os corvos são pretos, logo este corvo é preto." — Não permite descobrir coisas novas, só aplica o que já se sabe.
• Indução: Parte de observações específicas para formular uma regra geral. Exemplo: "Observei vários corvos pretos, então todos os corvos devem ser pretos." — Generaliza a partir de casos particulares.
• Abdução (inferência transcendental): Parte de observações consensualmente aceites para explicar as condições de possibilidades dessas afirmações, isto é, como é que é possível elas terem sido observadas
• A inferência transcendental é um subcaso da abdução
• A realidade tem 3 níveis:
  • acontecimentos⇒estruturas
  • .impressão de acontecimentos
  • Apesar da ausência de sincronização, as estruturas operam permanentemente
  • Na vida real, as regularidades não existem->a trajetória das folhas cair é diferente

Newton percebe que

• existem também forças ou estruturas invisíveis ( se existem forças isso deve ocorrer porque existem múltiplas forças no mundo) que operam opostamente.

Realismo empírico

• O cientista supõe que existe uma estrutura que opera de determinada forma.
• a dessincronização entre a estrutura de e o local do acontecimentodesaparece
• é identificar os elementos que não precisam de intervir e que continuam válidos quando é que se consegue identificar o que se procura-> uma descrição precisa
• a não são sobre o que observamos -> mas sobre a estrutura
• a não são a lei
• há muitas estruturas a sincronizar que não observamos O ponto de partida e o não haver regularidade suficiente - a previsão não se adequa aos