Fenomenologia, Existencialismo e Humanismo PDF
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This document explores the interconnectedness and diverging aspects of Phenomenology, Existentialism, and Humanism. It presents various perspectives and definitions related to these philosophical movements.
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FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E HUMANISMO: Pontos de articulação e divergências FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E HUMANISMO O que é “ser humano”? Parece que essa pergunta está ficando cada vez mais complexa?!... O que é o Humanismo? Quando nasceu? Com quem? Não há uma corrente humanista ou uma esc...
FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E HUMANISMO: Pontos de articulação e divergências FENOMENOLOGIA, EXISTENCIALISMO E HUMANISMO O que é “ser humano”? Parece que essa pergunta está ficando cada vez mais complexa?!... O que é o Humanismo? Quando nasceu? Com quem? Não há uma corrente humanista ou uma escola humanista que se possa destacar da história do pensamento – seja na filosofia ou em qualquer das ciências humanas sociais. É apropriado encarar o humanismo como um movimento contínuo que brota em duas direções: Crítica a apropriações diversas que des-subjetivizam a realidade ou que desapropriam o sujeito humano de sua própria perspectiva e privilegiam valores específicos em detrimento de uma visão de globalidade; Como um projeto de valorização (ou de re-valorização) do humano. (Holanda, 2014) HUMANISMO O humanismo pode ser compreendido: Como o esforço de compreender um mundo de experiências humanas; Doutrina através da qual o homem, do ponto de vista moral, deve se ater exclusivamente ao que é da ordem do humano; assim, designa uma concepção geral da vida (seja esta política, ética ou econômica), que se funda na crença da saúde do homem por suas próprias forças, neste sentido, opõe-se ao Cristianismo que crê somente na força de Deus; Homem moderno não mais submisso à vontade de Deus, mas senhor e possuidor da natureza; (Amatuzzi, 2008; Holanda, 2014) HUMANISMO Como movimento literário e filosófico, com origem na Itália renascentista, na segunda metade do século XIV; Como qualquer movimento filosófico que considera como fundamento a natureza humana, seus limites ou seus interesses; ou seja, toda filosofia que tome o homem como “a medida de todas as coisas”; Termo generalizado para qualquer filosofia que coloque o homem no centro de suas preocupações, ou como adjetivo aplicável a outros movimentos, como é o caso da “psicologia humanista”; Humanismo: atitude concreta em favor do homem; Valorização do relativismo da subjetividade: singularidade do indivíduo; (Amatuzzi, 2008; Holanda, 2014) HUMANISMO Renascimento do ideal de poder e potencialidade do ser humano; Valorização da interioridade, introspecção, mundo interno e privacidade; Valorização do humano: de sua independência, singularidade e seu destaque do mundo da natureza; O homem que se define por si próprio e a partir das suas realizações pessoais; O humanismo: HU Caracteriza-se pelo máximo interesse dedicado ao problema do MA homem, da sua natureza, origem, destino e posição no mundo; É toda possibilidade de definição do homem: toda forma de visão do NIS homem a partir da qual este se coloca no mundo; Reconhecimento da totalidade do homem (corpo e alma); MO Negação da superioridade da vida contemplativa sobre a vida ativa; Exaltação da dignidade e da liberdade do homem; Reconhecimento do sentido de historicidade do homem; Apoio ao valor humano nas letras clássicas (poesia, história, ética e política); (Holanda, 2014) PSICOLOGIA HUMANISTA Conhecida como “terceira força da Psicologia”. Representa a rejeição ao suposto “establishment (“grupo de indivíduos com poder e influência em determinada organização ou campo de atividade”) mecanicista, impessoal, hierárquico e elitista da psicanálise e ao behaviorismo, excessivamente cientificista, frio e distante” (Cushman, 1992, p. 55); Psicólogos humanísticos criticavam a ideia de que o comportamento humano pudesse ser reduzido a instintos biológicos recalcados ou simples processos de condicionamento; rejeitavam a ideia de que a história pessoal limitasse inevitavelmente as possibilidades futuras e negavam os pressupostos deterministas das duas outras “forças” da psicologia. PSICOLOGIA HUMANISTA Em vez disso, propunham que as qualidades que melhor caracterizavam os seres humanos eram: O livre-arbítrio; A sensação de responsabilidade e propósito; A busca eterna e progressiva de sentido na vida; A tendência inata de crescer rumo à assim chamada autorrealização, ou seja, atingir seu potencial de vida em toda a sua plenitude. Os dois psicólogos norte-americanos que tiveram maior associação com a PH foram Abraham Maslow e Carl Rogers. (Goodwin, 2010) PSICOLOGIA HUMANISTA 1ª força: Behaviorismo Calcado numa ênfase objetivista, empirista e positivista, este modelo buscou aplicar os métodos e valores das ciências físicas ao estudo do ser humano, o que gerou uma série de críticas, como a exclusão da subjetividade de sua consideração do ser humano, além de não abordar a complexidade da personalidade e de seu desenvolvimento. 2ª força: Psicanálise Emergiu da psicanálise freudiana e das chamadas “psicologias profundas” de Adler, Erikson, Jung, Klein, entre outros. A ênfase desse modelo estava na dinâmica do inconsciente e na crença de que o comportamento humano seria determinado prioritariamente pelo que ocorre na mente inconsciente. (Holanda, 2014) PSICOLOGIA HUMANISTA A PH tomou forma e ganhou força na década de 1960 e, assim como o Behaviorismo, também foi desenvolvida nos Estados Unidos. O centro de seu enfoque referencial é a pessoa em um contexto único e que tem o potencial de transformar a vida dentro de si, de maneira continuada e infinita. O homem é percebido como ser livre, capaz de se recriar independentemente dos condicionamentos, pois a própria realidade é percebida de maneira pessoal e está impregnada de significados ligados à consciência pessoal. A vida interior é soberana. (Carpigiani, 2010) PSICOLOGIA HUMANISTA O foco é a pessoa que experimenta o meio, que tem potencial para escolher, criar, apreciar e se autorrealizar, preocupando-se com a dignidade e o valor do homem, interessando-se pelo desenvolvimento das capacidades próprias de cada pessoa. A PH desenvolveu, desde seus primórdios, um sério estudo da natureza e da conduta humana e é representada, no início de sua história, pelas obras de Maslow e Rogers. (Carpigiani, 2010) PSICOLOGIA HUMANISTA O que se designa como “Psicologia Humanista” ou movimento humanista em Psicologia está geralmente associado aos profissionais e à cultura americanas, mas possui suas raízes na ciência e filosofia europeias. Há controvérsia ao se considerar se os movimentos humanistas americano e existencial europeu guardam mais similaridades ou diferenças, o que gera considerável confusão quando necessita-se defini-los. (Holanda, 2014) PSICOLOGIA HUMANISTA A proposta da PH envolve um resgate e reafirmação do valor e da dignidade dos seres humanos, desenvolvendo suas ideias na direção contrária às ideologias, crenças e práticas que tornariam o homem um mero acompanhante dos interesses políticos e econômicos. A PH seria, então, uma “manifestação contemporânea” do compromisso com esta valorização do humano; Seria uma “resposta” à negação do espírito humano motivada pelas ciências sociais e comportamentais. (Holanda, 2014) PSICOLOGIA HUMANISTA “A Associação Americana de Psicologia Humanista se coloca como contraposição aos modelos dominantes – considerados reducionistas e deterministas – propondo-se a fornecer “um novo conjunto de valores na direção da compreensão da natureza humana e da condição humana”, ampliando o espectro de ações de pesquisa do comportamento humano (em especial questionando os formatos exclusivamente quantitativos de pesquisa, e estimulando novas formas de pesquisa qualitativa) e oferecendo uma gama maior de métodos e técnicas de ação psicoterápica”. (Holanda, 2014, p.159) PSICOLOGIA HUMANISTA “O homem não é um bicho que fala, mas ele é a própria palavra, isto é “ele é palavra”” “Não é a linguagem que se encontra no homem, mas o homem que se encontra na palavra” O humanismo não se trata de mudança de objeto, nem de uma mudança de método, nem de uma mudança teórica. Trata-se de uma mudança na relação com o objeto. Visão mais abrangente, capaz de conter a visões anteriores, só que como parciais. (Amatuzzi, 2008) PSICOLOGIA HUMANISTA “O homem não é um bicho que fala, mas ele é a própria palavra, isto é “ele é palavra”” “Não é a linguagem que se encontra no homem, mas o homem que se encontra na palavra” Algo mais amplo: consideração do sentido. Ser humano como movimento: não como resultado, mas como processo. O homem só aparece naquilo que ele tem de mais próprio, com a questão do sentido, não com a questão de causa explicativa. O homem é constituído pelas questões do sentido. PSICOLOGIA HUMANISTA PH: reação da insatisfação sentida face aos dois conjuntos teóricos mais importantes em psicologia: behaviorismo e psicanálise. NÃO SE TRATA DE NEGAR DESCOBERTAS FEITAS! (Amatuzzi, 2008) PSICOLOGIA HUMANISTA Resumindo... Diferentes teorias podem vir a ser humanistas, dado que o que as une não são suas ideias, mas uma atitude em comum diante do homem e de sua realidade. Em seu sentido contemporâneo, uma psicologia humanista seria uma resposta à “crise” do homem e de sua humanidade, numa época de crise de valores e crise moral; como uma alternativa a questionamentos não respondidos e alento a anseios não satisfeitos, ou seja, a expectativa de uma nova psicologia. A ideia de uma Psicologia Humanista se insere, pois, numa tradição filosófica que resgata o significado e questiona a ciência em sua base mais fundamental – sua pretensão de neutralidade. (Holanda, 2014) Antes do Nome PSICOLOGIA Não me importa a palavra, esta corriqueira. HUMANISTA Quero é o esplêndido caos de onde emerge a sintaxe, os sítios escuros onde nasce o «de», o «aliás», o «o», o «porém» e o «que», esta incompreensível muleta que me apoia. Quem entender a linguagem entende Deus cujo Filho é Verbo. Morre quem entender. A palavra é disfarce de uma coisa mais grave, surda-muda, foi inventada para ser calada. Em momentos de graça, infrequentíssimos, se poderá apanhá-la: um peixe vivo com a mão. Puro susto e terror. Adélia Prado, em 'Bagagem' PSICOLOGIA HUMANISTA AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia humana. 2a Ed. São Paulo: Alínea. 2008. CARPIGIANI, B. Psicologia: das raízes aos movimentos contemporâneos. 3. ed. São Paulo: Pioneira, 2010. GOODWIN, C. J. História da Psicologia Moderna. São Paulo: Cultrix, 2010. HOLANDA, A. F. Fenomenologia e humanismo. Curitiba, PR: Juruá, 2014. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA A Psicologia Humanista se desenvolveu em solo americano, enquanto a Psicologia Existencial evoluiu na Europa. Há elementos similares entre ambas. A Psicologia Humanista foi diretamente influenciada por dissidentes freudianos de origem europeia e ambas as abordagens associam-se ao pensamento fenomenológico e ao movimento existencial (também de origem europeia). A polêmica que se criou ao redor desses dois movimentos calca-se muito mais em uma questão semântica e hermenêutica do que em reais vínculos de diferenciação conceitual ou filosófica. (Holanda, 2014) PSICOLOGIAS HUMANISTA E EXISTENCIAL Alguns expoentes da Psicologia Humanista têm trabalhado na direção a um reconhecimento de suas bases existenciais, como Rogers e a Gestalt-Terapia no reconhecimento de similaridades de teorias ou influências de autores como Heiddeger, Merleau-Ponty e Sartre. Em resumo, parece que separar uma Psicologia Humanista de uma Psicologia Existencial é tarefa inglória. Construir novas denominações (Existencial-humanista ou humanista-existencial; existencial-fenomenológica ou fenomenológico-existencial) não resolve o problema. (Holanda, 2014) PSICOLOGIAS HUMANISTA E EXISTENCIAL Esta necessidade de separação parece derivar de algumas posições ou premissas: A ideia de que o humanismo seria um sistema filosófico fechado, composto de ideias ordenadas, conceitos próprios, gênese e desenvolvimento particulares, além de possuir um mentor intelectual. Todavia, isto não acontece. O humanismo é uma ideia, não uma corrente independente de pensamento. Em cada época do desenvolvimento do conhecimento e da humanidade, encontramos figuras “humanistas”; A característica de ser “humanista” (relativo ao humano, ao homo, humanus) seria distinto de ser “existencial” (relativo a existência, existere), e que, assim, seria possível destacar o humano de suas relações com o mundo; Que a psicologia pode ser fragmentada. (Holanda, 2014) PSICOLOGIAS HUMANISTA E EXISTENCIAL Se fosse realizado um quadro onde fossem estabelecidas as bases das psicologias humanistas e existencial, seria algo assim: Psicologia Fundamentos Bases Origem Filosóficos Humanista Implícitos Fenomenologia Existencialismo Europa >>> EUA Existencial Explícitos Fenomenologia Europa Existencialismo Mesmo assim, tem-se problemas em delimitar tão clara e forçosamente essas fronteiras. É preferível, então, destacar suas similaridades. (Holanda, 2014) EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Existencialismo é uma filosofia contemporânea. Postula que a existência precede a essência. O ser humano é livre para fazer escolhas e se tornar o que fizer da sua vida, nos limites das condições físicas, psicológicas e sociais que o envolvem. Não existe uma natureza humana que determine nossa existência, mas ela se forma e se transforma na prática. Acredita que desde o nosso nascimento somos lançados no mundo e somos nós que criamos nossos valores através de nossa própria liberdade e sob nossa responsabilidade. Não há essência que nos defina previamente, mas existimos no mundo e construímos nossa essência por meio de nossas escolhas existenciais. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O cerne do existencialismo é a liberdade, pois cada indivíduo é definido por aquilo que ele faz. Sempre se está fazendo escolhas, mesmo quando decide não escolher, está-se escolhendo não escolher. Porém, não há liberdade sem responsabilidade. Somos responsáveis por nós mesmos, pelas escolhas que fazemos e por tudo aquilo que nos cerca. O fato de ser livre coloca o ser humano eticamente responsável pelas consequências das escolhas que faz. “O homem primeiramente existe, se descobre, surge no mundo; e só depois se define” (Sartre). EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Há uma pluralidade de teóricos e concepções no existencialismo. Apesar disto, há algumas ideias subjacentes ao existencialismo, que perpassam seus teóricos. Assim, o existencialismo: Busca compreender o ser humano, em seus aspectos concreto e singular. Concreto no sentido oposto ao abstrato, metafísico ou idealista, mas como ser que existe concretamente no mundo. Não é uma falsa representação de um ser ideal ou a materialização de uma “alma”, mas um ser que vive concretamente suas relações. Singular significa que uma pessoa não é igual a outra e que não há um modo de ser previamente definido ou universal, mas cada pessoa desenvolve suas características e peculiaridades próprias, que corresponde a seu modo de ser particular. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O ser humano NÃO é: Natural. Não há uma natureza universal que defina o modo de ser das pessoas. Atemporal, ou seja, igual em qualquer tempo. Cada pessoa vive concretamente em um tempo e espaço, num período histórico, num contexto e em uma série de relações que constituem seu modo de ser. Essência, como algo prévio que defina o ser humano antes mesmo de sua existência material. Cada pessoa se faz de acordo com suas escolhas e irá se tornar o que fizer de si. Alma, que habita um corpo e segue para outro corpo. O ser humano é o corpo que está vivendo concretamente. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O ser humano SE CARACTERIZA por ser: Mortal: toda pessoa um dia vai morrer. A vida acontece na condição de finitude, tudo o que fizer de si um dia vai acabar; Em transformação: a pessoa nasce e um modo e se transforma de outro modo, estando sempre em mutação; Emocional: vivencia as emoções e se altera afetivamente de acordo com nossas experiências. Ser no mundo: habita um espaço físico, espacial, temporal e contextual, e nele se desenvolve, estabelece valores, conceitos, desejos, gostos, etc. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Existem CONDIÇÕES que envolvem a existência humana, entre elas estão: Liberdade: todos somos livres para fazer escolhas e responsáveis pelas escolhas que fazemos; Conflitos: ao convivermos com outras pessoas atravessamos conflitos e contradições, pois temos valores e desejos diferentes; Angústia: nos angustiamos por não conseguir realizar todas as nossas possibilidades existenciais, por sermos seres limitados; Sentidos da vida: cada pessoa se move de acordo com o que faz sentido para si, em direção do que a torna realizada. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Reconhece e valoriza os afetos e emoções humanas. Entende que o ser humano não é somente razão, mas que, antes de tudo, nossas experiências com o mundo são afetivas, e os afetos desempenham forte papel em nossa existência e tomada de decisões. O ser humano não é um organismo neutro, isolado no mundo, mas um ser que habita e convive com o mundo. Não há uma consciência separada do mundo, todo ser se relaciona com o mundo numa relação dialética. Diferente da ideia de “natureza humana”, o existencialismo estuda sobre a “condição humana”. Entende que há condições que envolvem o existir humano, como a liberdade, a morte, a angústia, os conflitos, etc. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Ao contrário de uma concepção determinista, entende que nossa vida não é previamente determinada, mas que nós a fazemos por meio de nossas escolhas, dentro de nossas condições e da situação que vivemos. Não há como entender modos de ser de cada pessoa sem compreender sua história e sua relação com condições materiais. Diferente do intuito de explicar o ser humano, o existencialismo tem como intenção compreender. O Devir ou “vir a ser”, representa a transformação. Para o existencialismo, tudo está sempre em transformação, tanto os seres quanto o mundo e as coisas. Nada permanece o mesmo, tudo está sempre se alterando, se reconfigurando e se transmutando em outro. Estamos sempre em transformação e nunca somos iguais. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA A angústia não é algo ruim na visão existencial, mas um sentimento que surge da constatação de nossa liberdade, finitude e de nossos limites. Nos angustiamos perante a dificuldade de escolher, na não aceitação de limites ou da compreensão de que as coisas terminam. Lida-se com a finitude e morte das coisas, das pessoas e de nós mesmos durante a vida. A consciência dessa finitude pode ser angustiante, mas nos coloca a viver intensamente e com sentido. A subjetividade é característica do sujeito referente a tudo aquilo que é pessoal, interior e individual. O modo como cada um percebe, sente e se relaciona com o mundo e consigo mesmo, envolvendo sua constituição cultural, seus valores pessoais e seus afetos em relação às coisas. A vida não é entendida como algo que possua em si um sentido já posto (“o sentido da vida”). Cada pessoa dará sentido para sua vida, diante de suas escolhas. Este sentido se transforma todo momento. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O que une então estes pensadores tão individualizados nas suas concepções filosóficas? O que os une, e nisso concordam todos os autores, é a concepção de uma filosofia: “Que seja concebida e se exerça como análise da existência, desde que por ‘existência’ se entenda o modo de ser do homem no mundo. O existencialismo é assim caracterizado, em primeiro lugar, pelo fato de questionar o modo de ser do homem; e, dado que entende este modo de ser como modo de ser no mundo, caracteriza-se em segundo lugar pelo fato de questionar o próprio ‘mundo’, sem por isso pressupor o ser como já dado ou constituído. A análise da existência não será então o simples esclarecimento ou interpretação dos modos como o homem se relaciona com o mundo, nas suas possibilidades cognoscitivas, emotivas e práticas, mas também, e simultaneamente, o esclarecimentos e a interpretação dos modos como o mundo se manifesta ao homem e determina ou condiciona as suas possibilidades. A relação homem-mundo constitui assim o tema único de toda filosofia existencialista (Abbagnano, 1984, p. 127). EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O termo "existencialismo" parece ter sido cunhado pelo filósofo francês Gabriel Marcel em meados da década de 1940 e adotado por Jean-Paul Sartre. Período pós-guerra. O rótulo foi aplicado retrospectivamente a outros filósofos para os quais a existência e, em particular, a existência humana eram tópicos filosóficos fundamentais. O existencialismo foi inspirado nas obras de Arthur Schopenhauer, Søren A. Kierkegaard, Fiódor Dostoiévski e nos filósofos alemães Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, e foi particularmente popularizado em meados do século XX pelas obras do escritor e filósofo francês Jean-Paul Sartre e da escritora e filósofa Simone de Beauvoir. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA O ser humano é mais que qualquer teoria e não há como classificar uma pessoa em sistemas explicativos, pois eles acabam a reduzir sua descrição. Classificar é uma forma de rotular, isto desconsidera a singularidade de cada ser: “Quando você me rotula, você me nega” (Kierkegaard). Desta forma, o esquema de conceitos, qualquer que seja, é apenas uma possibilidade entre outras; sua concretização depende inteiramente dos sujeitos e não dos conceitos em si. O homem existente, portanto, não pode ser assimilado por um sistema de ideias, afirma ainda Sartre, “por mais que se possa dizer e pensar sobre o sofrimento, ele escapa ao saber, na medida em que é sofrido em si mesmo, para si mesmo, onde o saber permanece incapaz de transformá-lo” (1987, p. 116). Não interessa falar sobre o sofrimento e sim sobre o sofrimento de alguém em particular. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA Em Kierkegaard, o Existencialismo é a expressão de uma experiência singular, individual, pois existência é uma tensão entre o que o homem é e o que ele não é. Em suma, em suas obras filosóficas, prioriza a realidade humana concreta ao invés do pensamento abstrato, dando importância à escolha e ao compromisso pessoal. Foca na existência concreta do indivíduo, na subjetividade e na experiência pessoal, ao invés de se ocupar do “conceito de ser”, de concepções idealistas, metafísicas ou especulativas. Grande parte de sua obra são dedicadas às questões existenciais, como a liberdade, angústia, desespero, subjetividade e indeterminação do ser humano. EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA A realidade humana é muito complexa e peculiar, por isso um sistema ou esquemas de conceitos abstratos não daria conta de explicar essa realidade. A realidade humana só pode ser compreendida, portanto, por meio da realidade singular e concreta de cada indivíduo. As generalizações tratam apenas de hipóteses genéricas, mas nada dizem sobre uma pessoa específica. Não existe escolha que não seja subjetiva, fruto de uma escolha interna. Somente o indivíduo pode se aproximas de sua realidade, que é subjetiva. “A subjetividade é verdade, a subjetividade é a realidade” (Kierkegaard) EXISTENCIALISMO INTRODUÇÃO ÀS FILOSOFIAS DA EXISTÊNCIA HOLANDA, A. F. Fenomenologia e humanismo. Curitiba, PR: Juruá, 2014. FIGUEIREDO, L. C. M.; SANTI, P. L. R. Psicologia: uma (nova) introdução. 3. ed. São Paulo: Educ, 2014. JAPIASSU, H. Introdução à epistemologia da psicologia. 6. ed. Rio de Janeiro: Imago, 2008.