Arquitetura da Memória e Modelo Modal

Arquitetura Básica da Memória

• Codificação é como a informação é processada.
• A atenção impacta a codificação, mais atenção leva a mais codificação e menos luz leva a menos codificação.
• Retenção é como a informação é retida, onde um intervalo de tempo entre o evento e o relato impacta a memória, mais tempo leva a menos memória.
• Recuperação é como a informação é recuperada, dependendo do tipo de pergunta feita para coletar um testemunho.
• Modelo Modal de Atkinson & Shiffrin (1968) propõe que a informação seja processada em diversas estruturas até chegar à memória de longo prazo.
• A informação passa por: Memória Sensorial → Memória de Curto Prazo → Memória de Longo Prazo.

Memória Sensorial

• Associada aos sentidos.
• Inclui seis sentidos (5 conhecidos + sentido propioceptivo) que ajudam o corpo a orientar-se no espaço.
• Visual (memória icônica) com duração curtíssima.
• Auditiva (memória ecoica) com duração de 4 segundos.
• O processamento ocorre de forma paralela.
• Memórias pré-semânticas ainda não têm significado; só têm quando chegam à memória de curto prazo.
• Atenção e sentido devem ser dados à informação para que ganhe significado.
• Quando ganha sentido, significa que chegou à memória de curto prazo.

Memória de Curto Prazo

• Memória à qual damos atenção e sentido, possuindo duração muito curta.
• Serve para manter a informação durante um tempo para acontecer um de três processos: ser esquecida, passar para a memória de longo prazo ou ser usada para uma resposta.
• Capacidade limitada, portanto, a opção é encaminhar a informação para a memória de longo prazo.

Memória de Longo Prazo

• Capacidade ilimitada, impossível determinar seus limites.
• Duração ilimitada.
• Sujeita a leis de esquecimento, com variações na capacidade de recordar informações.
• Memórias episódicas são mais sujeitas ao esquecimento.

Como sabemos que há várias memórias?

• Evidência experiencial com base na experiência própria.
• A estrutura é: memória sensorial, memória de curto prazo, memória de longo prazo.
• Algumas informações são guardadas por muito tempo, outras desaparecem logo.
• Evidência neuropsicológica com dissociação entre tipos de memórias causada por lesões cerebrais.
• Lesões podem afetar a memória de curto prazo e outras podem danificar a memória de longo prazo.
• Exemplo: caso de Clive Wearing, amnésia.
• Evidência empírica com curva de posição serial (primazia → MLP; recência → MCP) associada à evocação livre imediata de listas de palavras.
• Há duas memórias distintas.
• A memória guarda melhor as informações no início e no fim.
• Quanto mais sentido a informação tiver, mais fácil será recordar.
• A memória está sujeita a dois efeitos: recência e primazia.
• Primazia: melhor recordação da informação processada inicialmente.
• Recência: ocorre na memória de curto prazo, mas é provável que ocorra nas memórias de longo prazo.
• Esses efeitos refletem a natureza diferenciada da memória.
• Algumas variáveis afetam a recência enquanto outras afetam a primazia.
• Relatos devem ser feitos logo que possível.
• Perguntas devem ser inofensivas para melhorar o relato.
• Memória auditiva > memória visual.

O Tipo de Processamento

• Fatores preditores da recordação futura:
• Tempo de exposição aos estímulos ou acontecimentos.
• Quanto mais tempo houver exposição à informação, melhor a memória e mais profundo o processamento.
• O tempo de exposição é essencial.
• Se estiver a observar um fenómeno e achar que mais tarde vou ter de relatar a informação, provavelmente estarei mais atento e pormenores que terei de recordar.
• Atenção dada aos estímulos:
• Quanto mais atenção, melhor memória.
• Atenção parece ser mediador do efeito de retenção da memória.
• Novidade ou distintividade do que é processado.
• Distinção e novidade geram atenção e melhor processamento.
• Episódios únicos e emocionais são mais bem lembrados.
• O que fazemos quando processamos a informação.
• O tipo de processamento (profundo ou superficial) produz melhor recordação.

Mecanismos de Elaboração

• Os mecanicamos de elaboração:
• Elaborar mais pistas e mais profundas para recordar a informação.
• A aprendizagem ou codificação de uma informação depende do tipo de processamento realizado.
• Um processamento profundo envolve maior grau de elaboração e favorece a criação de pistas de recuperação mais fortes.
• Significado da informação a processar é muito difícil processar informação que não tenha significado .
• A motivação para o processamento aumenta a probabilidade de recordar a informação, atuando indireta ou mediatamente pela atenção.

Esquecimento

• Tipos de esquecimento:
• Intencional: há episódios para a sua natureza queremos esquecer e fazemos esforço para que tal aconteça (episódios tristes ou traumáticos); pensamentos ruminantes dificultam.
• Natural: a natureza do processamento da informação leva a que muita informação seja esquecida.
  • Constante processamento e armazenamento dificulta recordação.
  • O esquecimento é inevitável.
• A curva do esquecimento de Herman Ebbinghaus (1885):
  • O início é rápido, mas permanece muita informação ao fim de 31 dias.
  • Mesmo com relato imediato após o evento, a perda de informação é alta.
• Dois fenômenos ou concepções de esquecimento:
  • Disponibilidade: traços de memória decaem com o tempo e podem ser perdidos permanentemente.
  • Acessibilidade: a informação permanece na MLP, mas só uma parte é acessível em cada momento.

Interferência

• Processamento constante de informação causa interferência entre memórias, dificultando o acesso.
• Pode ser retroativa: o esquecimento é causado pela codificação de novos traços de memória.
• Quanto mais tempo passa, mais dificuldade em lembrar.
• Pode ser proativa: o esquecimento é causado pela codificação de traços de memória antigos.
• A lista 1 vai ser a mais bem recordada pois as seguintes vão ter a interferência das listas anteriores, liberando a interferência proativa ao processar coisas diferentes.

Como podemos medir e avaliar a memória?

• Classificações da memória:
• Memória de curto prazo:
  • Memória imediata (ou MCP): capacidade e duração limitada para manter pouca informação por um curto período.
  • Auxilia a informação a ganhar significado e passar para a memória de longo prazo.
  • Memória de trabalho: retém informação por um curto período, mas também a processa (atualizando) e liga-se à memória de longo prazo.
  • Não apenas mantém a informação, mas também realiza pequenos processamentos.
  • O oposto da memória que trabalha
  • A inversão é muito difícil.
• Memória de longo prazo:
  • Memórias declarativas:
    • Podem ser verbalizadas, relatadas e com recuperação consciente e intencional.
    • Memória episódica.
    • Memória semântica.
  • Memória não declarativa:
    • Recuperação não-consciente ou não intencional, processamento acidental.
    • Memória procedimental.
    • Condicionamento clássico e operante.
    • Priming: guardando sempre informação em relação à informação já conhecida.

Formas de acesso à memória

• Acesso: Codificação ou estudo → retenção → recuperação ou teste.
• Estudo da memória: codificação ou estudo, retenção (curta ou longa), recuperação ou teste, momento de retenção para o teste.
• Evocação ou recordação (tarefas):
  • Livre: demonstração de conhecimento sem condicionantes, recordar um episódio.
  • Serial: recordar uma história na ordem em que foi processada.
  • Guiada: aprendizagem emparelhada, uma palavra leva ao alvo.
• Reconhecimento:
  • Sensação de ter visto o estímulo previamente.
  • Identificar o alvo (fase de estudo com alvos).
  • Rejeitar os distratores (caras que não estiveram na fase de estudo).
    • 4 tipos de resposta possível: certo, omissão, falso alarme e rejeição correta.
  • Numa parada e identificação:
    • Diminuir ao máximo a possibilidade de termos falsos positivos.
    • Relatar o que quiser como quiser, mas normalmente relata do princípio até ao fim
    • O reconhecimento pode ser baseado em: uma sensação de reconhecimento/ reconhecimento verdadeiro
    • A pessoa que realiza a parada quer a pessoa que acompanha a testemunha ser "cega", não saber quem é o suspeito, para não dar pistas à testemunha de que aquela pessoa cometeu o crime.

Memória episódica

• Requer a capacidade de recordar onde, com quem e quando.
• Recordação específica de um episódio, incluindo "onde", "com quem" e "quando".
• Viagem mental no tempo. É possível viajar no tempo e recordar episódios da vida.
• Pistas específicas permitem o acesso a memórias específicas: pistas presentes no momento da codificação ou relacionadas ao episódio.
  • Pistas: tempo, hora e ação; quanto mais especificidade, melhor.
• Atenção às pistas durante a codificação e recuperação melhora a memória.
• Entrevista cognitiva ajuda a reinstalar o contexto.
• Fatores que facilitam:
  • Tipo de processamento: profundo resulta em mais detalhe.
  • Especificidade das pistas: quanto mais específicas e presentes no processamento, melhor.
  • Organização da recuperação: quanto mais bem organizada, melhor a recordação.
• Reconstrução (Frederick Barlett, 1932): a memória reconstrói com base no conhecimento, e recordamos o que entendemos.
  • A reconstrução mnésica pode introduzir erros e predispor crianças à sugestão.

Memória semântica

• Corresponde ao conhecimento organizado em conceitos e categorias.
• Tem raiz episódica.
• Processo de consolidação mnésica ocorre durante o sono.
• Memórias semânticas são menos sujeitas ao esquecimento porque de cada vez que uma informação é relembrada fica nova e consolidada.
• Redes semânticas:
  • Noção e medida de fluência verbal.
  • Redes e ligações correspondem a associações entre conceitos.
  • Há ativação de conceitos numa rede semântica.
  • Relações diretas: a rede semântica ativa outros estímulos.
• Pistas semânticas:
  • A codificação mnésica implica sempre uma pista e um alvo.
  • Mais pistas facilitam a recordação, mas muitos alvos perturbam.
• Noção de esquema:
  • Organiza e relaciona informações, influenciando o retrato de um episódio.
  • Cria expectativas, extrai informações e completa detalhes.

Memória Prospetiva

• Recordar ações ou tarefas futuras sem aviso explícito.
• Declina com a idade devido a dificuldades no córtex pré-frontal.
• Dividida em memória baseada em eventos (solução) e memória baseada no tempo (eficácia), esta última mais falível.

Qual o efeito da emoção da memória?

• Existe uma grande diversidade de memórias, sendo que a memória episódica é aquela com que lidamos mais na psicologia do testemunho, estando a lidar com uma memória que é muito falível

Emoção e Testemunho

• Há relação positiva entre emoção e memória.
• Crimes geram forte carga emocional.
• As emoções afetam o processamento cognitivo (pode facilitar ou inibir).
• Um episódio com muita emoção é bem relembrado (relação indireta com variáveis).
• Se conteúdo emocional for fraco, tem pouca memória; se for traumático, também tem pouca memória.

Definição Da Emoção

• Reação a estímulos via componentes como fisiologia, cognição, comportamento e subjetividade.
• Nem todos os componentes precisam estar presentes.
• Avaliação subjetiva da emoção.
• Mais palavras negativas para emoções.
• 6 emoções básicas (Paul Ekman) com expressões faciais distinguíveis e interpretações universais.

Três Dimensões da Emoção

• Ativação: grau da sensação fisiológica.
• Valência: grau de agradabilidade.
• Dominância: grau de controle ou dominância.
• As emoções afetam a memória com variações, e emoções positivas constituem ativadores eficientes.

Medida Da Emoção

• Utilizando:
  • Medidas de autorrelato: recurso a escalas do tipo Likert unidimensional, o próprio indidivudo relata.
  • Medidas de medições fisiológicas: medir tensão arterial, ritmo cardíaco, atividade elétrica da pele, etc.
• Observações comportamentais movimentos, expressões faciais, prosódia verbal.

Relação Entre Emoção E Memória

• Estudo da emoção em contexto controlado através da indução episódica (descrição de episódio pessoal) e avaliação.
• Fatores relevantes: tipos de informação, retenção e recuperação.
  • Tipos de informação:
    • Central VS informação periférica, emocional VS neutra,
      • A central melhor recordada numa situação emocional.
        • O efeito de focalização na arma estreitamento atencional, limita o processamento da informação.
      • A informação periférica é melhor recordada numa situação neutra.
  • O funcionamento cognitivo é limitado. - Selecionamos a informação que é (subjetivamente) relevante.
  • Vies positivo emocional: melhor recordação de estímulos positivos.

Podemos criar memórias falsas?

• Omissão: esquecimento de detalhes.
• Distorção ou memória falsa: alteração de um detalhe (acrescentando ou retirando-lhe parte da informação)
• Confabulação: criação de detalhes não ocorridos.

Distorções VS Mentiras

• A memória possui uma grande capacidade de registo e armazenamento, mas pode produzir erros nas recordações ou reconhecimentos Distorções VS Mentiras:
  • Os erros de memória são habitualmente não intencionais
  • A mentira é uma distorção intencional (quando alguém mente, está a fazê- lo deliberadamente)
• A mentira é o maior esforço de memória que alguém pode fazer
• Há os erros de reconhecimento, reconhecimento de suspeitos, corroboração de que podemos identificar erradamente um suspeito.

Fontes de Erro

• Internas: esquemas cognitivos, capacidade atencional limitada, pressão para recordação.
• Externas: exposição à informação falsa.
  • Fontes de erro internas:
    • Esquemas cognitivos: partilhamos um esquema cognitivo plausível de como as coisas acontecem (foram propostas por Barlett (1932))
      • São representações acerca do mundo e de como nos relacionamos com ele: Garcia- Bajos e Migueles (2003) : os participantes ouviram um áudio com a narração de um assalto. Lindholm & Christianson (1998) : os participantes são metade suecos e metade imigrantes.
• Capacidade atencional limitada: Testemunha cooperante: pode fazer um esforço grande para recuperar a informação, tendo + tendência para querer responder mesmo não tendo a certeza
• Crença capacidade atencional limitada: Levin et al. (2002)
• Fontes de erro externas, exposição da informação falsa.

Informação, Desinformação e Paradigmas

• Envolve tipo de perguntas, dois paradigmas (influência social e desinformação).
• Paradigmas: como influência social e informação enganosa (efeito da desinformação).
• Desinformação:
• O momento em que eu processo o episódio e o momento em que eu recordo: acontece adesinformação
• O que está a ser manipulado é a intensidade do verbo e a sua relação com a estimativa da velocidade (quanto mais intenso é o verbo, maior é a estimativa da velocidade)
• A credilibidade da fonte.
• A informação que provém de alguém experiente, de confiança, conhecedor ou perito +.
• Acreditar na memória de uma pessoa.
• Fontes de credibilidade: AS crianças aceitam informação falsa apresentada por adultos
• Fontes de erro.

Confissões Falsas

• São comuns
• Tipo de confissões falsa é voluntárias
• Não pressupõe nem memórias falsas, sugestões Motivações
• Ocorre em pressões complacentes , o suspeito confessa
• Podem ser forçadas internalizadas Ocorre quando existe : -A pessoa recorda informação que não ocorreu o que a leva a "+culpar-se".