Enigma e Objetivação da Loucura

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Questions and Answers

Qual das seguintes opções descreve melhor a representação da loucura nas pinturas de Bosch e Bruegel nos séculos XV e XVI?

  • Um segredo da natureza humana, ligado à animalidade e transgressão dos valores humanos. (correct)
  • Uma representação literal de transtornos mentais diagnosticáveis.
  • Uma condição estritamente humana, resultante de falhas individuais.
  • Uma celebração da razão e da ordem sobre o caos.

Segundo o texto, Foucault argumenta que a psiquiatria, desde Pinel, manteve uma perspectiva constante, eliminando a espessura enigmática da loucura.

True (A)

De acordo com o texto, qual evento histórico Foucault considera como ponto de partida para sua análise da loucura?

O fim da Idade Média

Segundo o texto, na época clássica, a relação com o louco não se baseava em um conhecimento científico, mas sim em uma '______' produzida por diversas instituições sociais.

<p>percepção social</p> Signup and view all the answers

Associe as seguintes legiões de proscritos, confinadas durante o Grande Enclausuramento, com suas características:

<p>Prostitutas, doentes venéreos, sodomitas, devassos = Extrapolavam o 'bom uso' dos corpos. Blasfemadores, praticantes de magia, suicidas = Profanadores do sagrado. Libertinos = Subordinavam a razão aos desvarios dos desejos do coração. Loucos = Não tinham o estatuto de doentes mentais.</p> Signup and view all the answers

Qual mudança na percepção da população pobre ocorreu com a emergência do capitalismo, segundo o texto?

<p>A população pobre passou a ser valorizada como mão de obra produtiva. (D)</p> Signup and view all the answers

De acordo com o texto, Freud foi o primeiro a resgatar a dimensão enigmática da loucura nos discursos sobre ela.

<p>True (A)</p> Signup and view all the answers

Segundo Lacan, em que consiste a rejeição que ocorre nas psicoses?

<p>Rejeição de um significante primordial</p> Signup and view all the answers

Lacan utiliza o termo '______' para se referir ao elemento ordenador e fundamental que é rejeitado nas psicoses.

<p>Nome-do-Pai</p> Signup and view all the answers

Associe as seguintes características com suas respectivas descrições na teoria lacaniana:

<p>Foraclusão = Rejeição de um significante primordial. Objeto a = Causa de angústia e estranheza. Nome-do-Pai = Elemento ordenador e fundamental. Enigma = O que se apresenta como indecifrável e problemático.</p> Signup and view all the answers

Qual das seguintes é uma característica da medicina atual, de acordo com o texto?

<p>Governança pelo 'dinamismo farmacêutico', onde a eficácia dos medicamentos é central. (D)</p> Signup and view all the answers

O texto afirma que, na medicina atual, o médico se ocupa das doenças somente quando elas impedem o funcionamento normal dos organismos.

<p>False (B)</p> Signup and view all the answers

Segundo o texto, o que significa a expressão "diluição da loucura"?

<p>Expansão do domínio da psiquiatria</p> Signup and view all the answers

De acordo com o texto, no futuro, a psiquiatria poderá se basear na '______', substituindo a expressão 'transtorno mental' por 'transtornos do cérebro'.

<p>neurociência</p> Signup and view all the answers

Associe os seguintes conceitos com suas respectivas descrições no contexto da diluição da loucura:

<p>Research Domain Criteria (RDoC) = Focalizado no 'circuito neural'. Transtornos do cérebro = Substituição de 'transtorno mental'. Dinamismo farmacêutico = Influência da indústria farmacêutica na medicina. Diagnósticos psiquiátricos = Promovidos pela diluição das classificações atuais.</p> Signup and view all the answers

Qual crítica Allen Frances, ex-chefe da força-tarefa do DSM-IV, faz ao DSM-V?

<p>A tendência de promover uma inflação geral de diagnósticos e rotulagem errônea. (D)</p> Signup and view all the answers

Segundo o texto, a integração da psiquiatria à medicina, através do DSM, buscou eliminar a dimensão enigmática dos sintomas.

<p>True (A)</p> Signup and view all the answers

De acordo com o texto, qual é o efeito da eliminação da dimensão enigmática do sintoma na clínica psiquiátrica?

<p>Empobrecimento radical da clínica</p> Signup and view all the answers

No contexto da psicanálise lacaniana, a aposta do texto é na '______' do que afeta um corpo perpassado pela linguagem e que se ressalta de modo ainda mais enigmático na loucura.

<p>incomensurabilidade</p> Signup and view all the answers

Associe os seguintes conceitos lacanianos com sua relevância na compreensão da loucura:

<p>Incomensurabilidade = O que afeta um corpo perpassado pela linguagem. Enigma = Aquilo que a razão não consegue explicar completamente. Objeto a = Causa de angústia para os outros. Foraclusão do Nome-do-Pai = Estrutura da psicose.</p> Signup and view all the answers

Flashcards

Bosch e Bruegel

Retratação da loucura sem a reduzir a um único elemento, mostrando relações com a animalidade e deformações.

Grylle

Na glíptica, há uma união orgânica de partes separadas; na obra de Bosch, as partes permanecem separadas, favorecendo a anamorfose.

Loucura vs. Doença Mental

A loucura detém uma força primitiva da revelação oracular, confiscada pela psiquiatria como mera doença mental.

Humanismo Renascentista

Renascimento tenta apagar o que é maior que o Homem, como Morte, Destino ou Desejo; a grandeza surge ao aceitar tal ultrapassamento.

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Objeto do Conhecimento Médico

A loucura foi transformada em objeto de conhecimento médico, perdendo sua espessura enigmática e desqualificando o discurso do louco.

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Origens da psiquiatria

A psiquiatria é um campo de saber recente que historicamente rotulou o 'louco' como doente mental, aprisionando-o.

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Loucura na Idade Média

Na Idade Média e Renascimento, a loucura não era vista como doença, mas como ameaça e ilusão na verdade e razão.

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Loucura na Época Clássica

Na época clássica, a loucura é destituída como saber, dando lugar a um saber racional e moral; Descartes a exclui da ordem da razão.

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Grande Enclausuramento

Em 1656, Luís XIV cria o Hospital Geral, instituição administrativa para abrigar e excluir figuras da desrazão, fenômeno chamado de 'Grande Enclausuramento'.

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Autonomia da Loucura

No século XVIII, a loucura ganha autonomia e individualidade com a crítica ao Grande Enclausuramento, delineando a nova realidade institucional.

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Capitalismo e Loucura

Com o capitalismo, a população se torna força de trabalho produtiva, mas os loucos, impossibilitados de trabalhar, permanecem enclausurados.

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Freud e a Loucura

Com Freud, há uma transposição do abismo entre enigma e doença na loucura, resgatando a dimensão enigmática.

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Psiquiatrização como Reforço

A psiquiatrização da loucura pode ser vista como reforço de barreiras, protegendo os psiquiatras da própria estrutura da psicose.

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Foraclusão do Nome-do-Pai

Lacan destaca a 'foraclusão do Nome-do-Pai' como angular na concepção da psicose. Nas psicoses, ocorre a rejeição de um significante primordial.

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RDoC

O RDoC (Research Domain Criteria) visa substituir a classificação psiquiátrica pelo conceito de transtornos cerebrais.

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Checklist de Sintomas

O diagnóstico psiquiátrico passou de uma avaliação individual para um checklist de sintomas, integrando a psiquiatria à medicina, mas empobrecendo a clínica.

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Objeto a e a psicose

Lacan associa a sensibilidade dos psicóticos ao enigma com a presença do objeto a no corpo, evidenciada em delírios e alucinações.

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Críticas ao DSM-V

Crítica de Allen Frances ao DSM-V, apontando para o risco de inflação de diagnósticos e rotulação errônea de milhões de pessoas.

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Diluição da Loucura

O capitalismo reformula seu funcionamento, expandindo o domínio da psiquiatria para além de doenças como esquizofrenia à gestão cosmética.

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Medicina e Farmácia

A medicina atual impõe uma transformação onde o médico se torna agente distribuidor guiado pelo "dinamismo farmacêutico"

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Study Notes

Enigma, Objetivação e Diluição da Loucura

  • Bosch e Bruegel retrataram a loucura nos séculos XV e XVI, relacionando-a com a animalidade e deformações que escapavam aos valores humanos.
  • As pinturas desses artistas revelam a loucura como um saber enigmático ligado aos segredos do cosmos e da vida.
  • Foucault destaca a deformidade grylle nessas obras, onde objetos e figuras são invadidos por enigmas.
  • Diferente da glíptica greco-romana, os grylles de Bosch mantêm as partes do corpo no lugar, mas sem formar um organismo, criando uma anamorfose.
  • As pinturas de Bosch e Bruegel sobre a loucura expressam um silêncio revelador, com a loucura detendo uma força oracular primitiva.
  • A psiquiatria confisca essa força, designando a loucura como mera doença mental.
  • O humanismo renascentista buscou apagar o que é maior que o Homem, como a Morte, o Destino e o Desejo.
  • A dimensão trágica da loucura ensina que a grandeza humana reside em aceitar esse limite.
  • No século XVII, o enigma e a dimensão trágica da loucura foram obscurecidos pelos discursos que visavam objetivá-la.
  • As pinturas de Bosch e Bruegel tornaram-se vestígios da experiência trágica e enigmática da loucura.
  • Foucault elegeu o fim da Idade Média como ponto de partida para estudar a loucura, marcando o último período em que ela teve uma extensão cósmica no Ocidente.
  • A investigação de Foucault não busca dar voz à loucura silenciada, mas amplificar o silêncio enigmático da loucura confrontada com as tentativas de reduzi-la a "doença mental".
  • A loucura, transformada em objeto médico, é organizada, classificada e medicalizada, perdendo sua espessura enigmática e desqualificando o discurso do louco.

Razão x Loucura

  • Foucault procurou estabelecer as condições históricas que formaram a percepção ocidental do louco como doente mental.
  • A psiquiatria é um campo de saber recente, com a intervenção médica relacionada à loucura datada historicamente (pouco mais de 200 anos).
  • A doença mental surge após o século XVIII, quando a loucura se torna objeto de práticas médico-psiquiátricas.
  • Ao contrário da visão ufanista da História da Medicina, Foucault demonstra que gesto libertador da psiquiatria aprisionou o louco na categoria de doente mental.
  • Durante a Idade Média e o Renascimento, a ameaça do insensato era sentida, mas não havia uma percepção do louco como doente, nem sua localização ou segregação precisas.
  • O louco vivia solto, como um errante, e a loucura era vista como uma ameaça à verdade e à razão.
  • A loucura carregava um saber enigmático, esotérico e trágico, capaz de revelar verdades secretas.
  • Na Época Clássica (séculos XVI-XVIII), a loucura perdeu seu valor de saber trágico.
  • A experiência enigmática da loucura foi substituída por um saber racional e humanista.
  • Descartes afastou a loucura do processo da dúvida em suas Meditações Metafísicas.
  • Na Época Clássica, a relação com o louco não era moldada por um conhecimento científico, mas por uma "percepção social" influenciada pela polícia, justiça, família e Igreja.
  • Os critérios para designar e excluir o louco da sociedade baseavam-se na transgressão das leis da razão e da moralidade, não no saber médico.
  • Em 1656, Luís XVI cria o Hospital Geral, marco institucional na dominação da loucura pela razão.
  • O Hospital Geral era uma entidade assistencial e administrativa entre a polícia e a justiça, abrigando e excluindo figuras da desrazão.
  • Foucault denominou esse fenômeno, reproduzido por toda a Europa, de "Grande Enclausuramento".
  • Quatro legiões de proscritos foram então confinadas: os que extrapolavam os corpos, os blasfemadores, os libertinos e os loucos.
  • Os loucos não tinham o estatuto de doentes mentais e se misturavam a outras figuras marginalizadas.
  • O enclausuramento inicial não se baseava em conhecimento médico, mas numa "percepção" que usava a razão para isolar uma população heterogênea.
  • Na segunda metade do século XVIII, a loucura ganhou autonomia e individualidade em relação à desrazão.
  • A crítica ao Grande Enclausuramento delineou a nova realidade institucional da loucura.
  • Com o capitalismo emergente, o enclausuramento tornou-se um recurso inadequado para os novos problemas econômicos.
  • A população adquiriu importância central no novo pensamento econômico.

O Louco Como Objeto e O Objeto do Louco

  • A população pobre, ociosa e desempregada era vista como um estorvo inútil.
  • Precisavam ser enclausurados e excluídos do circuito econômico, mas o capitalismo emergente valorizava a população como produtora de riqueza.
  • A política assistencial do século XVIII separou os "pobres válidos" dos "pobres doentes".
  • Os primeiros deveriam ser mão de obra, os segundos ficariam na assistência social.
  • Os loucos - impossibilitados de trabalhar e vistos como perigosos - permaneceram como remanescentes do Grande Enclausuramento.
  • As políticas não libertaram os loucos, mas mantiveram casas de reclusão exclusivas, dando origem ao manicômio e à psiquiatria, com sua missão de criar um saber "científico" sobre a loucura.
  • O louco, visto agora como doente mental, passou a depender de "porta-vozes" da psiquiatria e da psicologia que interpretavam suas ações e discursos.
  • O louco perdeu o poder de expressão e autonomia.
  • O confronto entre a loucura como enigma e como doença criou um abismo.
  • Freud resgatou a dimensão enigmática da loucura, reinserindo-a no tratamento psicanalítico.
  • Lacan ressaltaria a inerência da loucura à ética da psicanálise.
  • Importante ressaltar como essa dimensão pode ser apreendida no modo como Lacan ensina a tematizar e tratar as psicoses
  • Lacan cita e elogia a investigação de Foucault ao longo da História da Loucura.
  • O isolamento dos loucos e a psiquiatrização da loucura reforçam barreiras que psiquiatras constroem para se proteger da estrutura da psicose.
  • Lacan rejeita a concepção deficitária e organicista da psicose em sua tese de doutorado.
  • No Livro 3 de "O Seminário", Lacan desenvolve uma releitura do caso Schreber estudado por Freud.
  • Elabora no escrito "Questão Preliminar a todo tratamento possível da psicose" a concepção lacaniana da psicose como estrutura subjetiva.
  • Lacan destaca a "foraclusão do Nome-do-Pai" como pedra angular dessa concepção.
  • Nas psicoses, ocorre a "rejeição, às trevas exteriores, de um significante primordial", ordenador da narrativa.
  • A foraclusão confere aos psicóticos maior sensibilidade ao que se apresenta como enigma.
  • Eles trazem no corpo um objeto do qual os "normais" se consideram alheios.
  • Lacan contrapõe-se à concepção psiquiátrica da doença mental, interessando-se pela dimensão trágico-enigmática da loucura.
  • Lacan questiona por que um louco, arrebatado por delírios, deixaria de reconhecer o que produziria delirante e alucinatoriamente.
  • A experiência de Lacan com a loucura mostra que o psicótico atribui realidade a fenômenos como alucinações, interpretações e intuições.
  • Tais fenômenos visam pessoalmente o psicótico e se há tentativa de deciframento, é porque há enigma.
  • Quando um louco tem dificuldade para expressar tais fenômenos, sua perplexidade evidencia uma hiância interrogativa.
  • Com a concepção do objeto a, Lacan associa a exposição e sensibilidade dos psicóticos ao enigma com a presença desse objeto no corpo.
  • Voz e olhar são formas desse objeto.
  • Em "O Seminário", uma paciente italiana, após anos de mutismo, desenha uma árvore com três olhos e escreve "sou sempre vista".
  • A paciente não falava porque era "vista", tanto uma paisagem muda quanto objeto de olhares, silenciando-se como forma de proteção.
  • A presença do olhar aparece velada no campo da realidade para os não psicóticos, mas na psicose, o objeto a em forma de olhar não é extraído, tornando-se visível e provocando horror, suspeita e enigma.
  • Com a rejeição do significante do Nome-do-Pai, o que se impõe como fora de si perde a familiaridade, tomando a forma de um enigma.
  • O objeto a se furta e se subtrai, tomando dimensões de voz inaudível, olhar desconectado, palavra incompreensível.
  • A angústia se impõe diante do enigma corporificado pelo psicótico.
  • Confrontados ao vazio da não correspondência entre palavras e coisas, demandamos do campo onde a linguagem se corporifica.
  • Nesses momentos, o louco conserva consigo um "objeto estranho, parasitário", que lhe dá liberdade e causa angústia aos outros.
  • Esse objeto se furta ao registro da representação, causando angústia e estranheza naqueles que compartilham a realidade.

A Diluição da Loucura

  • A estrutura da psicose na apresentação do objeto a é o que Foucault tematiza como a dimensão trágica e enigmática da loucura.
  • A foraclusão do Nome-do-Pai e a presença do objeto a permite entender por que a loucura lança questões insondáveis à razão.
  • Diversas formas sociais de barreiras protetoras contra o louco se devem àquilo que sua própria presença encarna como causa de angústia.
  • Sua estrutura, determinada pela foraclusão e pela presença do objeto a, conserva algo da dimensão enigmática real.
  • Lacan lê na investigação foucaultiana a tentativa de proteção encontrada entre psiquiatras que se apresentam como porta-vozes de um discurso que garante a "realidade".
  • Verificamos que, embora os loucos possam estar menos isolados, outros muros se erguem para proteger o Outro social da angústia.
  • Acabam por ser encarados como "objetos de estudo do que como ponto de interrogação".'
  • O nascimento do manicômio e da psiquiatria estão ligados às transformações sociais e políticas do capitalismo.
  • O capitalismo reformula seu funcionamento, principalmente a partir da segunda metade do século XX, e transformações radicais no modo de funcionar da própria psiquiatria também acontecem.
  • O campo da psiquiatria se expandiu, abrangendo desde a esquizofrenia até a gestão cosmética das performances cotidianas dos indivíduos.
  • Lacan vislumbrou uma transformação na medicina, ligada às mudanças no mundo.
  • Uma redefinição da democracia estava em curso, com o mundo sendo estruturado pela articulação da ciência com o capitalismo.
  • Implica novas tecnologias de poder e gestão do social, avaliação estatística generalizada e intervenção direta na natureza e nas "constantes biológicas".
  • "E no ponto em que as exigências sociais são condicionadas pelo aparecimento de um homem que sirva às condições de um mundo científico, que provido de novos poderes de investigação e de pesquisa, o médico encontra-se em face de novos problemas."
  • A medicina fornece meios e questões para introduzir medidas de controle quantitativo, escalas, dados estatísticos, indo até as constantes biológicas microscópicas.
  • O médico é requerido como cientista fisiologista, mas está submetido a outros comandos, e o mundo científico deposita agentes terapêuticos novos em suas mãos, para que coloque-os à prova.
  • Foucault designou o biopoder, retomado por autores pós-foucaultianos, para caracterizar as sociedades pós-disciplinares como sociedades do risco ou do controle.
  • Em O nascimento da clínica, Foucault mostrou a importância da transformação ocorrida na medicina no início do século XIX, com o modelo anátomo-clínico, que consolida a prática médica na modernidade, não se diz mais “O que você tem?”, mas sim “Onde lhe dói?”.
  • A medicina atual governada pelo dinamismo farmacêutico, se pergunta: “Que medicamentos serão mais eficazes no seu caso?".
  • A invenção e a arte da clínica desaparecem, e se transformam em protocolos produzidos pela indústria indústria farmacêutica.
  • Os medicamentos são eficazes independentemente do médico e de qualquer relação terapêutica particularizada.
  • A medicina não se ocupa mais das doenças apenas quando elas impedem o funcionamento normal dos organismos, mas de um monitoramento constante dos fatores de risco.
  • Dois exemplos ilustram essa transformação: a mudança no diagnóstico e a nova definição de normalidade.
  • O conceito de normalidade passa a ser estabelecido por protocolos de pesquisa estatística para gestão de riscos probabilísticos.
  • Variações mínimas nos critérios de inclusão passam a abarcar parcelas populacionais gigantescas.
  • A normalidade se tornou praticamente impossível.
  • Mesmo sem sintomas, se deve estar vigiando, controlando os parâmetros biológicos para administrar os fatores de risco.
  • Essa rearticulação implica não apenas um novo modo de exercício da medicina, mas também um novo modelo de doença.
  • Os limiares de risco tendem a se tornar cada vez baixos, inclusivos criando a chamada "doença individual" que é replicável.
  • Trata-se de um modelo de doença que é estatístico, de massa, no qual a indústria farmacêutica estabelece, a partir dos ensaios clínicos que ela financia e realiza, os chamados parâmetros para sermos considerados preventivamente “doentes” .
  • Na psiquiatria, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM) ampliou o número de “transtornos mentais” que esse tipo de designação tem uma assimilação mais aceitável.
  • A lógica promovida pela diluição dos diagnósticos psiquiátricos nas classificações atuais promove a normalização.
  • No DSM-V, essa normalização ganha uma amplitude ainda maior, transformando uma deficiência enigmática e angustiante num transtorno mais normal.
  • Há “transtornos mentais” para cada etapa da existência
  • Nos Estados Unidos, cerca de 15% dos jovens até o high school fazem uso de Ritalina.
  • Há estudos que revelam que há muitos casos de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) não diagnosticados na sociedade.
  • Há uma hipermedicalização ou um subtratamento da população?
  • Uma empresa farmacêutica comentou o desapontamento é que o mercado potencial de sua empresa estava limitado às pessoas doentes e que seu sonho era de que a Merck pudesse vender remédios para todos.
  • A indústria farmacêutica elevou o branding a um patamar acima e inteiramente novo, ao fazer o branding não do produto, mas sim de uma doença ou de uma condição clínica.
  • A indústria farmacêutica tem como objetivo produzir o que poderíamos chamar de “fabricação industrial da demanda”.
  • Na psiquiatria, há o empobrecimento da clínica após o DSM-III e o abandono de toda a perspectiva psicanalítica e fenomenológica.
  • A função do médico é reduzida à de mero "agente distribuidor", a problemática da toxicomania na clínica contemporânea e um reposicionamento ético.
  • O chefe da força-tarefa que criou o DSM-IV, o psiquiatra Allen Frances criticou, o DSM-V.
  • Segundo Allan "Rotular alguém com um diagnóstico impreciso de transtorno mental muitas vezes resulta em um tratamento desnecessário com medicamentos que podem ter efeitos colaterais muito prejudiciais. "
  • Há uma transformação da avaliação diagnóstica num checklist de sintomas.
  • Ao focar no nível dos sintomas, através de uma abordagem objetivista, o DSM possibilitouclassificar e tratar as doenças como entidades universais, transcen-dentes ao organismo vivo individual dos pacientes.
  • Os diagnósticos psiquiátricos fossem entidades mórbidas distintas, sendo classificados e analisados independentemente das particularidades dos sujeitos que os sofrem.
  • Tentava-se ao eliminar a dimensão enigmática que se apresenta no sintoma.
  • Segundo o psiquiatra Juan Mezzich, que foi presidente da World Psychiatric Association (WPA) assistimos atualmente a uma desumanização da prática psiquiátrica, que segundo ele, “reduz os pacientes a códigos diagnósticos e os psiquiatras a técnicos que apenas prescrevem drogas”.
  • INSEL lançou pelo NIMH o RDoC (Research Domain Criteria), “com níveis de análise que processam em uma de duas direções:"
  • Objetiva-se implementar a “classificação psiquiátrica baseada na neurociência”.
  • A expressão “transtorno mental” seja substituida por “transtornos do cérebro".
  • No lugar de psicologia e psicanálise a psiquiatria insiste mais uma vez em tomar o antigo sonho de efetiva consolidação como medicina.
  • As tentativas de realização desse sonho pela destituição da dimensão da linguagem acabam por diminuir e diluir a psiquiatria ao âmbito da neurologia
  • Os trasntornos mentais são “transtornos dos circuitos do cérebro"

A Intistência do Enigma

  • DSM-V e o RDoC reiteraram o esmagamento do sujeito afetado pelo dito transtorno mental
  • A psicanálise lacaniana pode ter uma função decisiva em nossos dias.
  • Freud em [1918] 2010, p. 66 fala da dificuldade de discutir com aqueles da psicologia e neurologia que não reconhecem os pressupostos psicanalíticos.
  • As cifras apresentadas pelo DSM-V reféns de uma concepção cartesiana do corpo como substância mesmo sem querer vem justificar a proposição de Lacan de que "uma mensagem decifrada pode permanecer um enigma”.
  • Continua a haver a dimensão enigmática da loucura em detrimento do tratamento do doente ou diluido como portador de "transtornos mentais”.

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