Citopatologia: Análise de Células Ectocervicais Normais

Citopatologia: Análise das Características Celulares

Células Normais da Ectocérvice

• As células são classificadas em superficiais, intermediárias, parabasais e basais.
• A diferenciação celular baseia-se no tamanho do núcleo.
• Propriedades tintoriais podem ser alteradas, não sendo totalmente confiáveis.
• Células superficiais são grandes e emaranhadas, também chamadas de Malpighianas.
• Células superficiais apresentam um núcleo picnótico (inativo/condensado e hipercromático).
• Células superficiais possuem citoplasma poligonal amplo e acidófilo (corado por eosina).
• Células superficiais têm bordas bem delimitadas, são planas e isoladas.
• Células superficiais são comuns na primeira fase do ciclo de mulheres jovens e predominam durante a ovulação, respondendo ao estrogênio.
• Células intermediárias apresentam várias camadas e um tamanho celular menor em comparação às superficiais.
• Células intermediárias exibem uma forma poligonal com bordas pouco nítidas.
• Células intermediárias contêm núcleo com cromatina granular (frouxa), sem picnose, redondo ou oval e central.
• Células intermediárias possuem citoplasma basofílico e são abundantes na segunda fase do ciclo menstrual, refletindo a ação da progesterona e não realizam mitose.
• As células naviculares são uma forma diferenciada das células intermediárias, possuem borda espessa (citoplasma repleto de glicogênio) e núcleo excêntrico, encontradas em grupos em esfregaços de mulheres grávidas (ação luteínica).
• Células parabasais apresentam de 2 a 4 camadas, são menores que as intermediárias e possuem citoplasma arredondado e basofílico, com cromatina granular, frequentemente em grupos.
• Células parabasais são comuns em mulheres no climatério, meninas que não menstruaram e em casos de erosão.
• Células basais são próximas da lâmina basal, formam uma única camada de células pequenas com citoplasma basofílico pequeno (relação N/C pequena, núcleo grande e redondo).
• Células basais possuem alta capacidade mitótica.
• Células basais raramente são visualizadas no exame de Papanicolau, exceto em atrofia intensa ou ulceração da mucosa.

Células Normais do Endocérvice e Outros Elementos

• As células endocervicais são altas, secretoras de muco e ciliadas.
• Células endocervicais possuem citoplasma basofílico, núcleo excêntrico, redondo ou oval, e cromatina granular.
• Células endocervicais podem aparecer em paliçadas (em grupo, enfileiradas).
• Escamas anucleadas não têm núcleo devido à lise.
• Histiócitos originam-se dos monócitos e fazem fagocitose.
• Histiócitos estão presentes em inflamações e no climatério (diminuição de hormônios sexuais, especialmente estrogênio), com citoplasma basofílico e bordas pouco definidas, núcleo excêntrico, sem tamanho fixo e cromatina granular, podem apresentar nucléolos.
• Células endometriais normalmente descamam em grupo, apresentando arranjos tridimensionais densos, células redondas ou alongadas, tamanho menor que as endocervicais, citoplasma basofílico e escasso, cromatina granular, núcleo hipercromático, pouca definição das bordas, e alta relação núcleo/citoplasma.
• Lâmina insatisfatória ocorre quando há leitura de uma lâmina e o quantitativo de elementos extra epiteliais impede a leitura, representando mais de 75% dos elementos visíveis ou devido ao dessecamento, que produz modificações morfológicas e tintoriais das células.

Alterações Reativas Benignas e Degenerativas

• Alterações reativas benignas são mecanismos de proteção contra estresse celular, alterando a morfologia das células para formar um epitélio mais resistente/reativo.
• Mecanismos de proteção (epitélio escamoso) incluem acantose (não identificada na citologia, somente na histologia) e hiperqueratose.
• Hiperqueratose são células superficiais anucleadas com citoplasma amarelado ou alaranjado (escamas córneas).
• Hiperqueratose e paraqueratose possuem morfologias distintas, mas o mecanismo converge (queratinização).
• Mecanismos de proteção (epitélio endocervical) incluem metaplasia escamosa, que é uma mudança do epitélio para promover resistência.
• Metaplasia escamosa possui citoplasma denso e basofílico, classificado de acordo com o grau de maturação celular.
• Metaplasia escamosa imatura apresenta o tamanho das células parabasais, arranjo em lençol frouxo e características fortes do epitélio glandular.
• Metaplasia escamosa em maturação apresenta células mais isoladas, núcleo maior que o das parabasais, citoplasma abundante e denso, e características mais voltadas para o epitélio escamoso.
• Alterações degenerativas podem ser citoplasmáticas ou nucleares, indicando um processo inflamatório.
• Alterações citoplasmáticas incluem vacuolização, tumefação turva e halo perinuclear (associado à infecção por Trichomonas).
• Células de reparo ocorrem principalmente em decorrência de processos inflamatórios, onde o epitélio passa por mecanismo de reparo.
• Alterações nucleares incluem cariomegalia (aumento do núcleo e edema), grumos de cromatina, cariopicnose e cariorrexe (fragmentação nuclear).

Organismos Encontrados

• A presença de microrganismos deve ser relatada no laudo como esfregaço inflamatório/benigno inflamatório.
• Trichomonas vaginalis apresenta formato piriforme, limites mal definidos, núcleo excêntrico, redondo ou oval, provoca alterações inflamatórias significativas e corrimento amarronzado com odor de peixe.
• Candida sp. provoca infecção do trato geniturinário, corrimento esbranquiçado, e pode apresentar brotos e pseudohifas na lâmina, multiplica-se acentuadamente com queda da imunidade.
• Gardnerella vaginalis apresenta-se como bacilos ou cocobacilos gram negativos ou variáveis, formando a célula guia (célula escamosa superficial ou intermediária recoberta pelo microrganismo).
• Gardnerella vaginalis cerca de 40 a 50% das pacientes são assintomáticas com pH < 4,5, faz parte da microbiota e situa-se nas bordas das células.
• Leptotrichia buccalis é anaeróbica, gram positiva, provoca infecção oro-genital, com estruturas filamentosas e coinfecção com Trichomonas em 75% a 80% dos casos.
• Actinomyces provoca infecção oro-genital, visualizado como uma massa basofílica com filamentos ramificados na periferia.
• Lactobacillus provoca a lise das células com glicogênio, reduzindo o pH do colo do útero e promovendo resistência do epitélio contra agentes agressores, acontecendo no fim do ciclo menstrual.